sexta-feira, 12 de abril de 2013

Grey Gardens








  
O apego ao passado aristocrático e o retrato de uma decadência que chega ao limite da loucura é o tema do documentário “Grey Gardens” dirigido por Albert e David Mayles. O documentário foca na vida de duas socialites decadentes parentes de Jaqueline Kennedy que vivem em condições precárias, mas se negam a abandonar o ultimo símbolo de uma riqueza perdida.

Ao abrir a portas de suas casas e expor sua vida decadente, as duas protagonistas ambas chamadas Edith mãe e filha se permitem expor suas lembranças do passado aristocrático sem rodeios.

No primeiro momento os diretores Albert e David Mayles investem em um travelling com o claro objetivo de resaltar a decadência da casa onde vivem mãe e filha para assim, expor a decadência cotidiana do modo de vida delas. Após esse primeiro momento, “Grey Gardens” se transforma em um documentário puramente observacional deixando a narrativa livre para ser conduzida pelas protagonistas sem qualquer interferência dos realizadores, cabendo a eles apenas acompanhar a dinâmica das atrizes sociais dessa maneira passando pra elas “o controle narrativo” do filme.

Ao realizar esse documentário basicamente observacional os diretores se empenham em “penetrar” no ambiente bem como não desacreditar nenhuma das suas protagonistas.
O documentário propõe um interessante “jogo de câmera” ao estabelecer uma dinâmica de modo a privilegiar as duas protagonistas igualmente.

Um aspecto que com o decorrer do filme se torna cada vez mais claro é que apego ao passado que mãe e filha possuem (cada uma a sua maneira) contribui para o agravamento dos distúrbios psiquiátricos da senhora Edith, personagem esta de personalidade extremamente dominadora e é quem mais mostra um apego ao passado que deve ter sido fundamental no desenvolvimento de sua doença mental. Tal fato leva o espectador a uma importante reflexão: até que ponto o ambiente degradante que aquelas pessoas vivem contribuiu para o aparecimento dos distúrbios psiquiátricos na senhora Edith que também se mostram refletidos na filha Eddie. Tal abordagem provoca no espectador uma inquietude quase asfixiante, pois quanto mais nos envolvemos com o filme e a história mais percebemos que tal situação retratada é insustentável e que aquelas mulheres estão no limite principalmente a filha Eddie que se “abre” para os realizadores do documentário de modo á expressar (e aliviar) a angustia causada pela situação iminente.

Eddie estabelece uma relação confessional com a câmera se colocando em primeira pessoa, de modo que se cria um “um jogo” fílmico em que os documentaristas estimulam a abertura dessas duas “personagens” pelo fato de compreender a riqueza de material que a vida dessas mulheres pode representar.

Mãe e filha expõe frente às câmeras uma relação de contrastes. Enquanto a mãe expõe seu desequilíbrio mental e emocional a filha se vê presa àquela realidade limitada e com vontade (porém sem qualquer perspectiva de mudança).

O documentário leva o espectador a refletir a respeito do efeito de um apego emocional exacerbado ao passado e uma relação familiar desestruturada pode ter contribuído para o desequilíbrio mental das protagonistas bem como se questionar de que maneira a situação física (de espaço) e emocional de mãe e filha chegou a tal ponto.









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