quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ensinando a Viver


"Ensinando a Viver”(Martian Child, no original) é um belíssimo e emocionante filme, e certamente me inspirou a escrever sobre ele.

Inspirado no livro “ Martin Child” de David Gerrold o filme conta a história de um popular escritor de ficção cientifica, David Gordon(John Cusack – ótimo ) que ficou viúvo enquanto ele e sua esposa estavam no processo de adoção. Após dois anos , ele se vê encantado por uma criança com problemas de sociabilidade e acredita ser de marte, Dennis(Bobby Coleman). Juntos, eles aprendem a conviver um com o outro e superam as adversidades com o lema de “Nunca nunca nunca nunca nunca desistir”.

“Ensinando a Viver” é um filme tão perfeito e tocante que eu não sei por onde começar. Vou tentar dizendo que é bela a forma como o filme constrói e aborda a temática das diferenças e da aceitação sobre ser quem é através da relação de Dennis(Bobby Coleman) e David(John Cusack) e do fato do escritor sempre dizer pro filho ser ele mesmo.


A forma natural e comovente com que o roteiro aborda a relação entre David e Dennis é absolutamente linda.  Os atores demonstram química e entrosamento entre eles é encantadora. John e Bobby conseguem transparecer essa ligação para os personagens. O amor incondicional e aceitação são fatores abordados de forma muito naturalista no roteiro através das relações dos dois personagens. O fato de David(Cusack) abrir o coração para Dennis(Coleman).

É interessante mencionar as metáforas entisicas a narrativa. Através da relação entre David e Dennis são abordados temáticas importantes como aceitação, respeito as diferenças, relações familiares e principalmente afetivas.

Essas metáforas são tão bem colocadas na historia de maneira comovente através da relação afetiva entre os protagonista pela belíssima relação entre David e Dennis e pelo fato de David adentrar o “mundo marciano” de Dennis e não subjugá-lo. Pelo contrário, participar desse universo ativamente e assim se unir ao seu filho adotivo.

A questão da união afetiva entre pai e filho é colocada de forma sem igual. A maneira perspicaz e inteligente que Dennis coloca em xeque os ideais de David a respeito da ficção cientifica- sendo ela uma forma fantástica e metafórica da própria vida levando- o a reavaliar suas teorias é brilhante.


O filme trata das relações afetivas e familiares de forma incrível. E através dela observamos nas entrelinhas, a questão da incapacidade social, abandono, das formas de se relacionar com a perda, da imaginação como refugio , crenças.


É difícil dizer porque o filme me encantou tanto. Particularmente talvez porque trata da aceitação , do ser diferente, do ser diferente, do ser você mesmo e de nunca nunca nunca nunca desistir dos meus sonhos. É uma história sobre ser você mesmo e amor genuíno comovente. Façam um favor a vocês mesmos e se deixem emocionar por esse lindo filme.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Devil´s Knot



É uma tortura psicológica e emocional ler ou assistir qualquer coisa relacionada ao caso “West Memphis Three” onde 3 crianças foram brutalmente assassinadas e três jovens foram falsamente acusados em Arkansas nos EUA.

Foi duro assistir a trilogia de documentários da HBO “Paradise Lost” , assistir ao documentário produzido por um dos acusados Damien Echols depois de deixar a prisão. E certamente, não foi fácil assistir a este caso sendo dramatizado aqui neste “Devil´s Knot” ainda que de maneira esdrúxula e excessivamente estereotipada.

Primeiro, porque a direção de Atom Egoyan começa de maneira promissora nos induzindo ao que seria um “grande filme” , ledo engano, Egoyan nos induz ao suspense com seus movimentos de câmera descritivos e uso da sonoridade, das cenas do pós crime buscando um choque no espectador mas tudo o que consegue é uma repulsa breve e uma incessante vontade de vomitar.

A forma com que o cineasta conduz o filme, conferindo um tom de fábula macabra, descaracteriza totalmente a história séria e poderosa que tinha em mãos.  A impressão que se da é que o diretor tenta suavizar o enredo e “poupar o espectador” para assim atingir maior fatia do público. Ora, é impossível suavizar algo de tamanha monstruosidade, a história do caso merecia uma reprodução digna e não uma história medrosa, rasa e com medo de se aprofundar na realidade.
É tudo retratado de forma rápida demais , não dando chances para o enredo se desenvolver como deveria. Entretanto, o diretor não deixa de chocar com o teor macabro do próprio caso que ele acrescenta aqui , mas tudo a conta gotas, superficial demais.

Além de ser raso e inconclusivo no que se propõe ao não se aprofundar na história , convertendo-a em uma novelinha mexicana, Atom Egoyan tem uma parceria na construção dessa história inverossímil dotada de cortes bruscos e superficiais: A montagem. A montagem deixa o espectador confuso pois utiliza de tantos recursos narrativos como flashbacks fora de hora que a acaba por confundir o espectador e tornar o filme uma bagunça.

O roteiro escrito a quatro mãos por Paul Harris Boardman e Scott Derrickson é o maior problema de “Devil Knot”.  Em primeiro lugar, eles- os roteiristas descaradamente privilegiam um plot da história - a da mãe de Stevie Brunch um dos garotos assassinados. Pam(Reese Withespoon) em detrimento das outras famílias.

Em segundo lugar , os roteiristas pecaram de maneira severa na construção dos três jovens acusados Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Miskelley (James Hamrick,Seth Meriwether e Kristopher Higgins respectivamente). Construíram um retrato estapafúrdio dos três reais protagonistas do longa. Baseando-se em clichês os retrataram como malucos e débil mentais, claramente se aproveitaram desse retrato errôneo para jogar-los para escanteio dentro da narrativa e fazer deles meros coadjuvantes dentro da própria historia. De modo que a atuação do trio não tem nem chance de se sobressair.

Paul Harris Boardman e Scott Derrickson parecem ter esquecido -ou não leram mesmo que o livro de Mara Leveritt na qual o roteiro deles se baseia ou ao menos deveria se basear, cobre o caso por um todo e da destaque a clemência por inocência dos três jovens.

Reese Withespoon e Colin Firth são os únicos a se destacar verdadeiramente. Primeiro pelo talento da dupla segundo, porque o próprio roteiro os condiciona para isso.

Reese tem uma atuação comovente como Pam Hobbs , mãe de Stevie Brunch e Colin Firth nos presenteia com sua brilhante e obstinada atuação como o investigador particular Ron Lax, obstinado em provar a inocência dos três adolescentes. Firth atua de forma segura , firme e imponente , cativando o público.

Como espectador ou como qualquer pessoa minimamente inteligente, é inaceitável o retrato do caso  “West Memphis Three” pintado aqui. Não só pela sua direção e narrativa rasas, pelo favorecimento de suas estrelas Reese Withespoon e Colin Firth ou por tentar emular sem sucesso a estética da trilogia de documentários “Paradise Lost” , mas sobretudo por sua falta de imparcialidade e por retratar Jason Baldwin , Jesse Miss Kelly e Damien Echols de maneira tão estapafúrdia, rasa e envolta em clichês.

Seria cômico se não fosse trágico, a história do caso não precisava disso e muito menos, o magnífico trabalho de Mara Leveritt não merecia tal retratação.








quinta-feira, 24 de julho de 2014

Transcendence- A Revolução


“As pessoas temem aquilo que não conseguem entender” essa é a principal mensagem da ficção cientifica “Transcendence- A Revolução” primeira incursão do aclamado diretor de fotografia Wally Pfister na direção cinematográfica e estrelado por Johnny Depp.

Will Caster(Johnny Depp) é um cientista famoso por suas pesquisas e experiências no ramo da inteligência artificial e auto consciência. Entretanto, sua fama atrai a ira de extremistas que tentam mata-lo. O que o leva a uma experiência de consciência coletiva e regeneração celular.

Em primeiro lugar, “Transcendence- A Revolução” é o filme certo em todos os aspectos. É o primeiro filme de Wally Pfister na direção e certamente ele é a pessoa certa pra dirigir um filme tão visualmente tridimensional quanto essa ficção cientifica cyberpunk. A forma com a qual Pfister introduz o visual cibernético gradativamente – mérito também dos roteiristas tornando capaz de o espectador compreender a gênese do enredo antes de desenvolver a narrativa sci-fi presente no enredo.

A direção de Pfister acompanha o ritmo do próprio filme. por isso mesmo, começa de maneira tímida, com o cineasta mantendo sua câmera a espreita , utilizando de agilidade quando necessário , mas sabendo dosar estes elementos muito bem elaborados no roteiro de Jack Paglen e transmiti-los visualmente para que o espectador compreenda a raiz da trama antes de evoluir para a ficção cientifica propriamente dita.

É impossível dissociar o trabalho de direção tão visualmente “real” com a direção de fotografia – função exercida pelo diretor anteriormente, e ainda, acredito num trabalho em conjunto entre Pfister e Jess Hall. A forma com a qual a fotografia cria a ambientação externa para que o “universo paralelo” possa coexistir é sensacional. Com cores frias e um uso habilidoso da luminosidade que a fotografia permite , se criou um ambiente, um universo onde a ficção cientifica presente no enredo pode se desenvolver de forma mais realista possível. Como o subgênero de Sci-fi na qual o filme se encaixa-o cyberpunk, o universo cibernético e online é de grande importância para o desenvolvimento da narrativa, o grafismo virtual se torna parte integrante do “real”.

Toda essa unidade cientifica onde o filme se desenvolve, ganha tons mais frios na fotografia de Jass Hall. O resultado desse trabalho de ambientação do espaço fílmico permite ao diretor Wally Pfister que consegue traduzir e incorporar na narrativa os elementos tecnológicos. A maneira com a qual o cineasta desenvolve o filme permite que os elementos ali expostos soam naturais e principalmente, Pfister consegue quebrar a “quarta parede” presente no filme permitindo assim que a inteligência artificial de Will Caster(Johnny Depp) exista, permitindo ao personagem uma existência mais visual materialmente do que só pela voz.

Um grande acerto do longa foi utilizar a tecnologia da maneira certa a favor da narrativa. Ao utilizar de computadores e outros aparelhos tecnológicos, a câmera consegue captar o grafismo virtual de forma a incorpora-la naturalmente na narrativa. O que quero dizer, é que a maneira com a qual esses elementos são captados e inseridos no filme de forma tão visceral , viva como um espelho para o mundo virtual, quebrando assim a barreira existente entre os dois mundos. As cenas são captadas de forma orgânica e natural e por isso mesmo se encaixam perfeitamente a narrativa.

Parece que coexistir traduz a experiência fílmica de “Transcendence”. Pois, além de criar este “universo inteligente” , o diretor precisou imprimir visualmente o outro extremo do filme. O dos extremistas que são contrários a experiência artificial e usam a violência para tal liderados por Bree(Kate Mara). Para tal, a direção cinematográfica e de fotografia se mostraram alinhados mais uma vez criando um ambiente hostil e evidenciando a luz natural e os granulados. A experiência é tão visceral e sensorial cinematograficamente que o menor grão se desenvolve de maneira inacreditável visualmente. Resultado é claro, das experiências de Will Caster(Johnny Depp) e muito bem recriadas visualmente. Vemos partículas se dissolverem pelo ar e regerarem literalmente. Tudo isso, aliado a um trabalho de união entre direção , fotografia , sonoridade, pois o aspecto sensorial é de grande importância para o longa e direção de atores naturalista, permitindo atuações criveis mesmo controlados por uma inteligência artificial.

Tudo parece perfeito em “Transcendence” de modo que eu não consigo entender porque o público não aceitou bem a história. Talvez porque requer paciência e necessita pensar e as pessoas tem preguiça de pensar, querem tudo mastigado.

Wally Pfister conseguiu usar de sua experiência anterior como diretor de fotografia para criar um universo tecnológico crível visualmente. Jack Paglen criou um roteiro utilizando com inteligência e destreza os elementos da sci-fi cyberpunk pura. Porém antes induziu seu espectador para o universo retratado de maneira gradual. Um acerto. Depois, desenvolveu a sci-fi e os universos presentes de forma crível e imaginativa, sempre mantendo um pé na realidade. O problema é que as pessoas não tem paciência pra esperar o filme se desenvolver. Nem tem o olhar apurado pra entender “além dos olhos” e as metáforas sobre regeneração vital muito bem colocadas por Paglen. Povo preguiçoso e alienado.

Johnny Depp volta a escolher bons papeis e mais uma vez nos mostra porque é um dos melhores atores da atualidade ao construir todas as fases do personagem com intensidade e mais, conseguir dar vida ao papel quase que inteiramente pela voz a maior parte do tempo.

Rebecca Hall faz de Evelyn Caster , a mulher de Will uma mulher totalmente multifacetada. Por um lado, ela quer recriar o marido e a atriz demonstra a obstinação do papel, por outro se revela em conflito com os caminhos da ciência e por fim, duvida do próprio marido. Em todas essas fases, Hall conseguiu dar o tom exato ao papel.

No extremo oposto, está Kate Mara no papel de Bree, personagem terrorista que vai contra os ideais de inteligência artificial. Mara expõe toda a força dominadora da personagem, sua obstinação em aniquilar muito só com o olhar. É lindo ver em uma das sequências finais do longa, a personagem “desarmar” ao ver que nem tudo é como ela acreditava. A atriz deu show.


“Transcendence” veio pra mim no momento certo no qual estou me interessando por Sci-fi principalmente Cyberpunk. E acabou se revelando um filme incrível. Por sua visceralidade visual, pela forma com a qual elabora e desenvolve seus universos, por tudo. “Transcendence” , como o próprio filme diz e é a frase de abertura da crítica, as pessoas temem aquilo que não conseguem entender.




sábado, 19 de julho de 2014

Festim Diabólico

*Contêm informações do enredo, só leia após assistir ao filme.



Desde a primeira vez que ouvi falar da trama da novela “O Rebu”, muito antes da Globo anunciar a nova versão da novela no ar atualmente, fiquei encantado pela narrativa não-linear que se passa em um único dia e rapidamente associei a este clássico de Alfred Hitchcock “Festim Diabólico”.

Embora aqui não haja o recurso do flashback presente na nova versão da novela de Bráulio Pedroso, temos temáticas narrativas semelhantes.

O filme se concentra na história de dois amigos, Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) que assassinam um antigo colega de classe e dão uma festa aos amigos e familiares do falecido.

Duas coisas chamam a atenção primeiramente em “Festim Diabólico”. Primeiro é a habilidade dos roteiristas Hume Cronyn e Arthur Laurents tiveram em construir uma narrativa pautada em atos assim como a história original na qual o filme é baseada. Cronyn e Laurents construíram a ação em três tempos narrativos: O antes da festa- na qual eles cometem o assassinato, o durante a festa, que ocupa o maior tempo do filme e o depois da festa. Isso tudo sem utilizar flashbacks em nenhum momento. Roteiristas gênios e Hitchcock gênio.

Aliás, é preciso reverenciar o exultante trabalho do diretor, não é a toa que ele era conhecido como “ o mestre do suspense”. Hithcook trabalhou o suspense apostando nos closes e planos descritivos para fortalecer a tensão dramática do enredo. De fato, o cineasta demonstrou incrível destreza e inteligência cênica ao costurar o suspense da narrativa pautando-se por recursos mais simples e orgânicos como closes, movimentos de câmera como a panorâmica, além é claro, do uso potente do jogo de câmera e do uso da música instrumental tocada pelo personagem Philip( Farley Granger) em um diálogo especifico com o Sr Cadell (James Stewart) no qual o professor sonda o antigo aluno sobre o seu “brilhante feito”. Nessa cena em especifico, a música tocada por Philip ao piano eleva a tensão dramática do longa a níveis inimagináveis.

Alfred Hitchcock era mesmo um diretor com o domínio cênico. A maneira brilhante com a qual ele induz o telespectador nesse grande “jogo psicológico” que é festim diabólico – fonte que claramente beberam George Moura e Sérgio Goldenberg , autores dessa nova versão de “O Rebu”, além é claro de Bráulio Pedroso autor da novela original. Pois, a construção da tensão dramática da narrativa é alta e de semelhante efeito em ambos os casos.

A interessante observar alguns pontos no filme. Primeiro que a narrativa se desenvolve em um único ambiente e a direção de Hitchcock imprime o suspense inerte a narrativa sem entretanto torna-la engessada. Sua direção explora muito bem o ambiente cênico , reforçando o clima noir do enredo. Em segundo lugar, a inteligência do diretor em utilizar simbolismos e dar pistas ao espectador. Um exemplo disso, é o fato de Brandon(John Dali) amarrar os livros com a mesma corda que usou pra enforcar David, ou quando a câmera faz o caminho inverso e através de uma panorâmica vai da mesa de jantar(onde David- o morto está deitado no caixão) para a mão de Brandon.

Outros dois pontos importantes que pude perceber e faço questão de ressaltar. Primeiro, a destreza da construção narrativa da dupla de roteiristas que a todo o momento colocam os personagens principais em situação-limite de serem descobertos, propondo assim um jogo com o espectador e elevando ainda mais a tensão dramática. Segundo, a construção tanto dos dois protagonistas Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) quanto do professor Cadell(James Stewart).

Brandon e Philip são dois personagens completamente antagônicos. Enquanto Brandon é intelectualmente forte e dominador, envolvendo seu amigo nessa “teia psicológica”, Philip é o elo mais fraco entre os dois, medroso e suscetível a pressões , estando ao passo de se entregar em vários momentos do filme.

Os atores compõe seus personagens de forma excelente , resultando em interpretações puramente naturalistas.

Sr. Cadell(James Stewart) representa a força maior nesse jogo psicológico, aquele ao qual Brandon e Philip buscam impressionar com o seu “grande feito”. Stewart interpreta o inteligente professor de maneira astuta, ressaltando a magnitude e a força e influencia dominante que o personagem exerce sobre o psicológico de Brandon e Philip.

“O Festim Diabólico”continua um clássico irreparável. Uma verdadeira aula de direção, execução e construção de uma narrativa. A destreza com o qual o filme toma forma impressiona e torna este clássico do mestre do suspense continuamente servindo de fonte de inspiração para diretores e roteiristas até hoje , mesmo estando em tempos que quaisquer ousadia narrativa já é um grande avanço, tamanha a falta de criatividade que assola os diretores e roteiristas atuais.




terça-feira, 8 de julho de 2014

O Grande Hotel Budapeste



Um deslumbre visual. Assim eu defino “O Grande Hotel Budapeste” novo filme do cineasta Wes Anderson.



“O Grande Hotel Budapeste” a principio trata das memórias de um velho concierge M. Gustave(Ralph Fiennes) contadas a um escritor (Tom Wilkinson) mas o longa vai muito além disso.


Admito que não conheço nada do trabalho de Wes Anderson mas esse “Grande Hotel” me deixou impressionado e curioso pra conhecer seu trabalho. Em grande parte pelo requinte e beleza visual imprimidas em seu longa. É admirável o inteligente uso das mais diferentes tonalidades no que diz respeito a paleta de cores que compõe a arte de um filme bem como a sua fotografia.

Embora, a primeira vista o longa possa parecer dotado de uma narrativa mais estática, é só uma primeira impressão pois Wes Anderson desenvolve seu filme como o desenrolar de um grande flashback- muito telegrafado é verdade, mas ainda assim um grande recurso narrativo.

Seu filme se desenvolve em duas bases distintas que se complementam: O Concierge M Gustave(Ralph Fiennes) contando ao escritor(Tom Wilkinson) suas aventuras e o flashback propriamente dito com as aventura de Gustavo e o jovem concierge Zero.

Adotando diferentes formas de filmar em ambos “tempos narrativos”, Anderson utiliza de uma direção mais contemplativa na primeira parte, com poucos movimentos de câmera, priorizando o plano contraplano e destacando ao máximo o exuberante cenário.
Ao passo que do segundo ato em diante, o diretor utiliza de uma forma de dirigir hiper movimentada, com trucagens e movimentos super ágeis, o que lembra muito os primeiros filmes de Tarantino e Guy Ritchie. Até a forma de desenrolar a narrativa em capítulos, lembra os filmes do primeiro acima citado.

Interessante observar a ousadia do cineasta não só por converter uma narrativa aparentemente estática e contemplativa em algo dotado de agilidade e inteligência dramatúrgica impar mas sobretudo, pela ousadia que demonstra logo no inicio do filme ao quebrar a “quarta parede” e se dirigir diretamente ao espectador, recurso que ele volta a utilizar algumas vezes durante o filme.

É preciso enaltecer o incrível trabalho de arte do longa. A maneira como constituíram o requinte da cenografia com muito brilho e “exagero” é exuberante. O uso da paleta de cores foi muito bem pensada na construção da arte pois nota-se que o uso de cores quentes e objetos refinados ajudam a carregar a importância do hotel para a narrativa do longa.

Se há algo em que Wes Anderson pecou severamente em seu filme, foi subestimar a inteligência do espectador. O fato de evocar um narrador em muitos momentos do longa o torna cansativo, sobretudo porque já estamos assistindo a uma narrativa super ágil e tal escolha de “contar a história” muito formalmente quebra a narrativa e a tensão dramática. Outro porém, são os diálogos excessivamente telegrafados, realmente não precisava mas nada que tire a beleza do filme de Anderson.



 “O Grande Hotel Budapeste” é um filme de tamanha beleza , deslumbrante, aliado a uma narrativa dinâmica ao extremo e ao carisma talento e química de dois atores excepcionais, Ralph Fiennes e Tony Revolori. Admito que estava com o pé atrás com esse filme, mas ao final lhes digo: Wes Anderson ganhou um fã e está a um passo de entrar pra minha seleta lista de cineastas favoritos. Quero mais dele.




segunda-feira, 7 de julho de 2014

O adeus a Californication: MotherFucker Forever


Assisti agora o episódio final de “Californication” e escrevo este texto-homenagem como uma forma de expressar o meu carinho por essa série maravilhosa que acompanhou em muitos momentos.

Primeiro, é preciso dizer o quanto assistir “Californication” é sagrado pra mim. Era sempre uma agonia ter que esperar pra assistir um novo episódio. Me viciei na série quando o meu professor de roteiro disse que a série era sobre um escritor viciado em sexo,drogas e álcool. Pronto, foi a deixa pra eu me viciar na série.

E na verdade, “Californication” é mais do isso, é sobre um escritor Hank Moody(David Duchovny) em crise de inspiração, o famoso “writer block”. Envolto em seus vícios, Hank se vê sem seu grande amor Karen e sua filha Becca(Madeleine Martin) e é obrigado a assistir outro homem Bill assumir o lugar no coração de Karen e como figura paterna de Becca.

Inspirada livremente na vida do escritor Charles Bukowski, a série tomou como matéria prima muito de seus livros na construção das storylines. Isso, se pode perceber na própria construção da personalidade autodestrutiva mas ao mesmo tempo com um humor felino e com a capacidade de enxergar a hipocrisia da sociedade representada pela figura de Hollywood , a “maquina de sonhos”.

Hank é um daqueles personagens puramente antagônicos, o que o torna irresistível. Ao mesmo tempo em que se auto destrói(afetando não só ele, mas as pessoas a sua volta). De fato, Hank tem um imã de confusão, quanto mais ele tenta se “endireitar” mais a confusão lhe atrai(por confusão entende-se muitas mulheres, drogas e álcool).

Um fator interessante em “Californication” é o fato de como a narrativa incorpora elementos da industria literária e cinematográfica. Em algumas temporadas, principalmente nessas finais, o seriado se apropriou da metalinguagem – o que casou muito bem.

“Californication” é uma série ousada. Repleta de um despudor capaz de assustar o maior dos despudorados, muitas vezes ela andou na linha tênue do permitido com muitas cenas de sexo, mulheres desnudas e diálogos cheios de duplos sentidos.

Muito bem escrita, os roteiristas liderados pelo criador da série Tom Kaprinos, souberam dosar a personalidade, os elementos pop e toda a sua narrativa centralizada no protagonista com outros excelentes personagens.

Afinal, vai ser impossível se esquecer do hilário casal Charlie e Marcy(Evan Handler e Pamela Adlon). Com uma química incrível, os atores fizeram do agente punheteiro porém empenhado em recolocar Hank no mercado e sua insaciável esposa um dos casais mais divertidos da TV. Ponto pros dois sensacionais atores.

A sensual Mia(Madeleine Zima) , filha de Bill teve um papel importante durante as quatro primeiras temporadas. O que é melhor pra se vingar do cara que ta comendo a mulher da sua vida do que comer a filha dele certo?

De fato, Californication sempre soube criar ótimos personagens e situações , mantendo o frescor e se renovando. A série tem um humor corrosivo, palavrões – Hank e seu inesquecível “MotherFucker” vão ficar na história, mas a série não é sobre putaria , é um show sobre a vida, sobre um cara tentando sobreviver resistindo as tentações e aprendendo as duras penas que o caminho do excesso nem sempre leva ao palácio da sabedoria.

Além de ter uma ótima narrativa, mantendo um excelente nível de qualidade dramatúrgica durante 7 anos, o seriado além de construir ótimos personagens, ousou também na elaboração deles. pois, são personagens totalmente ambíguos, eles não se encaixam naquele padrão maniqueísta de “o bom” ou “o mal”. Desse modo, nos construímos compaixão por Hank e sua turma ao mesmo tempo que podemos odia-los.

Isso fica explicito na figura de Karen(Natasha McElhone) sua ex-namorada e mãe de sua filha que ao mesmo tempo que é o senso da moralidade dentro da série, embora ela mesma não tenha muita moral pra criticar ele. Mas ela é o seu grande amor, ele podia transar com outras mas era pra ela e pra filha Becca que ele sempre voltava pra elas, embora a ideia de família perfeita não existe na concepção do Hank, todos os caminhos levam de volta pra casa como disse Faith, a Groupie que teve um affair com Hank na sexta temporada.

“Californication” sempre foi uma série rock n´roll onde os elementos musicais se sobressaiam de alguma forma dentro do show.  Na sexta temporada , o rock foi o centralizador do show com Hank acompanhando uma turnê de rock no maior estilo “Quase Famosos” de ser.

A sexta temporada teve a maior audiência de todo o show, por isso foi com tristeza que nós fãs recebemos a noticia de que a sétima seria a última e nos perguntamos “mas como?” mas o fato é que o show se tornou sobre o amadurecimento pessoal e das outras pessoas que de certa forma afetavam o Hank, principalmente Becca sua filha com a uma excelente atuação da atriz Madeleine Martin.

Eu vou sentir MUITA falta da série , muita mesmo. Por isso, até adiei ao Maximo e só assisti ao episódio final hoje. Já foi difícil pra mim esperar uma semana pra assistir a série( da primeira a quarta temporadas eu assisti direto, só comecei a ver regularmente a partir daí).

E se eu achava que a série não tinha mais como surpreender, nessa última temporada, o Hank descobre que tem um filho Levon(Oliver Cooper) que é uma cópia jovem do nosso escritor favorito. Vocês precisam assistir pra ver como a série teve uma temporada final foda e como é esses dois juntos.



Muito obrigado Tom Kaprinos,Showtime, David Duchovny e todo o elenco por essa série do caralho. Nós queremos um filme. É Justo né pessoal? #Wewantamovie.