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segunda-feira, 7 de julho de 2014

O adeus a Californication: MotherFucker Forever


Assisti agora o episódio final de “Californication” e escrevo este texto-homenagem como uma forma de expressar o meu carinho por essa série maravilhosa que acompanhou em muitos momentos.

Primeiro, é preciso dizer o quanto assistir “Californication” é sagrado pra mim. Era sempre uma agonia ter que esperar pra assistir um novo episódio. Me viciei na série quando o meu professor de roteiro disse que a série era sobre um escritor viciado em sexo,drogas e álcool. Pronto, foi a deixa pra eu me viciar na série.

E na verdade, “Californication” é mais do isso, é sobre um escritor Hank Moody(David Duchovny) em crise de inspiração, o famoso “writer block”. Envolto em seus vícios, Hank se vê sem seu grande amor Karen e sua filha Becca(Madeleine Martin) e é obrigado a assistir outro homem Bill assumir o lugar no coração de Karen e como figura paterna de Becca.

Inspirada livremente na vida do escritor Charles Bukowski, a série tomou como matéria prima muito de seus livros na construção das storylines. Isso, se pode perceber na própria construção da personalidade autodestrutiva mas ao mesmo tempo com um humor felino e com a capacidade de enxergar a hipocrisia da sociedade representada pela figura de Hollywood , a “maquina de sonhos”.

Hank é um daqueles personagens puramente antagônicos, o que o torna irresistível. Ao mesmo tempo em que se auto destrói(afetando não só ele, mas as pessoas a sua volta). De fato, Hank tem um imã de confusão, quanto mais ele tenta se “endireitar” mais a confusão lhe atrai(por confusão entende-se muitas mulheres, drogas e álcool).

Um fator interessante em “Californication” é o fato de como a narrativa incorpora elementos da industria literária e cinematográfica. Em algumas temporadas, principalmente nessas finais, o seriado se apropriou da metalinguagem – o que casou muito bem.

“Californication” é uma série ousada. Repleta de um despudor capaz de assustar o maior dos despudorados, muitas vezes ela andou na linha tênue do permitido com muitas cenas de sexo, mulheres desnudas e diálogos cheios de duplos sentidos.

Muito bem escrita, os roteiristas liderados pelo criador da série Tom Kaprinos, souberam dosar a personalidade, os elementos pop e toda a sua narrativa centralizada no protagonista com outros excelentes personagens.

Afinal, vai ser impossível se esquecer do hilário casal Charlie e Marcy(Evan Handler e Pamela Adlon). Com uma química incrível, os atores fizeram do agente punheteiro porém empenhado em recolocar Hank no mercado e sua insaciável esposa um dos casais mais divertidos da TV. Ponto pros dois sensacionais atores.

A sensual Mia(Madeleine Zima) , filha de Bill teve um papel importante durante as quatro primeiras temporadas. O que é melhor pra se vingar do cara que ta comendo a mulher da sua vida do que comer a filha dele certo?

De fato, Californication sempre soube criar ótimos personagens e situações , mantendo o frescor e se renovando. A série tem um humor corrosivo, palavrões – Hank e seu inesquecível “MotherFucker” vão ficar na história, mas a série não é sobre putaria , é um show sobre a vida, sobre um cara tentando sobreviver resistindo as tentações e aprendendo as duras penas que o caminho do excesso nem sempre leva ao palácio da sabedoria.

Além de ter uma ótima narrativa, mantendo um excelente nível de qualidade dramatúrgica durante 7 anos, o seriado além de construir ótimos personagens, ousou também na elaboração deles. pois, são personagens totalmente ambíguos, eles não se encaixam naquele padrão maniqueísta de “o bom” ou “o mal”. Desse modo, nos construímos compaixão por Hank e sua turma ao mesmo tempo que podemos odia-los.

Isso fica explicito na figura de Karen(Natasha McElhone) sua ex-namorada e mãe de sua filha que ao mesmo tempo que é o senso da moralidade dentro da série, embora ela mesma não tenha muita moral pra criticar ele. Mas ela é o seu grande amor, ele podia transar com outras mas era pra ela e pra filha Becca que ele sempre voltava pra elas, embora a ideia de família perfeita não existe na concepção do Hank, todos os caminhos levam de volta pra casa como disse Faith, a Groupie que teve um affair com Hank na sexta temporada.

“Californication” sempre foi uma série rock n´roll onde os elementos musicais se sobressaiam de alguma forma dentro do show.  Na sexta temporada , o rock foi o centralizador do show com Hank acompanhando uma turnê de rock no maior estilo “Quase Famosos” de ser.

A sexta temporada teve a maior audiência de todo o show, por isso foi com tristeza que nós fãs recebemos a noticia de que a sétima seria a última e nos perguntamos “mas como?” mas o fato é que o show se tornou sobre o amadurecimento pessoal e das outras pessoas que de certa forma afetavam o Hank, principalmente Becca sua filha com a uma excelente atuação da atriz Madeleine Martin.

Eu vou sentir MUITA falta da série , muita mesmo. Por isso, até adiei ao Maximo e só assisti ao episódio final hoje. Já foi difícil pra mim esperar uma semana pra assistir a série( da primeira a quarta temporadas eu assisti direto, só comecei a ver regularmente a partir daí).

E se eu achava que a série não tinha mais como surpreender, nessa última temporada, o Hank descobre que tem um filho Levon(Oliver Cooper) que é uma cópia jovem do nosso escritor favorito. Vocês precisam assistir pra ver como a série teve uma temporada final foda e como é esses dois juntos.



Muito obrigado Tom Kaprinos,Showtime, David Duchovny e todo o elenco por essa série do caralho. Nós queremos um filme. É Justo né pessoal? #Wewantamovie.




domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um Dia na Vida


Um dos últimos documentários de Eduardo Coutinho é uma experiência ousada, provocadora e rara. Isto porque “Um Dia na Vida” trata-se do registro de Coutinho da programação da televisão brasileira.


Concebido como fonte de pesquisa para outro filme “Um Dia na Vida” tomou vida própria e foi quase que condenado ao anonimato devido a questões de direitos de imagens. Mas se você me pergunta o que há de tão provocador e ousado em uma simples registro aleatório da programação. E eu lhe digo que a resposta está na intenção de Eduardo Coutinho e na sua proposta de registrar e constatar a “qualidade” da nossa TV. A forma com a qual Coutinho seleciona e monta o que retratar(pois é obvio que houve uma edição de  material para caber na 1h e35mn de filme) expõe um alegorismo e voyeurismo nosso de cada dia.

 Mas as imagens ali presentes pareciam ter uma razão obvia de estar ali. Coutinho parecia querer nos dizer algo a selecionar programas de gosto duvidoso e muitos com a tarja de “sensacionalista” como “Balanço Geral” , “Brasil Urgente” e “Márcia” e momentos non-sense como Ana Maria Braga tocando Guitar Hero. O diretor ao selecionar esses momentos parecia querer provocar questionamentos de quem por ventura fosse assistir esse material. Questionamentos da percepção da qualidade do que assistimos diariamente. Ao mesmo tempo que gostaria de provocar uma reação no telespectador médio, Coutinho também se vê anestesiado e provocado pelo material que assiste. Posso imaginar Coutinho , um homem de tanta cultura abismado ao presenciar a alegoria vergonhosa que assola a nossa TV aberta(com raras exceções).

É difícil saber o que o diretor pretendia ao elaborar esta experiência fílmica de gosto duvidoso (pelo seu conteúdo puramente asfixiante na maioria do tempo e não pela proposta enriquecedora de Coutinho em compreender este meio de comunicação universal que é a televisão. Há um despudor na seleção do material seja pelas pegajosas e insistentes ações de merchandising que toma conta da nossa TV, pelos programas sensacionalistas e policiais ou por aqueles de cunho religioso que se proliferou como água nos últimos anos e que tenta a todo o custo “doutrinar” o telespectador.

O fato de Eduardo Coutinho um documentarista que há meu ver, flertou com outras mídias em seus trabalhos(“Jogo de Cena” utiliza a dramatização teatral e “Edifício Master” se aproxima da estética confessional dos Realitys Shows). Nota-se uma necessidade do cineasta em compreender esse mecanismo poderoso que é a televisão ao mesmo tempo em que fica estapafúrdio na sua constatação do material exibido.
O telespectador embarca em uma “Bad Trip” televisionada que pode ser comparada a sensação de prisão que temos ao ler 1984 de George Orwell pela constatação de somos reféns de um “sistema”. Sistema enganador, cultural, non-sense ou burro como a banda Titãs canta na música “Televisão” do álbum homônimo.


“Um Dia Na Vida” foi fruto de uma pesquisa de Eduardo Coutinho fez para um documentário nunca realizado, acredito que o diretor percebeu o potencial que tinha nas mãos ao conferir o material e assim viu a possibilidade de estreitar relações e dialogar com o panorama da TV atual. Uma experiência fílmica riquíssima, é difícil apontar qual a real intenção de Eduardo Coutinho ao realizar esse filme e infelizmente nunca vamos saber ao certo, por razão de seu recente falecimento(motivo dessa crítica homenagem) mas, acredito que o cineasta gostaria de provocar uma reação em torno do que consumimos artisticamente.  




sábado, 1 de fevereiro de 2014

Eu Te Amo Renato



As canções de Renato Russo, além de tratarem de temática sociais e políticas , inadequações eram em sua grande parte canções de amor e esperança. Por isso, o fato de existir um filme no qual um romance é permeado pelas canções do cantor é uma alegria e um deleite para um legionário como eu. Somado ao fato que “Eu te amo Renato” é um filme extremamente bonito e singelo que trata de questões universais com delicadeza é realmente um presente para o telespectador.

Dirigido por Fabiano Cafure e produzido exclusivamente para a internet em um esquema de criação coletiva “Eu Te amo Renato” conta a historia do despertar de três jovens, Beto(FelippeBondarovsky ), Adriana(Ingrid Conte) e André(Vinicius Moulin Allemand) a medida que a amizade entre os três evolui.

 Com as canções de Renato Russo servindo de pano de fundo para o enredo, Cafure costura não só a narrativa mas também os planos de acordo com a trilha sonora, de forma que a música conduz o espectador para dentro do universo fílmico do longa.
Como o longa foi feito para a internet, teve que haver uma adaptação a plataforma. Com isso, o diretor investe em planos mais fechados e em planos de conjunto o que lhe possibilita trabalhar a interação entre os três protagonistas, imprimindo uma direção coreografada as cenas. Ao mesmo tempo, o fato de ser um filme para a internet lhe permitiu uma liberdade para ousar na abordagem e na construção das cenas. É um filme ousado sim, mas tudo é feito com sensibilidade e de forma gradual.

O roteiro escrito a quatro mãos pelo diretor Fabiano Cafure e Diana Hime constrói de maneira singela e gradativa a relação entre os personagens. A delicadeza e o cuidado que os roteiristas tem em abordar essa relação com naturalidade , somado a forma competente do trabalho de Cafure e ao talento e entrosamento que o trio protagonista apresenta contribui para a beleza singular retratada no longa, esbanjando delicadeza e quebrando tabus ainda tão presentes em nossa sociedade de forma poética. Além disso, a dupla merece parabéns pela forma que desenvolve o roteiro. Pois o que começa como um filme trivial com uma bela trilha sonora se transforma em uma linda, delicada e emocionante história tendo como alicerce as canções de Renato Russo.

A trilha espetacular com canções de Renato Russo e outros garante um vigor ao longa. Mas são as canções de Renato Russo que são onipresentes e ajudam a construir a atmosfera libertaria que o filme carrega. A poesia das músicas enaltece as descobertas feitas pelos protagonistas e sobre o respeito as diferenças. Canções como “Tempo Perdido” , “Daniel na Cova dos Leões” e “Eu Sei” dão o tom poético necessário a uma fase de descobertas.


“Eu Te Amo Renato” é uma grande homenagem a pessoa e ao artista Renato e um filme que discursa sobre a liberdade e as diferenças de forma poética capaz de tocar qualquer coração mais sensível sendo um legionário ou não.




 Você pode assistir o filme nesse link: http://vimeo.com/63818812