terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pauline na Praia




Pauline (Amanda Langlet) uma jovem de 15 anos vai passar as férias em uma praia na costa francesa em companhia da prima mais velha Marion (Arielle Dombasle). Lá Pauline vive o seu despertar sexual e outras descobertas da adolescência enquanto Marion goza da liberdade conquistada com o seu recente divorcio.


Em 1983 Eric Rohmer ainda fazia uso dos preceitos modernos da nouvelle Vague. Prova disso que este filme “Pauline na Praia” que esbanja frescor mesmo tocando em temas densos e sendo extremamente leve ao mesmo tempo.  Mérito do diretor Eric Rohmer que construiu um filme delicado investindo em longos e harmoniosos takes com cortes sobrepostos. Rohmer valorizou seu elenco investindo em closes e na dinâmica ator-texto acabando por conferir ao seu filme um aspecto ambíguo. Se por um lado o filme é terno ao abordar o despertar não só sexual, mas de vida que Pauline (Amanda Langret) vive. Por outro a trama que se desenrola entre Marion (Arielle Dombasle), Henri (Féodor Atkine) e Pierre (Pascal Greggory) toma proporções inimagináveis.


O diretor investe também no subtexto ao explorar as entrelinhas narrativas de seu filme. E é ai que o filme ousa na abordagem, porém quase sempre nas entrelinhas, subtendido. Ao adotar essa dinâmica ator-texto Eric Rohmer se posiciona como um diretor de atores com abordagem cênica ensaiada sobretudo ao extrair todas as possibilidades dramático-narrativas de seus planos. Estabelecendo em seus longos takes com cortes sobrepostos ao instaurar a tensão dramática nas entrelinhas.

É nesse ponto que a montagem de Cécile Decugis se revela não só extremamente habilidosa, mas também uma poderosa aliada do diretor. Pois ela provoca a sucessão dos planos justo quando as cenas estão perto do seu clímax. Longe de desestruturar a narrativa, essa opção é bem trabalhada inserindo um suspense bem-vindo a trama. A direção harmoniosa de Rohmer é pautada em planos longos, cortes sobrepostos e elegantes closes encontra na montagem um equilíbrio para o seu desenrolar e na fotografia de Néstor Almendros uma beleza visual e estética que casa perfeitamente com a harmonia proposta por outros elementos como a montagem e a direção. A opção por um azul claro nas lentes de Almendros ressaltam sua neutralidade e o clima pueril das descobertas de Pauline (Amanda Langlet).

O roteiro de Eric Rohmer se concentra na construção das relações interpessoais entre seus personagens. Relações estas que são abordadas de maneira corriqueira e habitual com personagens profundos e ambíguos envoltos em uma narrativa poética. É interessante observar a forma como Rohmer desenrola seus personagens cheios de conflitos internos os fazendo convergir em dado momento. São todos personagens intensos que guardam segredos e principalmente desejos íntimos.


Amanda Langret interpreta Pauline com a pureza e inocência que a personagem exige. Combinados com uma sedução pueril é através de Amanda e de sua personagem que todo o filme desencadeia.

Arielle Dombasle carrega com força as “tintas internas” de sua Marion. Marion que é do tipo fala uma coisa e pensa outra exigi muito preparo para o psicológico da personagem que é forte, tem presença cênica. Vale ressaltar o despudor de Arielle ao transgredir a todo o momento e principalmente nas cenas de sexo com Féodor Atkine (Henri). Féodor, aliás, constrói um personagem totalmente ambíguo e sedutor. Henri é multifacetado e caminha a passos lentos para seu desfecho surpreendente. O melhor personagem do filme sem duvida. Simon de La Bosse (Sylvain) o namorado de Pauline é dotado de um carisma tão pueril e encantador quanto à da personagem titulo. Algo que eu percebi nas entrelinhas é a relação de respeito e admiração que Sylvain tem pela figura masculina de Henri (Féodor Atkine). Simon e Féodor tem entrosamento cênico atuando de forma a deixar implícito no subtexto essa relação.



“Pauline na Praia” é um filme ousado, provocador, poético e belo. Tantos adjetivos derivam das múltiplas conexões e interpretações que o filme proporciona a respeito do amadurecimento e das relações humanas.








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