quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento




A obra “O Tempo e o Vento” tem extrema importância não só literária mas também histórica pois retrata a formação do estado do Rio Grande do Sul e uma parte importante da história do Brasil. A Obra máxima de Erico Veríssimo agora ganha as telas pelas mãos do diretor Jayme Monjardim.


O diretor conhecido por ter um estilo muito cinematográfico nas produções televisivas que dirige agora encontra a obra certa onde pode realizar um filme bem ao seu estilo.


”O Tempo e o Vento” é estruturado como um grande flashback. A habilidade de Monjardim em comandar as cenas com longas takes imprimindo uma beleza estética impar nas imagens tornando-as vivas e colocando o espectador dentro da ação contada por uma Bibiana idosa(Fernanda Montenegro, em atuação emocionante). É a partir dos relatos de Bibiana a Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) que o longa situa o espectador.

O filme é construído como um épico e assim é comandado pelo diretor que usa todas as “marcas” que são famosas em sua maneira de dirigir: planos longos,ritmo um pouco mais lento da narrativa, closes e uma câmera sempre a espreita disposta a captar a beleza das imagens de forma a engrandecer o filme e reforçar a intenção de se construir um filme épico, para isso investindo em planos abertos nas locações retratadas no longa. O filme tal qual o livro que o baseia parece ser divido em “capítulos” talvez pela clara intenção de transformar o filme em microssérie, a direção de Jayme contudo “costura”(ao lado da montagem evidentemente) esse capítulos ao filme encaixando-os de maneira harmônica e crível.

Quem conhece os trabalhos que o diretor assina pra televisão sabe que o seu trabalho tem duas vertentes bem significativas. Se por um lado o diretor é aquele das belas(e longas imagens),trilha instrumental e belíssima fotografia por outro, ele é um exímio diretor de atores e isso fica claro em “O Tempo e o Vento” especialmente nas cenas entre Bibiana(Fernanda Montenegro), Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) e nas cenas de guerras e conflitos como por exemplo as que deflagram a morte da família de Ana Terra(Cléo Pires), a tropa de Coronel Amaral(José de Abreu) e a guerra na qual Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) é atuante. Jayme imprime uma agilidade cênica nas cenas de embate.



O roteiro de Tabajara Ruas talvez seja o único revés do longa. Com um ritmo demasiado arrastado, sem grandes atrativos e alguns diálogos fora de contexto, o roteiro de Ruas não se impõe como algo único,não possuindo brilho próprio enquanto roteiro inspirado em obra literária. Analisando agora, foi até melhor o roteirista não ter tentado se impor muito pois dada a magnitude e características muito fortes da obra de Veríssimo quaisquer mínima alteração poderia descaracterizá-la.


A habilidade de Monjardim em conduzir os atores acabou por resultar em atuações inspiradas e convincentes do elenco. Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda transmitem emoção e sensibilidade em suas atuações possuindo excelente química cênica juntos. Marjorie Estiano também demonstra química com Lacerda ao encarnar Bibiana na fase jovem. Cléo e Suzana Pires demonstram igual empatia ao encarar em fases distintas a mesma personagem a mítica Ana Terra. Embora Cléo tenha alguns problemas de dicção logo no inicio do longa(depois corrigidos).  José de Abreu brilha ao encarnar de Ricardo Amaral de forma verdadeira e intensa. Magnânimo.


Um dos grandes acertos de “O Tempo e o Vento” é a sua belíssima fotografia(como falei acima). A cargo de Affonso Beato,parceiro habitual de Monjardim. Beato investiu em cores quentes de forma a ressaltar e enaltecer as lindas paisagens capitadas por Jayme Monjardim. Embora as cores quentes predominem nas duas horas de duração Beato não só experimenta outras texturas dessas cores quentes como se permite utilizar um azul gélido no prólogo, instaurando assim a tensão dramática que aquela ocasião necessitava. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que a fotografia é uma das melhores(se não a melhor) coisa no filme.




Dono de um estilo de direção muito particular, Jayme Monjardim encontrou em “O Tempo e o Vento” um canal para imprimir seu estilo. Tamanha identificação e conhecimento sobre o tema transforma “O Tempo e o Vento” em um filme belo, emocionante e com traços estilísticos.  









  
    


Um comentário:

  1. Embora caprichado, eu achei o filme muito condensado, sendo que duas horas de duração não o tornam uma obra completa. Acho que se tivesse ido para três horas seria mais justo.
    Outro problema é o propio Tiago Lacerda que não escondia que estava imitando descaradamente Tarcísio Meira.

    ResponderExcluir