quinta-feira, 20 de junho de 2013

Jogo de Cena




Em 2006 o documentarista Eduardo Coutinho colocou um anuncio no jornal convocando mulheres a compartilhar suas historias de vida para a lente de uma câmera. Historias essas que seriam encenadas por atrizes traçando assim um paralelo entre o real e o fictício. O resultado é o documentário “Jogo de Cena”.

Os depoimentos foram colhidos pelo próprio Eduardo Coutinho que assume aqui a postura de entrevistador utilizando-se de um ambiente naturalmente neutro (o teatro Glauce Rocha no RJ) para criar um documentário pessoal e livre no processo criativo no que diz respeito às depoentes e as atrizes respectivamente.
A liberdade de criação que Eduardo Coutinho da a suas atrizes na hora de dramatizar os relatos das entrevistadas garante ao espectador a possibilidade de perceber nuances dramáticas e performáticas daquela atriz em questão que antes talvez passasse imperceptível.

Fatores como os dispositivos de criação dramática daquelas atrizes. Como elas fazem para atingir aquele ápice dramático e emocional naquela cena. E se o fato de se tratar de uma história real influencia no dispositivo de criação das atrizes. O componente emocional também é um fator bastante explorado por Coutinho tanto pelas depoentes quanto pelas atrizes. De forma bastante delicada, o diretor permite que a depoente reviva livremente aquele fato principalmente agora que ele é dramatizado. E quanto às atrizes Coutinho investiga o quanto dramatizar aquele fato que lhes foi contado mexeu com o seu emocional. Pois como todos sabem a matéria-prima do ator é a emoção. É daí que saem as respostas mais surpreendentes desde aquela que atua da forma mais visceral possível até aquela que se esforça para separar as emoções e não esboçar uma reação descontrolada.

De novo retornamos a questão do método de criação que por sinal é um tema recorrente que percorre todo o filme. O fato de o diretor proporcionar as atrizes um método livre de composição de personagem abrindo assim espaço para as mais variadas versões da mesma história e mais ele quer saber da própria atriz a sua visão daquele relato o que acaba por se tornar um aspecto interessante para o espectador de percepção da autoficção.

O detalhe de extrema importância no documentário é a montagem (ou a falta dela). Digo isso porque Coutinho começa intercalando um depoimento e uma dramatização de repente isso muda e ele começa explorar outras vertentes do mesmo esquema. De certo por ter consciência de que esse esquema poderia cansar a certo momento.

“Jogo de Cena” é um excelente documentário de Eduardo Coutinho que realiza aqui um trabalho primoroso de investigação da alma humana. “Jogo de Cena” vai além, pois abre espaço para uma discussão valiosa sobre o processo criativo e dispositivos de criação performáticos e cinematográficos que é de suma importância.





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