sábado, 22 de março de 2014

Os Famosos e os Duendes da Morte



A adolescência é um período de transformações , de se encontrar a sua própria individualidade mas também pode ser muito solitária. É sobre esse doloroso rito de passagem vivido por muitos- e eu falo por experiência própria que trata “Os Famosos e os Duendes da Morte”.


Dirigido por Esmir Filho baseado no livro de Ismael Caneppele(que co-assina o roteiro e faz uma participação no longa). O Longa trata do Menino sem Nome que se auto intitula Mr Tamborine Man( em homenagem ao seu ídolo Bob Dylan.


“Os Famosos e os Duendes da Morte” é um filme de contemplação. O diretor com sua narrativa intimista nos convida a penetrar na mente do Menino sem Nome(Henrique Larré) e conhecer seu universo particular, seu mundinho, vulgo seu quarto e sua mente onde quiser.

O longa tem uma poética muito particular , possuindo força no aspecto psicológico e intimista dos anseios do jovem protagonista. Não por acaso, o filme possuiu uma estética onírica , de contemplação do sonho (nos quais o diretor Esmir Filho faz um excelente trabalho de construção e condução desse universo paralelo do protagonista , servindo como uma metáfora para os seus medos e anseios).

Dessa forma , o filme faz o processo inverso , de dentro pra fora. A maior parte da ação dramática ocorre dentro da cabeça do Tambourine Man e se tornando um filme muito mais introspectivo e onírico a medida que avança com um fluxo de consciência que faz que o universo particular do jovem( seu quarto, seu blog, seu computador suas músicas) tome forma visual e “salte” da sua mente.

A narrativa tendo esse lado introspectivo e poético muito forte, cabe a Esmir Filho manter a sua câmera a espreita apenas contemplando , registrando e traduzindo em imagens a força dos pensamentos do protagonista. para isso investe em poucos movimentos de câmera como closes e planos detalhe.

O Roteiro escrito a quatro mãos pelo autor do livro Ismael Caneppele e pelo diretor Esmir Filho é dotado de uma poética que impressiona pela extrema sensibilidade que constroem o universo particular do protagonista conseguindo traduzir em imagens seus medos, anseios e principalmente o sentimento de estar perdido do protagonista(Henrique Larré). 
Mas os méritos do roteiro não param por ai, não posso deixar de citar a brilhante forma com que usam a mente do protagonista e sua visão interna para expor seus sentimentos(contando com o incrível talento de Larré capaz de atuar por gestos e poucas falas). Fora isso é admirável a destreza dos roteiristas por unir e transpor os universos onírico e real numa simetria perfeita além de usar metáforas e principalmente fazer um retrato real do jovem contemporâneo.



Henrique Larré arremata o filme como o “Menino sem Nome” ou “Mr Tambourine Man”. Larré é o destaque supremo do longa tendo em vista que a narrativa é construída toda em cima de seu personagem e o ator não decepciona sendo completamente entregue ao seu personagem de forma sutil mas visceral.

Samuel Reginatto e Ismael Canappele se destacam de maneira marcante no longa. Reginatto é Diogo o único amigo do protagonista com o qual ele pode partilhar seus anseios a respeito do futuro. O ator imprime um humor mordaz em seu personagem bem próprio da juventude e interpreta seu papel com veracidade esbanjando ótima química com Henrique Larré.

Ismael Caneppele tem uma atuação decisiva para o desenrolar da narrativa do longa interpretando Julian um personagem singular, uma incógnita que a meu ver seria uma representação da figura paterna para o menino, embora o filme não deixe isso claro.


A trilha sonora é um show á parte recheada de hinos da música folk como a faixa titulo de Bob Dylan “Mr Tambourine” conta com canções do cantor  Nelo Johann.  A trilha de certa forma sintetiza a  introspecção e o universo particular do protagonista bem como seus medos e anseios.


É difícil traduzir o efeito de “Os Famosos e os Duendes da Morte” em quem assiste. Só posso enaltecer a delicadeza , a poesia e a magia que o filme transmite. É um filme feito com o coração como poucos hoje em dia, e pensar que perdi a palestra do Caneppele na minha faculdade. Mas uma coisa é certa: estou com vontade de ler o livro e rever o filme muitas vezes ainda. Já vai pro top 10 de filmes da vida.


  


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