sábado, 17 de maio de 2014

Teenage Paparazzo







Chocante, essa é a melhor definição pra minha reação ao assistir ao ótimo documentário “Teenage Paparazzo” dirigido pelo ator e diretor Adrian Grenier sobre a rotina do jovem paparazzo Austin Visschedyk de 13 anos na época do filme.

A ideia de Grenier de inverter os papeis e realizar um documentário sobre a rotina do jovem foi ousada e perigosa. Ao mesmo tempo, em que subverte os papeis e se permite adentrar a rotina do garoto com uma relação completamente livre e não invasiva, embora a idéia a principio possa parecer exibicionista de utilizar a sua posição de “celebridade” para conseguir contato e uma relação profissional e pessoal com o seu entrevistado o diretor acaba por desconstruir qualquer imagem de superioridade que o seu status social possa lhe conferir. É impossível não fazer uma relação entre a figura do ator de Grenier e o interesse que provoca no público (em especial no jovem Austin).

“Teenage Paparazzo” é um documentário ousado pela sua proposta de retratar o cotidiano de uma figura no mínimo singular dessa “indústria da fama”, mas, sobretudo porque possui muitas nuances, o que o torna um material de análise extremamente rico do papel da mídia no momento atual. Grenier, não se preocupa apenas em registrar a rotina do jovem paparazzo-em um delicado trabalho de imersão- o que lhe permite entender o seu ator social mas sobretudo, ele quer chegar a raiz da questão e analisar todas as camadas que a amplitude do tema lhe permite.

Sendo assim, o diretor da voz a celebridades, profissionais da mídia e historiadores para entender a questão por diferente viés.

É notável e admirável a preocupação de Grenier em construir um documentário de valor e não somente um retrato fútil da indústria das celebridades. Sua preocupação em conhecer as diferentes vertentes daquele universo, torna seu documentário um material de riqueza imensurável, um estudo sociológico de primeira linha, pois “Teenage Paparazzo” não é só um documentário sobre a vida do paparazzo adolescente Austin Visschedyk mas é sobre as diferentes visões e perspectivas sobre a cultura da fama, o filme é sobretudo um estudo sobre o comportamento humano.

Grenier fez escolhas que enriquecem a discussão em torno de seu documentário. Uma delas é o fato de não julgar e sim tentar entender o jovem Visschedyk. Granier vai fundo na compreensão da magnitude e porque não dizer dignidade daquele trabalho. Explorando todas as vertentes, o diretor busca explorar não só o cotidiano daquele jovem mas também a relação entre os artistas e esses profissionais, o viés histórico dessa cultura e o sua própria representação naquela indústria.
Particularmente, eu nunca imaginei  que esse documentário fosse mudar tanto a minha perspectiva sobre essa industria. Eu tenho curiosidade como todo mundo mas o “famous for being famous” me incomoda um pouco ao mesmo tempo em que atiça a curiosidade.

O documentário é dirigido de maneira exemplar por Adrien Granier que subverte a todo o momento a sua própria relação enquanto diretor com o seu ator social Austin Visschedik construindo uma relação fraternal de amizade entre eles e principalmente nos momentos em que Granier derruba qualquer linha que possa separar ele de Visschedik quando se propõe a duas experiências no mínimo bizzaras. Granier não se contenta em apenas acompanhar a rotina de Visschedyk e seus colegas de profissão mas quer estar na pele deles. Pra isso Grenier se disfarça de paparazzo, o acaba lhe permitindo ter um outro olhar sobre toda aquela situação. Em outra situação Grenier após entrevistar seus colegas de elenco da série “Entourage” e constatar que muitos deles foram vitimas de boatos, Granier ao lado de Paris Hilton se propõe a criar um falso boato de um possível relacionamento entre os dois e acompanha a relação da industria e do próprio jovem paparazzo a noticia.

Essa intenção de compreender o mecanismo da indústria e não exercer julgamentos estando do outro lado constitui muito da riqueza de “Teenage Paparazzo”. O que Adrien Granier se propõe aqui é provocar uma reflexão em torno dessa temática tão em voga nos dias de hoje.

O retrato dessa cultura das celebridades e toda a indústria em volta dela, bem como a posição das próprias ditas celebridades-artistas não os “famous for being famous” assim como a dos profissionais da indústria, promovendo discussões sobre o direito a privacidade e direitos e deveres de cada um nessa indústria. O filme nos leva a questionamentos muito pertinentes como “será que por ser artista, eles são obrigados a se permitir ser invadidos a todo o momento. Onde começa o trabalho do paparazzo e termina o respeito com o outro. Todas essas e muitas questões fazem de “Teenage Paparazzo” um documentário muito rico na amplitude de sua abordagem e nem um pouco vazio como a temática  poderia ocasionar em um diretor sem sensibilidade e habilidade.
Porém, sensibilidade e habilidade Adrien Granier tem de sobra . Revelando uma faceta desconhecida(ao menos pra mim) a de cineasta. Granier revela-se tão talentoso como diretor quanto é como ator. O fato é que Adrien Granier conseguiu ir além e fazer de “Teenage Paparazzo” um documentário com viés crítico sem entretanto esboçar julgamentos. A crítica aqui é realizada através da reflexão, sendo o documentário capaz de mudar a perspectiva sobre a cultura das celebridades.







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