segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Especial Diretores: Cameron Crowe

Foto de Cameron Crowe com a sua estatueta do Óscar de melhor roteiro original por Quase Famosos



Nascido em 13 de julho em Palm Springs e criado em San Diego, Cameron Crowe sempre foi uma criança diferente do normal e um adolescente prodígio.

Em parte isso se deve a sua mãe Alice que empenhada em investir no potencial do filho, fez com que ele pulasse de ano na escola se lhe dizer e omitiu sua verdadeira idade. Em parte por ele sofrer de Nephritis na adolescência, o que acabou o afastando da cultura ensolarada da Califórnia.

Eis então que Cameron descobre duas importantes válvulas de escape: A escrita e a musica(especialmente o rock).  Isso aconteceu graças a Irmã Cindy que ao sair de casa por discordar dos métodos disciplinares de sua mãe deixa para Cameron  sua coleção de discos de vinil.

Foi o empurrão que faltava para que Cameron desenvolvesse sua escrita e escrevesse artigos de música para publicações como San Diego Doors e Cream magazine. Não demorou muito para que a Rolling Stone se interesse por seus artigos e lhe convidasse para cobrir a turnê do Led Zeppelin com exclusividade para a revista(vide “Quase Famosos”).


Mais tarde, Cameron resolveu voltar a escola para recuperar o tempo perdido e publicar suas impressões no livro “Fast Times At Ridgemont High”. O sucesso foi tanto que o livro virou filme com direção de Amy Heckerling e roteiro do próprio Cameron. Daí das páginas dos roteiros(ele escreveu ainda “Vida Selvagem”), para  trás das câmeras foi um pulo.

Desde então , Cameron desenvolveu uma carreira pautada em uma filmografia essencialmente autoral e com características muito particulares e de fácil identificação com o público. Muito dessa identificação se deve aos seus personagens sempre passarem pelo “Rito de Passagem” e é claro, pela trilha sonora, elemento essencial dos seus filmes.

Abaixo, conheça um pouco mais sobre sua filmografia:


Say Anything(1989)

Debut de Cameron como diretor. O filme é centrado no amor platônico do pugilista Lloyd Dobler(John Cusack) pela jovem rica e popular Diane(Ione Syke). Cameron aprimora o enredo centrado nos adolescentes já abordado nos seus roteiros anteriores. Com uma narrativa e direção ágeis. É um filme que faz um uso inteligente do “Jogo de Câmera”. É, sobretudo um filme de contrastes pautados nas personalidades distintas de seus protagonistas.


Singles- Vida de solteiro(1992)

É o filme que representa a primeira evolução narrativa da obra do diretor. Se antes Cameron centralizava seus filmes nos adolescentes e no High School americano, aqui o foco é os jovens adultos vivendo em Seattle em meio a cena grunge do inicio dos anos 90. Singles é um filme simples na sua forma narrativa, mas grandioso em seu conteúdo, se observarmos as entrelinhas. A trilha sonora ocupa um importante espaço narrativo no filme de modo que a mesma se sobressaiu de maneira definitiva.


Jerry Maguire- A Grande Virada(1996)

É o filme que representa a segunda evolução na obra de Cameron Crowe. O filme apresenta uma série de inovações técnicas e narrativas a filmografia do diretor.

 É o filme em que podemos observar primeiramente a “metáfora de crescimento” que falei no inicio desse texto e que pode ser observada com mais clareza em seus filmes subseqüentes.


Quase Famosos(2000)

É o filme mais conhecido do diretor e uma de seus melhores filmes na minha opinião. A trama semi-autobiográfica do jovem William Miller(Patrick Fugit) que aos 15 anos viaja pra turnê da banda Stillwater a serviço da revista Rolling Stone se confunde com a vida do próprio Cameron Crowe. É um filme dinâmico, ágil e carregado de emoção. È a declaração de amor de Cameron ao Rock que o acolheu quando ele era um jovem “Uncool” e hoje é fundamental em sua vida. O filme trouxe a Crowe a sua maior consagração na carreira até então, pois lhe rendeu o Óscar de melhor roteiro original além do BAFTA na mesma categoria em 2001.





Vanilla Sky(2001)

Ao realizar este remake do filme espanhol “Abra Los Ojos” , Cameron Crowe realizou sua obra Sui-Generis- isto é, única. Única no sentido em que neste trabalho Crowe realizou  um filme sem todas as formulas pré-concebidas em seus trabalhos. Foi sobretudo um desafio, afinal em “Vanilla” Crowe realizou um filme com tempos fílmicos simultâneos.

Um trabalho ousado e com múltiplas interpretações, foi um exercício de direção interessante para o diretor que soube imprimir sua “Marca” pessoal no filme. O filme merece ser visto inúmeras vezes devido as inúmeras camadas de entendimento que a trama oferece.


Elizabethtown(2005)

Nesta comédia romântica de 2005 Crowe realizou um filme poético sobre a relação do ser humano com a morte. É talvez o seu filme mais pessoal depois de Quase Famosos.

Cameron intercalou em Elizabethtown o seu dinamismo característico com um certo lirismo ao desacelerar a ação no terceiro ato.

Em Elizabethtown , Crowe trouxe outra inovação narrativa: Pela primeira vez, Crowe deu a um personagem seu a função de narrador da historia.

A trilha sonora da um suporte narrativo a trama embalando o enredo de forma a ambientar os personagens.


Pearl Jam twenty(2011)

Após seis anos sem lançar nenhum trabalho(acredite, para o diretor isso é muito tempo.) Cameron começou 2011 com força total: Lançando três filmes no mesmo ano.

Entre estes filmes está Pearl Jam Twenty, o documentário comemorativo aos 20 anos da banda Pearl Jam. O documentário é alçado em três frentes: imagens de arquivo,entrevistas e shows ao vivo.

Cameron realizou um documentário ágil e próximo dos fãs. Parte disso se deve ao fato do diretor assumir a postura de entrevistador imprimindo naturalidade ao filme.

O filme é essencialmente calçado na banda e na relação dos integrantes com os fãs. Dessa maneira, a própria banda guia o filme de certa forma.

Cameron Crowe realizou em Pearl Jam um mergulho intenso na historia da banda, o que acabou resultando no documentário definitivo sobre o Pearl Jam.


Nos Compramos um Zoológico(2011)

Em Nós Compramos um Zoológico, Cameron Crowe se volta aos dramas familiares. Baseado no livro homônimo de  Benjamim Mee, Crowe fez o perfeito filme família. Um filme cativante com uma grande historia e grandes atores.

Aqui, Cameron fez um ótimo uso da excepcional historia e atores que tinha em mãos. O diretor utilizou os closes em takes carregados de emoção. Crowe imprimiu ao longa uma narrativa dinâmica ao mesmo tempo em que garantiu ao longa um lirismo oriundo de suas lentes-lirismo este que se estende a trilha sonora.





Acessem o site oficial do diretor para mais informaçoes sobre sua vida e carreira:

http://www.theuncool.com/

Ps: sugiro aos fãs do diretor que assistam Entourage (HBO, 2004-2011) pois a série tem várias referências a obra do diretor além de ser ótima.





O Fan film que eu fiz em homenagem ao Cameron Crowe e Entourage.



Link: https://vimeo.com/110432218 e no youtube:

sábado, 22 de dezembro de 2012

Fast Times At Ridgemont High




Stacy (Jennifer Jason Leigh) é uma estudante do ensino médio que começa a ter os primeiros questionamentos sobre sexo. Ela trabalha na pizzaria do shopping no seu tempo livre e conta com os conselhos da melhor amiga, a “Pseudo” experiente Linda (Phoebe Cates). Stacy nem imagina da paixão do tímido Mark (Brian Becker) que não tem coragem de se declarar.


Baseando-se no livro homônimo de Cameron Crowe (que também escreveu o roteiro) Amy Heckerling fez no filme um retrato fiel dos desejos e anseios da juventude.

A diretora apostou nos planos mais fechados e na sucessão rápida de planos, o que conferiu ao filme a agilidade e o frisson necessários a narrativa.

A montagem paralela foi utilizada de modo a equilibrar todos os plots do enredo.


Cameron Crowe foi responsável pelo roteiro da adaptação  cinematográfica de seu livro homônimo. Crowe foi extremamente hábil na construção do seu roteiro, especialmente na construção dos personagens e seus respectivos plots.

Outro ponto a se considerar é a maneira com que Cameron Crowe trabalhou os diversos plots de modo que eles se “encontram” em determinado ponto da narrativa.

De fato, Crowe esbanjou talento e criatividade na sua primeira experiência cinematográfica.


O elenco com muitos atores em inicio de carreira como Jennifer Jason Leigh (Stacy), Phoebe Cats (Linda), as duas aliás tem um entrosamento cênico que transparece na tela.



Brian Becker (Mark) e Judge REINHOLD (Brian) se destacam por interpretar o impopular o popular da escola respectivamente. Os dois atores acertaram em cheio ao ressaltar os dilemas dos personagens.


A trilha sonora tem a função de ambientar os personagens do enredo, agindo como uma extensão do ambiente escolar no qual os personagens estão inseridos.

Dessa forma, predominam na trilha sonora o rock e o pop/rock, gênero dominante entre os jovens. E o melhor: A maioria dos artistas compuseram canções especialmente para o filme, o que faz a trilha sonora de “Fast Times At Ridgemont High” ser exclusiva.

“Fast Times At Ridgemont High” é o que chamamos de um feliz encontro cinematográfico: Um excelente roteiro , uma direção segura e habilidosa e atores jovens e talentosos que interpretaram seus respectivos papeis com naturalidade.



O resultado dessa experiência é um filme terno e atemporal que ao retratar dilemas universais acaba tornando impossível que o espectador não se indetifique em algum aspecto.












sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Jerry Maguire - A Grande Virada











Jerry Maguire (Tom Cruise) é um bem-sucedido agente esportivo que é demitido após escrever um relatório propondo uma relação mais pessoal com os clientes. Tal fato acaba causando a sua demissão da agência onde trabalha. Sozinho, ele conta com o apoio de Dorothy Boyd (Renée Zellweger) com quem desenvolve uma relação fraternal que transcende os limites do campo profissional.


Além disso, Jerry precisa estimular o seu único cliente Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr) a jogar com a alma para se consagrar um vencedor.



Em seu terceiro filme como diretor, Cameron Crowe apresentou uma evolução no que diz respeito à temática e a técnica apresentadas até então em seus filmes anteriores. Antes ele focava seus filmes em dilemas adolescentes e jovens adultos (Say Anything e Singles, respectivamente.)



O filme apresentou uma serie de inovações técnicas e narrativas a filmografia do diretor, tais como: elipses, closes e montagem paralela entre outras.


O diretor fez uso do contra-plongêe para evidenciar a atmosfera grandiosa do esporte e sua importância no enredo.



Utilizando-se dos closes, Crowe priorizou o grande elenco que tinha em mãos destacando-os em suas lentes intimistas.  O que acaba fazendo de Jerry Maguire um filme de gestos muito particulares. Tais características se perduram até hoje na filmografia do diretor.



A fotografia do filme á cargo de Janusz Kaminski trabalha em duas frentes distintas:

Na primeira parte do filme predominam cores vivas e cintilantes nas lentes de Janusz.  Após a derrota profissional de Jerry Maguire, as cores cintilantes dão lugar á um granulado consistente que evidencia a mudanças sofridas pelo protagonista.


A presença de uma narração em “Over” é talvez a maior inovação do filme em termos narrativos. Neste caso essa função cabe ao protagonista Jerry Maguire (Tom Cruise).


A musica, elemento fundamental nos filmes do diretor, assume aqui a posição de contextualizar o universo fílmico.


A trilha sonora á cargo de Nancy Wilson (ex-parceira habitual do diretor) se baseia em dois estilos-chave: O rock e o blues. O rock se destaca especialmente na primeira parte do enredo para demonstrar a ascensão social do protagonista, posteriormente dando lugar ao blues devido à derrota profissional de Jerry Maguire (Tom Cruise).


Todo o elenco tem seu respectivo espaço no enredo bem definido, de forma que todos os atores cumprem afinco a função dramatúrgica de seus personagens dando-lhes vida.


É impossível não destacar o trabalho de 5 atores em especial. Tom Cruise (Jerry Maguire) construiu seu personagem de maneira meticulosa, especialmente no que diz respeito à “curvas dramáticas” de seu personagem.


Cuba Gooding Jr (Tod Tidwell) fez uma belíssima construção involuntária de seu personagem, isto é de dentro pra fora. Um personagem construído com uma certa agressividade, aos poucos, Cuba deixa sobressair o verdadeiro “eu” de seu personagem. A atuação impressionante de Cuba lhe rendeu um merecido Óscar de melhor ator coadjuvante pelo filme.


Renée Zellweger(Dorothy Boyd) imprime em sua personagem um carisma e uma sutileza admiraveis. A relação fraterna que construiu com Tom Cruise em cena é excepcional. A relação maternal que estabelece com o filho de sua personagem interpretado por Jonathan Lipnicki é encantadora.


Por falar em Jonathan Lipnicki , é preciso destacar a sua notável atuação junto aos personagens de Renée Zellweger e Tom Cruise. Jonathan é a grata surpresa do filme devido à naturalidade e carisma que apresenta em cena.


Por fim, menciono Jay Mohr (Bob Sugar) dono de uma interpretação sutil que passa quase imperceptível aos olhos do espectador, mas que cumpre a sua função de antagonista da história. Uma pena que não tenha maior destaque.



Jerry Maguire é um belíssimo filme, é aquilo que chamamos de “filme de transição”, elevando a carreira de seu diretor Cameron Crowe para outro nível. Aqui se estabeleceu traços que podem ser percebidos até hoje nos filmes de Cameron Crowe, com maior aprimoramento é claro.