No mundo cibernético de hoje, todos estamos plugados o tempo todo e
necessitamos que seja assim quase que 24 horas por dia. Twittamos, fazemos
amigos e conversamos pelo facebook, escrevemos textos no Word e blogamos( o
texto que você vai ler em um Blog foi escrito no Word). A tecnologia nos
permitiu a abertura de um novo mundo por outro lado ocasiona uma certa dependência
e solidão.
Este é o tema central de “Ela” do diretor Spike Jonze. Ele nos apresenta
um escritor em crise(quem nunca sofreu com a síndrome da página em branco? Eu mesmo
estou saindo de um bloqueio criativo ao escrever isto pra vocês.) “Ela” nos
apresenta a figura de Theodore(Joaquin Phoenix) , um escritor em crise que
perdeu o tesão pela sua escrita e ainda amargura e protela a separação de sua
mulher. Theodore vive isolado em seu mundo cibernético até que compra um novo
sistema operacional ultramoderno que muda sua percepção da vida e ainda por
cima tem a voz da Scarlett Johansson!
Eu não conheço o trabalho
de Spike Jonze a fundo mas a forma como
ele construiu esse filme me deixou muito curioso e admirado pelo seu trabalho.
Primeiramente , Jonze demonstrou uma habilidade de concepção fílmica esplendida,
construindo um universo fílmico á parte, quase uma utopia tecnológica ou em um
episódio de “Os Jetsons”. Na construção desse universo fílmico particular, o
diretor deixa subtendido em linhas claramente perceptíveis mas de forma muito
natural a solidão interna que assola o protagonista Theodore(Phoenix). Dessa forma,
o Cineasta pauta a sua direção na sensibilidade , induzindo um ritmo particular
ao longa com uma atmosfera muito sutil e intima.
Jonze realiza uma excelente direção
de atores(ou diria ATOR), nesse caso Joaquin Phoenix. Conduzindo sua direção com
naturalidade e sutileza o Cineasta explora a interpretação mais primitiva do
ator, apostando nos movimentos e expressões
mais básicos e triviais como closes e panorâmicas muito bem executados em uma
excelente dinâmica ator-diretor. O filme em termos técnicos e narrativos se
desenrola como um grande monologo.
O longa possui uma estética muito
rica que remete a algo futurista. Essa roupagem é transdimensional ,
fortalecendo a perceptiva de futuro tecnológico que vivemos ao mesmo tempo,
esse universo transdimensional representado no filme por alusões perfeitas do Xbox
e do Second Life é combinado por um aspecto sensorial que é representado pelo psicológico
de Theodore e por Samantha(Scarlett Johansson) que assume o papel de consciência
do protagonista.
Não bastou Spike Jonze
construir um filme perfeito técnica e esteticamente falando, ele ainda
construiu um roteiro sensacional. Muitas vezes recorrendo a estrutura do
monologo teatral, reforçando não só a construção do espaço/universo cênico mas
principalmente o psicológico do protagonista(Phoenix).
O Fato de o roteirista ter
conferido emoções a “voz” de maneira gradativa permitiu que Samantha tomasse
forma cênica mesmo sem ter uma “forma”. Isso permitiu que Scarlett Johansson se destacasse imensamente, a atriz merecia
um premio por sua voz. É incrível a forma como Scarlett consegue soar sensual e
transmitir emoção através da fala.
Joaquin Phoenix é de um
talento extraordinário. O ator consegue expressar toda a melancolia do
personagem somente usando feições e aspectos puramente cênicos sem usar a fala.
Sua interpretação é intensa, forte mas muito sutil. O ator rouba a cena
literalmente sobretudo pela forma exemplar que compõe o psicológico do
personagem e a “química cênica” que têm com Scarlett Johansson.
“Ela” é um grande filme. Uma
aula em termos de conceito e realização cinematográfica. Uma maravilha fílmica que
nos deixa anestesiados pela construção perspicaz da narrativa e a composição fílmica
bem como uma notável direção cênica. “Ela” é um filme excelente. Sensível,
reflexivo e moderno. Melhor ainda: Me tirou do meu bloqueio criativo semelhante
ao de Theodore. Spike Jonze você ganhou uma fã, vou conferir seus outros
trabalhos correndo.
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