domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ela


No mundo cibernético de hoje, todos estamos plugados o tempo todo e necessitamos que seja assim quase que 24 horas por dia. Twittamos, fazemos amigos e conversamos pelo facebook, escrevemos textos no Word e blogamos( o texto que você vai ler em um Blog foi escrito no Word). A tecnologia nos permitiu a abertura de um novo mundo por outro lado ocasiona uma certa dependência e solidão.


Este é o tema central de “Ela” do diretor Spike Jonze. Ele nos apresenta um escritor em crise(quem nunca sofreu com a síndrome da página em branco? Eu mesmo estou saindo de um bloqueio criativo ao escrever isto pra vocês.) “Ela” nos apresenta a figura de Theodore(Joaquin Phoenix) , um escritor em crise que perdeu o tesão pela sua escrita e ainda amargura e protela a separação de sua mulher. Theodore vive isolado em seu mundo cibernético até que compra um novo sistema operacional ultramoderno que muda sua percepção da vida e ainda por cima tem a voz da Scarlett Johansson!


Eu não conheço o trabalho de  Spike Jonze a fundo mas a forma como ele construiu esse filme me deixou muito curioso e admirado pelo seu trabalho. Primeiramente , Jonze demonstrou uma habilidade de concepção fílmica esplendida, construindo um universo fílmico á parte, quase uma utopia tecnológica ou em um episódio de “Os Jetsons”. Na construção desse universo fílmico particular, o diretor deixa subtendido em linhas claramente perceptíveis mas de forma muito natural a solidão interna que assola o protagonista Theodore(Phoenix). Dessa forma, o Cineasta pauta a sua direção na sensibilidade , induzindo um ritmo particular ao longa com uma atmosfera muito sutil e intima.

Jonze realiza uma excelente direção de atores(ou diria ATOR), nesse caso Joaquin Phoenix. Conduzindo sua direção com naturalidade e sutileza o Cineasta explora a interpretação mais primitiva do ator, apostando nos movimentos  e expressões mais básicos e triviais como closes e panorâmicas muito bem executados em uma excelente dinâmica ator-diretor. O filme em termos técnicos e narrativos se desenrola como um grande monologo.


O longa possui uma estética muito rica que remete a algo futurista. Essa roupagem é transdimensional , fortalecendo a perceptiva de futuro tecnológico que vivemos ao mesmo tempo, esse universo transdimensional representado no filme por alusões perfeitas do Xbox e do Second Life é combinado por um aspecto sensorial que é representado pelo psicológico de Theodore e por Samantha(Scarlett Johansson) que assume o papel de consciência do protagonista.


Não bastou Spike Jonze construir um filme perfeito técnica e esteticamente falando, ele ainda construiu um roteiro sensacional. Muitas vezes recorrendo a estrutura do monologo teatral, reforçando não só a construção do espaço/universo cênico mas principalmente o psicológico do protagonista(Phoenix).

O Fato de o roteirista ter conferido emoções a “voz” de maneira gradativa permitiu que Samantha tomasse forma cênica mesmo sem ter uma “forma”. Isso permitiu que  Scarlett Johansson se destacasse imensamente, a atriz merecia um premio por sua voz. É incrível a forma como Scarlett consegue soar sensual e transmitir emoção através da fala.


Joaquin Phoenix é de um talento extraordinário. O ator consegue expressar toda a melancolia do personagem somente usando feições e aspectos puramente cênicos sem usar a fala. Sua interpretação é intensa, forte mas muito sutil. O ator rouba a cena literalmente sobretudo pela forma exemplar que compõe o psicológico do personagem e a “química cênica” que têm com  Scarlett Johansson.


“Ela” é um grande filme. Uma aula em termos de conceito e realização cinematográfica. Uma maravilha fílmica que nos deixa anestesiados pela construção perspicaz da narrativa e a composição fílmica bem como uma notável direção cênica. “Ela” é um filme excelente. Sensível, reflexivo e moderno. Melhor ainda: Me tirou do meu bloqueio criativo semelhante ao de Theodore. Spike Jonze você ganhou uma fã, vou conferir seus outros trabalhos correndo.      



Nenhum comentário:

Postar um comentário