Quentin Tarantino
faz parte de um grupo de diretores que teve a sua formação no cinema na “raça”
e com base intelectual inteiramente no home vídeo. Para tanto, é natural que
carregado dessas inúmeras referências fílmicas Tarantino faça um tributo á
esses gêneros em seus filmes. Como no caso de Kill Bill onde faz um tributo (ainda
que a sua maneira) aos filmes de artes marciais japoneses.
Construído em uma narrativa não linear, Kill
Bill nos apresenta á “Noiva” (Uma Thurman). Grávida é noiva é vitima de uma tentativa de homicídio
pelo grupo do esquadrão assassino de víboras mortais do qual ela fazia parte. Após
ficar quatro anos em coma à noiva vai em busca da sua vingança.
O diretor
imprimiu ao filme uma direção coreografada, com planos longos, intersecções e sobreposições
de planos.
Com flashbacks
bem construídos e cortes secos permeados pelo empolgante jogo de câmera imprimido
pelo diretor, que investe em planos mais fechados de modo a construir uma tensão
dramática no filme.
Fazendo uso
inteligente das elipses e dos flashbacks, Tarantino coloca o espectador a par
das motivações da motivações da noiva para realizar a sua vingança. Ao mesmo
tempo confere uma agilidade narrativa em contraponto os planos de longa duração.
Além da violência
exacerbada característica de seus filmes, Tarantino inseriu em “Kill Bll” um
intercambio de mídias ao inserir flashbacks no estilo anime. contribuindo
assim, para criar um universo estético estilizado condizente com a narrativa
proposta pelo filme.
Auxiliado
pela montagem competente, o diretor imprime ao filme uma força visual intensa,
com flashbacks muito bem posicionados de forma a criar um horizonte de
expectativas no espectador.
O roteiro de
Tarantino é contado de forma não linear como eu já disse. O diretor investiu na
ação e na atuação performática de seus atores nas cenas em detrimento do
dialogo. Construindo cenas intensas de ação com flashbacks momentâneos o
roteiro prima pela desconstrução do padrão narrativo usual ao “contar” o enredo
do filme fora de ordem cronológica.
A fotografia
de Robert Richardson é marcada pelo abuso de cor ou
pela ausência dela. Ao apostar em cores quentes e vivas para as cenas de luta e
flashbacks da noiva (Uma Thurman). Há dois flashbacks em especial que é feito em
preto e branco (o prólogo inicial e nas cenas em anime que explicam a origem de
O-Ren Ishii).
Ao dar a Noiva
(Uma Thurman) à função de narradora, com uma interessante narração em “Off”. Permitindo
assim a possibilidade do espectador compreender as motivações de vingança da
noiva.
Ao fazer uso
da música anti-diegética (fora do universo fílmico), apropriando-se de outras
trilhas sonoras, o diretor faz um tributo sétima arte.
O elenco é
extenso, mas Tarantino fez questão de dar ao seu elenco uma importante função narrativa,
por menor que seja sua participação.
Uma Thurman
interpreta a “Noiva” com desenvoltura e segurança cênica em uma personagem
especialmente criada pra ela. Os méritos da atriz em cena são inúmeros, mas o
maior deles é Uma ter humanizado a personagem de modo que o espectador torce
para que a “Noiva” termine a sua vingança.
Vivica A. Fox
(Vernita Green) e O-Ren Ishii (Lucy
Liu), as oponentes da noiva nessa primeira parte
interpretam suas personagens de forma impressionante resaltando em seus olhares
e movimentos cênicos a falta de humanidade de suas personagens.
Chiaki Kuriyama (Go-Go Yubari) surge de forma surpreendente na
tela ao encenar com afinco o braço-direito de O-Ren ishii (Lucy Liu). A atriz
protagoniza uma das melhores e mais bem coreografadas cenas do longa.
“Kill
Bill” já mostra a nessa primeira parte a que veio. Com inúmeras referências o
longa escapa de ser uma “colcha de retalhos” e se torna um filme com visão autoral
de Tarantino sobre esse gênero cinematográfico.
Além de
confirmar Tarantino como um excelente diretor de atores, o filme acaba
resultando no melhor exemplo do universo autoral e estilizado do seu diretor.
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