Desmistificar um artista do porte de Caetano Veloso não é uma tarefa das mais fáceis, mas esse parece ser o principal mote de “Coração Vagabundo” o documentário sobre o artista dirigido por Fernando Grostein Andrade durante a turnê internacional “A Foreign Sound”.
Ao acompanhar Caetano em sua turnê
internacional Fernando estabelece com o cantor (que aqui desempenha o papel de
“ator social”) e consequentemente com o espectador uma relação de proximidade
com o seu protagonista, buscando assim a identificação do publico com o
material que é exibido.
Conferindo á o próprio Caetano a função de "guiar" o filme, o documentário estabelece assim uma relação próxima com o seu
público seja ele o espectador como já foi dito ou o próprio público do artista
que foi assisti-lo durante a sua turnê internacional.
O artista (aqui o “ator social”) desconstrói a
todo o tempo qualquer imagem de mito que os longos anos de carreira possam ter
lhe trazido. Pelo contrário, Caetano se expõe com naturalidade o que permite ao
diretor Fernando Grostein Andrade possa conferir ao filme um aspecto mais
intimista.
A opção de Fernando de construir o filme como
sendo um documentário observacional de sua parte (e não participativo), isto é
a figura do realizador (no caso Fernando) de não aparecer frente à câmera garante
maior foco e destaque na figura de Caetano, apesar de nós quanto espectadores
sabermos que Fernando está ali presente observando e registrando tudo.
Há em “Coração Vagabundo” uma agilidade e
sobreposições de planos que acompanham o ritmo do cantor. Nesse sentido,
Caetano “comanda” a narrativa fílmica, pois é através dos seus depoimentos que
determinam a ordem das imagens na tela.
O
documentário possui uma estrutura narrativa muito dinâmica. Cobre o lado
artístico do cantor, incluindo ensaios para a turnê, bastidores, a relação de
Caetano com o público (e do público para com ele), as influências e como o
músico se relaciona com a crítica. Todos estes fatores garantem ao documentário
uma perspectiva muito pessoal e permitem que Caetano se exponha tal como é: uma
pessoa humilde, um artista criativo e uma pessoa como uma ideologia muito clara
á respeito do papel da música na sua vida e consequentemente na sociedade.
O fato de o próprio perfilado ser o “guia” do
filme garante ao cantor um ambiente confortável para que possa se expor com
naturalidade e discursar sobre vários temas que cercam o seu universo musical: o
tropicalismo, a relação com a crítica e suas inspirações por exemplo.
O documentário se revela muito “aberto” no
sentido de que abre espaço para o público discursar sobre a importância de
Caetano Veloso, este, aliás, é um dos melhores momentos do filme com
depoimentos mais que especiais de personalidades como Pedro Almodóvar e Michelangelo Antonioni (sobretudo considerando que Antonioni deu uma de
suas ultimas entrevistas, vindo a falecer posteriormente).
Com um Caetano totalmente aberto e acessível, Fernando
Andrade criou uma atmosfera intimista no longa que permitiu ao espectador
encontrar uma narrativa passível de identificação ao grande público (sendo fã
do cantor ou não).
O resultado de “Coração Vagabundo” é uma experiência
cinematográfica agradável e reveladora no sentido de que exibe todas as inúmeras
nuances de um artista de talento e carismas imensos com propriedade e leveza.
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