Igualdade social,
preconceito e Road Movies são tramas que frequentemente aparecem no cinema, mas
nunca foram tão bem tratados como em “Colegas”. Stallone (Ariel Goldenberg),
Márcio (Breno Viola) e Aninha (Rita Pokk) são três jovens portadores de
síndrome de Down. Eles vivem em uma instituição para portadores de necessidades
especiais comandada pelo casal Arlindo (Lima Duarte) e Esmeralda (Amélia
Bittencourt). Eles crescem ativos e cheios de energia passando por cima das
suas limitações.
Um dia,
inspirados pelo filme “Thelma e Louise” eles “roubam” o carro de seu Arlindo e
partem em uma emocionante aventura.
O filme é
construído de maneira delicada por Marcelo Galvão. O diretor investe nos planos
mais abertos, sobretudo após a “fuga” dos protagonistas com o objetivo de
demonstrar o poderoso enredo e os talentosos atores que tem em mãos. Ao mesmo
tempo em que imprime na tela a sensação de liberdade vivenciada pelos seus
personagens.
Trabalhando
em um habilidoso jogo de câmera em conjunto a um corte rápido e delicado de
planos, Marcelo confere ao filme uma dinâmica muito interessante, conseguindo intercalar
diferentes espaços fílmicos que coexistem nesta narrativa poética e bela.
A montagem
tropeça em um único momento: no prólogo inicial tornando confuso o primeiro
momento da narrativa, antes do filme iniciar de fato. Depois desse pequeno
equivoco, a montagem se iguala ao restante do filme, tornando-se um aliado
competente da direção na tarefa de estabelecer o dinamismo da trama.
A fotografia
é um elemento importante do filme. Se tratando de um “Road Movie”, possuiu um
tom naturalista em suas lentes, com o objetivo de captar o espaço percorrido
por seus protagonistas. Utilizando uma luz natural que realça o cenário/espaço
fílmico mesmo em cenas noturnas.
O roteiro de
Marcelo Galvão é extremamente sutil e é ai que está o seu ponto forte. Repleto
de situações cômicas ao expor estes personagens a uma aventura e a maneira como
eles á encaram. Diálogos naturalistas dão o tom do filme, juntos a citações
cinematográficas. Além de “Thelma e Louise”, o fim tem referências a filmes
como “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Jules e Jim-Uma Mulher para Dois”. E
também referencias a cineastas como Jean-Luc Godard e Pedro Almodóvar.
Aliás, é bom
resaltar que conforme a narrativa avança, as referências cinematográficas e o
amor de Marcelo Galvão pela sétima arte ficam mais evidentes no filme.
Inclusive quando o diretor opta por um “intercambio de mídias” em seu filme ao
colocar um telejornal como um elemento de suma importância no filme e seus
atores que interpretam os jornalistas atuantes no mesmo.
Os atores
protagonistas Ariel Goldenberg (Stallone), Breno Viola (Márcio) e Rita Pokk (Aninha)
atuam com uma naturalidade impressionante. Portadores da síndrome de Down eles
garantem os trejeitos exatos á seus respectivos personagens. O fato de serem
portadores da síndrome não diminui nem compromete suas performances cênicas em
nada. Eles são atores e todos os três atuam de maneira genuína e ponto. A
deficiência deles se torna apenas um mero detalhe quase imperceptível, tanto
para os atores quanto para os seus respectivos personagens.
Lima Duarte
(Arlindo) atua de maneira visceral no filme. Sua interpretação é construída de
maneira afetiva. Isso contribuiu muito para o filme, visto que o personagem
Arlindo possuiu uma função dramática muito importante no enredo: ele narra o
filme.
Amélia Bittencourt
(Esmeralda) é outra que ao lado de Lima atua de maneira coesa e com o
naturalismo que o enredo e o personagem pedem.
A trilha
sonora tem um efeito narrativo em “Colegas” e funciona muito bem como
acompanhamento dramático. Aliás, por falar em acompanhamento é impossível
deixar de citar a presença de Raul Seixas na trilha conferindo ao filme um
efeito lúdico muito bem.
O resultado
de “Colegas” é extremamente positivo. Ao desmistificar o diferente, o filme
acaba proporcionando um espetáculo lúdico e poético, Além de ser um reflexo de
dentro de nós mesmos ao proporcionar ao espectador se identificar com aqueles personagens.
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