quarta-feira, 6 de março de 2013

Colegas




Igualdade social, preconceito e Road Movies são tramas que frequentemente aparecem no cinema, mas nunca foram tão bem tratados como em “Colegas”. Stallone (Ariel Goldenberg), Márcio (Breno Viola) e Aninha (Rita Pokk) são três jovens portadores de síndrome de Down. Eles vivem em uma instituição para portadores de necessidades especiais comandada pelo casal Arlindo (Lima Duarte) e Esmeralda (Amélia Bittencourt). Eles crescem ativos e cheios de energia passando por cima das suas limitações.
Um dia, inspirados pelo filme “Thelma e Louise” eles “roubam” o carro de seu Arlindo e partem em uma emocionante aventura.

O filme é construído de maneira delicada por Marcelo Galvão. O diretor investe nos planos mais abertos, sobretudo após a “fuga” dos protagonistas com o objetivo de demonstrar o poderoso enredo e os talentosos atores que tem em mãos. Ao mesmo tempo em que imprime na tela a sensação de liberdade vivenciada pelos seus personagens.
Trabalhando em um habilidoso jogo de câmera em conjunto a um corte rápido e delicado de planos, Marcelo confere ao filme uma dinâmica muito interessante, conseguindo intercalar diferentes espaços fílmicos que coexistem nesta narrativa poética e bela.

A montagem tropeça em um único momento: no prólogo inicial tornando confuso o primeiro momento da narrativa, antes do filme iniciar de fato. Depois desse pequeno equivoco, a montagem se iguala ao restante do filme, tornando-se um aliado competente da direção na tarefa de estabelecer o dinamismo da trama.

A fotografia é um elemento importante do filme. Se tratando de um “Road Movie”, possuiu um tom naturalista em suas lentes, com o objetivo de captar o espaço percorrido por seus protagonistas. Utilizando uma luz natural que realça o cenário/espaço fílmico mesmo em cenas noturnas.

O roteiro de Marcelo Galvão é extremamente sutil e é ai que está o seu ponto forte. Repleto de situações cômicas ao expor estes personagens a uma aventura e a maneira como eles á encaram. Diálogos naturalistas dão o tom do filme, juntos a citações cinematográficas. Além de “Thelma e Louise”, o fim tem referências a filmes como “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Jules e Jim-Uma Mulher para Dois”. E também referencias a cineastas como Jean-Luc Godard e Pedro Almodóvar.

Aliás, é bom resaltar que conforme a narrativa avança, as referências cinematográficas e o amor de Marcelo Galvão pela sétima arte ficam mais evidentes no filme. Inclusive quando o diretor opta por um “intercambio de mídias” em seu filme ao colocar um telejornal como um elemento de suma importância no filme e seus atores que interpretam os jornalistas atuantes no mesmo.   
 
Os atores protagonistas Ariel Goldenberg (Stallone), Breno Viola (Márcio) e Rita Pokk (Aninha) atuam com uma naturalidade impressionante. Portadores da síndrome de Down eles garantem os trejeitos exatos á seus respectivos personagens. O fato de serem portadores da síndrome não diminui nem compromete suas performances cênicas em nada. Eles são atores e todos os três atuam de maneira genuína e ponto. A deficiência deles se torna apenas um mero detalhe quase imperceptível, tanto para os atores quanto para os seus respectivos personagens.

Lima Duarte (Arlindo) atua de maneira visceral no filme. Sua interpretação é construída de maneira afetiva. Isso contribuiu muito para o filme, visto que o personagem Arlindo possuiu uma função dramática muito importante no enredo: ele narra o filme.
Amélia Bittencourt (Esmeralda) é outra que ao lado de Lima atua de maneira coesa e com o naturalismo que o enredo e o personagem pedem.

A trilha sonora tem um efeito narrativo em “Colegas” e funciona muito bem como acompanhamento dramático. Aliás, por falar em acompanhamento é impossível deixar de citar a presença de Raul Seixas na trilha conferindo ao filme um efeito lúdico muito bem.

O resultado de “Colegas” é extremamente positivo. Ao desmistificar o diferente, o filme acaba proporcionando um espetáculo lúdico e poético, Além de ser um reflexo de dentro de nós mesmos ao proporcionar ao espectador se identificar com aqueles personagens.






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