sábado, 4 de maio de 2013

Somos Tão Jovens



Se Brasília foi o epicentro do Rock Brasileiro dos anos 80 Renato Russo foi sem dúvida o seu principal catalisador. Dono de um legado impressionante é natural que sua história um dia fosse contada, especialmente os seus primeiros anos visto que sua formação musical fazem parte da história cultural, social e política do nosso país.

Focado na adolescência de Renato Russo e na formação do Aborto Elétrico e da Legião Urbana o longa se revela um retrato intimista de um artista e de uma era. Centrado na transformação artística e pessoal de Renato Manfredini Júnior em Renato Russo (Thiago Mendonça) e a formação da cena de rock brasiliense tendo como pano de fundo a pressão que sofria a pressão da ditadura militar.


  
O diretor Antonio Carlos da Fontoura buscou traduzir em imagens a agitação e efervescência musical que ocorria naquele período. Para isso Antonio Carlos da Fontoura utiliza planos curtos e uma elipse até excessiva para induzir a rapidez narrativa. Esta opção está longe de prejudicar a narrativa, mas o diretor poderia ter aproveitado melhor os planos dando-lhes maior embalsamento, mas por outro lado a opção pelo corte seco reflete a intensidade momentânea da adolescência vivida pelos personagens.
 De certa forma a decisão de Antonio Carlos foi a mais acertada, pois sua direção transparece vigor, vitalidade e energia incomparáveis permitindo ao espectador construir um retrato intimo do ídolo e a desconstrução de Renato Russo como um mito inalcançável.  


Fontoura confere ao seu elenco uma direção de atores cuidadosa, especialmente nas cenas de musica e do desabrochar artístico de Renato Russo (Thiago Mendonça) e de seus parceiros da “turma da colina”. Atribuindo a estas cenas uma direção coreografada resultando de perfeito entrosamento cênico entre os atores.

O roteiro a cargo de Marcos Bernstein foca principalmente na trajetória evolutiva de Renato Russo (Thiago Mendonça), mas não deixa de privilegiar o enredo em primeiro lugar.  O protagonista “apenas” conduz as demais tramas que giram em torno dele. Os demais personagens se encaixam no espaço narrativo que lhes cabe, permitindo assim que os atores se destaquem com suas atuações.

Há também um cuidado na construção dos diálogos e da reconstrução de eventos reais por parte do roteirista Marcos Bernstein. Os diálogos são de uma linguagem beirando o coloquialismo (o que facilita a identificação do público jovem de hoje que não tem ideia da grandiosidade daquele movimento). A reconstrução de fatos reais impressiona pela verossimilhança. Há um cuidado histórico na feitura das cenas (o show de Patos de Minas e o derradeiro fim do Aborto Elétrico são exemplos disso).

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O elenco inteiro atua com uma naturalidade impressionante. A começar por Thiago Mendonça que interpreta Renato Russo de maneira transcendente. Thiago explora as nuances de seu delicado personagem de forma crescente. Assim ator e personagem vão evoluindo lado a lado. Thiago explora a sensibilidade aguçada de Renato Russo ressaltando o emocional do personagem até que ator e personagem chegam ao seu ápice: A fase “Trovador Solitário” de Renato Russo. Ali, Thiago nos entrega uma atuação magnânima. Sergio Dalcin, Bruno Torres e Daniel Passi que interpretam Petrus e os irmãos Fê e Flávio Lemos respectivamente se sobressaem na respectiva parte do enredo ao que se refere às bandas do Renato. Dalcin interpreta Petrus com o vigor e a fúria que o personagem exige. 

Bruno Torres tem uma presença marcante em cena desde o inicio e seu personagem Fê tem um crescimento cênico muito interessante ao ponto de que a dado momento ele e Renato (Thiago Mendonça) se tornam completos opostos e Bruno soube trabalhar o processo evolutivo de seu personagem com perfeição atuando de maneira verdadeira e convenente.

 Daniel Passi que interpreta Flávio Lemos atua construindo seu personagem de maneira carismática e verdadeira. Flávio ocupa no filme a função de apaziguar os conflitos entre seu irmão Fê (Bruno Torres) e Renato (Thiago Mendonça). O ator desempenha esse papel um tanto quanto ingrato de maneira verdadeira emprestando seu carisma para o personagem. Ao mesmo tempo em que esbanja força e energia inquestionável nas performances de seu personagem com perfeição.



 A turma de amigos de Renato também se destaca pelo entrosamento e naturalidade em que pautam suas atuações. Laila Zaid (Aninha) tem um papel essencial no filme. Laila atua de maneira natural resultando em uma das mais belas atuações do longa. Olivia Torres e Bianca Comparato que interpretam Gabi e Carmen Teresa respectivamente se destacam pela simplicidade de suas ações ao passo que a primeira expõe com veracidade a evolução de sua personagem.  


A música não só da o tom das cenas como contextualiza o momento retratado agindo como fio condutor da narrativa. Assim, tanto a trilha como as performances musicais atuam de maneira determinante na construção da “realidade fílmica” do longa. Ao mesmo tempo em que podemos constatar o surgimento e o contexto social em que muitas músicas de Renato e companhia. Clássicos como “Geração Coca-Cola”, “Veraneio Vascaína”, “Que Pais é este?” e “O Concreto já Rachou” são aqui contextualizadas social e artisticamente.


 Um dos pontos altos de “Somos Tão Jovens” é a fotografia assinada por Alexandre Ermel que atua com dois princípios plásticos distintos, porém complementares. De um lado Alexandre imprime em suas lentes “sujeira visual” que havia naquele cenário dos “filhos da revolução”. Optando por resaltar a força visual e estética daquele cenário agregador. Por outro lado há o uso de um granulado forte que se intensifica conforme o protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça) vai evoluindo. A força do granulado é um contraste interessante com o efeito quase “puro” e de desfoque das primeiras cenas do Aborto Elétrico. O desfoque provocado pelo uso de granulado expõe aqui um magnetismo visual intenso e é um símbolo de transição do seu protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça). 

Somos tão Jovens” é um retrato intimista não só do nascimento de um artista mas de toda uma geração. É uma produção cuidadosa e simplista que encontra no desafio de retratar uma geração perdida seu maior desafio e êxito pois se a proposta do diretor Antonio Carlos da Fontoura foi fazer um filme agregador das massas ele cumpriu sem objetivo com louvor. O Retrato do tempo perdido.






























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