Se Brasília foi o
epicentro do Rock Brasileiro dos anos 80 Renato Russo foi sem dúvida o seu
principal catalisador. Dono de um legado impressionante é natural que sua
história um dia fosse contada, especialmente os seus primeiros anos visto que
sua formação musical fazem parte da história cultural, social e política do
nosso país.
Focado na adolescência de Renato
Russo e na formação do Aborto Elétrico e da Legião Urbana o longa se revela um
retrato intimista de um artista e de uma era. Centrado na transformação
artística e pessoal de Renato Manfredini Júnior em Renato Russo (Thiago
Mendonça) e a formação da cena de rock brasiliense tendo como pano de fundo a
pressão que sofria a pressão da ditadura militar.
O diretor Antonio Carlos da Fontoura
buscou traduzir em imagens a agitação e efervescência musical que ocorria
naquele período. Para isso Antonio Carlos da Fontoura utiliza planos curtos e
uma elipse até excessiva para induzir a rapidez narrativa. Esta opção está longe
de prejudicar a narrativa, mas o diretor poderia ter aproveitado melhor os
planos dando-lhes maior embalsamento, mas por outro lado a opção pelo corte
seco reflete a intensidade momentânea da adolescência vivida pelos personagens.
De certa forma a decisão de
Antonio Carlos foi a mais acertada, pois sua direção transparece vigor,
vitalidade e energia incomparáveis permitindo ao espectador construir um
retrato intimo do ídolo e a desconstrução de Renato Russo como um mito inalcançável.
Fontoura confere ao seu elenco
uma direção de atores cuidadosa, especialmente nas cenas de musica e do
desabrochar artístico de Renato Russo (Thiago Mendonça) e de seus parceiros da
“turma da colina”. Atribuindo a estas cenas uma direção coreografada resultando
de perfeito entrosamento cênico entre os atores.
O roteiro a cargo de Marcos Bernstein
foca principalmente na trajetória evolutiva de Renato Russo (Thiago Mendonça),
mas não deixa de privilegiar o enredo em primeiro lugar. O protagonista
“apenas” conduz as demais tramas que giram em torno dele. Os demais personagens
se encaixam no espaço narrativo que lhes cabe, permitindo assim que os atores
se destaquem com suas atuações.
Há também um cuidado na construção
dos diálogos e da reconstrução de eventos reais por parte do roteirista Marcos
Bernstein. Os diálogos são de uma linguagem beirando o coloquialismo (o que
facilita a identificação do público jovem de hoje que não tem ideia da
grandiosidade daquele movimento). A reconstrução de fatos reais impressiona
pela verossimilhança. Há um cuidado histórico na feitura das cenas (o show de
Patos de Minas e o derradeiro fim do Aborto Elétrico são exemplos disso).
.
O elenco inteiro atua com uma
naturalidade impressionante. A começar por Thiago Mendonça que interpreta
Renato Russo de maneira transcendente. Thiago explora as nuances de seu
delicado personagem de forma crescente. Assim ator e personagem vão evoluindo
lado a lado. Thiago explora a sensibilidade aguçada de Renato Russo ressaltando
o emocional do personagem até que ator e personagem chegam ao seu ápice: A fase
“Trovador Solitário” de Renato Russo. Ali, Thiago nos entrega uma atuação
magnânima. Sergio Dalcin, Bruno Torres e Daniel Passi que interpretam
Petrus e os irmãos Fê e Flávio Lemos respectivamente se sobressaem na
respectiva parte do enredo ao que se refere às bandas do Renato. Dalcin
interpreta Petrus com o vigor e a fúria que o personagem exige.
Bruno Torres tem uma presença
marcante em cena desde o inicio e seu personagem Fê tem um crescimento cênico
muito interessante ao ponto de que a dado momento ele e Renato (Thiago
Mendonça) se tornam completos opostos e Bruno soube trabalhar o processo
evolutivo de seu personagem com perfeição atuando de maneira verdadeira e
convenente.
Daniel Passi que interpreta
Flávio Lemos atua construindo seu personagem de maneira carismática e
verdadeira. Flávio ocupa no filme a função de apaziguar os conflitos entre seu
irmão Fê (Bruno Torres) e Renato (Thiago Mendonça). O ator desempenha esse
papel um tanto quanto ingrato de maneira verdadeira emprestando seu carisma
para o personagem. Ao mesmo tempo em que esbanja força e energia inquestionável
nas performances de seu personagem com perfeição.
A turma de amigos de Renato
também se destaca pelo entrosamento e naturalidade em que pautam suas atuações.
Laila Zaid (Aninha) tem um papel essencial no filme. Laila atua de maneira
natural resultando em uma das mais belas atuações do longa. Olivia Torres e
Bianca Comparato que interpretam Gabi e Carmen Teresa respectivamente se
destacam pela simplicidade de suas ações ao passo que a primeira expõe com
veracidade a evolução de sua personagem.
A música não só da o tom das cenas
como contextualiza o momento retratado agindo como fio condutor da narrativa.
Assim, tanto a trilha como as performances musicais atuam de maneira
determinante na construção da “realidade fílmica” do longa. Ao mesmo tempo em
que podemos constatar o surgimento e o contexto social em que muitas músicas de
Renato e companhia. Clássicos como “Geração Coca-Cola”, “Veraneio Vascaína”,
“Que Pais é este?” e “O Concreto já Rachou” são aqui contextualizadas social e
artisticamente.
Um dos pontos altos de “Somos
Tão Jovens” é a fotografia assinada por Alexandre Ermel que atua com dois princípios
plásticos distintos, porém complementares. De um lado Alexandre imprime em suas
lentes “sujeira visual” que havia naquele cenário dos “filhos da revolução”.
Optando por resaltar a força visual e estética daquele cenário agregador. Por
outro lado há o uso de um granulado forte que se intensifica conforme o
protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça) vai evoluindo. A força do granulado
é um contraste interessante com o efeito quase “puro” e de desfoque das
primeiras cenas do Aborto Elétrico. O desfoque provocado pelo uso de granulado
expõe aqui um magnetismo visual intenso e é um símbolo de transição do seu
protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça).
Somos tão Jovens” é um retrato
intimista não só do nascimento de um artista mas de toda uma geração. É uma
produção cuidadosa e simplista que encontra no desafio de retratar uma geração
perdida seu maior desafio e êxito pois se a proposta do diretor Antonio Carlos
da Fontoura foi fazer um filme agregador das massas ele cumpriu sem objetivo
com louvor. O Retrato do tempo perdido.
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