Pauline (Amanda Langlet) uma jovem de 15 anos vai passar as férias em uma
praia na costa francesa em companhia da prima mais velha Marion (Arielle
Dombasle). Lá Pauline vive o seu despertar sexual e outras descobertas da adolescência
enquanto Marion goza da liberdade conquistada com o seu recente divorcio.
Em 1983 Eric Rohmer ainda fazia uso dos preceitos modernos da nouvelle
Vague. Prova disso que este filme “Pauline na Praia” que esbanja frescor mesmo
tocando em temas densos e sendo extremamente leve ao mesmo tempo. Mérito do diretor Eric Rohmer que construiu um
filme delicado investindo em longos e harmoniosos takes com cortes sobrepostos.
Rohmer valorizou seu elenco investindo em closes e na dinâmica ator-texto
acabando por conferir ao seu filme um aspecto ambíguo. Se por um lado o filme é
terno ao abordar o despertar não só sexual, mas de vida que Pauline (Amanda Langret)
vive. Por outro a trama que se desenrola entre Marion (Arielle Dombasle), Henri
(Féodor Atkine) e Pierre (Pascal Greggory) toma proporções inimagináveis.
O diretor investe também no subtexto ao explorar as entrelinhas
narrativas de seu filme. E é ai que o filme ousa na abordagem, porém quase
sempre nas entrelinhas, subtendido. Ao adotar essa dinâmica ator-texto Eric Rohmer
se posiciona como um diretor de atores com abordagem cênica ensaiada sobretudo
ao extrair todas as possibilidades dramático-narrativas de seus planos. Estabelecendo
em seus longos takes com cortes sobrepostos ao instaurar a tensão dramática nas
entrelinhas.
É nesse ponto que a montagem de Cécile Decugis se revela não só
extremamente habilidosa, mas também uma poderosa aliada do diretor. Pois ela
provoca a sucessão dos planos justo quando as cenas estão perto do seu clímax. Longe
de desestruturar a narrativa, essa opção é bem trabalhada inserindo um suspense
bem-vindo a trama. A direção harmoniosa de Rohmer é pautada em planos longos, cortes
sobrepostos e elegantes closes encontra na montagem um equilíbrio para o seu desenrolar
e na fotografia de Néstor Almendros uma beleza visual e estética que casa
perfeitamente com a harmonia proposta por outros elementos como a montagem e a
direção. A opção por um azul claro nas lentes de Almendros ressaltam sua
neutralidade e o clima pueril das descobertas de Pauline (Amanda Langlet).
O roteiro de Eric Rohmer se concentra na construção das relações interpessoais
entre seus personagens. Relações estas que são abordadas de maneira corriqueira
e habitual com personagens profundos e ambíguos envoltos em uma narrativa poética.
É interessante observar a forma como Rohmer desenrola seus personagens cheios
de conflitos internos os fazendo convergir em dado momento. São todos personagens
intensos que guardam segredos e principalmente desejos íntimos.
Amanda Langret interpreta Pauline com a pureza e inocência que a personagem
exige. Combinados com uma sedução pueril é através de Amanda e de sua
personagem que todo o filme desencadeia.
Arielle Dombasle carrega com força as “tintas internas” de sua Marion.
Marion que é do tipo fala uma coisa e pensa outra exigi muito preparo para o psicológico
da personagem que é forte, tem presença cênica. Vale ressaltar o despudor de Arielle
ao transgredir a todo o momento e principalmente nas cenas de sexo com Féodor Atkine
(Henri). Féodor, aliás, constrói um personagem totalmente ambíguo e sedutor.
Henri é multifacetado e caminha a passos lentos para seu desfecho
surpreendente. O melhor personagem do filme sem duvida. Simon de La Bosse (Sylvain)
o namorado de Pauline é dotado de um carisma tão pueril e encantador quanto à
da personagem titulo. Algo que eu percebi nas entrelinhas é a relação de
respeito e admiração que Sylvain tem pela figura masculina de Henri (Féodor
Atkine). Simon e Féodor tem entrosamento cênico atuando de forma a deixar implícito
no subtexto essa relação.
“Pauline na Praia” é um filme ousado, provocador, poético e belo. Tantos adjetivos
derivam das múltiplas conexões e interpretações que o filme proporciona a
respeito do amadurecimento e das relações humanas.
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