Quando Matheus Souza lançou seu primeiro filme o universitário “Apenas oFim” em 2008 , ele foi aclamado pela maneira realista que retratou a geração
atual, recheado de diálogos com referencias pop e pela quebra de estereótipo.
No ano passado, o diretor lançou “Eu não faço a menor ideia do que eu to
fazendo com a minha vida” no qual munido de todos os artifícios que fizeram
sucesso em seu primeiro longa mas com outra abordagem e mais experiência ele
direciona seu trabalho pra uma outra vertente dos questionamentos da juventude.
“Eu não faço a menor ideia do que eu to fazendo com a minha vida” poderia
ser resumido com a clássica pergunta “O que eu vou ser quando crescer?” mas se
você já está crescido? Esse é o dilema de Clara(Clarice Falcão) que é
estudante de medicina por pura influencia familiar mas tem duvidas quanto a sua
real vocação.
Com uma história simples e como diz um dos personagens já batida mas
universal desde que o mundo é mundo , Matheus Souza traz um filme inspirado em
seu segundo longa. Com a agilidade que lhe é característica com o adendo de uma
estética meio televisiva semelhando as esquetes, “Eu não faço a menor ideia do
que eu to fazendo com a minha vida” demora alguns tempo para ganhar ritmo
próprio mas quando o faz deslancha com naturalidade.
Essa naturalidade é proveniente da maneira delicada e repleta de Matheus
Souza ao dirigir. A naturalidade com que conduz a narrativa, torna as trucagens
habituais quase imperceptíveis tornando o tempo fílmico algo trivial e com um
elemento surpresa pois ao utilizar sua agilidade característica dos seriados
americanos Souza adiciona um ritmo muito veloz a estrutura do longa o que
favorece o experimentalismo fílmico e os diálogos que aparecem posteriormente.
A maneira ágil e feroz que Matheus Souza dirige um filme com muitos
cortes sobreposições, sequencias rápidas de planos , fortalece a trucagem dos
planos , as gags , o experimentalismo fílmico que se sobrepõe ao longa e as
interpretações naturalistas dos atores.
O experimentalismo citado acima faz parte da busca interior da
protagonista , no qual Souza numa ótima sacada realiza uma metalinguagem
momentânea e inspirada. O fato de a estrutura do longa ser semelhante a
estética das sitcoms garante a Souza e aos atores um maior aproveitamento do
espaço fílmico/ narrativo o que garante um naturalismo das cenas que fluem
natural e suavemente e não é aquela situação forçada na qual o espectador se
sente obrigado a rir.
A maior capacidade do diretor e também o maior triunfo do longa é o seu
roteiro inspirado, com diálogos muito bem construídos com citações e uma enorme
veia pop característica do diretor. Diálogos como “perde a capacidade de ser um
gênio incompreendido” , “uma stripper revoltada contra o sistema” e o melhor de
todos “ a única pessoa que fez escolhas piores na vida é o Nicolas Cage”.
Matheus
Souza também aprimora a sua capacidade cênica de dirigir. A forma subliminar
que conduz as cenas resulta em atuações espontâneas e cômicas por natureza.
Primeiro por parte dos protagonistas Clarice Falcão(Clara) e Rodrigo
Pandolfo(Guilherme) o seu guia no experimentalismo /Bff/Interesse amoroso,
segundo pelos coadjuvantes Bianca Byington e Leandro Hassum , além é claro de
Gregório Duvivier o Johnny Depp do diretor. Uma pena que sua participação é tão
curta pois Gregório está hilário.
“Eu não faço a menor ideia do que eu to fazendo com a minha vida” é um
bom filme. Um bom não, um ótimo filme. Redondo, com uma direção delicada,
atores excelentes e roteiro inspirado com uma verve cômica natural. Falta ao
filme uma maior duração. Sério, o filme é tão bom mas é muito curto, não me
importaria de assistir no mínimo meia hora a mais de filme. O outro porém é a
falta de diálogos nerds que marcaram o diretor. Fora isso, “Eu não faço a menor
ideia do que eu tô fazendo com a minha vida” beira a perfeição.