O Curta-Metragem “ Eu Não Quero Voltar Sozinho” conquistou tantos fãs
pela sua delicadeza, ternura e sensibilidade e tamanho o potencial da história
, que o caminho natural é que o inspirador Curta se torna-se um Longa-Metragem.
E foi o que aconteceu, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” não é uma continuação
do curta, pelo contrário ,ele expande a narrativa recontando-a e tornando a trajetória
do adolescente Léo(Guilherme Lobo) em busca de suas descobertas e independência
enquanto tenta lidar com suas limitações por ser um deficiente visual muito
mais prazerosa e inspiradora de se assistir.
O diretor Daniel Ribeiro soube fazer a transposição e a conversão da
história de seu Curta-Metragem de maneira muito bem sucedida, evitando assim
que o filme perdesse a qualidade da trama original e principalmente, a sua essência.
Dotado de uma incrível sensibilidade, Ribeiro conduz seu filme com a
delicadeza esperada(e necessária). A forma com que as situações se formam na
tela é tão natural e genuína que é impossível o espectador não deixar emocionar
pela historia.
Como já disse, o diretor aposta na naturalidade e isso engloba tudo mas
principalmente na sua forma de dirigir que aposta em uma agilidade de planos muito
natural, de forma que as situações são construídas como uma crônica trivial, a sucessão
de planos ocorre sem grandes efeitos sonoros,ela simplesmente ocorre , é
natural como a vida.
Acho que isso diz muito sobre o trabalho de Daniel Ribeiro, o diretor
aborda as questões de forma muito sensível e deixa que as tramas brotem de
forma natural.
Natural também é a atmosfera fílmica que o diretor envolve o seu
elenco,extraindo assim ótimas interpretações de seus atores, Ribeiro sabendo da
preciosidade nas atuações de seu elenco concentra sua câmera em duas posições principais:
A espreita quase imperceptível, apenas acompanhando o desenrolar da narrativa e
apostando fortemente nos closes e plano-contraplano, o que permite ao diretor
extrair a ternura que permeia a narrativa e Ribeiro é extremamente habilidoso na
direção de atores captando as feições e nuances genuínas do seu talentoso
elenco.
A fotografia é um dos pontos altos do filme, pela forma que engrandece as
imagens e eterniza as cenas , conferindo-as uma beleza muito sutil. Apostando em
uma luz difusa dosada a uma contraluz , o diretor de fotografia Pierre de
Kerchove encontra
o equilíbrio perfeito para eternizar as cenas na memória e no coração de quem
assiste.
Como uma trilha magistral que fica na ponta da língua , a ponto de sair
da sala de cinema cantarolando é um elemento narrativo de grande poder pois
emana sentimentalismo ao longa.
O Roteiro de Daniel Ribeiro tem muitos atributos, pra começar, o
diretor-roteirista constrói uma história totalmente encantadora e inspiradora,
segundo, a forma genial com o que o cineasta aborda as temáticas das
diferenças, sexualidade , independência e bullying são muito criveis ,
contribuindo para desmistificar os tabus que infelizmente ainda existem em
nossa sociedade e acabar com o preconceito. O fato de Ribeiro não fazer da deficiência
de Léo(Guilherme Lobo) o plot principal da narrativa é uma grande evolução,
pois mostra que as diferenças são sim uma característica da nossa personalidade
mas de forma alguma define quem as pessoas são.
O único porém na transição do curta para o Longa-Metragem foi que a
narrativa perdeu um pouco do seu dinamismo que existia no curta, mas nada que
prejudique o potencial do filme, pelo contrario é um mero detalhe.
Guilherme Lobo , Fábio Audi e Tess Amorim dão conta da difícil tarefa de “comandar”
a narrativa, já que a trama do filme paira sobre os seus personagens, embora no
longa, esse triangulo amoroso se torne um quadrilátero com a entrada de Karina(Isabela
Guasco).
Guilherme Lobo merece honrarias pela forma com que reconstrói o seu
personagem, Léo dando novas nuances aos novos e antigos dilemas que o adolescente
enfrenta.
Lobo, Fábio Audi(Gabriel) e Tess Amorim(Giovana) não apenas reconstroem os
seus personagens de forma impar, dando vivacidade e esbanjando química cênica
mas exaltam sentimentalismo em seu estado puro emocionando o espectador e
fazendo do corriqueiro um grande acontecimento.
Dois atores também merecem menções especiais: a Presença luminosa da
excepcional atriz Selma Egrei como Maria, a avó do protagonista Léo(Guilherme
Lobo) e Eucir de Souza como Carlos, o pai de Léo que incentiva a independência do
filho. O ator tem uma performance maravilhosa, terna e graciosa. (emocionante a
cena em que Carlos ensina Léo a se barbear, química perfeita).
Daniel Ribeiro conseguiu o seu objetivo. Emocionou, tocou corações ,provocou
reflexões com um filme muito simples mas que se torna grandioso em sua simplicidade.
Tocando, mágico e encantador “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é maravilhoso e
nada abalou seu potencial nem a quebra na dinâmica na transição curta-longa.
Ouso dizer que a história de Léo e companhia tem potencial pra ainda mais de
modo que torço pra uma continuação.
“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é a perfeita traide entre encanto,magia e
sensibilidade e um forte candidato aos melhores filmes do ano.
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