Demorei a gostar de “Embriagado de Amor”, essa comédia esquizofrênica de Paul Thomas Anderson,um dos meus cineastas favoritos. Mas bastou uma segunda visita a essa comédia esquisita, para perceber o quanto eu me identifico com esse filme.
Barry Egran(Adam Sandler) é um cara esquisito, cheio de manias. Berry possui uma incapacidade social,é estranho e mimado por suas sete irmãs mais velhas, porém todo esse mimo também o sufoca socialmente.
“Embriagado de Amor” é a primeira vista um filme estranho, esquisito com uma atmosfera muito “fria” e impessoal mas, toda essa estranheza é um reflexo da personalidade do protagonista Barry(Adam Sandler, em uma atuação estranhamente cômica).
Paul Thomas Anderson reflete a esquisitice do personagem com enquadramentos muito duros, closes dotados de um jogo de câmera com o propósito de causar um desconforto cômico como os embates de Berry com suas irmãs superprotetoras. Anderson foi inteligente ao deixar fluir todo o talento cômico de Sandler. O diretor fica ali a espreita captando todo o humor do personagem.
Em uma cena em particular, o cineasta utiliza de seu talento e destreza ao utilizar enquadramentos duros e repetitivos em diferentes posições ,focalizando o rosto de Sandler e captando assim, o sufoca mento e a inadequação social e afetiva do personagem.
Paul Thomas Anderson é mesmo um diretor e roteirista muito talentoso e com tamanha inteligência. Só com tamanho talento pra criar momentos cômicos non-sense sem cair no ridículo. Pelo contrario, Anderson cria e estrutura as situações de uma forma naturalmente cômica com exatidão e Adam Sandler numa excelente dobradinha ator-diretor realiza as cenas com uma naturalidade impressionante e principalmente sem cair no ridículo.
O diretor consegue estruturar seu filme com uma narrativa solida, fazendo de seu filme, uma comédia com conteúdo. Com cenas ora ágeis, ora longas, com direito a momentos de Barry em completo ócio e cortes secos, seguidos por travellings. A Relação de Berry com Lena(Emily Watson) é construída com um tom cômico naturalmente embutido.
Eu não sou muito fã de comédias, mas “Embriagado de Amor” me ganhou não só pela inevitável identificação com as esquisitices do personagem de Sandler mas sobretudo pelo afeto com que Paul Thomas Anderson construiu sua historia com inteligência, ressaltando o componente emocional da narrativa e do personagem principal. “Embriagado de Amor” sem dúvida, está longe de ser um filme vazio e caricato , pelo contrário, é um filme com alma.
Anderson construiu sua narrativa sob o personagem de Adam Sandler. O diretor/ roteirista não teve receio de construir as situações, pois certamente , tinha plena certeza de duas coisas: Do talento de Adam Sandler e que todas as situações não eram estapafúrdias, existia sim, uma veia cômica com alguns tons acima em muitas delas porém, tudo isso é justificável se analisarmos a incapacidade social e carência afetiva de Barry(Sandler).
A relação de Barry com Lena(Emily Watson) é construída gradativamente, com cuidado,sensibilidade e principalmente, humor. Importante ressaltar não só a liga entre os personagens Berry-Lena pois ambos se encaixam por serem “fora do padrão” comportamental aceito na sociedade. Talvez, por isso mesmo, Paul Thomas Anderson tenha escolhido uma atriz que foge do padrão estético comum. Emily Watson , é bonita sim , mas está longe de ser uma Julia Roberts por exemplo.
É melhor que a atriz seja assim, se fosse muito bonita, perderia a graça e ficaria inverossímil.
O único ponto fraco foi a inclusão do sub-plot “da máfia do tele-sexo”. isso sim, foi muito manjado e descartável. Mas , tem uma boa justificativa; Tenho certeza que Anderson criou esse plot com o único propósito de ter o seu ator-fetiche , o saudoso Philip Seymour Hoffman abrilhantando seu longa.
Um dos aspectos mais interessantes e que também contribuem para essa estranheza inicial com o longa é a sua fotografia. A cargo de Robert Elswit. Construída predominante com cores frias e uma contraluz natural com luz solar rebatida e também estourada que realça e se justapõe a interpretação dos atores na cena , garantindo algum equilíbrio ao tentar quebrar aquela frieza do protagonista, ao mesmo tempo, essa alta luminosidade nas raras cenas externas no inicio do longa , representa o isolamento social de Berry(Adam Sandler). Interessante notar, que esse artifício é quebrado com a chegada de Lena(Emily Watson).
A trilha dietética de Jon Brion é espetacular, trabalhando em duas vertentes opostas que se completam na narrativa: Primeiro, um instrumental (não é a toa, que Barry “toma” um piano pra si) que reflete o isolamento social e o comportamento pelicular de Barry(Adam Sandler) e o uso de tambores africanos , que representam a trajetória de libertação social do personagem através do amor de Lena(Emily Watson). É como se o amor fosse tratado não só como uma libertação mas como uma razão para celebração.
Adam Sandler impressiona ao compor Barry com vários tiques e esquisitices próprias do personagem e com uma comédia presente a todo o momento, mesmo que nas entrelinhas. Sandler soube pontuar sua veia cômica para que ela surgisse natural e espontaneamente. O ator soube dar alma ao personagem e aos seus dilemas com carisma e afeto, tornando fácil a identificação com o protagonista.
Emily Watson faz de Lena a perfeita metade da laranja de Barry. A atriz constrói sua personagem fora do padrão com leveza e encantamento ,além de estabelecer. química cênica com Adam Sandler. Não conhecia o trabalho de Watson, mas a atriz me lembrou Renée Zellweger em “Jerry Maguire”
Philip Seymour Hoffman dispensa apresentações,até porque nem todos os adjetivos do mundo juntos seriam suficientes para descrever o seu talento. Digo apenas que sua atuação neste filme é a prova que um grande ator brilha em qualquer papel. Não é difícil saber porque era o ator -fetiche de Paul Thomas Anderson, pena que já não está mais entre nós.
Paul Thomas Anderson fez em “Embriagado de Amor” uma comédia deliciosa para nós os desajustados, engraçada mas principalmente com alma e coragem.
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