Acho que ninguém esperou tanto
“Aloha”(Sob o Mesmo Céu no Brasil) quanto este que vos escreve. Fã confesso e
admirador incondicional do trabalho do cineasta Cameron Crowe( que rendeu até
um fan film sobre sua obra(veja no fim da página), minhas expectativas para
este novo filme estavam potencialmente altas.
“Aloha” nos apresenta a Brian Gilcrest(Bradley
Cooper), um piloto da aeronáutica a quem é dada uma nova chance de recomeçar no
Hawaii após falhar na sua ultima missão.
Todo o estilo cinematográfico de
Cameron Crowe está presente em “Aloha”. Personagens uncool, frases marcantes,
trilha sonora afinada(embora aqui ela assuma uma vertente mais intimista, o que
requer atenção para nota-lá). Incluindo ainda, citações a cultura pop e uma
criança carismática com inteligência emocional acima da média, Mitchell(Jaeden Lieberher).
A diferença deste novo trabalho dos
demais filmes de Cameron Crowe é que o cineasta segue seu estilo, incluindo
elementos conhecidos de trabalhos posteriores ao mesmo tempo que o subverte.
Dessa vez,o silêncio tem o mesmo peso
que os diálogos na narrativa, resultando em um filme mais contemplativo,
sensorial e intimista, a exemplo do seu trabalho anterior , “Nós Compramos um Zoológico" só que aqui numa potência ainda mais elevada.
O longa nos introduz a um estudo de
personagem, no caso o protagonista Brian Gilcrest(Bradley Cooper), são as
emoções dele que nos guiam, sua jornada pessoal dita o rumo do filme.
Se a intenção de Cameron Crowe era
dar um novo rumo a sua carreira, ou pelo menos se permitir experimentar, digo
que ele cumpriu seu objetivo com louvor. Ao alterar o mix do seu trabalho,
proporcionou ao espectador- e a ele mesmo acredito, um desafio. As sensações ,
os sentimentos escondidos são a matriz de “Aloha”. Dessa forma, o cineasta
desafia o espectador a conhecer os sentimentos do personagem , e por que não
dizer coloca o espectador em um estado de autoconhecimento a cerca dos seus
próprios sentimentos.
Cameron Crowe fez aqui mais do que um
estudo de personagem. Ao deslocar o já deslocado Brian(Bradley Cooper) para o
Hawaii, botou o personagem em um estado de reinicio pessoal, o expondo as suas
relações interpessoais e aos sentimentos do personagem, deixando-o em uma
posição no qual ele deve escolher entre o antigo amor, Tracy, (interpretada por
Rachel McAdams de forma excepcional. McAdams tem uma cumplicidade cênica com
Cooper que exala beleza e sentimentalismo ao longa, e Allison(Emma Stone), deixa
o personagem na posição de escolher entre o velho e novo. Como se os interesses
românticos do personagem fossem uma analogia para os caminhos que ele deve
percorrer em sua jornada pessoal. Jornada essa deveras solitária, diga-se de
passagem.
A jornada pessoal de Brian se
assemelha a de outro protagonista de Cameron Crowe, Drew(Orlando Bloom) de
“Tudo Acontece em Elizabethtown”(2005). Aliás, os dois filmes tem muitas
semelhanças. É Cameron Crowe revisitando a própria obra com outro olhar, um
olhar mais maduro.
A imagem tem força dramática em
“Aloha”. O fato do filme se passar na bela paisagem havaiana coloca o
personagem em posição de autorreflexão e exala sentimentalismo a quem assiste.
Mas não um sentimentalismo barato e superficial, o diretor consegue imprimir
compaixão e ternura ao seu trabalho, proporcionando assim um festival de bons
sentimentos ao espectador.
A frase “os melhores perfumes estão
nos menores frascos” se encaixa com perfeição em “Aloha”. Enquanto eu assistia,
impaciente como sou, fiquei a espera do “pequeno grande momento” presente nos
seus trabalhos como diz um dos personagens de “Crowe´s World”, o meu
curta-metragem em homenagem ao diretor. Impaciente que o tal grande momento não
havia chegado e o filme já estava perto do fim. Na verdade,”os pequenos grandes
momentos” estavam e estiveram ali o tempo todo, nos mínimos detalhes. a imagem
e o cenário e a musica traduzem os
sentimentos não ditos, elas constituem esses tais momentos e dão a tônica do
longa.
Ter o Hawaii como cenário não foi uma
escolha aleatória. De certa forma, a pureza, a musicalidade e os rituais daquele
povo são um combustível para a trajetória de recomeço de Brian(Bradley Cooper),
sua força interior se personifica nas belezas daquele lugar paradisíaco, mesmo
que pra recomeçar ele precise se livrar de algumas pedras pelo caminho. Ao
mesmo tempo que Cameron Crowe presta uma bonita e singela homenagem a cultura e
povo havaiano com toda a beleza, musicalidade e rituais presentes.
Todos os personagens principais são
ao meu ver representação de algum sentimento na jornada do protagonista Brian
Gilcrest. Allison(Emma Stone) representa muito além do interesse romântico do
personagem de Cooper. Ela é a vitalidade, a novidade que faltava na vida de
Brian, o problema é que ele é solitário como ele mesmo diz. Mas Allison
certamente interfere na dinâmica da rotina do personagem com seu humor e
personalidade solar.
Tracy(Rachel McAdams) representa
aquela ligação forte do passado que ele deixou pra trás. Woody(John Krasinki), representa o silencio
narrativo, a capacidade de dizer muito não falando nada e seu rival amoroso(uma
cena dotada de humor deixa claro essa opção). General Dixon(Alec Baldwin), que
repete a parceria com Crowe de “Elizabethtown” representa a volta as raízes.
Uma cena em particular lembra o personagem do ator naquele filme.
O sempre sensacional Bill Murray está
ótimo como Carson Welsh. Sua presença ilumina a tela é do ator uma das melhores
sequências do longa ao lado de Emma Stone(Allison).
Bradley Cooper está magnífico como o
“uncool”/”Underdog” da vez Brian Gilcrest. O ator tem carisma e emana
sentimentalismo e emoção nas nuances mais simples. A escolha de Cameron Crowe
em escolher o big close para muitas das cenas dele, representa a força interna,
as emoções e sentimentos do personagem. É preciso salientar a química do ator
com Jaeden Lieberher (Mitchell), o filho
caçula de Tracy(McAdams) é linda de ver. Os personagens constrói uma relação
afetiva muito bonita de ver, apesar das poucas cenas juntos. É impressionante
como Cameron Crowe consegue sempre crianças carismáticas em seus filmes ,
extraindo delas uma sensibilidade pueril e encantadora.
“Aloha” é um filme sobre segundas
chances, sobre recomeços. Um filme onde a imagem possui múltiplos significados
e é repleta de simbolismos. Me lembrou de dois filmes particularmente,
“Boyhood” de Richard Linklater, um filme que tal como esse o diálogo, a imagem
muitas vezes silenciosa e a musica tem todos mesmo peso e significado e
“Encontros e Desencontros” de Sofia Coppola onde o silencio traduz sentimentos
e a imagem é repleta de significados e mensagens subliminares(reparem numa cena
em especial no fim do filme, representa muito bem essas mensagens nas
entrelinhas)
“Aloha” é um feel good movie de
primeira grandeza. Repleto de mensagens subliminares,emana sentimento , força,
esperança a quem o assiste. É o filme certo na hora pra hora certa. “Aloha” é
um filme edificante que reestabelece nossa fé e esperança na vida e nas
pessoas. Sempre é possível recomeçar.
Muito obrigado Cameron Crowe por este
lindo e reconfortante filme, valeu a espera.
·
Pra
quem é fã do cineasta, reparem numa musica utilizada no longa por poucos
segundos. Nela está a prova que o diretor revisitou o próprio trabalho neste
filme.
“Crowe´sWorld”, o fan film que escrevi , dirigi e fiz uma participação em homenagem ao Cameron
Crowe , sua filmografia através das referências da sua filmografia presentes no
seriado “Entourage”. Assistam,comentem e compartilhem.
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