sábado, 31 de agosto de 2013

Bling Ring- A Gangue de Hollywood





No mundo de hoje onde com as redes sociais a privacidade é descartada minuto a minuto com as pessoas se expondo demais e novas celebridades alçadas a fama tão rapidamente cresce também a idolatria do cidadão “comum” sobre essas celebridades que eles acreditam serem seres superiores e as colocam em um pedestal. Esse é o principal tema de “Bling Ring- A Gangue de Hollywood”.


Rebecca (Katie Chang) é uma garota obcecada pelo mundo da fama e pelo glamour que esse mundo desperta. Marc (Israel Broussard) é um jovem tímido que chega a nova escola e cria amizade com Rebecca. A garota obcecada por ter algo que pertence a seus ídolos forma com Marc, Sam (Emma Watson), Sam (Taíssa Farmiga) e Chloe (Claire Julien) um grupo que invade residências de famosos.


Dirigido por Sofia Coppola e baseado em um artigo publicado na Vanity Fair sobre uma gangue de adolescentes especializada em assaltar casas de celebridades. A fama é um tema que cerca a maioria dos trabalhos de Copolla como diretora como os atores dos filmes “Encontros e Desencontros” e “Um Lugar Qualquer”. Mas se antes Coppola realizava filmes intimistas sobre o peso da fama não é o que acontece em “Bling Ring”.

 O filme se inicia com um flashforward de alguns meses antes com os jovens assaltando uma casa com uma musica alta e planos ágeis e rápidos acompanhados por uma câmera nervosa neste prólogo.

Em “Bling Ring” a câmera de Sofia está sempre em movimento ágil, porém com cortes sensíveis.
A diretora inova no modo de dirigir adotando um ritmo frenético com muitas trucagens e sucessão rápida de planos. A Sofia dosa a forma de dirigir o longa na medida em que em alguns momentos ela retorna a forma intimista de dirigir, mas em grande parte do tempo ela utiliza de um ritmo frenético e nervoso (muito desse ritmo se deve a musica que transcende a tela). É sobretudo uma evolução no trabalho da diretora responsável por filmes sensíveis e intimistas. Além do vibrato frenético Sofia também flerta com outras estéticas. Sem dúvida um retrato da geração atual.

A montagem é um fator interessante de se observar no filme pela sua dinâmica. Durante todo o filme há flashbacks e flashforwards contínuos que se sobressaem sobre os outros de modo que possamos conhecer a história a fundo. O passado e o presente estão lado a lado na narrativa com os personagens dando depoimentos. Nesse aspecto “Bling Ring” se aproxima muito da estética do documentário e porque não dizer também do reality show pelo tom confessional que caracterizam os depoimentos.


A fotografia assinada pela dupla Christopher Blauvelt e Harris Savides trabalha com granulados acentuados e contraluz o teor escuro que torna a cena quase imperceptível em cenas noturnas. A fotografia do filme é extremamente cuidadosa pois ao combinar diferentes efeitos garante ao filme um ar de imprevisibilidade em torno dos personagens e da própria historia.

O roteiro de Sofia trabalha a superficialidade aparente do tema com habilidade capaz de retratar o mundo etilista que cerca os personagens e suas motivações pessoais bem como as correlações entre eles. A relação entre Rebbeca (Katie Chang) e Marc (Israel Broussard) é o fio condutor da trama. A habilidade de Sofia em retratar a ambição juvenil daqueles personagens e contextualizá-los no seu ceio familiar com pais permissivos, frios e relapsos permite que o espectador adentre as raízes psicológicas dos personagens.

O roteiro contêm uma dinâmica de flashbacks e flashforwards constantes o que poderia confundir o público, mas não é isso que acontece, pois Coppola tem o foco narrativo construído com bases solidas dessa maneira o espectador se mantêm situado sobre o enredo. 
 Duas coisas interessantes de salientar. Uma delas são as menções e citações a cultura pop e o universo das celebridades que Coppola faz no filme. Menções a série de TV “Entourage” e ao reality show “The Hills” (Cuja integrante Audrina Patridge foi uma das vitimas da gangue) por exemplo dão o tom etilista ao longa. Outro fator interessante é a inserção de imagens de arquivo das vitimas o garante ao filme um aspecto documental confessional e também a participação de algumas celebridades como elas mesmas no filme afinal, a linha que separa a realidade da ficção é tão tênue não é mesmo?

A trilha de “Bling Ring” é forte, vibrante e enérgica com alta potencialidade capaz de eclipsar a ação. A mistura de Pop e hip hop em volume estridente da o tom de frenesi as cenas dos protagonistas.

O elenco demonstra um incrível entrosamento cênico muito dessa química se deve a capacidade de Sofia Coppola que é uma excelente diretora de atores. Katie Chang (Rebecca) e Israel Broussard (Marc) demonstram química encabeçando a ação. Katie imprime a postura etilista e dominadora de sua personagem com vivacidade. Israel interpreta seu personagem uma autentica “vitima da moda” de maneira comedida expressando os conflitos internos de Marc evidenciando o olhar perdido e a timidez do personagem. Sem dúvida Rebecca e Marc são os melhores personagens do filme e o tom confessional e extremamente emocionante dos depoimentos dele só confirma isso.

Emma Watson mostra que definitivamente deixou Hermione da série “Harry Potter” pra trás. Ao interpretar Nicki uma jovem deslumbrada e de valores superficiais com tamanha desenvoltura e naturalidade a atriz coloca em xeque os valores deturpados de sua personagem em cena fazendo o público refletir não só sobre o seus atos, mas também sobre as suas motivações. Emma compõe a personagem de forma minuciosa resultando em uma interpretação totalmente verossímil dentro daquele contexto familiar onde está inserida. Taissa Farmiga (a Violet da série American Horror Story) interpreta Sam a Irmã adotiva de Nicki apesar do pouco destaque dado a sua personagem, Taissa consegue se sobressair evidenciando a solidão e carência afetiva de sua personagem que encontra naquele ambiente disfuncional um laço afetivo. A atriz expressa às nuances emocionais de seu papel com delicadeza e sensibilidade que só olhos mais atentos são capazes de perceber as raízes internas de seu papel. Um jovem e versátil talento.


Sofia Coppola realiza em “Bling Ring” um bom filme onde avança tanto na narrativa quanto tecnicamente no sentido que se permite experimentar outras linguagens audiovisuais, mas também no seu retrato sobre o intimo (aqui nem tão intimo, pois é exposto em demasia) e o mundo da fama na geração atual. Estou curioso pra saber como as inovações adquiridas com “Bling Ring” irão ecoar nos futuros trabalhos da diretora. É esperar pra ver.













 





quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sem Dor , Sem Ganho



Daniel Lugo(Mark Wahlberg), um personal trainner fisiculturista ambiciona ter tudo o que deseja pois acredita ser um realizador. Quando descobre que seu aluno Victor Kershal(Tony Shalhoub) é um rico milionário com contas no exterior Lugo e seus amigos Adrian(Anthony Mackie) e Paul(The Rock) o sequestram e se tornam estelionatários tomando tudo o que é de Victor, mas a ganância do grupo se revela o ponto fraco do trio.



Eu admito, não conheço o trabalho de Michael Bay á fundo, mas logo no inicio de “Sem Dor, Sem Ganho” Bay aparenta ser um cineasta acostumado a comandar grandes produções como este filme tenta ser. Iniciado como um flashback o longa possui boas tomadas aéreas, Plongeê e contra-Plongeê além dos cortes ágeis, closes além de um jogo de câmera que aparece em alguns momentos. Porém, “Sem dor, Sem Ganho” é um filme com inúmeros erros.


 O principal percalço no caminho de “Sem Dor, Sem Ganho” é a sua montagem que tem a pretensão de ser episódica, mas não é nada mais do que pifa e esdrúxula por picotar as sequencias prejudicando assim a ação dramática. A montagem acaba impossibilitando o entendimento completo da narrativa devido a sua “rapidez” que corta as cenas ao meio quebrando o clima e destruindo o habilidoso trabalho de Michael Bay um cineasta que possui “How – Know” em comandar grandes produções, mas toda a experiência e habilidade do diretor são jogadas no limbo por causa da montagem que deveria ser uma aliada da direção e dar ritmo as cenas, mas ao contrário só atrapalha o desenrolar do filme.

O roteiro escrito a quatro mãos por Christopher Markus e Stephen McFeely é pouco inspirado conseguindo algum feito pelas citações e menções que faz a cultura pop como “O Poderoso Chefão”, “Scarface” e “Um Maluco no Pedaço”. Em termos narrativos a trama começa bem estruturada quando se utilizam de flashforwards  , flashbacks e algumas elipses, mas infelizmente não se sustenta caindo no lugar comum com piadas machistas e de mau gosto.  A opção pela figura do narrador é o que mantêm o filme em muitos momentos.
Mais ainda porque o narrador sempre troca de locutor permitindo assim que todos os personagens possam ocupar essa função de modo a expressar o seu ponto de vista sobre a ação dramática. Outra coisa que provoca irritação é a necessidade incessante do roteiro explicar tudo a todo o momento e de forma telegrafada. Quanto aos diálogos eles beiram o nonsese que acabam provocando risos ainda que involuntários.



Se tem algo que passa ileso pela montagem e outros equívocos é o entrosamento cênico que cerca o elenco o que prova que além de ser hábil em dirigir grandes produções Michael Bay também é um bom diretor de atores. Mark Wahlberg faz de Daniel Lugo o cérebro da quadrilha. A maneira como Wahlberg sobressai às facetas do personagem gradativamente é sensacional fazendo do ator não só o melhor do elenco, mas também o motivo pra se assistir o filme até o final.


Anthony Mackie (Adrian) conduz o seu personagem ressaltando sua veia cômica afiada tratando o problema de disfunção erétil de seu personagem com comicidade e funcionando como um contraste para o seu estereótipo “Bombado”. Aliás, explorar estereótipos é algo que o longa faz de maneira recorrente.  The Rock é quem tem o personagem com maiores conflitos internos, permitindo que o ator trabalhe as nuances do personagem. E The Rock cumpre bem o seu papel evidenciando os conflitos internos de Paul com maestria. 
Tony Shalhoub (O Monk da serie homônima) interpreta Victor Kershal a primeira vitima da quadrilha. Shalhoub executa bem o seu papel, mas é impressionante que o ator ainda não conseguiu se livrar de seu famoso personagem ainda estando preso aos trejeitos do detetive que o levou a fama.



É difícil encontrar algum saldo positivo em “Sem Dor, Sem Ganho”. Por mais que Michael Bay tente evidenciar a sua direção ela passa batida. Pensando bem “Sem Dor, Sem Ganho” vale somente pela presença do Mark Wahlberg e para o ator mais uma vez mostrar seu talento.















  

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

RocknRolla - A Grande Roubada






Lenny ( Tom Wilkinson) é  um mafioso envolvido em negócios obscuros. Lenny  tem em suas mãos o vereador(Jimi Mistry). Ao fechar um novo negocio, Lenny fica com a custodia de uma valiosa tela que desaparece misteriosamente. O que desperta a cobiça de muitos como a do bando de One Two(Gerard Butler).

A primeira vista “rock n Rolla” é um filme mediano. Há sim presente a boa direção de Ritche caracterizadas pelos closes e jogos de câmera. Mas faltava aqui a câmera nervosa, as  trucagens e o corte estilizado do diretor que da lugar a cortes precisos e uma direção com força nos closes e em uma direção coreografada o que mais uma vez confirma Guy Ritchie como um talentoso diretor de atores e não só de espetaculares cenas de ação dada a primorosa direção de cena que confere ao seu filme.

Este inicio faz você pensar que rock n´rolla é um filme morno , o que não é verdade. Guy  guarda o ás que tem na manga pro terceiro ato onde ele literalmente solta o pino da granada de maneira nervosa bem ao seu estilo. Ali , Guy retorna com força total ao estilo de ação que o consagrou  Com agilidade,ritmo frenético,efeito clipado e alto uso do som.

A montagem episódica de James Herbert trabalha de maneira a engrandecer o roteiro de Ritchie sobretudo na questão do ponto de vista. O roteiro escrito pelo diretor Guy Ritchie preza pela quebra de linearidade. A questão do ponto de vista funciona como um denominador comum entre os plots  que mais tarde convergem de maneira a resultar no espetacular terceiro ato do filme. Quanto aos personagens Guy lhes confere uma ambigüidade interessante para o andamento da trama e para os personagens e seus rumos deixando em aberto um elemento surpresa.

Um ponto interessante nos filmes de Guy Ritchie e que em “Rock N´Rolla” é utilizado de maneira extremamente habilidosa é a figura do narrador. Aqui Archy(Mark Stong) através de uma poderosa e interessante narração em OFF nos apresenta ao sub-texto e as motivações dos personagens.


Mark aliás é um dos destaques do elenco como Archy imprimindo tinta própria e assim garantindo personalidade própria ao braço direito de Lenny Cole. Mark trabalha as variadas nuances perigosas de seu personagem de forma meticulosa.  Gerard Butler compõe One-Two com nuances de quem tem um passado , algo a esconder. Gerard confere ao seu personagem um espírito de liderança e dominador de quem tem o controle da situação. Olhando dessa maneira Stella(Thandie Newton) é o calcanhar de aquiles de One-Two aquela capaz de dominar a situação e exercer controle sobre ele. O que um par de pernas não faz não é mesmo?

Toby Kebbel interpreta Johnny Quid ressaltando as profundas nuances
Que cercam seu papel. É um personagem negligenciado com uma áurea negra á sua volta. Kebbel mergulha fundo na nuance depressiva e autodestrutiva de seu personagem deixando a porta aberta para o seu surpreendente desfecho.

Jeremy Piven interpreta Roman o empresário de Johnny(Kebbel) carregando nas tintas e apostando na sua forte presença cênica Piven constrói um personagem maravilhosamente teatral. (Algo me diz que Roman e Ari Gold de Entourage iam se dar muito bem juntos).

A trilha de “Rock N Rolla” é diversificada mas apostando principalmente no rock e no rap seguindo o estilo de Ritchie. Investindo na mistura do rock alternativo com um Duo para servir de pano de fundo as cenas(e as vezes se sobressair oprimindo a ação dramática. Isso até o terceiro ato quando a música rola solta e domina ação dramática ao alto e bom som.

Um fator que me chamou a atenção foi a fotografia de David Higgs. Garantindo um tom soturno as cenas Higgs investe na cor preta predominante ás vezes oprimindo o ator. Tal escolha combina perfeitamente com o filme cuja trama aborda o submundo do crime.
 Vale ressaltar o jogo de luzes que Higgs imprime nos planos de conjunto realçando assim os gestos e a interpretação dos atores.


Rock N ´Rolla”  pode não ser o melhor filme de Guy Ritchie em termos estilísticos mas o diretor nos entrega uma obra no qual ele testa seus próprios limites e desafia seu público culminando em um desfecho surpreendente bem ao seu estilo.















terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pauline na Praia




Pauline (Amanda Langlet) uma jovem de 15 anos vai passar as férias em uma praia na costa francesa em companhia da prima mais velha Marion (Arielle Dombasle). Lá Pauline vive o seu despertar sexual e outras descobertas da adolescência enquanto Marion goza da liberdade conquistada com o seu recente divorcio.


Em 1983 Eric Rohmer ainda fazia uso dos preceitos modernos da nouvelle Vague. Prova disso que este filme “Pauline na Praia” que esbanja frescor mesmo tocando em temas densos e sendo extremamente leve ao mesmo tempo.  Mérito do diretor Eric Rohmer que construiu um filme delicado investindo em longos e harmoniosos takes com cortes sobrepostos. Rohmer valorizou seu elenco investindo em closes e na dinâmica ator-texto acabando por conferir ao seu filme um aspecto ambíguo. Se por um lado o filme é terno ao abordar o despertar não só sexual, mas de vida que Pauline (Amanda Langret) vive. Por outro a trama que se desenrola entre Marion (Arielle Dombasle), Henri (Féodor Atkine) e Pierre (Pascal Greggory) toma proporções inimagináveis.


O diretor investe também no subtexto ao explorar as entrelinhas narrativas de seu filme. E é ai que o filme ousa na abordagem, porém quase sempre nas entrelinhas, subtendido. Ao adotar essa dinâmica ator-texto Eric Rohmer se posiciona como um diretor de atores com abordagem cênica ensaiada sobretudo ao extrair todas as possibilidades dramático-narrativas de seus planos. Estabelecendo em seus longos takes com cortes sobrepostos ao instaurar a tensão dramática nas entrelinhas.

É nesse ponto que a montagem de Cécile Decugis se revela não só extremamente habilidosa, mas também uma poderosa aliada do diretor. Pois ela provoca a sucessão dos planos justo quando as cenas estão perto do seu clímax. Longe de desestruturar a narrativa, essa opção é bem trabalhada inserindo um suspense bem-vindo a trama. A direção harmoniosa de Rohmer é pautada em planos longos, cortes sobrepostos e elegantes closes encontra na montagem um equilíbrio para o seu desenrolar e na fotografia de Néstor Almendros uma beleza visual e estética que casa perfeitamente com a harmonia proposta por outros elementos como a montagem e a direção. A opção por um azul claro nas lentes de Almendros ressaltam sua neutralidade e o clima pueril das descobertas de Pauline (Amanda Langlet).

O roteiro de Eric Rohmer se concentra na construção das relações interpessoais entre seus personagens. Relações estas que são abordadas de maneira corriqueira e habitual com personagens profundos e ambíguos envoltos em uma narrativa poética. É interessante observar a forma como Rohmer desenrola seus personagens cheios de conflitos internos os fazendo convergir em dado momento. São todos personagens intensos que guardam segredos e principalmente desejos íntimos.


Amanda Langret interpreta Pauline com a pureza e inocência que a personagem exige. Combinados com uma sedução pueril é através de Amanda e de sua personagem que todo o filme desencadeia.

Arielle Dombasle carrega com força as “tintas internas” de sua Marion. Marion que é do tipo fala uma coisa e pensa outra exigi muito preparo para o psicológico da personagem que é forte, tem presença cênica. Vale ressaltar o despudor de Arielle ao transgredir a todo o momento e principalmente nas cenas de sexo com Féodor Atkine (Henri). Féodor, aliás, constrói um personagem totalmente ambíguo e sedutor. Henri é multifacetado e caminha a passos lentos para seu desfecho surpreendente. O melhor personagem do filme sem duvida. Simon de La Bosse (Sylvain) o namorado de Pauline é dotado de um carisma tão pueril e encantador quanto à da personagem titulo. Algo que eu percebi nas entrelinhas é a relação de respeito e admiração que Sylvain tem pela figura masculina de Henri (Féodor Atkine). Simon e Féodor tem entrosamento cênico atuando de forma a deixar implícito no subtexto essa relação.



“Pauline na Praia” é um filme ousado, provocador, poético e belo. Tantos adjetivos derivam das múltiplas conexões e interpretações que o filme proporciona a respeito do amadurecimento e das relações humanas.








domingo, 4 de agosto de 2013

West of Memphis




Em 1993 três adolescentes Jessie Misskelley, Damien Echols e Jason Baldwin foram presos acusados do assassinato de três jovens garotos em Memphis no Arkansas Christopher Byers, Steven Branch e Michael Moore. O júri condenou Misskelley, Echols e Baldwin a prisão pelo crime com base em teorias inconclusivas e estapafúrdias como ligação com o oculto por exemplo. Misskelley e Baldwin foram condenados à morte por prisão perpetua e Echols á morte por injeção letal.





A trilogia de documentários “Paradise Lost” produzida pela HBO e o livro “Devil´s Knot” da jornalista americana Mara Leveritt chamou a atenção da mídia e de celebridades como Johnny Depp e Eddie Vedder que passaram a colaborar na defesa do trio. Em 2010, após um longo período de pedidos de revisão do caso com base em novas evidencias um novo julgamento foi realizado libertando Misskelley, Echols e Baldwin após um acordo com o júri.

West Of Memphis reconstitui o caso desde seu principio com base em imagens de arquivo- algumas provenientes dos documentários da HBO. De certa forma “West Of Memphis” joga luz sobre o caso no sentido de que se concentra especificamente na falha judicial e nas provas antes inconclusivas.



Com um apuro investigativo o documentário tem seu foco nos documentos e na reconstituição das provas não do crime em si. O que eu particularmente achei uma escolha acertada, pois as cenas dos corpos já mostradas em “Paradise Lost” em demasia e aqui quando aparecem são tão dolorosas quanto.

O longa foca na figura de Demien Echols e é a partir dele que o filme se desenrola focando nas novas evidencias- ou seriam evidencias omitidas? do caso. Não só nos exames de DNA, mas também em relatos, fotografias, objetos e falso testemunho. O falso testemunho nos leva a uma reflexão profunda das consequências desse ato, mas também o que leva a este ato. Seria o poder intimidador das autoridades policiais? Seria a incapacidade da justiça ou o preconceito?

De fato inúmeros fatores contribuem para a reflexão e formação desse pensamento sobre quem seria o culpado- “West Of Memphis” nos aponta a Terry Hobbis como um possível culpado e nesse sentido se torna revelador ao evidenciar a personalidade daquele homem e os conflitos familiares dos quais aquele menino passava, mas também me leva a refletir sobre o quanto o uso da montagem e a existência de mise-en-scene me levam a formular essa linha de raciocínio. Veja bem, a inocência de Damien Echols, Jessie Miskelly e Jason Baldwin é algo inegável, mas a necessidade incessante de se apontar um culpado se torna maçante.

Os usos apropriados das imagens de arquivo bem como os dos depoimentos enaltecem o documentário de forma a constituir um panorama geral e mais aprofundado do caso. A maneira como é constituído – vide a montagem oferece aos espectadores clareza para aspectos antes mal explicados ou imperceptíveis do caso.

Esse documentário é mais abrangente e toma um aspecto quase que cientifico do ponto de vista jurídico abordando a evolução do caso ao longo dos anos. A forma que o documentário toma de estruturar suas bases em aspectos judiciais e não mais no filme em si permite que acompanhamos o desenrolar incessante dessa historia.
A maneira com que as evidencias é colocada tornam o caso um objeto de analise e avaliação do espectador. Pela primeira vez o caso ganha um documentário que o analisa de forma quase que inteiramente como um erro judicial e dessa forma acaba por deixar o crime bem como as fotos e reconstituições de lado –as exibindo somente quando necessário.

O uso dos depoimentos atrelado a imagens de arquivo e ao “tempo real” constrói um painel interessante que nos permite conhecer os diversos fatores desse caso que se tornou de comoção mundial. Por exemplo, de um lado penetramos através dos meandros que possibilitariam um novo julgamento e todos os pareceres que levariam a isto. Por outro conhecemos os defensores do trio através de entrevistas e depoimentos reveladores e extremamente humanos.

O documentário foi concebido com a clara intenção de ser o mais abrangente sobre o caso até então e cumpre seu objetivo. Mas “West Of Memphis” vai além: promove uma intensa discussão sobre as falhas no sistema judiciário não só o americano, mas mundial. E que este caso nunca seja esquecido para que injustiças como esta não voltem a se repetir.







Pra quem quer conhecer mais sobre o caso sugiro a leitura dos seguintes livros e artigos:







Ps: A Trilogia de documentários "Paradise Lost" está no youtube.

Ps2: O livro "Devil´s Knot" está sendo adaptado para o cinema em formato de ficção. O filme tem estreia prevista ainda para este ano.