No mundo de hoje onde com as redes sociais a privacidade é descartada minuto a minuto com as pessoas se expondo demais e novas celebridades alçadas a fama tão rapidamente cresce também a idolatria do cidadão “comum” sobre essas celebridades que eles acreditam serem seres superiores e as colocam em um pedestal. Esse é o principal tema de “Bling Ring- A Gangue de Hollywood”.
Rebecca (Katie Chang) é uma garota obcecada pelo mundo da fama e pelo
glamour que esse mundo desperta. Marc (Israel Broussard) é um jovem tímido que
chega a nova escola e cria amizade com Rebecca. A garota obcecada por ter algo
que pertence a seus ídolos forma com Marc, Sam (Emma Watson), Sam (Taíssa
Farmiga) e Chloe (Claire Julien) um grupo que invade residências de famosos.
Dirigido por Sofia Coppola e baseado em um artigo publicado na Vanity
Fair sobre uma gangue de adolescentes especializada em assaltar casas de celebridades.
A fama é um tema que cerca a maioria dos trabalhos de Copolla como diretora
como os atores dos filmes “Encontros e Desencontros” e “Um Lugar Qualquer”. Mas
se antes Coppola realizava filmes intimistas sobre o peso da fama não é o que
acontece em “Bling Ring”.
O filme se inicia com um
flashforward de alguns meses antes com os jovens assaltando uma casa com uma
musica alta e planos ágeis e rápidos acompanhados por uma câmera nervosa neste
prólogo.
Em “Bling Ring” a câmera de Sofia está sempre em movimento ágil, porém
com cortes sensíveis.
A diretora inova no modo de dirigir adotando um ritmo frenético com
muitas trucagens e sucessão rápida de planos. A Sofia dosa a forma de dirigir o
longa na medida em que em alguns momentos ela retorna a forma intimista de
dirigir, mas em grande parte do tempo ela utiliza de um ritmo frenético e nervoso
(muito desse ritmo se deve a musica que transcende a tela). É sobretudo uma
evolução no trabalho da diretora responsável por filmes sensíveis e intimistas.
Além do vibrato frenético Sofia também flerta com outras estéticas. Sem dúvida
um retrato da geração atual.
A montagem é um fator interessante de se observar no filme pela sua
dinâmica. Durante todo o filme há flashbacks e flashforwards contínuos que se
sobressaem sobre os outros de modo que possamos conhecer a história a fundo. O
passado e o presente estão lado a lado na narrativa com os personagens dando
depoimentos. Nesse aspecto “Bling Ring” se aproxima muito da estética do
documentário e porque não dizer também do reality show pelo tom confessional
que caracterizam os depoimentos.
A fotografia assinada pela dupla Christopher Blauvelt e Harris Savides
trabalha com granulados acentuados e contraluz o teor escuro que torna a cena
quase imperceptível em cenas noturnas. A fotografia do filme é extremamente
cuidadosa pois ao combinar diferentes efeitos garante ao filme um ar de
imprevisibilidade em torno dos personagens e da própria historia.
O roteiro de Sofia trabalha a superficialidade aparente do tema com
habilidade capaz de retratar o mundo etilista que cerca os personagens e suas
motivações pessoais bem como as correlações entre eles. A relação entre Rebbeca
(Katie Chang) e Marc (Israel Broussard) é o fio condutor da trama. A habilidade
de Sofia em retratar a ambição juvenil daqueles personagens e contextualizá-los
no seu ceio familiar com pais permissivos, frios e relapsos permite que o
espectador adentre as raízes psicológicas dos personagens.
O roteiro contêm uma dinâmica de flashbacks e flashforwards constantes o
que poderia confundir o público, mas não é isso que acontece, pois Coppola tem
o foco narrativo construído com bases solidas dessa maneira o espectador se
mantêm situado sobre o enredo.
Duas coisas interessantes de salientar. Uma delas
são as menções e citações a cultura pop e o universo das celebridades que Coppola
faz no filme. Menções a série de TV “Entourage” e ao reality show “The Hills”
(Cuja integrante Audrina Patridge foi uma das vitimas da gangue) por exemplo dão
o tom etilista ao longa. Outro fator interessante é a inserção de imagens de
arquivo das vitimas o garante ao filme um aspecto documental confessional e
também a participação de algumas celebridades como elas mesmas no filme afinal,
a linha que separa a realidade da ficção é tão tênue não é mesmo?
A trilha de “Bling Ring” é forte, vibrante e enérgica com alta
potencialidade capaz de eclipsar a ação. A mistura de Pop e hip hop em volume
estridente da o tom de frenesi as cenas dos protagonistas.
O elenco demonstra um incrível entrosamento cênico muito dessa química se
deve a capacidade de Sofia Coppola que é uma excelente diretora de atores. Katie
Chang (Rebecca) e Israel Broussard (Marc) demonstram química encabeçando a ação.
Katie imprime a postura etilista e dominadora de sua personagem com vivacidade.
Israel interpreta seu personagem uma autentica “vitima da moda” de maneira
comedida expressando os conflitos internos de Marc evidenciando o olhar perdido
e a timidez do personagem. Sem dúvida Rebecca e Marc são os melhores
personagens do filme e o tom confessional e extremamente emocionante dos
depoimentos dele só confirma isso.
Emma Watson mostra que definitivamente deixou Hermione da série “Harry Potter” pra trás. Ao interpretar
Nicki uma jovem deslumbrada e de valores superficiais com tamanha desenvoltura
e naturalidade a atriz coloca em xeque os valores deturpados de sua personagem
em cena fazendo o público refletir não só sobre o seus atos, mas também sobre as
suas motivações. Emma compõe a personagem de forma minuciosa resultando em uma interpretação
totalmente verossímil dentro daquele contexto familiar onde está inserida. Taissa
Farmiga (a Violet da série American Horror Story) interpreta Sam a Irmã adotiva
de Nicki apesar do pouco destaque dado a sua personagem, Taissa consegue se
sobressair evidenciando a solidão e carência afetiva de sua personagem que
encontra naquele ambiente disfuncional um laço afetivo. A atriz expressa às
nuances emocionais de seu papel com delicadeza e sensibilidade que só olhos
mais atentos são capazes de perceber as raízes internas de seu papel. Um jovem
e versátil talento.
Sofia Coppola realiza em “Bling Ring” um bom filme onde avança tanto na
narrativa quanto tecnicamente no sentido que se permite experimentar outras
linguagens audiovisuais, mas também no seu retrato sobre o intimo (aqui nem tão
intimo, pois é exposto em demasia) e o mundo da fama na geração atual. Estou curioso
pra saber como as inovações adquiridas com “Bling Ring” irão ecoar nos futuros
trabalhos da diretora. É esperar pra ver.