domingo, 20 de novembro de 2016

BR 716




Em dado momento de “BR 716”, o protagonista Felipe(Caio Blat) diz algo como “Eu não sei o que vivi ou imaginei”. É bem assim que se desenrola “BR 716”, o novo filme de Domingos Oliveira. Como uma doce e intensa lembrança, com todos os ingredientes contidos nessa deslumbrante memória convertida em um belo filme.

Espécie de auto ficção sobre a juventude de Oliveira nos anos 60, onde tudo o que tinha era um belo e espaçoso apartamento na RUA Barata Ribeiro em Copacabana, amigos, amores e o desejo de ser escritor, “BR 716” é um filme festa. Intenso, fugaz, nostálgico, vivo e atual, muito atual.


Como todo “filme festa”, BR 716” é dotado de intensidade e agilidade em todos os momentos. Seus personagens aproveitam as famosas festas de Felipe(Blat) para viver o momento como se fosse o ultimo. Nesse terreno, os personagens vivem tudo a flor da pele, a plenitude do momento. Amores, paixões, ambições, desavenças e ideologias, sejam elas políticas ou artísticas. O Longa, dotado de uma vivacidade impressionante, reflete bem o “Seize The Day” e sua filosofia hedonista ao máximo. Constituído de pequenos fragmentos, "BR 176” se revela um mosaico, um pequeno retrato daqueles personagens essencialmente e excessivamente bêbados,envoltos naquele terreno, onde vivem, sentem e aproveitam cada segundo como se fosse o ultimo. Como se fosse preciso viver cada momento, de cada festa e eternizar lós. Como se os momentos fossem pó que escorrem da palma da mão.


Domingos Oliveira é do tipo de artista que não separa o amor da arte, o trabalho da vida. Tal qual  François Truffaut, Woody Allen e Roger Vadim, só para citar alguns. E assim como os filmes destes acima citados, “BR 176” exala paixão e poesia. Oliveira envolta seus personagens essencialmente e excessivamente bêbados- de álcool e de paixão, numa atmosfera de embriaguez e num mundo á parte.  Mas não confunda, “mundo á parte” com alienação. Pelo contrário, a revolução de Felipe e sua turma se dá através da arte, da poesia, do amor e ás vezes, da política, tal qual o jovem trio protagonista  de “Os Sonhadores”.

Envolto nessa atmosfera de embriaguez do álcool e das paixões, Domingos Oliveira instala e desnuda seus personagens com tamanha delicadeza e poesia, munido de movimentos de câmera circulares e panorâmicos. Assim, o diretor nos proporciona cenas de tamanho deleite. Como se o que estamos assistindo não fosse “real”, como se estivéssemos em um sonho e pudéssemos acordar a todo o momento mesmo não querendo.  Oliveira capta a intensidade de cada segundo da paixão que acomete seus personagens naquela atmosfera de embriaguez, captando e revelando a beleza de seus corpos em uma dança, a beleza de seus rostos, apostando em closes de tamanha beleza de seu elenco que iluminam, dominam e encantam a tela. Como os personagens de Sophie Charlotte, Glauce Guma(Melhor atriz coadjuvante em Gramado merecidamente. Pois interpretou com brilhantismo uma personagem que vive na linha tênue entre a paixão e a loucura), Maria Ribeiro, Gabriel Antunes e Álamo Facó. Maria, Caio,Sophie e Álamo interpretam um duelo amoroso que nasce e morre, pra depois renascer em outros rostos, pois assim são as paixões que nascem naquele terreno, naquela atmosfera que é o apartamento de Felipe, fugazes e efêmeras. Mas que seja eterno enquanto dure.

A câmera de Oliveira capta esses momentos, tanto os da alegria esfuziante da festa(os personagens passando por baixo de uma corda é impagável), quanto os de entrega de amor, do sexo, da embriaguez, das discussões políticas e das crônicas de bêbados de personagens totalmente embriagados, de álcool , de amor, de filosofia e de poesia como um voyeur, um voyeur da própria festa, ali a espreita observando a própria vida renascer diante da câmera, para depois brotar na tela. Momentos estes que o cineasta captura com destreza e agilidade, antes que sejam tomados por outros, como de fato sempre são. Tamanha a quantidade de histórias, tramas, discussões e amores que nascem naquele apartamento e nos arredores da onde os amores de Felipe e sua turma nos levar. Domingos mergulha nas histórias de amores, ideologias, emoções e discussões filosóficas sobre amor, arte e vida com tamanha intensidade para depois submergir em rápidos e intensos mergulhos em seu baú de memórias que se tornou ficção.

O Cineasta construiu um filme moderno, arrojado, intenso e vivo. Seus personagens e seu filme são dotados de uma jovialidade, de um frescor e de um despudor impressionantes. Só quem carrega a juventude na alma como Domingos Oliveira poderia construir personagens e um filme tão intensos e frescos quanto esses.

A vertente pela qual a obra de Domingos Oliveira é mais conhecida, a verborragia, se faz presente em altas doses em “BR 716”. Poesias, filosofias, amores, declarações, ideologias e lamentos saem da boca de seus personagens de forma entregue e apaixonada, com um despudor característico que só o álcool, de preferência, whisky bebido como água, a ressaca e as lembranças que restam da noite anterior no dia seguinte podem proporcionar.


Oliveira, um jovem na alma tal como é, não se contentou em retratar a juventude da sua e de todas as épocas em “BR716”, o diretor também adotou escolhas estéticas que podem ser consideradas modernas,arrojadas. A começar pela metalinguagem, o que leva o espectador a questionar se aquilo que assistimos ocorre no “tempo fílmico real”, é uma lembrança ou uma nostalgia rememorada? 
Como Ernest Hemingway em “Paris é Uma Festa”, aquela que Woody Allen representou tão bem em “Meia Noite Em Paris” e que nos fez refletir em qual dos dois mundos gostaríamos de viver, a nostalgia, sendo ela nada mais que a fantasia ou a realidade? A quebra da “quarta parede” confere um tom confessional e aumenta a sensação de intensidade , despudor e entrega daqueles personagens aos momentos e as paixões.  A fotografia ora luminosa e solar, mas na maioria do tempo, um preto e branco elegante, quase como um retrato se não vivo, muito bem conservado. O uso de drones e câmeras no teto, a trilha sonora, clássica e atemporal(que foi responsável por dar ao filme um dos seus 4 Kikitos no Festival de Gramado).

Para um cineasta como Domingos Oliveira, as experiências, os amores, servem de combustível para a vida pra arte, já que não existe divisão entre arte e vida, amor e trabalho.  Assim, pudemos conferir as experiências que serviram de inspiração para a criação de clássicos como “Todas As Mulheres do Mundo”, um clássico do nosso cinema. Se o combustível foram essas experiências retratadas em “BR 716’ ou pelo menos, uma fração fantasiosa delas, não é de se espantar de que Domingos Oliveira tenha se tornado o melhor cineasta brasileiro. Posso afirmar, mesmo sem ter visto “Infância”, que “BR 716”, é um dos melhores filmes de Domingos Oliveira na presente década, na qual sua obra passa por uma fase nostálgica, vide “Juventude”, “O Primeiro Dia de Um Ano Qualquer”, “Infância” e este “BR 716”.  

Se a intenção de Domingos Oliveira era deixar o espectador com vontade de participar de algumas de suas festas, de alguns de seus filmes , com vontade de sonhar, posso dizer que o objetivo foi atingido com êxito, pois quero atuar nos seus filmes, ser seu amigo e frequentar as suas festas, já que sonhar não custa nada, como bem sabem os personagens deste filme.  “BR 716” é como um sonho lúcido e bom, um deleite do qual você nunca quer despertar.

Não importa mais se o que é mostrado foi real, uma lembrança, pura ficção ou um hibrido das coisas, a magia do cinema tornou tudo eterno. Corram para a sala de cinema mais próxima.














  


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Café Society


Lançando um filme por ano, Woody Allen tem o que chamamos de Estilo, ou “Cinema de Autor”, se preferirem. Suas histórias podem mudar, a ambientação pode mudar, pode ser Londres, Roma, Paris ou Los Angeles e a sempre amada e admirada Nova Iorque- como neste caso. Mas o fato é suas histórias continuam basicamente as mesmas na essência: Personagens neuróticos, entrechos amorosos, reflexões sobre o sentido da vida ou a busca pelos sonhos e objetivos.

Mesmo retrabalhando temas, Allen consegue fazer eles soarem frescos, e ainda magicamente encantadores. É o caso de “Café Society”, que se passa em 1930, durante a Era de Ouro de Hollywood.


O Jovem Bobby(Jesse Eisenberg), cansado da rotina na joalheria da família em Nova Iorque, quer se tornar um famoso roteirista em Hollywood, o que faz a mãe do rapaz, Rose(Jeannie Berlin), implorar ao tio do rapaz- e irmão desta, Phil(Steve Carell) por uma chance. Só que Bobby se apaixona pela secretária deste, Vonnie(Kristen Stewart), enquanto ela se apresenta a cidade ao jovem sonhador.


Woody Allen não mentiu quando disse que “Café Society” era como um romance, e que por está razão era o narrador da trama, desse romance. Café Society é um filme simples, mas mágico,delicioso e extremamente agradável de se assistir. Ouso dizer que é seu melhor filme desde “Meia -Noite em Paris”. O filme estrelado por Owen Wilson continua sendo o meu favorito de Allen, mas esse estrelado por um talentoso Jesse Eisenberg chegou perto, bem perto. Já garantindo um lugar entre meus favoritos.

Estruturado como um retrato, um recorte, ou mesmo como disse o próprio diretor, um romance sobre a vida de Bobby, “Café Society” é um filme sobre o fascínio, sobre o sonho dourado(afinal, a grama do vizinho é sempre mais verde, ou pelo menos aparenta ser. O longa é como aquele livro absolutamente encantador que você não quer que acabe, com aquele personagem que parece ser seu alter ego de tanto que nos identificamos com ele.

Woody construiu uma história repleta de magia, encanto e glamour. Ao assistir ao filme embarcamos numa atmosfera glamorosa de sonho. O sonho americano das mansões de Hollywood, das festas, das negociações, do ar estrelado, da magia do cinema de estrelas e diretores como Billy Wilder e Rudolph Valentino de um lado, a magia da Café Society, de outro, onde Bobby encontra o seu lugar ao sol. Allen pode rodar o mundo, Roma, Paris,Londres ou Barcelona, mas acaba sempre retornando ao seu lugar de origem. Ah, Nova Iorque, sempre Nova Iorque.


   Allen estruturou muito bem o seu enredo. De um lado, a era de ouro de Hollywood, de outro a típica família judia neurótica levemente disfuncional com seu humor irônico, sarcástico e mordaz característico. Tudo isso, unida a uma versão romanceada e satírica da máfia da época, através do irmão de Bobby, Ben(Corey Stoll).

De fato, Woody revisitou antigos trabalhos nesse novo filme. Do encanto com sonho dourado, ter uma profissão que não a sua, viver em um lugar- ou época que não os seus, remetem a “Meia-Noite em Paris”, o cinema e suas estrelas como modo de fascínio e entretenimento de “A Rosa Púrpura do Cairo”, do mundo das artes colidindo com a máfia de “Tiros Na Broadway”, ou ainda a magia e o encanto meio inocente de uma época vista com muito glamour como “A Era do Rádio”.


Allen imergiu o espectador em um universo mágico priorizando sua história muito bem construída, com pontos bem amarrados que se interligam, cuja estrutura remete ao clássico “Se Meu Apartamento Falasse” de Billy Wilder(observem o clímax do filme). Tudo isso somado a  conjunto de fatores que vão desde a montagem episódica, a belíssima fotografia que mescla um azul solar, com o dourado próprio do glamour entre outros tons, aos atores e a direção e o roteiro de Allen, que como sempre prioriza a dinâmica ator-texto, abusa dos closes e dos planos de conjunto.


O humor de situação,involuntário, mordaz, sarcástico e irônico de Allen se faz presente com Jesse Eisenberg assumindo o clássico alter ego do diretor mais uma vez. O ator faz de Bobby, um autentico jovem idealista e sonhador, mesclando a visão inocente do personagem sobre o mundo de glamour a qual sonha pertencer com um humor sarcástico, brilhando em situações em que Bobby falava com uma sinceridade desconcertante ou simplesmente agindo. O humor aqui, como grande parte dos trabalhos de Woody Allen, surge naturalmente das situações, sem grande esforço. Muitas vezes o personagem não falava nada, apenas uma pequena ação ou a constatação de um fato já provoca gargalhadas.

Os personagens estão em processo de construção ou desconstrução durante o filme. Assim, é delicioso ver Jesse Eisenberg(Bobby), Vonnie(Kristen Stewart) e Veronica(Blake Lively) e Phil(Steve Carell), desconstruírem as “personas” de seus personagens, ou apenas demonstrando novas facetas desses personagens, que afinal de contas são seres humanos, e a observação- por vezes sarcástica da alma humana é uma das matrizes da obra de Woody Allen. Talvez por isso o diretor tenha o amor e os inevitáveis encontros e desencontros amorosos como uma de suas marcas. Pois quando amamos, a alma humana fica naturalmente vulnerável, permitindo enxergar o seu interior com facilidade.


Por fim, “Café Society” é uma viagem deliciosa e mágica que Woody Allen nos proporciona. Ao nos fazer viajar para a era de ouro de Hollywood e para a efervescência da Café Society e acompanhar os sonhos de Bobby em meio ao glamour, Woody nós dá uma passagem para um universo encantador. Uma pena que a viagem é curta, como um bom livro que não conseguimos largar antes do fim, e quando acabamos, ficamos com gosto de quero mais.  Obrigado Woody, por mais uma viagem mágica, encantadora, sensível e delicada aos sonhos.     





  

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Capitão América:Guerra Civil



A Primeira coisa que você precisa saber sobre “Capitão América: Guerra Civil” é que ele é na prática, não só o terceiro filme do Capitão América, mas também, o terceiro filme da saga dos Vingadores. Só que dessa vez, ao invés de lutar por um mal em comum, os nossos heróis estão divididos em dois pontos de vista dos seus respectivos ideais de bem, encabeçados por Tony Stark, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr) e Steve Rogers, o Capitão America (Chris Evans), concluindo assim, a terceira fase do universo cinematográfico da Marvel.

O filme começa com os Vingadores tendo que lidar com as consequências das suas ações, a moralidade de seus atos. Após uma batalha que gera uma catástrofe, os Vingadores sofrem a intervenção governamental que quer controlar os atos dos heróis, porém, Steve Rogers (Chris Evans) é contra, pois considera essencial a liberdade dos heróis. Tal fato, o coloca em rota de colisão com Tony Stark (Robert Downey Jr). Dividindo assim as equipes em #TeamCapitão e #TeamHomemdeFerro.

Dirigido pelos irmãos Russo, o filme possui agilidade narrativa e grandiosidade visual. O dinamismo, a destreza e a agilidade na maneira de dirigir, resultam em impacto e grandiosidade visual, mantendo os espectadores vidrados na ação a todo o momento.

A agilidade na direção das cenas de ação é impressionante. Conduzidas pelos irmãos Russo de forma dinâmica a todo o momento, o que impede o espectador de se cansar das 2hs37min de duração do longa, que passam no piscar de olhos.

O Dinamismo presente na narrativa, permite aos cineastas desenvolver varias frentes de ação na narrativa, primando por uma direção coreografada, permitindo assim dar o devido destaque a performance dos atores nas cenas de combate corpo a corpo.

A montagem é um elemento de grande importância na dinâmica do filme, lhe conferindo assim uma agilidade impressionante. Ao adotar a montagem paralela, o longa poderia falhar na dinâmica, confundindo assim o espectador. Não é o que acontece aqui, ainda bem. Ela é utilizada aqui com maestria, mantendo a força das cenas e não confundindo o espectador, o que poderia acontecer, já que a montagem faz idas e vindas temporais a todo o momento, entretanto, devido à forma hábil com que é utilizada, a montagem situa o espectador perfeitamente no tempo fílmico.

O elenco inteiro entregue performances aprimoradas. De Chris Evans (O Capitão América), ao Homem de Ferro (Robert Downey Jr), passando pela Feiticeira Escarlate, passando pela Viúva Negra (Scarlett Johansson) até as performances especiais de Paul Rudd (Homem Formiga) e a estreia do novo Homem-Aranha (Tom Holland).

O roteiro de Christopher Markus e Stephen Mcfeely é absolutamente fantástico. Poderia listar muitas razões, mas citarei apenas algumas. Em primeiro lugar, a dupla criou cenas de ação de memorável impacto visual, primando pela agilidade. Agilidade está que está presente em toda a narrativa. Não só as cenas tem impacto visual, como é um filme com grande velocidade de acontecimentos, mantendo assim o espectador empolgado durante toda a duração do filme.

O outro motivo pelo qual eu destaco o trabalho na dupla no roteiro foi o humanismo impresso nos personagens. Como já é característica dos trabalhos da Marvel (os X-Men são a maior prova disso), os personagens nesse filme tem que lidar com conflitos internos complexos, conflitos esses muito bem desenvolvidos pela dupla de roteiristas.

Questões como a moralidade, altruísmo, perdão, ressentimento, culpa, superioridade, além da grande questão que permeia todo o filme: Já que os heróis são tão humanos, tão “gente como a gente” devem ou não ser responsabilizados pelas consequências- mesmo que indiretas dos seus atos?

Só mais três adendos: A perfeita Viúva Negra da Scarlett Johansson merece um filme solo tipo pra ontem. Já na expectativa para os novos filmes do Homem-Aranha (Tom Holland muito bem no papel, finalmente um Peter Parker com quem me identifiquei) e do Homem-Formiga do sempre sensacional Paul Rudd.

Concluindo, “Capitão América: Guerra Civil” é nada mais do que uma conclusão épica que fecha com chave de ouro um ciclo no universo cinematográfico da Marvel. Ansioso para ver o que vem por ai.



domingo, 27 de março de 2016

Batman vs Superman: A Origem da Justiça


Uma das coisas que mais me incomodavam nos personagens da DC Comics é que eles eram muito “perfeitos”. Eles não tinham até então, problemáticas reais , erros, defeitos como todos nós. “Em Batman vs Superman: A Origem da Justiça” os personagens são humanizados, tonando-os mais interessante aos olhos do público.

O conceito de moralidade , dos “dois lados de uma mesma moeda” , permeia todo o filme. Bruce Wayne/Batman( Ben Affleck)e Clark Kent/Superman(Henry Cavill) estão de lados opostos com um cada um responsabilizando o outro pelas consequências que seus atos trouxeram para a sociedade. Porém , eles tem uma ameaça em comum:Lex Luthor(Jesse Eisenberg) que pretende usar a Krypitonita de um navio naufragado em seus planos, forçando assim os dois heróis a superarem as diferenças e lutarem juntos pelo bem comum.
O filme pode ser classificado tanto como uma narrativa de grande impacto visual, quando um grande estudo de personagens que fogem do maniqueísmo, desconstruindo uma “perfeição aparente” que costumamos ver nos personagens dos quadrinhos.

Zack Snyder dirige o filme com grandiosidade,destreza e agilidade  impressionantes Dando as sequencias de ação , o impacto , o dinamismo e a força bruta que elas exigem. Tudo na tela parece grandioso- e realmente é.

Com  uma atmosfera densa e soturna, auxiliada é claro, por uma excelente fotografia, o cineasta imprime um clima sombrio e de violência ao longa metragem no qual o realismo cênico das cenas impressiona. Apostado em cenas longas e cortes bruscos.  O resultado é uma narrativa visualmente instigante que impressiona não só pelo retrato sombrio de suas lentes , mas sobretudo pela capacidade de surpreender o público a todo o momento com elementos surpresa de grandiosidade, potencia visual e sonora ao nível máximo. Fazendo os desprevenidos pularem da cadeira a cada ataque inesperado.
 Sim, há destroços, há catástrofes e explosões(observem uma das sequências finais do filme), mas tudo é grandioso mas veromissel, por mais fantástico que o filme possa ser(afinal, estamos falando de super-heróis), o que quero dizer é que todas as sequências do filme, registradas de forma impactante pelo diretor que não economiza em retratar a brutalidade inserida naquele universo de forma ágil.

Por falar em brutalidade, é nos duelos corpo a corpo dos heróis que Snyder , um admirador do culto ao corpo se sai melhor .Nas cenas de luta, comandadas pelo diretor de forma excepcional é que podemos evidenciar não só o impacto da força bruta dos personagens, com duelos de tirar não só o fôlego mas também sangue e faíscas. Lá além de observarmos pela primeira vez a força dos personagens , percebemos também os seus diferentes conceitos de moral. Com um Bruce Wayne /Batman (Ben Affleck) , sanguinário , mas também amargurado e solitário e um Clark Kent/Superman(Henry Cavill) idealista e ético(seguindo sua própria ética, é claro).

Essa questão da moralidade e da ética é uma questão que percorre toda a narrativa. Evidenciando os dois lados , “Batman VS Superman” é um filme de opostos. Opostos esses muito bem caracterizados por Snyder na sua competente forma de dirigir , evidenciados pela montagem eficiente, imprimidos pela competente dupla de roteiristas Chris Terrio e David S. Goyer e defendidos por Affleck e Cavill de forma competente e verdadeira.

Mas os heróis desse filme, são personagens em camadas. Como se Batman e Superman fossem só mais uma das muitas personas de Bruce Wayne e Clark Kent. O Wayne impressionante de Affleck é sim um sanguinário, sim um milionário solitário com uma certa amargura, alguém que só no Mordomo Alfred de um Jeremy Irons seguro e inspirado confia. Bruce é um milionário amargo, solitário que começa a repensar as consequências mesmo que indiretas dos seus 20 anos de atuação como o homem-morcego de Gothan. Mas também é um milionário que sabe aproveita as boas coisas da vida, galanteador, principalmente diante da misteriosa Diana Principe(Gal Gadot). Affleck calou lindamente a boca dos hatters que protestaram contra sua escalação como o homem-morcego, construindo um personagem cheio de nuances e narrativamente mais interessante que o Superman da Cavill. Louco pra ver ele no filme solo do Batman que ele vai atuar, dirigir e escrever o roteiro. Além de bom ator, Aflleck é um talentoso roteirista e diretor(vide “Gênio Indomável” e “Argo”).

Jeremy Irons como o Mordomo e confidente Alfred , sábio para aconselhar Bruce/Batman mas estrategista e inteligente o suficiente para tomar o comando da ação quando necessário, e a bela e destemida jornalista Lois Lane de Amy Adams funcionam como a consciência de Batman e Superman respectivamente, os levando a refletir sobre as consequências de suas ações, sejam elas boas ou ruins. O Único personagem que não apresenta uma “outra face” é Lex Luthor , o maníaco inimigo do Super-homem e do Batmam por tabela. O Personagem não possui uma “outra face”, o que não quer dizer que o Vilão defendido por Jesse Eisenberg de forma brilhante não tenha camadas. Só que a sua loucura e insanidade está presente ali a todo o momento, desde o inicio. O Personagem não tenta esconde-la com uma outra persona, pelo contrário mostra ela a todo o custo, o que garante alguns dos melhores momentos de humor do longa metragem. Sua personalidade louca e insana só se agrava ao longo do filme até seu clímax.

No fim , Zack Snyder e sua equipe e elenco fizeram de “Batman VS Superman: A Origem da Justiça”, um filme bom , muito bom. Visualmente,tecnicamente e narrativamente falando. Só senti falta de duas coisas: A edição poderia ter um pouco mais de dinamismo, isso teria tornado o filme ainda mais empolgante do que já é. Mas a bela direção de Snyder faz esse trabalho com maestria , mas não custava nada uma ajudinha né? E de uma cena pós créditos. Mas a falta dela é proposital. Para aumentar nossa ansiedade para o filme da Liga da Justiça.