*Contêm informações do enredo, só leia após assistir ao filme.
Desde a primeira vez que ouvi falar da trama da novela “O Rebu”, muito
antes da Globo anunciar a nova versão da novela no ar atualmente, fiquei
encantado pela narrativa não-linear que se passa em um único dia e rapidamente
associei a este clássico de Alfred Hitchcock “Festim Diabólico”.
Embora aqui não haja o recurso do flashback presente na nova versão da
novela de Bráulio Pedroso, temos temáticas narrativas semelhantes.
O filme se concentra na história de dois amigos, Brandon(John Dali) e
Philip(Farley Granger) que assassinam um antigo colega de classe e dão uma
festa aos amigos e familiares do falecido.
Duas coisas chamam a atenção primeiramente em “Festim Diabólico”.
Primeiro é a habilidade dos roteiristas Hume Cronyn e Arthur Laurents tiveram
em construir uma narrativa pautada em atos assim como a história original na
qual o filme é baseada. Cronyn e Laurents construíram a ação em três tempos
narrativos: O antes da festa- na qual eles cometem o assassinato, o durante a
festa, que ocupa o maior tempo do filme e o depois da festa. Isso tudo sem
utilizar flashbacks em nenhum momento. Roteiristas gênios e Hitchcock gênio.
Aliás, é preciso reverenciar o exultante trabalho do diretor, não é a toa
que ele era conhecido como “ o mestre do suspense”. Hithcook trabalhou o
suspense apostando nos closes e planos descritivos para fortalecer a tensão dramática
do enredo. De fato, o cineasta demonstrou incrível destreza e inteligência cênica
ao costurar o suspense da narrativa pautando-se por recursos mais simples e orgânicos
como closes, movimentos de câmera como a panorâmica, além é claro, do uso
potente do jogo de câmera e do uso da música instrumental tocada pelo personagem
Philip( Farley Granger) em um diálogo especifico com o Sr Cadell (James
Stewart) no qual o professor sonda o antigo aluno sobre o seu “brilhante feito”.
Nessa cena em especifico, a música tocada por Philip ao piano eleva a tensão dramática
do longa a níveis inimagináveis.
Alfred Hitchcock era mesmo um diretor com o domínio cênico. A maneira
brilhante com a qual ele induz o telespectador nesse grande “jogo psicológico”
que é festim diabólico – fonte que claramente beberam George Moura e Sérgio
Goldenberg , autores dessa nova versão de “O Rebu”, além é claro de Bráulio
Pedroso autor da novela original. Pois, a construção da tensão dramática da
narrativa é alta e de semelhante efeito em ambos os casos.
A interessante observar alguns pontos no filme. Primeiro que a narrativa
se desenvolve em um único ambiente e a direção de Hitchcock imprime o suspense
inerte a narrativa sem entretanto torna-la engessada. Sua direção explora muito
bem o ambiente cênico , reforçando o clima noir do enredo. Em segundo lugar, a inteligência
do diretor em utilizar simbolismos e dar pistas ao espectador. Um exemplo
disso, é o fato de Brandon(John Dali) amarrar os livros com a mesma corda que
usou pra enforcar David, ou quando a câmera faz o caminho inverso e através de
uma panorâmica vai da mesa de jantar(onde David- o morto está deitado no caixão)
para a mão de Brandon.
Outros dois pontos importantes que pude perceber e faço questão de
ressaltar. Primeiro, a destreza da construção narrativa da dupla de roteiristas
que a todo o momento colocam os personagens principais em situação-limite de
serem descobertos, propondo assim um jogo com o espectador e elevando ainda
mais a tensão dramática. Segundo, a construção tanto dos dois protagonistas
Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) quanto do professor Cadell(James
Stewart).
Brandon e Philip são dois personagens completamente antagônicos. Enquanto
Brandon é intelectualmente forte e dominador, envolvendo seu amigo nessa “teia psicológica”,
Philip é o elo mais fraco entre os dois, medroso e suscetível a pressões ,
estando ao passo de se entregar em vários momentos do filme.
Os atores compõe seus personagens de forma excelente , resultando em interpretações
puramente naturalistas.
Sr. Cadell(James Stewart) representa a força maior nesse jogo psicológico,
aquele ao qual Brandon e Philip buscam impressionar com o seu “grande feito”.
Stewart interpreta o inteligente professor de maneira astuta, ressaltando a
magnitude e a força e influencia dominante que o personagem exerce sobre o psicológico
de Brandon e Philip.
“O Festim Diabólico”continua um clássico irreparável. Uma verdadeira aula
de direção, execução e construção de uma narrativa. A destreza com o qual o
filme toma forma impressiona e torna este clássico do mestre do suspense
continuamente servindo de fonte de inspiração para diretores e roteiristas até
hoje , mesmo estando em tempos que quaisquer ousadia narrativa já é um grande
avanço, tamanha a falta de criatividade que assola os diretores e roteiristas
atuais.
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