É uma tortura psicológica e emocional ler ou assistir qualquer coisa relacionada ao caso “West Memphis Three” onde 3 crianças foram brutalmente assassinadas e três jovens foram falsamente acusados em Arkansas nos EUA.
Foi duro assistir a trilogia de documentários da HBO “Paradise Lost” , assistir ao documentário produzido por um dos acusados Damien Echols depois de deixar a prisão. E certamente, não foi fácil assistir a este caso sendo dramatizado aqui neste “Devil´s Knot” ainda que de maneira esdrúxula e excessivamente estereotipada.
Primeiro, porque a direção de Atom Egoyan começa de maneira promissora nos induzindo ao que seria um “grande filme” , ledo engano, Egoyan nos induz ao suspense com seus movimentos de câmera descritivos e uso da sonoridade, das cenas do pós crime buscando um choque no espectador mas tudo o que consegue é uma repulsa breve e uma incessante vontade de vomitar.
A forma com que o cineasta conduz o filme, conferindo um tom de fábula macabra, descaracteriza totalmente a história séria e poderosa que tinha em mãos. A impressão que se da é que o diretor tenta suavizar o enredo e “poupar o espectador” para assim atingir maior fatia do público. Ora, é impossível suavizar algo de tamanha monstruosidade, a história do caso merecia uma reprodução digna e não uma história medrosa, rasa e com medo de se aprofundar na realidade.
É tudo retratado de forma rápida demais , não dando chances para o enredo se desenvolver como deveria. Entretanto, o diretor não deixa de chocar com o teor macabro do próprio caso que ele acrescenta aqui , mas tudo a conta gotas, superficial demais.
Além de ser raso e inconclusivo no que se propõe ao não se aprofundar na história , convertendo-a em uma novelinha mexicana, Atom Egoyan tem uma parceria na construção dessa história inverossímil dotada de cortes bruscos e superficiais: A montagem. A montagem deixa o espectador confuso pois utiliza de tantos recursos narrativos como flashbacks fora de hora que a acaba por confundir o espectador e tornar o filme uma bagunça.
O roteiro escrito a quatro mãos por Paul Harris Boardman e Scott Derrickson é o maior problema de “Devil Knot”. Em primeiro lugar, eles- os roteiristas descaradamente privilegiam um plot da história - a da mãe de Stevie Brunch um dos garotos assassinados. Pam(Reese Withespoon) em detrimento das outras famílias.
Em segundo lugar , os roteiristas pecaram de maneira severa na construção dos três jovens acusados Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Miskelley (James Hamrick,Seth Meriwether e Kristopher Higgins respectivamente). Construíram um retrato estapafúrdio dos três reais protagonistas do longa. Baseando-se em clichês os retrataram como malucos e débil mentais, claramente se aproveitaram desse retrato errôneo para jogar-los para escanteio dentro da narrativa e fazer deles meros coadjuvantes dentro da própria historia. De modo que a atuação do trio não tem nem chance de se sobressair.
Paul Harris Boardman e Scott Derrickson parecem ter esquecido -ou não leram mesmo que o livro de Mara Leveritt na qual o roteiro deles se baseia ou ao menos deveria se basear, cobre o caso por um todo e da destaque a clemência por inocência dos três jovens.
Reese Withespoon e Colin Firth são os únicos a se destacar verdadeiramente. Primeiro pelo talento da dupla segundo, porque o próprio roteiro os condiciona para isso.
Reese tem uma atuação comovente como Pam Hobbs , mãe de Stevie Brunch e Colin Firth nos presenteia com sua brilhante e obstinada atuação como o investigador particular Ron Lax, obstinado em provar a inocência dos três adolescentes. Firth atua de forma segura , firme e imponente , cativando o público.
Como espectador ou como qualquer pessoa minimamente inteligente, é inaceitável o retrato do caso “West Memphis Three” pintado aqui. Não só pela sua direção e narrativa rasas, pelo favorecimento de suas estrelas Reese Withespoon e Colin Firth ou por tentar emular sem sucesso a estética da trilogia de documentários “Paradise Lost” , mas sobretudo por sua falta de imparcialidade e por retratar Jason Baldwin , Jesse Miss Kelly e Damien Echols de maneira tão estapafúrdia, rasa e envolta em clichês.
Seria cômico se não fosse trágico, a história do caso não precisava disso e muito menos, o magnífico trabalho de Mara Leveritt não merecia tal retratação.
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