A tentativa de desmistificar o mito e torna-ló ícone.
Nos anos 70, no auge da revolução sexual uma mulher e um filme marcaram época.
Trata-se do clássico pornô “Garganta Profunda” e sua Protagonista Linda
Lovelace. Agora Linda tem sua vida remontada neste “Lovelace” da dupla de
diretores Rob Epstein e Jeffrey Friedman.
Em uma evidente tentativa de reconstruir o mito da estrela Linda
Lovelace(aqui interpretada de forma segura por Amanda Seyfried) e coloca-lá na posição
de um ser humano comum por trás do mito reconstruindo assim aqueles agitados
anos 70 dotado de um apuro estético brilhante contudo tanto esmero esbarra em
um filme construído em bases superficiais.
Por mais que o roteiro de Andy Belin
não seja algo da natureza do espetacular,ele cumpre seu papel construindo- ou
reconstruindo a persona de Linda,seus conflitos internos,familiares e
principalmente sua relação com Chuck Traynor(Peter Sarsgaard) e o retrato de
uma época. Isso é um excelente material na qual a dupla de diretores Rob
Epstein e Jeff Friedman poderiam pautar sua direção mas não é isso que acontece.
Epstein e Friedman executam uma direção apenas correta na primeira parte
do longa investindo somente em cortes sensível e deixando que o roteiro – que apesar
de correto não tem nada de espetacular capaz de sustentar um filme da magnitude
que “Lovelace” pretende ser. A direção da dupla somente mostra a que veio a partir
do momento que o roteiro de Belin promove uma pequena mas significativa mudança
temporal. Ai a direção começa a investir em planos descritivos como closes e
planos próximos além de movimentos de câmeras habilidosos como panorâmica e
circular, o que no dado momento é um alivio já que o espectador já esta
saturado daquela câmera estática ,imóvel no eixo.
É inevitável afirmar que “Lovelace” é um filme ambicioso e pretensioso do
ponto de vista estético. Sua pretensão fica clara na reconstrução minuciosa dos
anos 70 e por sua fotografia belíssima dotada de um granulado bonito e intenso.
Ao utilizar a era disco e os mesmos arquétipos dramáticos- embora de maneira
inferior e superficial o que acaba por soar demasiado falso em alguns momentos.
Ai fica claro aonde “Lovelace” pretende chegar ou melhor o que ele pretende
ser, uma versão feminina de “Boggie Nights” mas enquanto que no filme de Paul
Thomas Anderson existe estrutura e profundidade dramática além de uma direção não
mais do que excelente onde o universo pornô era sim a ideia central mas por
onde transitava fatores de maior profundidade e sim havia ousadia e quebra de
paradigmas ao contrario de “Lovelace” que vê suas ambições caírem por terra ao
se revelar certinho demais para um filme que trata de uma estrela pornô.
Eu cantei a pedra sobre as “pretensões artísticas” de “Lovelace”. Disse
que o filme pretendia se tornar uma versão feminina de “Boggie Nights” e estava
certo. “Lovelace” pretende se tornar o “Boggie Nights” de nossos tempos além de
um filme no qual garotas e jovens mulheres possam se inspirar, justamente neste
momento no qual se fala tanto no feminismo. Veja bem, não quero soar machista não
é nem de longe a minha intenção mas o fato é que “Lovelace” não tem background
para sustentar expectativas tão altas. Nem mesmo o elenco primoroso escolhido a
dedo encabeçado por Seyfried e Sarsgaard e com participações luminosas de
Sharon Stone(irreconhecível como a mãe de Linda),Debi Mazar em uma participação
afetiva como a co-estrela de “Garganta Profunda” e principalmente James Franco
que esbanja presença cênica e elegância ao encarnar Hugh Hefner, o dono da
Playboy.
A verdade é que ao se revelar um filme tremendamente careta e por vezes
até puritano, “Lovelace” não cumpre o que se propõe ou seja desmistificar o
mito de sua protagonista , pelo contrário só contribui para reforça-ló ainda
mais.
Eu gostei do filme, embora tenha faltado um pouco mais de coragem na adaptação. Se fosse dirigido por alguém como Pal Thomas Anderson, a historia então seria completamente diferente.
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