Os documentários observacionais tem muitas semelhanças com os Reality
Shows mas não os reality de competição populares aqui no Brasil como o Big
Brother, falo de um modo diferente de reality. Aqueles conhecidos como “Soap
Opera´s” que tem como estrutura narrativa acompanhar a vida e o cotidiano de
certa pessoa e expor sua intimidade. Este tipo de reality é muito comum nos EUA
em exemplos como “Keeping Up With The Kardashians”, “The Hills” e muitos
outros.
Alguns documentários tem se permitido experimentações com essa estética
de invasão da intimidade alheia, algo meio voyeur. Um desses documentários é
“Rua de Mão Dupla” (2002) de Cao Guimarães.
Cao propôs uma experiência no mínimo instigante a um grupo de pessoas.
Que elas trocassem de casa pelo período
de 24 horas e que munidos de câmeras portáteis(e sem nenhuma noção básica de
como filmar) registrassem as suas impressões da casa para qual foram designados
e sua própria adaptação. O resultado é uma experiência reveladora da
necessidade exibicionista do ser humano e da curiosidade pela vida alheia. Você
se filmar de forma as vezes constrangedora e degradante leva a questionar até
que ponto aquele situação é realmente “real” ou o quanto de encenação há ali
naqueles momentos que o “outro” resolve retratar da casa alheia e mais, se
aquilo que lhe serve de material fílmico realmente constrói a personalidade do
outro. No final acaba por ser muito mais um estudo de uma realidade construída
e de escolhas narrativas para criar uma realidade ensaiada. Podendo encontrar
semelhanças com o Reality “Troca de Família” onde os participantes não se
importam de invadir o espaço do outro, pré montar a personalidade de outra
pessoa através de palpites e por contrapartida como diz o próprio nome do
documentário de Cao Guimarães permitir que seu espaço seja invadido e que sua
pessoa possa ser destroçada pelo outro.
Já “Pacific”(2009) de Marcelo Pedroso que retrata uma viagem de cruzeiro através
das imagens feitas pelos próprios passageiros se aproxima mais da estética do Reality
Show ao exibir sem pudores e sem nenhum tipo de auto censura a degradação humana.
As imagens feitas pelos próprios passageiros exibem sem nenhum tipo de controle
a entrega daquelas pessoas aquela experiência exibicionista e sua necessidade
incessante de aparecer. Neste caso, não é a visão sobre o “outro” mas sobre si próprio
que prevalece. O exibicionismo e o narcisismo são predominantes aqui. A perda
de todo e qualquer puder faz de “Pacific” o documentário que mais se aproxima
do universo do reality show.
O Personagem perante a câmera:
Ali no território desconhecido as pessoas deixam sobressair o seu mais
brega por assim dizer. Elas criam um personagem sobre quem desejam ser, de alto
projeção – e por que não dizer de alto promoção. E assim também é nos Reality
Shows as pessoas realmente fazem coisas que possam instigar o espectador. Elas assumem
outra persona frente a câmera um personagem sim um personagem homônimo mas
ainda sim um personagem. O “Eu” editado.
É claro que há uma seleção previa vinda não só do diretor frente ao
extenso –imagino material bruto que conseguiu mas do próprio portador da câmera
que seleciona quais partes de sua personalidade ele deseja mostrar. Há uma edição
daquela personalidade onde as pessoas deixam transparecer traços nada agradáveis
daquele(ela) personagem pré- montado. Como quando uma passageira diz”Isto aqui
esta muito chato, eu vou reclamar mesmo,tô pagando” elas perdem o controle da situação
ou pelo menos é isso que deixam transparecer ao encarar a câmera como algo
trivial.
Ao possuir personagens que se jogam naquele universo sem amarras tendo a
câmera como algo inerente ao seu universo de ostentações, de status, upgrade
social. É ai que “Pacific” se define e define também a sua relação estreita com a estética do Reality Show onde igualmente
querer demonstrar sua superioridade, se tornar mitos inalcançáveis. Mas na
maioria das vezes o que conseguem produzir é uma curiosidade incessante pelos
tabus a serem quebrados a seguir, os limites que serão transgredidos em nome da
auto promoção. Não vou mentir, é curioso e também altamente viciante você acompanhar
a vida alheia mas te leva a questionar se vale a pena , se o ônus é realmente
maior que o dito bônus da fama e justamente na sociedade atual onde se produz
novos ídolos enlatados na mesma velocidade que as destrói.
Ao assistir “Pacific” por inúmeros momentos pensei estar diante de um
episodio de “Keeping Up With The Kardashians” em mais um dos incontáveis e
divertidos episódios de férias da mais famosa família dos EUA mas ao contrario
desta quando você espera ansioso pelo próximo episodio aqui você espera ansioso
pelo fim dessa experiência desagradável , agonizante e que provoca ojeriza mas
que sobretudo te leva a refletir sobre os limites do outro para atingir a auto promoção
onde a regra é ostentar e parecer
mais do que é vide aos Reality´s Shows “The Real Housewifes of Orange Country”
e sua versão brazuca “Mulheres Ricas” dadas as devidas proporções com o
documentário de Pedroso.
No fundo o interesse tanto por este tipo de documentário quanto pelos Reality´s
Shows vem não só da curiosidade – e acredite eles se valem da curiosidade
alheia e sim do estudo do outro como objeto social tendo em mente que aquele
universo pode ser roteirizado e editado em maior e menor grau.
O que nos proporciona a reflexão: “O que é real na sociedade atual?”.
O que nos proporciona a reflexão: “O que é real na sociedade atual?”.
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