A adolescência é um período de transformações , de se encontrar a sua própria
individualidade mas também pode ser muito solitária. É sobre esse doloroso rito
de passagem vivido por muitos- e eu falo por experiência própria que trata “Os
Famosos e os Duendes da Morte”.
Dirigido por Esmir Filho baseado no livro de Ismael Caneppele(que
co-assina o roteiro e faz uma participação no longa). O Longa trata do Menino
sem Nome que se auto intitula Mr Tamborine Man( em homenagem ao seu ídolo Bob
Dylan.
“Os Famosos e os Duendes da Morte” é um filme de contemplação. O diretor
com sua narrativa intimista nos convida a penetrar na mente do Menino sem
Nome(Henrique Larré) e conhecer seu universo particular, seu mundinho, vulgo
seu quarto e sua mente onde quiser.
O longa tem uma poética muito particular , possuindo força no aspecto psicológico
e intimista dos anseios do jovem protagonista. Não por acaso, o filme possuiu
uma estética onírica , de contemplação do sonho (nos quais o diretor Esmir
Filho faz um excelente trabalho de construção e condução desse universo
paralelo do protagonista , servindo como uma metáfora para os seus medos e
anseios).
Dessa forma , o filme faz o processo inverso , de dentro pra fora. A maior
parte da ação dramática ocorre dentro da cabeça do Tambourine Man e se tornando
um filme muito mais introspectivo e onírico a medida que avança com um fluxo de
consciência que faz que o universo particular do jovem( seu quarto, seu blog,
seu computador suas músicas) tome forma visual e “salte” da sua mente.
A narrativa tendo esse lado introspectivo e poético muito forte, cabe a
Esmir Filho manter a sua câmera a espreita apenas contemplando , registrando e
traduzindo em imagens a força dos pensamentos do protagonista. para isso
investe em poucos movimentos de câmera como closes e planos detalhe.
O Roteiro escrito a quatro mãos pelo autor do livro Ismael Caneppele e
pelo diretor Esmir Filho é dotado de uma poética que impressiona pela extrema
sensibilidade que constroem o universo particular do protagonista conseguindo
traduzir em imagens seus medos, anseios e principalmente o sentimento de estar
perdido do protagonista(Henrique Larré).
Mas os méritos do roteiro não param
por ai, não posso deixar de citar a brilhante forma com que usam a mente do
protagonista e sua visão interna para expor seus sentimentos(contando com o incrível
talento de Larré capaz de atuar por gestos e poucas falas). Fora isso é admirável
a destreza dos roteiristas por unir e transpor os universos onírico e real numa
simetria perfeita além de usar metáforas e principalmente fazer um retrato real
do jovem contemporâneo.
Henrique Larré arremata o filme como o “Menino sem Nome” ou “Mr
Tambourine Man”. Larré é o destaque supremo do longa tendo em vista que a
narrativa é construída toda em cima de seu personagem e o ator não decepciona
sendo completamente entregue ao seu personagem de forma sutil mas visceral.
Samuel Reginatto e Ismael Canappele se destacam de maneira marcante no
longa. Reginatto é Diogo o único amigo do protagonista com o qual ele pode
partilhar seus anseios a respeito do futuro. O ator imprime um humor mordaz em
seu personagem bem próprio da juventude e interpreta seu papel com veracidade
esbanjando ótima química com Henrique Larré.
Ismael Caneppele tem uma atuação decisiva
para o desenrolar da narrativa do longa interpretando Julian um personagem
singular, uma incógnita que a meu ver seria uma representação da figura paterna
para o menino, embora o filme não deixe isso claro.
A trilha sonora é um show á parte recheada de hinos da música folk como a
faixa titulo de Bob Dylan “Mr Tambourine” conta com canções do cantor Nelo Johann. A trilha de certa forma sintetiza a introspecção e o universo particular do
protagonista bem como seus medos e anseios.
É difícil traduzir o efeito de “Os Famosos e os Duendes da
Morte” em quem assiste. Só posso enaltecer a delicadeza , a poesia e a magia que
o filme transmite. É um filme feito com o coração como poucos hoje em dia, e pensar
que perdi a palestra do Caneppele na minha faculdade. Mas uma coisa é certa:
estou com vontade de ler o livro e rever o filme muitas vezes ainda. Já vai pro
top 10 de filmes da vida.
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