Encantado. Essa é a melhor definição que eu consigo encontrar pra
traduzir a minha reação ao drama biográfico “Não Estou Lá”.
Dirigido por Todd Haynes, o filme dramatiza diversas fases da vida do ídolo
folk Bob Dylan. De beleza estética impressionante e uma história riquíssima , o
filme consegue ir muito além de uma mera biografia.
O filme é um exímio exercício de construção
de um universo fílmico múltiplo e ainda complementar no qual, na conjunção desses
universos formam-se um retrato da persona de seu biografado Bob Dylan. Utilizando
uma poética encantadora , o filme consegue desmistificar e conquistar o
espectador com as mais variadas vertentes do cantor Folk. Nesse ponto, merecem
honrarias os roteiristas Todd Haynes e Oren Moverman por conseguir costurar múltiplos
enredos e mais do que lhe garantir a simetria devida fazendo com que todos os
plots se unem se tornando uma só narrativa. Embora eles demorem um pouco para
unificar esse enredo múltiplo, mas quando o fazem , realizam esse feito com
maestria.
Um enredo tão grandioso como esse cabe performances memoráveis. Mas o que
se encontra neste glorioso longa é um exercício performático de primeira
grandeza no qual 6 atores(Marcus Carl Franklin,
Ben Whishaw, Christian Bale, Heath Ledger, Cate Blanchett e Richard Gere.) Esses atores realizam um exercício performático
de retorno a teatralidade carregando as devidas nuances de seus “Personagens”
que na realidade são tudo a faceta de uma só pessoa: Bob Dylan.
Todos os atores que interpretam o astro merecem honrarias pelo minucioso
trabalho de composição de personagem, sobretudo porque o roteiro e a montagem
tem idas e vindas constantes no tempo fílmico , o que faz que os atores revivam
a “sua fase” do personagem constantemente durante todo o filme.
“Eu Não Estou Lá” é um filme de conversão. Conversão no sentido de que a
estrutura narrativa do filme é mutável quanto as fases que o longa aborda. Podendo
ser um Road Movie como a faceta de Dylan defendida por Richard Gere como “Billy
The Kid” , se convertendo não só num Road Movie mas assumindo todas as características
de autentico faroeste. Ou então, o filme pode assumir uma faceta documental
como na fase defendida por Cate Blanchett que dá vida a fase mais excêntrica do
cantor como “ Jude Quinn” ou ainda em um filme metalinguístico como Robbie
Clark um ator, personagem esse defendido brilhantemente por Heath Ledger que
entrega uma interpretação fascinante e deveras difícil considerando que
interpreta uma versão de Dylan dentro de um filme onde o personagem interpreta
outra versão do cantor em um filme fictício. De perder o fôlego não?
A música de Bob Dylan da o tom a narrativa, tornando-a uma narrativa
intimista que através das canções transbordam lirismo e poética , garantindo
assim um aspecto transcendental ao longa, mantendo o espectador inerte aquela
magia exercida sobre a tela.
A belíssima fotografia de Edward Lanchman também é peça fundamental no
efeito inebriante que o filme causa no espectador. De natureza múltipla, a fotografia se adéqua as diferentes fases,
passando do granulado da primeira fase ao contraluz e a belíssima fotografia
nas fases defendidas por Christian Bale e Cate Blanchett respectivamente.
“Eu Não Estou Lá” é um grande filme, exímio em concepção e realização cinematográfica,
o longa consegue ser altamente multifacetado em sua estrutura transbordando
magia, poesia e encantamento , tudo para homenagear as diferentes fases de um
artista tão multifacetado quanto Bob Dylan.
Para mim é um dos filmes mais engenhosos dos ultimos anos.
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