sábado, 25 de maio de 2013

21 and Over




Quando um filme faz sucesso é natural que se explore esse mesmo filão cinematográfico ao máximo transformando o filme em uma franquia, copiando ideias ou até mesmo fazendo versões. Esse é o caso de “21 And Over” versão juvenil de “Se Beber Não Case”.

Escrito e dirigido pelos roteiristas do primeiro filme da franquia estrelada por Bradley Cooper “21 and over” trata da premissa de um jovem Jeff Chang (Justin Chon) que acaba de fazer 21 anos e é praticamente intimidado pelos seus amigos Miller (Milles Teller) e Casey (Skylar Austin) a sair pra comemorar. O problema é que Jeff Chang precisa estar sóbrio e mentalmente capaz de realizar o seu exame de admissão de medicina na manha seguinte.

Vendido como “uma versão juvenil de “Se Beber Não Case” 21 and Over” é o primeiro trabalho á frente das câmeras dos roteiristas da famosa franquia de humor Jon Lucas e Scott Moore que também assinam o roteiro desse filme.

A inexperiência da dupla de diretores/roteiristas na direção cinematográfica é algo evidente durante todo o filme. Entretanto Jon e Scott primam pela agilidade apostando no frenesi cênico causado pelas aventuras dos três amigos possam conquistar o espectador.
Lucas e Moore fazem algumas tentativas ainda que tímidas de mostrar seus talentos como diretores. Essas tentativas se revelam falhas á medida que a dupla investe em alguns vícios diretivos como o uso exacerbado e sem sentido do slow motion com a clara intenção de dar um tom iminente de comédia ás cenas.

Se essa é a intenção da dupla de diretores devo dizer que eles atingiram seu objetivo, mesmo que ás custas das situações sem sentido na maioria das vezes. Investido na agilidade tanto cênica quanto narrativa, Jon Lucas e Scott Moore constroem seu filme (ainda que em uma base tão pouco sólida).

O roteiro de Jon Lucas e Scott Moore revela situações e piadas sem sentido, mas que pinceladas pelo talento da dupla ganha algum brilho sem capaz de provocar risos involuntários se você está disposto a rir de si mesmo.

A agilidade com que Jon e Scott conduzem as situações assim como os diálogos é algo realmente impagável (com destaque para as cenas da fraternidade latina). Os roteiristas conseguem construir uma narrativa divertida e envolvente que mais prima pela falta de noção de que pela coerência. Não é nada extraordinário nem que alcance um triz da genialidade de “Se Beber não Case”, mas ainda assim garante boas risadas. O melhor acerto da dupla está em construir a relação entre o trio protagonista. Pois, à medida que eles vão conhecendo as mudanças no velho amigo, conhecem a si próprios.

A música tem um papel de extrema importância em “21 and Over”, pois ela serve para a transposição do espectador para dentro da história servindo como pano de fundo além de ser responsável por grande parte do frenesi causado no espectador.

O trio principal Justin Chon (Jeff Chang), Milles (Milles Teller) e Casey (Skylar Austin) revela um entrosamento cênico além de um ótimo timing pra comédia. Justin, Milles e Skylar também se revelam atores despudorados ao não ter pudores e a habilidade de rir de si mesmos.

Poucos outros atores ganham destaque nesse longa além dos protagonistas. Dos que conseguem se sobressair podemos destacar Sarah Wright que interpreta Nicole a amiga descolada de Jeff Chang que é alvo da paixão de Casey (Skylar Austin). Sarah atua com graça e uma dose escrachada de sensualidade além, de possuir um talento natural para a comédia o que lhe garante algumas das melhores tiradas do filme.


Jonathan Keltz atua como Randy, o namorado de Nicole e a perfeita personificação dos valentões que encontramos no ambiente escolar. Keltz é responsável pelo antagonismo presente em “21 and Over” ainda que sua participação seja pequena infelizmente.

“21 and Over” é capaz de divertir o espectador que abandonar o senso crítico durante o filme. Á custa de uma comédia escrachada e sem sentido Jon Lucas e Scott Moore pouco mostraram á frente das câmeras nesse filme. Mas é justamente a inexperiência da dupla aliado a um roteiro que provoca risos involuntários e ao carisma dos protagonistas que garante o “plus” do filme. Não é nada engrandecedor no nível do primeiro “Se Beber não Case”, mas garante boas risadas se o espectador se permitir a isso.













terça-feira, 21 de maio de 2013

Rolling Stones –Shine a Light






 Os Rolling Stones é uma das principais bandas de rock inglesa (se não a maior) tendo alcançado sucesso mundial em proporções gigantescas. Dada a sua magnitude foi temas de diversos documentários incluindo esse “Shine a Light” dirigido por ninguém menos que Martin Scorsese.

Tendo como foco principal documentar as apresentações da banda no The Beacon Theatre em Nova York o documentário de Scorsese vai além. 

Desconstrói a própria imagem da banda com os bastidores das apresentações, revelando ao público o que acontece por “trás das cortinas” além de desconstruir a linguagem cinematográfica se posicionando como um “personagem ativo” no documentário colocando o espectador a par da preparação para que o filme se tornasse possível.

Se analisarmos com a devida atenção percebemos que há em “Shine a Light” um processo de desconstrução mutuo.

Ao mesmo tempo em que o diretor nos revela os bastidores da sua realização cinematográfica ele permite aos fãs da banda inglesa penetrar no backstage e conhecer o “outro lado” da banda.

Falando em conhecer o “outro lado” da banda inglesa é exatamente com esse propósito que o rico e extenso material de arquivo que o documentário apresenta. Munido desse material (e através dele) que Martin Scorsese permite a banda desfazer a imagem de “garotos maus” que os perseguiu ao longo das décadas.

O extenso material de arquivo também permitiu ao diretor Martin Scorsese construir um painel atemporal para a banda podendo linkar as entrevistas antigas como quando por exemplo perguntam a Mick Jagger e seus companheiros como eles se imaginam daqui a 20 anos e dadas a suas respostas de que “não existiriam nem pelos próximos 2 anos” é mostrado à performance atual da banda provando sua longevidade. Realmente, uma grande sacada do diretor Martin Scorsese.

O diretor privilegia o uso de planos mais abertos e closes muito bem orquestrados com o intuito de captar a energia e vitalidade performática (e também instrumental) da banda em sua totalidade, revelando assim a sua magnitude. Ao privilegiar a banda Scorsese dá ao espectador a dimensão exata da magnitude da banda inglesa ao fazer uso de grandes takes com o objetivo de captar o palco e o espetáculo em sua totalidade.

“Rolling Stones- Shine a Light” não é só o documentário definitivo sobre os Rolling Stones. Ele vai além. Ao desconstruir a imagem da própria banda e revelar os bastidores do documentário Scorsese desconstrói a imagem da banda e do próprio filme. 




sábado, 4 de maio de 2013

Somos Tão Jovens



Se Brasília foi o epicentro do Rock Brasileiro dos anos 80 Renato Russo foi sem dúvida o seu principal catalisador. Dono de um legado impressionante é natural que sua história um dia fosse contada, especialmente os seus primeiros anos visto que sua formação musical fazem parte da história cultural, social e política do nosso país.

Focado na adolescência de Renato Russo e na formação do Aborto Elétrico e da Legião Urbana o longa se revela um retrato intimista de um artista e de uma era. Centrado na transformação artística e pessoal de Renato Manfredini Júnior em Renato Russo (Thiago Mendonça) e a formação da cena de rock brasiliense tendo como pano de fundo a pressão que sofria a pressão da ditadura militar.


  
O diretor Antonio Carlos da Fontoura buscou traduzir em imagens a agitação e efervescência musical que ocorria naquele período. Para isso Antonio Carlos da Fontoura utiliza planos curtos e uma elipse até excessiva para induzir a rapidez narrativa. Esta opção está longe de prejudicar a narrativa, mas o diretor poderia ter aproveitado melhor os planos dando-lhes maior embalsamento, mas por outro lado a opção pelo corte seco reflete a intensidade momentânea da adolescência vivida pelos personagens.
 De certa forma a decisão de Antonio Carlos foi a mais acertada, pois sua direção transparece vigor, vitalidade e energia incomparáveis permitindo ao espectador construir um retrato intimo do ídolo e a desconstrução de Renato Russo como um mito inalcançável.  


Fontoura confere ao seu elenco uma direção de atores cuidadosa, especialmente nas cenas de musica e do desabrochar artístico de Renato Russo (Thiago Mendonça) e de seus parceiros da “turma da colina”. Atribuindo a estas cenas uma direção coreografada resultando de perfeito entrosamento cênico entre os atores.

O roteiro a cargo de Marcos Bernstein foca principalmente na trajetória evolutiva de Renato Russo (Thiago Mendonça), mas não deixa de privilegiar o enredo em primeiro lugar.  O protagonista “apenas” conduz as demais tramas que giram em torno dele. Os demais personagens se encaixam no espaço narrativo que lhes cabe, permitindo assim que os atores se destaquem com suas atuações.

Há também um cuidado na construção dos diálogos e da reconstrução de eventos reais por parte do roteirista Marcos Bernstein. Os diálogos são de uma linguagem beirando o coloquialismo (o que facilita a identificação do público jovem de hoje que não tem ideia da grandiosidade daquele movimento). A reconstrução de fatos reais impressiona pela verossimilhança. Há um cuidado histórico na feitura das cenas (o show de Patos de Minas e o derradeiro fim do Aborto Elétrico são exemplos disso).

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O elenco inteiro atua com uma naturalidade impressionante. A começar por Thiago Mendonça que interpreta Renato Russo de maneira transcendente. Thiago explora as nuances de seu delicado personagem de forma crescente. Assim ator e personagem vão evoluindo lado a lado. Thiago explora a sensibilidade aguçada de Renato Russo ressaltando o emocional do personagem até que ator e personagem chegam ao seu ápice: A fase “Trovador Solitário” de Renato Russo. Ali, Thiago nos entrega uma atuação magnânima. Sergio Dalcin, Bruno Torres e Daniel Passi que interpretam Petrus e os irmãos Fê e Flávio Lemos respectivamente se sobressaem na respectiva parte do enredo ao que se refere às bandas do Renato. Dalcin interpreta Petrus com o vigor e a fúria que o personagem exige. 

Bruno Torres tem uma presença marcante em cena desde o inicio e seu personagem Fê tem um crescimento cênico muito interessante ao ponto de que a dado momento ele e Renato (Thiago Mendonça) se tornam completos opostos e Bruno soube trabalhar o processo evolutivo de seu personagem com perfeição atuando de maneira verdadeira e convenente.

 Daniel Passi que interpreta Flávio Lemos atua construindo seu personagem de maneira carismática e verdadeira. Flávio ocupa no filme a função de apaziguar os conflitos entre seu irmão Fê (Bruno Torres) e Renato (Thiago Mendonça). O ator desempenha esse papel um tanto quanto ingrato de maneira verdadeira emprestando seu carisma para o personagem. Ao mesmo tempo em que esbanja força e energia inquestionável nas performances de seu personagem com perfeição.



 A turma de amigos de Renato também se destaca pelo entrosamento e naturalidade em que pautam suas atuações. Laila Zaid (Aninha) tem um papel essencial no filme. Laila atua de maneira natural resultando em uma das mais belas atuações do longa. Olivia Torres e Bianca Comparato que interpretam Gabi e Carmen Teresa respectivamente se destacam pela simplicidade de suas ações ao passo que a primeira expõe com veracidade a evolução de sua personagem.  


A música não só da o tom das cenas como contextualiza o momento retratado agindo como fio condutor da narrativa. Assim, tanto a trilha como as performances musicais atuam de maneira determinante na construção da “realidade fílmica” do longa. Ao mesmo tempo em que podemos constatar o surgimento e o contexto social em que muitas músicas de Renato e companhia. Clássicos como “Geração Coca-Cola”, “Veraneio Vascaína”, “Que Pais é este?” e “O Concreto já Rachou” são aqui contextualizadas social e artisticamente.


 Um dos pontos altos de “Somos Tão Jovens” é a fotografia assinada por Alexandre Ermel que atua com dois princípios plásticos distintos, porém complementares. De um lado Alexandre imprime em suas lentes “sujeira visual” que havia naquele cenário dos “filhos da revolução”. Optando por resaltar a força visual e estética daquele cenário agregador. Por outro lado há o uso de um granulado forte que se intensifica conforme o protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça) vai evoluindo. A força do granulado é um contraste interessante com o efeito quase “puro” e de desfoque das primeiras cenas do Aborto Elétrico. O desfoque provocado pelo uso de granulado expõe aqui um magnetismo visual intenso e é um símbolo de transição do seu protagonista Renato Russo (Thiago Mendonça). 

Somos tão Jovens” é um retrato intimista não só do nascimento de um artista mas de toda uma geração. É uma produção cuidadosa e simplista que encontra no desafio de retratar uma geração perdida seu maior desafio e êxito pois se a proposta do diretor Antonio Carlos da Fontoura foi fazer um filme agregador das massas ele cumpriu sem objetivo com louvor. O Retrato do tempo perdido.