A obra “O Tempo e o Vento” tem extrema importância não só literária mas
também histórica pois retrata a formação do estado do Rio Grande do Sul e uma
parte importante da história do Brasil. A Obra máxima de Erico Veríssimo agora
ganha as telas pelas mãos do diretor Jayme Monjardim.
O diretor conhecido por ter um estilo muito cinematográfico nas produções
televisivas que dirige agora encontra a obra certa onde pode realizar um filme
bem ao seu estilo.
”O Tempo e o Vento” é estruturado como um grande flashback. A habilidade
de Monjardim em comandar as cenas com longas takes imprimindo uma beleza estética
impar nas imagens tornando-as vivas e colocando o espectador dentro da ação
contada por uma Bibiana idosa(Fernanda Montenegro, em atuação emocionante). É a
partir dos relatos de Bibiana a Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) que o longa
situa o espectador.
O filme é construído como um épico e assim é comandado pelo diretor que
usa todas as “marcas” que são famosas em sua maneira de dirigir: planos longos,ritmo
um pouco mais lento da narrativa, closes e uma câmera sempre a espreita
disposta a captar a beleza das imagens de forma a engrandecer o filme e
reforçar a intenção de se construir um filme épico, para isso investindo em
planos abertos nas locações retratadas no longa. O filme tal qual o livro que o
baseia parece ser divido em “capítulos” talvez pela clara intenção de
transformar o filme em microssérie, a direção de Jayme contudo “costura”(ao
lado da montagem evidentemente) esse capítulos ao filme encaixando-os de
maneira harmônica e crível.
Quem conhece os trabalhos que o diretor assina pra televisão sabe que o
seu trabalho tem duas vertentes bem significativas. Se por um lado o diretor é
aquele das belas(e longas imagens),trilha instrumental e belíssima fotografia
por outro, ele é um exímio diretor de atores e isso fica claro em “O Tempo e o
Vento” especialmente nas cenas entre Bibiana(Fernanda Montenegro), Capitão
Rodrigo(Thiago Lacerda) e nas cenas de guerras e conflitos como por exemplo as
que deflagram a morte da família de Ana Terra(Cléo Pires), a tropa de Coronel
Amaral(José de Abreu) e a guerra na qual Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) é
atuante. Jayme imprime uma agilidade cênica nas cenas de embate.
O roteiro de Tabajara Ruas talvez seja o único revés do longa. Com um ritmo
demasiado arrastado, sem grandes atrativos e alguns diálogos fora de contexto,
o roteiro de Ruas não se impõe como algo único,não possuindo brilho próprio
enquanto roteiro inspirado em obra literária. Analisando agora, foi até melhor
o roteirista não ter tentado se impor muito pois dada a magnitude e características
muito fortes da obra de Veríssimo quaisquer mínima alteração poderia descaracterizá-la.
A habilidade de Monjardim em conduzir os atores acabou por resultar em atuações
inspiradas e convincentes do elenco. Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda
transmitem emoção e sensibilidade em suas atuações possuindo excelente química cênica
juntos. Marjorie Estiano também demonstra química com Lacerda ao encarnar
Bibiana na fase jovem. Cléo e Suzana Pires demonstram igual empatia ao encarar
em fases distintas a mesma personagem a mítica Ana Terra. Embora Cléo tenha
alguns problemas de dicção logo no inicio do longa(depois corrigidos). José de Abreu brilha ao encarnar de Ricardo
Amaral de forma verdadeira e intensa. Magnânimo.
Um dos grandes acertos de “O Tempo e o Vento” é a sua belíssima fotografia(como
falei acima). A cargo de Affonso Beato,parceiro habitual de Monjardim. Beato
investiu em cores quentes de forma a ressaltar e enaltecer as lindas paisagens
capitadas por Jayme Monjardim. Embora as cores quentes predominem nas duas
horas de duração Beato não só experimenta outras texturas dessas cores quentes
como se permite utilizar um azul gélido no prólogo, instaurando assim a tensão dramática
que aquela ocasião necessitava. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que a
fotografia é uma das melhores(se não a melhor) coisa no filme.
Dono de um estilo de direção muito particular, Jayme Monjardim encontrou
em “O Tempo e o Vento” um canal para imprimir seu estilo. Tamanha identificação
e conhecimento sobre o tema transforma “O Tempo e o Vento” em um filme belo,
emocionante e com traços estilísticos.
Embora caprichado, eu achei o filme muito condensado, sendo que duas horas de duração não o tornam uma obra completa. Acho que se tivesse ido para três horas seria mais justo.
ResponderExcluirOutro problema é o propio Tiago Lacerda que não escondia que estava imitando descaradamente Tarcísio Meira.