Eu sou um grande fã da Legião Urbana(o nome desse blog é o nome de uma
música da banda). A primeira música da banda que eu ouvi foi “Pais e Filhos” e
confesso que nunca tinha imaginado que ela daria um filme assim como “FaroesteCaboclo” mas o mineiro Thales Corrêa imaginou e a metafórica canção da banda
inspirou o Curta-Metragem “Parents”.
Produzido nos EUA e inteiramente falado em inglês “Parents” utiliza a canção
da banda Brasiliense como inspiração para retratar os conflitos familiares e o
despertar de uma jovem garota(Coco Joelle Williams) ao mesmo tempo em que precisa
lidar com o caos que se tornou a vida conjugal de seus pais(Ludmila Dayer e
Heldane Morris).
O diretor Thales Corrêa induz seu filme ao um terreno metafórico e
poético tal qual a canção que o baseia. Thales se revela um diretor atento aos mínimos
detalhes e extremamente hábil em utilizar as entrelinhas e simbolismos que
existem ali para retratar o universo interno de seus personagens especialmente
da Garota (Coco Joelle Williams).
O silêncio tem um papel narrativo de grande importância em “Parents”. Ele
leva o espectador para o universo interior daqueles personagens ao mesmo tempo
que deflagra tanto o despertar daquela menina na difícil tarefa de crescer
servindo para dar o tom das suas descobertas quanto retrata o ambiente hostil
que a jovem se encontra. O silêncio estabelece e estrutura as relações entre os
personagens(ou a falta delas).
O diretor revela uma habilidade em explorar os mínimos detalhes, um exemplo
disso é o fato da sua câmera estar quase sempre em movimento a procura de algo,
adentrando o cenário sempre com planos descritivos ao mesmo tempo em que
utiliza os closes e movimentos de câmera circular para expressar a interação
entre os personagens. “Parents” possui cenas recheadas de lirismo e poesia(fato
acentuado pela poderosa trilha instrumental) em que a jovem menina se “fecha”
em seu mundo particular para escapar dos conflitos que acometem seus pais.
Neste e em outros momentos Correa da um tom metafórico e fantástico as cenas
como se a jovem estivesse reclusa em sua própria bolha. Bolha esta que é sempre
quebrada pelos fatores internos de seu lar.
Thales imprime uma suave agilidade as cenas com a intenção de captar
todos os pontos de vista daquele cenário familiar prestes a desabar, para isso
utiliza de flashbacks , trucagens e sobreposições de cenas que representam o
choque de realidade da protagonista(Coco Joelle Williams) com o seu real
conflito familiar.
O fato de o filme ser visto sobre o ponto de vista da menina garante aos
espectador um olhar terno e puro sobre a situação que se acomete aquela família.
“Parents” me lembrou muito os longas “Pauline na Praia” do francês Eric Rohmer
e “A Deriva” do Brasileiro Heitor Dhalia pela forma com que retrata o despertar
da jovem(Coco Joelle Williams).
Agora o que mais me chamou atenção em “Parents” foi a sua bela
fotografia. Utilizando um granulado forte e poderoso a fotografia de Tobias
Delm ressalta a poesia e o lirismo que permeiam o filme.
Os atores expressam sintonia em cena estando confortáveis e ótimos em
seus respectivos papeis. Coco Joelle Williams atua de maneira singela e doce
exprimindo graça e ternura em cena. Sua sintonia com Heldene Morris que
interpreta seu pai é deliciosa de se assistir.
Heldene, é outra grata surpresa do Curta. Um ator com uma atuação primorosa
ao mesmo tempo sensível e delicada.
É ótimo constatar o quão Ludmila Dayer cresceu como atriz. Eu não acompanhava
seus trabalhos havia alguns anos e é maravilhsoso ver a sua evolução que acaba
resultando em uma atuação segura e controlada bem como a personagem exige. A atriz
se empenha em construir a falta de afeto na relação entre ela e Coco Joelle
interprete de sua filha. Uma cena em especial me deixou abismado com a
capacidade de atuação de Ludmila (que eu não vou contar obviamente mas quando vocês
assistirem vão sacar qual é essa cena).
Por fim, concluo que “Parents” é um filme sensível e encantador. Não só
por que levou a música da minha banda favorita ao um significado imaginável mas
porque a sensibilidade e poesia que Thales Corrêa imprime em seu curta me
emocionou.
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