Insano. Essa é a melhor definição
para o thriller
“Open Windows” do diretor espanhol Nacho Vigalondo e protagonizado por Sasha Grey
e Elijah Wood.
“Open Windows”
trata do culto às celebridades e do voyeur que temos dentro de nós ao retratar
a relação de um fã, Nick Chambers(Wood) que se prepara para conhecer sua atriz
favorita Jill Goddard(Sasha Grey).
Nacho Vigalondo
mostra a intenção de sempre provocar e brincar com a mente do espectador logo
nos primeiros minutos da projeção. Ao iniciar seu filme de forma metalinguística
em uma realidade fictícia, o diretor quebra a “quarta parede” e a linha tênue
que separa a “realidade da ficção”(método que aliás, percorre todo o filme)
Vigalondo
surpreende pela forma que realiza a transposição da realidade fictícia para a
junket do longa metalinguístico ao saltar de uma realidade a outra em um piscar
de olhos. A forma com que o diretor trabalha as realidades paralelas que
permeiam seu longa é espetacular. Unindo metalinguagem, psicodelia e voyeismo
cibernético, ele consegue acoplar uma estética tridimensional ao longa.
Como as ações
narrativas do filme se originam de computador controlado por uma voz over,
Chord(Neil Maskell) que invade o sistema de Nick e o obriga a realizar uma
vingança contra Jill. Todas as ações se originam do ambiente virtual ganhando
vida através das ordens de Chord, o longa tem todo um aparato visual
tecnológico no qual o diretor acopla o universo virtual a narrativa, de modo
que o computador se torne um personagem do filme e os comandos ali realizado
ganhe vida.
A forma com que
coloca o espectador dentro da ação, incorporando o voyeismo existente no
ambiente virtual do filme(que tem câmeras escondidas acompanhando Jill) a sua
própria direção, Vigalondo mantêm sua câmera a espreita, sempre registrando as
interações cibernéticas Nick e as reações comandadas por Chord (Elijah Wood e
Neil Maskell, respectivamente.
Embora enfoque
muitos os closes no protagonista, a forma de dirigir de Vigalondo é sobretudo
subjuntiva, captando as ações dos personagens de forma muito sutil. Mantendo o
suspense e a adrenalina no limite, o cineasta converte e radicaliza a todo o
momento ao provocar mudanças drásticas na ação dramática , andando na linha
tênue entre os universos, vigalondo converge os universos cibernéticos
existentes, não apenas fazendo que os comandos virtuais ganhem AÇOES na forma
de cenas mas principalmente, o cineasta quebra todas as barreiras colocando o
espectador dentro da ação dramática.
Conversão
e transmutação de gêneros parecem ser as palavras que sintetizam “Open
Windows”. Ao converter o suspense com toques de high-tech, flertando com o
clássico “Janela Indiscreta”, Vigalondo converte seu longa em um thriller
de ação com cenas carregadas de adrenalina, fazendo um verdadeiro NÓ na
cabeça do espectador, supreendendo-nos a todo o momento.
Dois elementos enaltecem a atmosfera
high-tech e de suspense que o filme carrega. São eles, a fotografia de Jon D.
Dominguez aposta nas cores frias e na impessoalidade de forma a reforçar tanto
os universos virtuais que o longa aborda quanto o suspense que permeia a
narrativa. O uso das cores frias garante vida própria a esses universos tridimensionais
que o filme possui. Já a trilha de Magaz , composta principalmente por músicas
incidentais(com raras exceções), garante o clima de suspense que o filme
necessita. Vale ressaltar, a sutileza com que a música é utilizada no longa.
São muitos os méritos do diretor e
roteirista Nacho Vigalondo na construção do roteiro, de modo que será
humanamente impossível listar todos eles, mas eu vou tentar.
Primeiro, Vigalondo foi mestre em construir
uma narrativa onde há uma miscelânea de gêneros(Ficção cientifica, suspense...)
segundo, a forma com que ele desenvolve um argumento tecnicamente simples
convertendo-o em metalinguagem , suspense e ficção cientifica, quebrando assim
as barreiras que separam a realidade da ficção. A forma com que ele une esses
elementos ao mesmo tempo que desconstrói toda e qualquer linha de raciocínio que
o espectador possa construir, pois executa excelentes pontos de virada,rompendo
e transgredindo os limites da tela grande a todo o instante. A maneira com que
confere tons de psicodelia ao seu longa e torna isso crível. É impressionante a
veracidade e o realismo que o diretor imprime nos amplos universos ficcionais
que compõem seu filme.
Fazer o espectador embarcar na história e
mais do que isso, garantir veracidade a ela foi um êxito de Nacho Vigalondo
como roteirista. Contudo seu maior êxito a meu ver foi acoplar todos esses gêneros
em uma narrativa envolvente e que instiga. Seu radicalismo de romper e
transgredir os universos que constituem o filme. O fato de não existir limites
em sua mente criativa permite que a história surpreenda sempre, não existindo
tempos mortos, Vigalondo eleva sua insanidade a níveis inimagináveis mantendo
sempre o frescor e adrenalina da narrativa.
Interessante observar a maneira com que o
diretor/roteirista trabalha questões pertinentes nas entrelinhas, tais como culto
as celebridades,relacionamentos midiáticos e carreiras em declínio, além é
claro de flertar com o universo dos nerds e geeks, sendo o protagonista
interpretado por Elijah Wood um claro
exemplo dessa tribo.
Elijah Wood é a perfeita personificação do
Geek. A maneira com que o ator incorpora as nuances e os trejeitos do
personagem é espetacular, e o ponto de virada do personagem garante ao ator ótimos
momentos, sendo Wood capaz de demonstrar outra faceta desse amplo personagem
que caminha entre o desejo de conhecer sua atriz favorita com a culpa por
compactuar com o plano macabro.
Sasha Grey surpreende se revelando uma ótima
atriz ao compor as diversas nuances da jovem atriz Jill Godard. Caminhando entre
o estrelismo, a sensualidade e o medo, a atriz da conta do recado ao imprimir
nuances diferentes para cada momento da personagem.
Neil Maskell merece uma honraria especial. Afinal,
não é fácil construir um personagem quase que exclusivamente pela voz. Mas maskell
consegue imprimir uma identidade ao temido hacker em um trabalho de composição formidável
que consegue superar o trabalho de Scarlett Johansson no sci-fi “Ela”.
Nacho Vigalondo fez um filme
fodástico. Ao unir diversos gêneros e
elementos, Vigalondo provou que é possível ousar e transgredir. Romper
barreiras e os limites do chamado “Bom Cinema”. No fundo , o que Vigalondo fez
foi ousar, fugir do lugar comum. Se a máxima do cineasta espanhol é “Always
play with their minds”, eu te digo meu caro, eu quero mais do que tu anda
tomando.