domingo, 25 de maio de 2014

Open Windows



Insano. Essa é a melhor definição para o thriller
 “Open Windows” do diretor espanhol  Nacho Vigalondo e protagonizado por Sasha Grey e Elijah Wood.


“Open Windows” trata do culto às celebridades e do voyeur que temos dentro de nós ao retratar a relação de um fã, Nick Chambers(Wood) que se prepara para conhecer sua atriz favorita Jill Goddard(Sasha Grey).

Nacho Vigalondo mostra a intenção de sempre provocar e brincar com a mente do espectador logo nos primeiros minutos da projeção. Ao iniciar seu filme de forma metalinguística em uma realidade fictícia, o diretor quebra a “quarta parede” e a linha tênue que separa a “realidade da ficção”(método que aliás, percorre todo o filme)

Vigalondo surpreende pela forma que realiza a transposição da realidade fictícia para a junket do longa metalinguístico ao saltar de uma realidade a outra em um piscar de olhos. A forma com que o diretor trabalha as realidades paralelas que permeiam seu longa é espetacular. Unindo metalinguagem, psicodelia e voyeismo cibernético, ele consegue acoplar uma estética tridimensional ao longa.

Como as ações narrativas do filme se originam de computador controlado por uma voz over, Chord(Neil Maskell) que invade o sistema de Nick e o obriga a realizar uma vingança contra Jill. Todas as ações se originam do ambiente virtual ganhando vida através das ordens de Chord, o longa tem todo um aparato visual tecnológico no qual o diretor acopla o universo virtual a narrativa, de modo que o computador se torne um personagem do filme e os comandos ali realizado ganhe vida.

A forma com que coloca o espectador dentro da ação, incorporando o voyeismo existente no ambiente virtual do filme(que tem câmeras escondidas acompanhando Jill) a sua própria direção, Vigalondo mantêm sua câmera a espreita, sempre registrando as interações cibernéticas Nick e as reações comandadas por Chord (Elijah Wood e Neil Maskell, respectivamente.

Embora enfoque muitos os closes no protagonista, a forma de dirigir de Vigalondo é sobretudo subjuntiva, captando as ações dos personagens de forma muito sutil. Mantendo o suspense e a adrenalina no limite, o cineasta converte e radicaliza a todo o momento ao provocar mudanças drásticas na ação dramática , andando na linha tênue entre os universos, vigalondo converge os universos cibernéticos existentes, não apenas fazendo que os comandos virtuais ganhem AÇOES na forma de cenas mas principalmente, o cineasta quebra todas as barreiras colocando o espectador dentro da ação dramática.

  Conversão e transmutação de gêneros parecem ser as palavras que sintetizam “Open Windows”. Ao converter o suspense com toques de high-tech, flertando com o clássico “Janela Indiscreta”, Vigalondo converte seu longa em um thriller de ação com cenas carregadas de adrenalina, fazendo um verdadeiro NÓ na cabeça do espectador, supreendendo-nos a todo o momento.

Dois elementos enaltecem a atmosfera high-tech e de suspense que o filme carrega. São eles, a fotografia de Jon D. Dominguez aposta nas cores frias e na impessoalidade de forma a reforçar tanto os universos virtuais que o longa aborda quanto o suspense que permeia a narrativa. O uso das cores frias garante vida própria a esses universos tridimensionais que o filme possui. Já a trilha de Magaz , composta principalmente por músicas incidentais(com raras exceções), garante o clima de suspense que o filme necessita. Vale ressaltar, a sutileza com que a música é utilizada no longa.

São muitos os méritos do diretor e roteirista Nacho Vigalondo na construção do roteiro, de modo que será humanamente impossível listar todos eles, mas eu vou tentar.

Primeiro, Vigalondo foi mestre em construir uma narrativa onde há uma miscelânea de gêneros(Ficção cientifica, suspense...) segundo, a forma com que ele desenvolve um argumento tecnicamente simples convertendo-o em metalinguagem , suspense e ficção cientifica, quebrando assim as barreiras que separam a realidade da ficção. A forma com que ele une esses elementos ao mesmo tempo que desconstrói toda e qualquer linha de raciocínio que o espectador possa construir, pois executa excelentes pontos de virada,rompendo e transgredindo os limites da tela grande a todo o instante. A maneira com que confere tons de psicodelia ao seu longa e torna isso crível. É impressionante a veracidade e o realismo que o diretor imprime nos amplos universos ficcionais que compõem seu filme.

Fazer o espectador embarcar na história e mais do que isso, garantir veracidade a ela foi um êxito de Nacho Vigalondo como roteirista. Contudo seu maior êxito a meu ver foi acoplar todos esses gêneros em uma narrativa envolvente e que instiga. Seu radicalismo de romper e transgredir os universos que constituem o filme. O fato de não existir limites em sua mente criativa permite que a história surpreenda sempre, não existindo tempos mortos, Vigalondo eleva sua insanidade a níveis inimagináveis mantendo sempre o frescor e adrenalina da narrativa.

Interessante observar a maneira com que o diretor/roteirista trabalha questões pertinentes nas entrelinhas, tais como culto as celebridades,relacionamentos midiáticos e carreiras em declínio, além é claro de flertar com o universo dos nerds e geeks, sendo o protagonista interpretado por Elijah Wood um  claro exemplo dessa tribo.

Elijah Wood é a perfeita personificação do Geek. A maneira com que o ator incorpora as nuances e os trejeitos do personagem é espetacular, e o ponto de virada do personagem garante ao ator ótimos momentos, sendo Wood capaz de demonstrar outra faceta desse amplo personagem que caminha entre o desejo de conhecer sua atriz favorita com a culpa por compactuar com o plano macabro.

Sasha Grey surpreende se revelando uma ótima atriz ao compor as diversas nuances da jovem atriz Jill Godard. Caminhando entre o estrelismo, a sensualidade e o medo, a atriz da conta do recado ao imprimir nuances diferentes para cada momento da personagem.

Neil Maskell merece uma honraria especial. Afinal, não é fácil construir um personagem quase que exclusivamente pela voz. Mas maskell consegue imprimir uma identidade ao temido hacker em um trabalho de composição formidável que consegue superar o trabalho de Scarlett Johansson no sci-fi “Ela”.



Nacho Vigalondo fez um filme fodástico.  Ao unir diversos gêneros e elementos, Vigalondo provou que é possível ousar e transgredir. Romper barreiras e os limites do chamado “Bom Cinema”. No fundo , o que Vigalondo fez foi ousar, fugir do lugar comum. Se a máxima do cineasta espanhol é “Always play with their minds”, eu te digo meu caro, eu quero mais do que tu anda tomando.



 Ps: Crítica realizada após conferir o filme no Fantaspoa


domingo, 18 de maio de 2014

O Vencedor



Superação. Esse é o principal tema de “O Vencedor” longa sobre a história real do lutador peso-médio Micky Ward (Mark Wahlberg) e a sua conturbada relação com seu meio-irmão Dicky Eklund (Christian Bale) enquanto luta para sair da sombra do irmão e chegar ao estrelado no boxe.

Dirigido por David O. Russel(Trapaça, O Lado Bom da Vida) “O Vencedor” tem uma energia única que garante muito da agilidade e do frenesi que garante muito do entusiasmo que o espectador sente ao assistir e torcer pelo personagem de Wahlberg.

Utilizando-se da metalinguagem “O Vencedor” começa como um documentário sobre a vida de Dicky(Christian Bale) mudando rapidamente para a relação de Micky com seu irmão e treinador e seus altos e baixos como lutador até o estrelado.

Russel conduz o filme de maneira ágil e frenética, dosando cenas curtas e longas com seqüência rápidas e cortes secos deixando assim, a tensão dramática elevada e os nervos a flor da pele.

Russel não perde tempo ele explora as cenas no seu objetivo e não exaustada mente. A câmera na mão de Russel confere uma imagem tremida e a agilidade necessária a narrativa. A forma com que Russel trabalha alinhado a montagem de Pamela Martin para demonstrar as trajetórias opostas dos irmãos. O diretor conduz o filme de maneira eletrizante, mantendo sempre um vigor no ar. Ao dosar seus cortes secos e uso apropriado da Dolly conferindo um ritmo mais orgânico e realista a ação dramática com zooms aumentando o frenesi e o entusiasmo em torno da trajetória dos personagens.

Mas David O. Russel também é um ótimo diretor de atores e sabe captar um olhar como ninguém ( quem assistiu “O Lado Bom da Vida” sabe disso) por isso, ele comanda as cenas de treino e lutas de Micky(Wahlberg) com agilidade, ritmo e sobretudo, de forma precisamente coreografada. Ao mesmo tempo, ele retrata a degradação de Dicky(Bale) na prisão. Este é um momento de extrema importância narrativa para o filme pois é neste momento que Micky(Mark Wahlberg) sai da sombra de Dicky(Christian Bale), seu irmão viciado em crack.

Nesse momento todos os elementos do filme(direção,montagem,roteiro, atores...) se alinham em uma simetria perfeita. Opção inteligente de mostrar o declínio de Dicky(Bale) e o sucesso de Micky(Wahlberg) paralelamente. Eu sei que não é nada original mas, foi muito bem construído pelo roteiro e  executado de forma exemplar pela tríade(direção,atores,montagem).

O trio de roteiristas Scott Silver,Paul Tamasy e Eric Johnson fez um excelente trabalho de construção de narrativa e de personagens. Além disso, o trio imprimiu uma energia e atmosfera única a narrativa, tornado “O Lutador” um filme dotado de um tipo diferente de agilidade, é uma vibração e entusiasmo que o espectador sente a flor da pele, um frenesi de alto nível que foi brilhantemente transposto por Russel na sua forma de dirigir e incrivelmente impresso pelo elenco em suas performances especialmente Wahlberg e Bale.

A trilha sonora de Michael Brook consiste em músicas de blues, jazz e rock que juntos servem como um acompanhamento a trajetória de Micky Ward(Mark Wahlberg). Os três gêneros se fundem de maneira perfeita para representar sua escalada até o estrelato no mundo do boxe. Com ênfase para a canção “Here I Go Again” do Whitesnake que embala a vitória triunfal de Micky Ward.

Mark Wahlberg tem mais uma atuação memorável como Micky Ward. A vivacidade e energia que o ator imprime a cada frame, cada cena de sua atuação é impressionante. Wahlberg se entrega de forma impar a mais esse papel vivenciando cada momento de seu personagem com força e intensidade, se entregando de corpo e alma.

Christian Bale não fica atrás ao imprimir um realismo e impulsividade impressionantes como Dicky Eklund. A maneira com a qual sua interpretação evidencia a derrocada moral de Dicky merece elogios, assim como sua química com Mark Wahlberg.

Amy Adams tem uma performance graciosa, dotada de grande presença cênica como Charlene a namorada de Micky que o incentiva a crescer na carreira ao mesmo tempo em que sofre e peita o preconceito de parte da família do lutador.

Jack McGee e Melissa Léo têm belíssimas atuações como os pais de Micky(Mark Wahlberg). Enquanto mcGee exala doçura e fraternidade como o pai compreensivo e incentivador de Micky , Léo interpreta uma mãe dura que comanda a carreira dos filhos com mãos de ferro com clara preferência pelo mais velho. Quase uma Kris Jenner do mundo do boxe. Em atuação esplêndida, Léo foi merecidamente agraciada com um Oscar de melhor atriz coadjuvante.

“O Vencedor” é um excelente filme, onde tudo funciona perfeitamente desde do roteiro até as atuações. Mas, o filme é muito mais que isso, é vibrante, inspirador e emocionante, uma história de superação capaz de emocionar até quem não é fã de boxe como eu.


sábado, 17 de maio de 2014

Teenage Paparazzo







Chocante, essa é a melhor definição pra minha reação ao assistir ao ótimo documentário “Teenage Paparazzo” dirigido pelo ator e diretor Adrian Grenier sobre a rotina do jovem paparazzo Austin Visschedyk de 13 anos na época do filme.

A ideia de Grenier de inverter os papeis e realizar um documentário sobre a rotina do jovem foi ousada e perigosa. Ao mesmo tempo, em que subverte os papeis e se permite adentrar a rotina do garoto com uma relação completamente livre e não invasiva, embora a idéia a principio possa parecer exibicionista de utilizar a sua posição de “celebridade” para conseguir contato e uma relação profissional e pessoal com o seu entrevistado o diretor acaba por desconstruir qualquer imagem de superioridade que o seu status social possa lhe conferir. É impossível não fazer uma relação entre a figura do ator de Grenier e o interesse que provoca no público (em especial no jovem Austin).

“Teenage Paparazzo” é um documentário ousado pela sua proposta de retratar o cotidiano de uma figura no mínimo singular dessa “indústria da fama”, mas, sobretudo porque possui muitas nuances, o que o torna um material de análise extremamente rico do papel da mídia no momento atual. Grenier, não se preocupa apenas em registrar a rotina do jovem paparazzo-em um delicado trabalho de imersão- o que lhe permite entender o seu ator social mas sobretudo, ele quer chegar a raiz da questão e analisar todas as camadas que a amplitude do tema lhe permite.

Sendo assim, o diretor da voz a celebridades, profissionais da mídia e historiadores para entender a questão por diferente viés.

É notável e admirável a preocupação de Grenier em construir um documentário de valor e não somente um retrato fútil da indústria das celebridades. Sua preocupação em conhecer as diferentes vertentes daquele universo, torna seu documentário um material de riqueza imensurável, um estudo sociológico de primeira linha, pois “Teenage Paparazzo” não é só um documentário sobre a vida do paparazzo adolescente Austin Visschedyk mas é sobre as diferentes visões e perspectivas sobre a cultura da fama, o filme é sobretudo um estudo sobre o comportamento humano.

Grenier fez escolhas que enriquecem a discussão em torno de seu documentário. Uma delas é o fato de não julgar e sim tentar entender o jovem Visschedyk. Granier vai fundo na compreensão da magnitude e porque não dizer dignidade daquele trabalho. Explorando todas as vertentes, o diretor busca explorar não só o cotidiano daquele jovem mas também a relação entre os artistas e esses profissionais, o viés histórico dessa cultura e o sua própria representação naquela indústria.
Particularmente, eu nunca imaginei  que esse documentário fosse mudar tanto a minha perspectiva sobre essa industria. Eu tenho curiosidade como todo mundo mas o “famous for being famous” me incomoda um pouco ao mesmo tempo em que atiça a curiosidade.

O documentário é dirigido de maneira exemplar por Adrien Granier que subverte a todo o momento a sua própria relação enquanto diretor com o seu ator social Austin Visschedik construindo uma relação fraternal de amizade entre eles e principalmente nos momentos em que Granier derruba qualquer linha que possa separar ele de Visschedik quando se propõe a duas experiências no mínimo bizzaras. Granier não se contenta em apenas acompanhar a rotina de Visschedyk e seus colegas de profissão mas quer estar na pele deles. Pra isso Grenier se disfarça de paparazzo, o acaba lhe permitindo ter um outro olhar sobre toda aquela situação. Em outra situação Grenier após entrevistar seus colegas de elenco da série “Entourage” e constatar que muitos deles foram vitimas de boatos, Granier ao lado de Paris Hilton se propõe a criar um falso boato de um possível relacionamento entre os dois e acompanha a relação da industria e do próprio jovem paparazzo a noticia.

Essa intenção de compreender o mecanismo da indústria e não exercer julgamentos estando do outro lado constitui muito da riqueza de “Teenage Paparazzo”. O que Adrien Granier se propõe aqui é provocar uma reflexão em torno dessa temática tão em voga nos dias de hoje.

O retrato dessa cultura das celebridades e toda a indústria em volta dela, bem como a posição das próprias ditas celebridades-artistas não os “famous for being famous” assim como a dos profissionais da indústria, promovendo discussões sobre o direito a privacidade e direitos e deveres de cada um nessa indústria. O filme nos leva a questionamentos muito pertinentes como “será que por ser artista, eles são obrigados a se permitir ser invadidos a todo o momento. Onde começa o trabalho do paparazzo e termina o respeito com o outro. Todas essas e muitas questões fazem de “Teenage Paparazzo” um documentário muito rico na amplitude de sua abordagem e nem um pouco vazio como a temática  poderia ocasionar em um diretor sem sensibilidade e habilidade.
Porém, sensibilidade e habilidade Adrien Granier tem de sobra . Revelando uma faceta desconhecida(ao menos pra mim) a de cineasta. Granier revela-se tão talentoso como diretor quanto é como ator. O fato é que Adrien Granier conseguiu ir além e fazer de “Teenage Paparazzo” um documentário com viés crítico sem entretanto esboçar julgamentos. A crítica aqui é realizada através da reflexão, sendo o documentário capaz de mudar a perspectiva sobre a cultura das celebridades.







domingo, 11 de maio de 2014

O Passado





O Cinema francês é um dos meus favoritos. E uma das coisas que mais me encanta nos filmes oriundos daquele país é sua delicadeza,sensibilidade e ternura. Mais que isso, os filmes franceses se destacam por ter um incrível censo de narrativa e saber que por trás daquela ternura, escondesse poderosas tensões dramáticas.Um simples acerto de contas familiar, com um ex-casal resolvendo as pendências de um divórcio doloroso e amargo ao mesmo tempo.
 “O Passado”, filme do diretor iraniano  Asghar Farhadi é tudo isso e muito mais.Não conheço os trabalhos anteriores de Farhadi mas, pude notar claramente o excelente diretor de atores que é, tamanha a destreza que conduz a narrativa, se apoiando quase que inteiramente no diálogo. Com habilidade realiza os planos contra plano, utilizando-se de duas matérias primas básicas e primordiais a um bom filme: um bom roteiro e bons atores.O fato de a narrativa se pautar pelo dialogo, permitiu ao diretor construir as relações entre os personagens com sensibilidade mas, como o próprio nome diz, “O Passado” esconde mais que aparente trivialidade de sua trama possa aparentar. Construído na forma de uma crônica contemporânea das relações humanas, o longa se desenvolve como um bom novelo, exibindo o charme característico dos filmes franceses e um que de mistério.Asghar Farhadi parece ter prazer de provocar e irritar o espectador. Não contente em estabelecer uma ótima direção de atores,apoiada principalmente no já citado plano e contraplano , suas longas tomadas e cortes oras rentes ora bruscos, o que me faz refletir se a montagem de seu filme não é defeituosa, o cineasta deve no mínimo ter revisitado a diretora Sofia Coppola e seus cultuados “Encontros e Desencontros” e “Um Lugar Qualquer” para provocar o espectador aos mistérios da adivinhação e da leitura labial pra tentar descobrir a conversa que os personagens Marie( a lindíssima e irreconhecível Bérenice Bejo) e Ahmad(Ali Mossafa) e embora acreditem, eu tenha apreciado que o diretor tenha bebido em fontes criativas quantos as de Coppola- e ele tenha ganhado inúmeros pontos com este que vós fala só pela intenção de beber na mesma fonte de uma diretora tão esplendida quanto Sofia devo ressaltar, o resultado atingido foi o oposto e o cineasta submeteu o seu público a um teste de paciência que parecia interminável.Apesar disso, o diretor-roteirista construiu personagens essencialmente humanistas, retratados em uma crônica cotidiana de forma terna, “O Passado” é um filme com raízes calçadas na mais pura narrativa, e embora o diretor nos conceda o direito de amar ou odiar tal personagem, o diretor se da ao direito de colocar caraminholas na cabeça de quem assiste e de fato o diretor iraniano parece gostar de provocar pois não se cansa de surpreender o espectador com inimagináveis pontos de virada.Sua própria forma de dirigir e a estética do longa com longos takes e cores quentes colocam o espectador pra refletir sobre a tensão e as relações ali expostas, bem como o peso de um segredo.


Tendo nos papéis de Marie(Bejo), Ahmad(Ali Mossafa), Samir(Tahar Haim) , os três vértices de um quadrilátero amoroso, formado ainda pela esposa do último e pela filha de Marie, Lucie(Pauline Burieti), jovem atriz com grande atuação e ótima química com Mossafa.
Sendo a fotografia de Mahmoud Kalari outro grande trunfo de sua ternura e poética fílmica, com Kalari dosando sabiamente as cores quentes e frias, “O Passado” é um grande filme, com grandes exercícios de atuação e roteiro. Porém, é esse mesmo roteiro e um leve descuido fatal que leva o longa a um final decepcionante, a menos que a história de Asghar Farhadi não termine aqui, o que eu sinceramente espero que aconteça.