domingo, 26 de agosto de 2012

Rock Brasilia: Era de Ouro



 

Quem me conhece sabe que eu sou absolutamente fascinado pelo rock dos anos 80, especialmente por bandas como Legião Urbana e Capital Inicial. Por este motivo era indispensável que tivesse uma crítica do documentário Rock Brasília: Era de Ouro aqui no blog.

 

Dirigido por Vladimir Carvalho, o documentário procura estabelecer um retrato fiel do que foi a chamada “Turma da Colina” formada em Brasília em meados dos anos 80 como uma resposta aos acontecimentos do país (especialmente a ditadura militar) e influenciado pelo punk rock inglês, que tinham em sua gênese letras simples e diretas.

 

O diretor Vladimir Carvalho assumiu o posto de entrevistador, dando ao filme um aspecto intimista. Vladimir adotou a montagem paralela, dessa maneira, pode intercalar as entrevistas com as raras imagens de arquivo.

 

Brasília e os integrantes das bandas são os protagonistas do documentário e para evidenciar isso, o diretor investiu em closes e em um plano geral no inicio do longa focalizando a capital federal.

 

O filme é composto principalmente de dois pilares: As entrevistas e as imagens de arquivo. Percebe-se nos depoimentos dados pelos músicos um misto de saudosismo e felicidade ao olhar hoje e constatar o que construíram.

 

Ao adotar esse esquema depoimentos-imagens de arquivo, o documentário estabelece uma via de mão dupla: Lança um olhar nostálgico sobre o passado e constata os caminhos traçados pelos músicos hoje. Dessa maneira, o documentário atende a dois públicos distintos: aqueles que viveram aquela época e olhar para o filme como um retrato da aparente ingenuidade e idealismo daqueles tempos e apresenta a historia da “Turma da Colina” as novas gerações. Aqueles que impressionados pelo misticismo de Renato Russo ou pela jovialidade de Dinho Ouro Preto cantam as musicas em alto e bom som, mas que não tem a dimensão exata do contexto no qual as bandas surgiram.

 

A presença do diretor Vladimir Carvalho a frente das entrevistas aproxima o espectador do universo fílmico.

 

 

A fotografia do longa a cargo de André Cavalheira impressiona Especialmente no que diz respeito à restauração e tratamento das imagens de arquivo captadas pelo diretor ao longo dos anos.

 

 

A montagem é outro aspecto a ser aplaudido. As imagens são organizadas de tal maneira, fazendo que o espectador embarque no universo retratado.

 

 

A trilha sonora “segue o curso” do filme, isto é são utilizadas para “Ilustrar os depoimentos” e assuntos abordados.

 

Em dado momento do filme é exibida uma narração feita por Dinho Ouro Preto sobre a Turma da Colina. Neste momento o cantor assume a postura de narrador em off do documentário (mesmo que por poucos segundos).

 

 

O empenho de Vladimir Carvalho em realizar “Rock Brasília” resulta em um filme memorável. Um filme onde razão e emoção se encontram. Sim, eu não vivi aquela época (e nem poderia), mas afirmo categoricamente que essas bandas (especialmente a Legião e o Capital), marcaram a minha vida e me ajudaram a adquirir a consciência política que tenho hoje.

 

 

É pra um dia a gente contar a história da nossa turma (Renato Russo)

 

 

 

 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Especial Diretores: François Truffaut





Há algum tempo tive a ideia de inaugurar um novo espaço no blog, analisando a vida e carreira dos cineastas, dessa forma além de aprender mais, posso compartilhar com vocês os meus comentários sobre os filmes.



O escolhido pra inaugurar este espaço foi o diretor francês François Truffaut, primeiro falarei sobre sua vida e carreira depois comentarei sua filmografia, ou melhor, parte dela.



Nascido em 6 de fevereiro de 1932, François Truffaut é filho de filho de Roland Lévy e Jeanine de Montferrand. O menino François jamais conheceu o pai biologico e foi rejeitado pela mae ,sendo criado pelos avos maternos.



Aos 10 anos truffaut viu a avó falecer e foi morar com a mae e seu padrastro, que lhe garantiu um sobrenome, porém a falta de afeto e problemas escolares fez que o menino abandonasse os estudos aos 14 anos , vivendo de pequenos furtos para sustentar o seu amor pela setima arte e o cine-clube que havia criado,  o Cercle cinémane o cine-clube o permitiu conhecer o crítico de cinema Andre Bazin , que acabaria se tornando um pai para Truffaut e lhe daria um emprego na revista Cahiers du Cinéma  , onde François se revelaria um crítico de escrita polemica e defensor de uma constante renovação no cinema francês vigente na época.



Na obra de François Truffaut, há uma predominância de certos temas abordados nos seus filmes (infância, adolescência, amor, arte, noir), portanto o especial será dividido por categorias.













Infância e adolescência:


- Os pivetes (Les mistons) (1957)

Em seu segundo filme de curta metragem ,adaptado da obra de Maurice Pons, truffaut apresenta um dos temas que seria recorrente em sua obra : a infancia. Os Pivetes conta a historia de 3 garotos que vivem o seu primeiro amor por uma mulher mais velha. Como são muito jovens para namora-la, os garotos se dedicam a atrapalhar os romances de Bernadete. O curta se destaca pela eficiente narração em over.






Em seu primeiro filme de longa-metragem , Truffaut conta uma historia essencialmente auto biográfica. Através de seu alter-ego Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) Truffaut narra fatos de sua infância e adolescência como: o desprezo no ambiente familiar, à inadequação na escola, o inicio da paixão pelo cinema e os pequenos furtos. Este é o primeiro dos cinco filmes com o personagem Antoine Doinel. Obs: O filme foi dedicado a Andre Bazin, o mentor de Truffaut. (filme vencedor do prêmio de melhor direção no festival de Cannes de 1959).






Na serie de curtas de 1962 , cujo tema é o amor . Truffaut retomou as historias de seu alter-ego Antoine Doinel. Na trama, Antoine vive o seu primeiro amor não correspondido por colette (Marie-France Pisier). O curta se destaca pela maneira delicada com a qual truffaut conduziu a direçao e roteiro e pela trilha-sonora.







O menino Selvagem (L'enfant sauvage) (1970)



Baseado em uma historia real , o menino selvagem conta a historia de um menino criado na natureza sem contato com a civilização que recebe o nome de Victor (Jean-Pierre Cargol) , não acostumado com a vida em sociedade , ele passa a ser estudado pelo Dr. . Jean Itard (François Truffaut) que o adota como um pai. O filme é uma metáfora para a educação e a adequação social. O filme traz pela primeira vez o diretor atuando em um papel de destaque.



- Na idade da inocência (L'argent de Poche) (1976)



Novamente , François Truffaut retoma um dos seus principais temas: a infância. Desta vez o diretor concentra a trama em um grupo de crianças e seus problemas particulares em paralelo a escola. Um filme singelo , aonde menos é mais. Um interessante exercicio onde direção , montagem e roteiro estão em sincronia.





O amor e relacionamentos :



- Jules e Jim – Uma mulher para dois ( Jules et Jim) (1962)



Neste longa que conta a historia de dois amigos que disputam o amor da mesma mulher. Neste filme o diretor reafirma os principios da nouvelle vague , produzindo um filme essencialmente simples na estética mas forte em enredo e atuações.






O terceiro filme com o personagem Antoine Doinel. Truffaut construiu uma trama onde o romantismo esta nas entrelinhas. Tecnicamente falando, o diretor voltou aos primórdios do cinema mudo ao utilizar vários artifícios dessa época em seu filme como, por exemplo, escurecer a tela para evidenciar a mudança de planos.

- A Sereia do Mississippi (La sirène du Mississippi) (1969)



Baseado no livro de Cornell Woolrich, Truffaut levou as telas este interessante jogo de indentidade. Conta a historia de Luis (Jean-Paul Belmondo) , um homem que marca casamento com Julie (Catherine Deneuve) , uma mulher que ele só conhece por fotografias. Neste filme Truffaut retoma o aspecto Noir que permearam algumas de suas obras. Podemos dizer que Foi neste filme que Truffaut voltou às origens na sua maneira de filmar. PS: O filme teve um “remake” em 2001 (de qualidade inferior), Pecado Original com Antonio Bandeiras e Angelina Jolie.





Arte e cultura:






Adaptado do romance de ficção cientifica escrito por Ray Bradbury , Fahrenheit 451 é um filme pelicular na filmografia de Truffaut e também o seu primeiro filme em cores. O filme se passa em um período totalitário onde qualquer tipo de leitura fora proibida. O primeiro e único filme em inglês do diretor foi um avanço em muitos aspectos, mas principalmente na sua fotografia, onde o uso de cores quentes nas lentes de Nicolas Roeg.




 


- A Noite Americana (La nuit américaine) ( 1973)

É um dos filmes de maior importância do diretor. Neste filme Truffaut utilizou-se da metalinguagem na sua melhor forma. É o filme dentro do filme . A Noite Americana tem seu enredo centrado na filmagem do filme  Je vous presente Pamela e nos seus bastidores. O diretor Ferrand (interpretado pelo próprio Truffaut) encontra vários percalços em seu caminho na tentativa de rodar o seu filme. O filme é uma declaração de amor de François Truffaut a
arte cinematográfica. A Noite Americana garantiu o único Oscar da carreira do diretor : de melhor filme em 1974.





  









 










sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Barfly-Condenados pelo vicio




Ontem, 16 de agosto foi aniversário de Charles Bukowski, esta resenha é em homenagem a ele. O escritor Charles Bukowski, ganhou notoriedade pelo o seu estilo realista (às vezes até demais). Sua obra possui caráter autobiográfico e é extremamente corrosiva, no sentido de que a obra do autor retrata a sociedade pela sua escória, garantindo assim uma linguagem simples e direta.







Algumas das obras de Bukowski são centradas no personagem Henry Chinaski, o alter-ego do autor.  A popularidade de seus escritos foi tanto , que Charles Bukowski foi convidado a levar seu mais famoso personagem as telas do cinema no filme Barfly– Condenados pelo vicio.



Henry Chinaski (Mickey Rourke) é um sujeito das ruas, passa os dias perambulando os bares, arranjando brigas e vivendo em quartos de hotéis baratos. É na escoria da sociedade que Henry encontra inspiração para escrever seus contos é lá também que Henry conhece Wanda (Faye Dunaway), com quem tem um relacionamento destrutivo. Porém com a descoberta dos contos de Henry pela agente Tully (Alice Krige), tudo ganha maiores proporções.



Barbet Schroeder foi o responsável por levar o alter-ego de Charles Bukowski as telas do cinema e o faz mantendo a essência da obra do velho safado. Berbet Schroeder predominou os planos gerais e plano médio. Além da câmera panorâmica na condução do filme, priorizando a escolha de locações externas com cenários realistas das ruas, indo de encontro com a obra de Bukowski, para isso utilizou elementos como o contra-plongeê, dando a atmosfera crua das obras de Bukowski.


A fotografia de Robby Müller, não recebeu maior aprimoramento estético. Mas talvez esta escolha de “Sujar” a imagem tenha sido intencional, indo de encontro com a atmosfera da trama.


Um acerto do diretor foi incorporar no filme, a figura do narrador over. Neste caso aos pensamentos e textos do protagonista Henry Chinaski (Mickey Rourke).


O roteiro de Barfly é de autoria do próprio Bukowski. Tal fato garantiu ao longa personagens criveis um enredo aproximado da literatura nua e crua, sua marca registrada. Além de diálogos memoráveis.


Quanto ao elenco, Mickey Rourke se entrega ao seu papel de maneira sem igual, garantindo assim uma interpreçao visceral. Tal como ele Faye Dunaway, (Wanda) empresta ao seu papel força dramática (embora de maneira mais comedida). Cabe a Alice Krige (Tully), a outra ponta do triangulo o equilíbrio e Alice imprime exatamente essa nuance ao seu papel.


J.C. Quinn (Jim) e Frank Stallone (Eddie) são outros que se destacam.


Barfly ganha força a ser analisado como um reflexo da obra de Charles Bukowski (ou dele próprio, afinal sua obra é essencialmente autobiográfica). Acabando por se tornar um “Cult movie” ao longo dos anos marcado por um realismo gritante.


Obs: A experiência a frente do roteiro de Barfly, inspirou bukowski a escrever o romance “Hollywood” (que não pude ler ainda).




















sábado, 11 de agosto de 2012

Singles - Vida de Solteiro



Cameron Crowe é um diretor que tem a musica (especialmente o Rock) nas veias, e isso já pode ser visto em um de seus primeiros filmes, Singles - Vida de solteiro (Singles, no original).

 A trama de Singles conta a historia de jovens que vivem em Seattle no inicio dos anos 90, onde jovens moram em um conjugado de apartamentos, tendo como pano de fundo a explosão do movimento Grunge. 



Linda Powell (Kyra Sedgwick) celebra sua independência quando de repente se apaixona por um estrangeiro que está prestes a voltar para o seu país. Eles fazem juras de amor eterno até que ela flagra uma traição do rapaz. Magoada, Linda resolve se focar em seu trabalho como ecologista, até que em um show conhece Steve (Campbell Scott), rapaz que assim como ela sofreu uma decepção amorosa.



 Janet Livemore (Bridget Fonda) é uma jovem empenhada em conseguir a atenção do namorado Cliff Poncier (Matt Dillon), líder de uma banda grunge local. Já Debbie (Sheila Kelley) é uma jovem em busca do amor, usando meios pouco convencionais para encontra-lo.



Em Singles Cameron Crowe fez um filme sobre o que conhece de melhor: musica e relacionamento humano.



Crowe centralizou a trama em um pequeno grupo de jovens e dessa forma pode trabalhar melhor as entrelinhas presentes na narrativa.  Cameron Crowe foi extremamente hábil ao construir um filme simples na forma, mas grandioso em seu conteúdo. Cameron imprimiu no longa agilidade ao por planos curtos e pela montagem paralela. A opção pela montagem e pela sucessão rápida de planos foi sem duvida o primeiro dos muitos acertos que o diretor fez em Singles.

Os planos descritivos aparecem com frequência no longa, acompanhados dos modos de câmera circular e panorâmica, dando ao espectador a exata noção do ambiente e das vivencias dos personagens. A montagem paralela com o movimento grunge de pano de fundo confere ao longa o ritmo necessário.



O uso de closes é outro ponto forte de Singles. Este elemento foi aqui utilizado para introduzir os personagens e seus respectivos plots a narrativa, focalizando em seus rostos para que eles pudessem “Contar” as suas historias. 



A fotografia de Singles a cargo de Tak Fujimoto e  Ueli Steiger foi neutra na maioria do tempo com exceção de algumas cenas.

Cameron Crowe é um diretor que tem na trilha sonora, um dos elementos-chave presente nos seus trabalhos como diretor. Em Singles por se tratar de um filme sobre o movimento grunge e Seattle, não poderia faltar o Alice in Chains com a canção “Would?” (Cameron Crowe inclusive dirigiu o clipe dessa canção, incluindo cartazes do filme no clipe).

 Outra canção que se destaca na trilha é “Waiting for Somebody de Paul Westerberg.



O elenco inteiro teve o seu momento de brilhar, todos os atores defenderam bem seus personagens com destaque para Kyra Sedgwick (Linda), Campbell Scott (Steve), Matt Dillon (Cliff Poncier) e Bridget Fonda (Janet).





Em seu segundo trabalho como diretor, Cameron Crowe já deixava claro a sua capacidade de dirigir e contar historias. A pura verdade é que Crowe construiu um filme aparentemente simples e singelo, mas poderoso e atraente se observarmos as entrelinhas. Foi aqui que Crowe nos mostrou a sua marca como diretor, aquela que pode ser vista (com muito mais clareza obviamente) em Quase Famosos.