sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Análise Fílmica: Vanilla Sky





 


David Armes (Tom Cruise) é um jovem herdeiro de um gigantesco império editorial. Vaidoso, vive como sem maiores preocupações, emendando relacionamentos fugazes com diversas mulheres como Julie (Cameron Diaz). Contudo, ao conhecer a jovem Sofia Serrano (Penélope Cruz), sua vida ganha uma nova perspectiva.

 

Dirigindo está versão do filme espanhol “Abre los Ojos”, Cameron Crowe realizou o seu filme mais diferente. Diferente no sentido de que “Vanilla Sky” difere dos outros filmes do diretor no que diz respeito à forma.


O diretor opta por desconstruir a ordem cronológica habitual, fazendo uso da montagem paralela durante toda a trama.

Ao adotar três tempos fílmicos simultâneos, Crowe sobrepôs às cenas de forma que elas tivessem significados múltiplos, sobretudo no que diz respeito ao protagonista David Armes (Tom Cruise).

 

 É correto afirmar que o grande “motor” da narrativa é o subconsciente do protagonista. Deste modo a opção do diretor pelos closes e planos descritivos se mostram necessários por situar o espectador no universo particular do personagem. A narração em “Off” de certo modo dá clareza a narrativa em torno do protagonista.

O filme adquiri outro sentido após a cena do acidente envolvendo os personagens David (Tom Cruise) e Julie (Cameron Diaz). A partir desse momento o espaço narrativo se divide em três tempos fílmicos: passado, presente e futuro. Flashbacks e
Flashforwards se intercalam com o objetivo de construir o ponto de virada da trama.

Os movimentos de câmera expõem de maneira visceral o status e a fragilidade interior do protagonista. Oras lhe engrandecendo devido a sua posição social, oras diminuindo devido a sua fragilidade interior.

O roteiro de Cameron Crowe é hábil ao trabalhar as mais diversas camadas da trama e de seus personagens de modo que soam convincentes. Os diálogos tem um aspecto poético que combina com o enredo.

 


A montagem trabalha lado a lado com enredo de modo há constituir os tempos e espaços fílmicos com maestria. A montagem tem a clara função de fundamentar os arcos dramáticos do roteiro de modo que o filme soasse verossímil. Atuando na trama como um quebra-cabeça dramático.

A trilha sonora de Nancy Wilson é pautada em duas vertentes: O rock alternativo que confere ao filme um aspecto mais “Sensorial” que combina com o universo “Futurista” da trama e o pop/rock da vigor a narrativa.

 

Cameron Crowe realizou em “Vanilla Sky” um trabalho ousado. Foi sem duvida um grande exercício dramatúrgico para o diretor no sentido que em “Vanilla” Crowe explora outro universo dramático ao contrário daqueles a que estava acostumado até então em seus trabalhos anteriores.  É um filme complexo devido às diversas camadas narrativas e de entendimento que se sobrepõe.

 

O fato é que Cameron Crowe realizou mais uma vez um excelente trabalho. Sabendo administrar com maestria a direção. Tecnicamente impecável e com uma direção competente e segura. Cameron Crowe merece honras aplausos pelo trabalho desenvolvido em “Vanilla Sky”.

PS: recomendo que assista ao filme mais de uma vez, devido às inúmeras camadas de entendimento que o filme apresenta.

 





 

           

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Say Anything...


Lloyd Dobler (John Cusack) nunca fez parte da elite do colegial. Pelo contrario, tímido, não é popular e seu grande sonho é tornar-se um pugilista de sucesso. No dia da formatura, ele se apaixona pela garota mais popular do colégio, Diane Court (Ione Syke) e eles começam um romance promissor. Entretanto o romance vai contra os planos que o pai de Diane tem para a sua filha.

 

Após ter escrito o roteiro de “Picardias estudantis” baseado no seu livro sobre a experiência tardia no colegial, o caminho natural para Cameron Crowe era dirigir o próprio roteiro e assim ele fez, utilizando outra vertente desse tema tão rico que é a juventude.

 

Cameron Crowe é um diretor de narrativas ágeis e em “Say Anything...” não é diferente. Com uma sequencia rápida de planos e a presença da música, um elemento essencial no seu trabalho. Crowe construiu “Say Anything...” através de contrastes. Enquanto que com Lloyd (John Cusack) os planos são mais abertos e expansivos, com Diane (Ione Syke) os planos são mais fechados e retraídos.

 

Crowe alternou planos abertos e planos fechados ao longo de todo o filme. Nas cenas dos protagonistas ele utilizou planos mais fechados e closes com o rosto em foco. Já em cenas mais ágeis (a festa do inicio do filme é um exemplo) utilizou planos mais abertos com uma maior profundidade de campo.

 

Àlias é interessante de se observar que o “Jogo de câmera” permeia todo o filme. Ora tem uma grande profundidade de campo mantendo todos os personagens em perspectiva. Oras não focalizando apenas nos protagonistas Diane (Ione Syke) e Lloyd (John Cusack).

 

 

O maior exemplo dos contrastes de Digam o que Quiserem está na fotografia. László Kovács (Diretor de fotografia) fez uso de tons diferentes para evidenciar os universos distintos dos protagonistas. Enquanto que com Lloyd (John Cusack) László utilizou cores vivas e marcantes em suas lentes, indo de encontro com a personalidade do personagem.  Já com Diane (Ione Syke), Lászkó optou pela sutileza utilizando tons mais frios em suas lentes.

 

A trilha sonora tem uma expressiva importância narrativa, como sempre, afinal estamos falando de Cameron Crowe e nos filmes do diretor, a musica é um elemento essencial. Em “Say Anything...”, a música é quase uma personagem. Crowe optou pelo pop rock de bandas e músicos da época como Peter Gabriel, Mother Love Bone entre outros.

 

O roteiro de Cameron Crowe é extremamente realista ao expor os dilemas dos personagens em fase de transição com naturalidade. Os diálogos são simples e diretos e os personagens criveis.

 

O elenco é relativamente curto, o que garante aos atores momentos de destaque. John Cusack (Lloyd) surge aqui como a perfeita representação do jovem tímido e apaixonado, exatamente como o personagem pede. Ione Syke (Diane) trabalhou bem as facetas de sua personagem: linda e popular, mas socialmente reprimida pelo pai.

 

Um papel particularmente difícil coube a  John Mahoney que interpreta Jim Court, o pai da protagonista Diane (Ione Syke). É um papel cheio de nuances e John Mahoney se saiu muito bem.

 

Pamela Adlon (Rebecca) e Chynna Philips (Mimi) também se destacam como as amigas do protagonista. Especialmente a segunda devido à maneira de sua personagem lidar com uma decepção amorosa.

 

Em “Say Anything...”, Cameron Crowe fez o que chamamos de um filme genuíno. A premissa é simples e poderia soar como algo clichê, mas não é o que acontece neste filme. Crowe fez aqui um espelho dessa fase de mudanças expondo os problemas de maneira natural. E não poderia ser diferente afinal os dilemas da juventude é algo universal.

 

 

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ted


 

 

Longa encontra sua força na metalinguagem, no humor acido e no carisma de seus “atores” Protagonistas.

 

Na infância, John (Mark Wahlberg) era um menino timido e sem amigos. Em um natal ele desejou ganhar um urso de pelucia que pudesse ser o seu companheiro. Mais que isso, desejou que Ted(voz de Seth MacFarlane) ganhasse vida, jurando que se isso acontecesse ele e Ted seriam amigos para sempre. Ted ganhou vida e é o amigo inseparavel de John. Juntos eles falam de sexo , mulheres ,bebem cerveja e fumam maconha,o problema é que Ted está atrapalhando a vida social de John, especialmente com a sua namorada Lori (Mila Kunis) que lhe da um ultimato: Ou ela ou Ted.

 

O criador de uma familia da pesada Seth Macfarlane resolveu descarregar o humor característico da sua série de TV nas telas do cinema fazendo uma sátira da própria metalinguagem.

 

O filme se inicia com um prólogo explicando o inicio do relacionamento de John com seu urso Ted com o objetivo de situar o espectador do enredo.

 

Após esse pequeno prólogo a historia salta para a atualidade com John interpretado por Mark Wahlberg aos 35 anos de idade. Neste momento o filme ganha agilidade com uma sucessão rápida de planos e situações cômicas que beiram o escracho (no bom sentido)

 

O diretor e roteirista Seth Macfarlane utilizou todos os elementos que estavam ao seu alcance para construir seu filme.  Estão lá os flashbacks e até a montagem paralela aparece em certo momento do filme. Cortes rápidos e precisos dão a narrativa a agilidade e o frenesi necessários. Entretanto closes e câmeras altas e baixas aparecem com frequência. A câmera do diretor prioriza os “Atores” principais a John (Mark Wahlberg) e Ted (com voz do próprio diretor) a todo o momento.

 

Macfarlane utilizou-se da metalinguagem a todo o momento inclusive para criar uma realidade paralela onde Flash Gordon e outros personagens da infância de John e Ted vivem. Para isso Macfarlane utilizou-se da montagem paralela.

 

A propósito a montagem paralela se torna um elemento recorrente no segundo ato quando John e Ted são obrigados a se separar devido ao ultimato de Lori.

 

A presença de um narrador em off permeia toda a trama, oferecendo ao espectador uma visão de fora da historia ali contada.

 

O roteiro escrito a 6 mãos por Seth Macfarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild é repleto de elementos do universo pop (Susan Boyle e Justin Bieber são algumas das personalidades citadas), com um humor ágil e diálogos certeiros. Além de construir magnificamente a relação entre os dois amigos sem soar como uma piada. Pelo contrário a relação entre John e Ted é bastante crível.

 

Os roteiristas optaram por centralizar a trama na relação de John (Mark Wahlberg) com Ted e na reação da namorada de John Lori (Mila Kunis) perante a relação pouco usual do seu namorado com o brinquedo de infância. Deste modo Wahlberg se destaca com uma atuação com uma veia cômica acentuada.

 

 É interessante notar as variações na personalidade de John. Quando está com Ted ele é uma criança ou um adolescente e quando está no trabalho ou com sua namorada é um adulto. Mark Wahlberg trabalha as oscilações de seu personagem com maestria.

 


  As cenas de John com Ted são tão hilárias que é extremamente possível acreditar que Ted é realmente real. Por este motivo a equipe de efeitos especiais merece honras assim como o seu diretor Seth Macfarlane que dubla a voz de Ted tanto pelos efeitos especiais quanto pela dublagem impecável.

 

Mila Kunis (Lori) tem seu devido espaço na narrativa sem, entretanto interferir na dinâmica que acontece entre Ted e John. O carisma e presença que Mila empresta a Lori impede que a personagem se torne uma namorada chata e possessiva. Ainda mais quando Lori entende que os três (ela, John e Ted) podem e (Precisam) coexistir.

 

Com um humor politicamente incorreto, sátira inteligente, bons atores, excelente uso dos efeitos especiais, uma direção criativa (ainda que não seja inovadora em sua maneira de filmar) e ótimo uso da metalinguagem “Ted” é uma comédia excelente, a passo que fico no aguardo do retorno de Ted as telonas em uma continuação já aguardada.

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tropa de Elite 2 : O Inimigo Agora é Outro


Filme evoluiu em comparação ao primeiro filme tanto na proposta, narrativa quanto na construção dos personagens.





Em Tropa de Elite 2, a dedicação extrema do capitão nascimento (agora coronel) ao trabalho tem seus bônus e ônus. O bônus é que graças a uma operação malsucedida aos olhos da sociedade, mas bem sucedida aos olhos do governo. Tal fato lhe garante o cargo de subsecretário de segurança o que o coloca em posição melhor para defender o que acredita, mas lhe custa à relação com Mathias (André Ramiro) e principalmente a relação com a ex-mulher Rosane (Maria Ribeiro) e o filho adolescente Rafael (Pedro Van Held). O fato é que Rosane agora está casada com Fraga (Irandhir Santos), o antagonista de Nascimento tanto na vida pessoal quanto profissional.


Tropa de Elite 2 não é apenas uma simples continuação com a intenção de explorar um filão de destaque no cinema nacional. Pelo contrário. É uma evolução ao primeiro filme, tanto na proposta e temas abordados quanto na construção dos personagens. ( o que talvez tenha faltado ao primeiro filme).


É interessante observar alguns aspectos ali presentes. A questão do tempo na narrativa, à agilidade e a dilatação do mesmo (quando necessário). De fato tropa de elite é um filme ágil tal como foi o primeiro. A diferença aqui é que há uma maior preocupação com os diálogos e a humanização dos personagens (mérito dos roteiristas José Padilha e Bráulio Mantovani). A opção pela montagem paralela que percorre todo o filme com ênfase nas cenas de Fraga (Irandhir Santos) e Nascimento (Wagner Moura) reforça o antagonismo ideológico, mais do que pessoal presente entre eles.


A fotografia de Lula carvalho reforça o contraste entre a milícia e o lado honesto da policia representado por Nascimento (Wagner Moura). Se de um lado há um interessante jogo de luzes e sombras de outro há uma clareza visual representando Nascimento.


Colocar o filme sobre a perspectiva de nascimento conferindo a ele a figura do narrador contribuiu para humanizar o personagem de modo que entendemos suas razões por ele expor seus pensamentos.


  Aliás um dos principais motivos que tornou o personagem mais humano nessa sequência é o fato de que agora coronel Nascimento é pai. A relação atribulada que possui com o filho Rafael (Pedro Van Held). Dois personagens explosivos (cada um a sua maneira) que encontram na luta um elo em comum, uma forma de comunicação. A propósito a cena em que pai e filho lutam juntos expondo o amor e suas fragilidades já vale o ingresso tamanha emoção e verdade cênica transmitida pelos dois atores. É neste momento que Nascimento se permite sair da “casca” que se formou em torno dele mesmo e se expor sem armaduras. A química entre Wagner Moura e Pedro Van Held transcende a tela de modo que não é exagero apontar o jovem ator como a revelação do longa.



Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro evoluiu consideravelmente em relação ao primeiro filme. Não se tratando de uma simples sequencia feita por motivos comerciais. Pelo contrario é uma sequencia que tem razão de existir pela amplitude de temas que apresenta em seu enredo. É uma outra vertente desse tema tão rico, além do filme apresentar uma constante evolução no que diz respeito à estética, narrativa e construção de personagens. É um filme de contrastes temáticos e de extremo cuidado técnico e artístico. Só uma palavra pode exprimir o que “Tropa 2” representa: Perfeição.