Há o longo dos tempos muito tem se questionado sobre os efeitos que um
tratamento psiquiátrico causa em seus pacientes (bem como a estadia em uma instituição
psiquiátrica) pode prejudicar a sanidade física e principalmente mental de seus
pacientes.
O documentário “Titicut Folies” de Frederick Wiseman vai fundo na
questão. Ao adentrar uma instituição psiquiátrica Wiserman se mistura no
cotidiano daquelas pessoas de maneira invisível. Ele capta momentos variados
daquele cotidiano por vezes brutal. Ao adotar um jogo de câmera o diretor acaba
por registrar a frieza daquele ambiente e provoca assim, agonia e reflexão no
espectador.
Reflexão porque em primeiro lugar, é impossível que o espectador não se
envolva emocionalmente com o que é mostrado. Segundo nós leva a inevitável
reflexão e a questionar até que ponto o ambiente prejudica a estabilidade
emocional e psicológica do paciente contribuindo para a “insanidade” ou se isso
já é algo próprio daquela pessoa.
O diretor Frederick Wiseman coloca os internos da instituição como foco
principal do seu documentário utilizando planos mais fechados e a câmera bem
próxima do seu “ator social”, assim acaba por de certa forma intimidar e
rechaçar o espectador. Por ser um documentário observacional Wiserman utiliza
de um travelling para “seguir a ação” assim, registra os mais variados momentos. Conseguindo montar um painel interessante e
oposto ao mesmo tempo dos dois “protagonistas” do filme: Os médicos e os
pacientes.
O diretor ciente da força que as imagens capturadas têm por si só, não
interfere na ação, porém, a maneira que ele conduz à narrativa (e a montagem
obviamente) leva o espectador uma análise aprofundada dos fatos em meio às
situações ali presenciadas.
Frederick adentra sem nenhum pudor no cotidiano daquelas pessoas
assumindo uma direção por vezes agressiva colocando o “ator social” em foco Frederick
faz uso de uma câmera nervosa e intimidadora além dos cortes bruscos para
ressaltar aquela realidade gritante.
A maneira como as imagens foram organizadas na montagem permite ao
espectador traçar uma interessante linha de raciocínio ao espectador constatar
a involução das pessoas naquele espaço delimitado e nas condições que vivem.
A fotografia também realiza no filme um papel fundamental. O de atrair e
provocar o espectador para aquela realidade relatada de maneira gritante. O
próprio fato das imagens serem em preto e branco evidenciam a ferocidade implícita(e
explicita também).
O próprio filme coloca os médicos e os pacientes de lados opostos exibindo
versões conflitantes sobre os mesmos casos exigindo do espectador uma análise
aprofundada de todos os fatos para a formação de sua opinião, já que a questão “Medico
X Paciente” estão em conflito a todo o tempo no longa.
O depoimento de um dos pacientes Vladimir me dá o gancho necessário para
finalizar esta crítica. Ele (Vladimir) alega ser saudável mentalmente (e
realmente é). Entretanto, alega que a internação em um ambiente como aquele
prejudicou o seu equilíbrio emocional e mental. Tal afirmação nos leva a
seguinte questão: será que as pessoas já chegam ali com problemas psiquiátricos
(e se chegam estes são claramente agravados) ou se a “estadia” em um ambiente
opressor como aquele da instituição psiquiátrica é que contribui para a
formação dos distúrbios psicológicos? Eis uma questão para se refletir.
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