quarta-feira, 17 de abril de 2013

Titicut Follies


Há o longo dos tempos muito tem se questionado sobre os efeitos que um tratamento psiquiátrico causa em seus pacientes (bem como a estadia em uma instituição psiquiátrica) pode prejudicar a sanidade física e principalmente mental de seus pacientes.

O documentário “Titicut Folies” de Frederick Wiseman vai fundo na questão. Ao adentrar uma instituição psiquiátrica Wiserman se mistura no cotidiano daquelas pessoas de maneira invisível. Ele capta momentos variados daquele cotidiano por vezes brutal. Ao adotar um jogo de câmera o diretor acaba por registrar a frieza daquele ambiente e provoca assim, agonia e reflexão no espectador.

Reflexão porque em primeiro lugar, é impossível que o espectador não se envolva emocionalmente com o que é mostrado. Segundo nós leva a inevitável reflexão e a questionar até que ponto o ambiente prejudica a estabilidade emocional e psicológica do paciente contribuindo para a “insanidade” ou se isso já é algo próprio daquela pessoa.

O diretor Frederick Wiseman coloca os internos da instituição como foco principal do seu documentário utilizando planos mais fechados e a câmera bem próxima do seu “ator social”, assim acaba por de certa forma intimidar e rechaçar o espectador. Por ser um documentário observacional Wiserman utiliza de um travelling para “seguir a ação” assim, registra os mais variados momentos.  Conseguindo montar um painel interessante e oposto ao mesmo tempo dos dois “protagonistas” do filme: Os médicos e os pacientes.

O diretor ciente da força que as imagens capturadas têm por si só, não interfere na ação, porém, a maneira que ele conduz à narrativa (e a montagem obviamente) leva o espectador uma análise aprofundada dos fatos em meio às situações ali presenciadas.

Frederick adentra sem nenhum pudor no cotidiano daquelas pessoas assumindo uma direção por vezes agressiva colocando o “ator social” em foco Frederick faz uso de uma câmera nervosa e intimidadora além dos cortes bruscos para ressaltar aquela realidade gritante.

A maneira como as imagens foram organizadas na montagem permite ao espectador traçar uma interessante linha de raciocínio ao espectador constatar a involução das pessoas naquele espaço delimitado e nas condições que vivem.

A fotografia também realiza no filme um papel fundamental. O de atrair e provocar o espectador para aquela realidade relatada de maneira gritante. O próprio fato das imagens serem em preto e branco evidenciam a ferocidade implícita(e explicita também).

O próprio filme coloca os médicos e os pacientes de lados opostos exibindo versões conflitantes sobre os mesmos casos exigindo do espectador uma análise aprofundada de todos os fatos para a formação de sua opinião, já que a questão “Medico X Paciente” estão em conflito a todo o tempo no longa.

O depoimento de um dos pacientes Vladimir me dá o gancho necessário para finalizar esta crítica. Ele (Vladimir) alega ser saudável mentalmente (e realmente é). Entretanto, alega que a internação em um ambiente como aquele prejudicou o seu equilíbrio emocional e mental. Tal afirmação nos leva a seguinte questão: será que as pessoas já chegam ali com problemas psiquiátricos (e se chegam estes são claramente agravados) ou se a “estadia” em um ambiente opressor como aquele da instituição psiquiátrica é que contribui para a formação dos distúrbios psicológicos? Eis uma questão para se refletir.




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