Os Sex Pistols tiveram uma curta duração (cerca de 26 meses) e seus
talentos e habilidades artísticas eram naturalmente duvidosos. Porém, pode se
dizer que eles estavam no lugar certo na hora certa. O ano era 1977 e os Sex
Pistols eram o símbolo de revolta e inconformismo contra as leis e
principalmente contra a coroa Britânica em um movimento que se tornaria o
movimento Punk.
Fechando a trilogia do cineasta inglês Julien Temple sobre a celebre
banda “O Lixo e a Fúria” funciona como um retrato do inicio do movimento punk,
mas principalmente como um acerto de contas da banda com o seu empresário
Malcon McLaren.
Construído a partir de imagens de arquivo e entrevistas com os membros
remanescentes vivos e com Malcolm McLaren Julien Temple construiu o
documentário com base em uma estética experimental e porque não dizer suja e grotesca
o que condiz com a imagem da banda.
Temple imprimiu ao documentário uma agilidade veroz, adotando essa opção
estética quase mambembe caracterizada pela falta de tratamento das imagens e
apelo visual gritante. De fato as imagens captadas pelo diretor tem um aspecto
de colagem das imagens aqui exibidas. Mais do que isso, o documentário de
Temple é dotado de uma agilidade narrativa que beira o inasistivel. As imagens
são muitas vezes desfocadas acompanhadas por uma fotografia forte que serve
aqui como um importante aliado da direção experimental e raivosa de Temple.
Aqui, as palavras de ordem parecem ser velocidade e fúria como o próprio titulo
diz. Temple prima pela desconstrução da montagem a todo o momento garantindo ao
longa um efeito clipado além de usufruir de diversos elementos para realizar a
sua costura sobre a banda tais como: Animações e justaposição de cenas o que
fortalece o caráter experimental da obra. O filme possui um frenesi caótico que
acompanhado da sujeira visual causam repulsa e desconforto (eu não sei vocês,
mas eu não gosto de ver pessoas cuspindo no palco) acabam por marcar o estilo
de Temple e da própria banda.
Em Los Angeles vivem um guru sexual Frank Mackey (Tom Cruise), um apresentador de TV Jim (John C. Reily), uma dependente química Cláudia (Melora Walters) e um ex-astro mirim prodígio Kid Donnie Smith (William H Macy). O que essas pessoas têm em comum? Aparentemente nada. Porém suas histórias se desenrolam em meio a uma trama que enfoca a fragmentação das relações familiares e a sociedade do espetáculo.
Magnólia é a primeira vista um filme estranho. Mas realmente essa impressão logo se desfaz quando nos deparamos com a grandiosidade narrativa desse filme magnânimo de Paul Thomas Anderson.
Iniciado com um prólogo sem sentido nenhum a primeira vista. Magnólia nos apresenta a esses personagens de forma ágil reproduzindo quase um efeito clipado. Não se engane os longos takes característicos do diretor estão presentes, porém combinados com um corte estilizado que acaba por “abortar” a ação dramática por alguns instantes.
Com uma direção coreografada, Anderson trabalha os longos takes realizando intersecções e mantendo a câmera sempre próxima do ator colocando-o em perspectiva.
O fato de realizar planos mais fechados permite ao diretor captar a emoção do ator de maneira genuína com mais naturalidade além de imprimir uma tensão dramática eminente utilizando elipses para manter um suspense narrativo enquanto aquele determinado plot fica em “stand by”.
O uso de uma agilidade de planos de maneira sutil em contraponto aos takes de longa duração em que Paul Thomas trabalha a intensidade dramática daquele plot acaba por realizar cortes estilizados para que ocorra saltos na ação dramática de maneira ao espectador acompanharem outro plot de maneira surpreendente o que acaba por induz um suspense á narrativa até que o ponto em que as histórias possam convergir seja alcançado.
A música tem uma importante função importante na ação dramática. Ela serve para oprimir a própria ação em muitos momentos a própria ação. Além de contextualizar a intensidade das emoções que cercam os personagens.
O principal ápice de Magnólia diz respeito ao seu roteiro habilidoso que é desfragmentado a todo o momento. A maneira que Paul Thomas Anderson trabalha os personagens dando-lhe tintas e cores bem definidas é de se admirar. Mais ainda, a forma com que Thomas converge esses plots desfragmentados- tão desfragmentados quanto às frágeis relações familiares que o filme retrata-e talvez isso seja uma síntese do tema família tão freqüente nos filmes de Anderson e que aqui aparece na forma de desequilíbrio da relação familiar.
A relação familiar que aqui aparece de forma fragmentada, corrompida traduz em uma análise intima das relações humanas é um tema que ocupa o eixo central do filme e promove uma reflexão a respeito das relações familiares atuais e do significado de família.
O outro tema abordado nas entrelinhas em “Magnólia” é a expansão frenética da sociedade do espetáculo, do preço da fama e das conseqüências da fama precoce bem como os efeitos dela no ceio familiar. Esta metáfora é representada por um grupo de personagens como Frank Mackey (Tom Cruise) o guru sexual. A necessidade incessante que o personagem tem de ser aplaudido, adorado representa sua frágil relação familiar e falta de afeto.
Por outro lado, temos um quiz show no estilo de “Você é Mais Esperto que um Aluno da Quinta Série“. Esse plot demonstra o peso da indústria artística tem sobre a vida dessas crianças que ao entrar nesse mundo de maneira precoce acabam por sofrer demasiada pressão o que nessa idade pode ser fatal para o seu desenvolvimento. Nesse sentido - O filme “conversa” muito com o longa anterior de Anderson “Boogie Nights” numa crítica a indústria da fama. Podemos observar no personagem de Donnie Smith (William H. Macy) o ex- astro mirim como perder o reconhecimento prematuro do dia pra noite pode ser prejudicial para o seu desenvolvimento. “Podemos observar ainda na figura de Jimmy Gator (Phillip Baker Hall) como ele se encontra exaurido e consumido após tantos anos no Show Business”.
Dessa maneira, a escolha da cidade de Los Angeles para sediar a história tem razão de ser. Afinal é onde fica Hollywood o centro da indústria do espetáculo.
Os atores estão afinados e muito bem em seus papeis sabendo carregar a responsabilidade de seus plots, seu eixo dramático. Tom Cruise atua de forma espetacular ao literalmente incorporar o guru sexual Frank Mackey. Cruise incorpora todos os trejeitos expansivos e o vigor sexual que o personagem pede. Porém, o ator não consegue transmitir emoção mais genuína quando se trata de cenas sutis. Estranho o que leva a questionar se Cruise é apenas um ator de blockbusters e franquias de ação. Não deveria ser afinal ele já emocionou em filmes como “Jerry Maguire” e “Vanilla Sky”. Então o que aconteceu com o ator nesse filme.
Melora Walters (Claudia) é uma atriz que ciente da intensidade dramática que sua personagem carrega a construí de forma destrutiva, dependente e sempre com as emoções cambaleante s. Walthers não é só uma simples atriz, é um furação em cena. Ela arrebenta.
Phillip Seymour Hoffman tem uma das principais atuações de destaque do longa como o enfermeiro Phill. Seu personagem cresce consideravelmente conforme as tramas vão convergindo. Possibilitando ao ator mostrar todo o seu talento. O “parceiro de cena” de Hoffman Jason Robards (Earl) é um caso atípico a ser destacado. Robards consegue transmitir emoção muitas vezes sem falar nenhuma palavra - visto que seu personagem é um doente terminal é surpreendente. A conexão afetiva que o ator estabelece em cena com Phillip Seymour Hoffman é digna de aplausos. Certamente uma boa despedida para Jason Robards que faleceu pouco depois do fim das filmagens.
“Magnólia” é mais que um filme sobre família ou a falta dela. Representa o ápice de Paul Thomas Anderson como roteirista e diretor até então. Anderson promove reflexão e encantamento com essa brilhante obra que ganha na desconstrução do eixo comum.
Em 2006 o documentarista Eduardo Coutinho colocou um anuncio no jornal
convocando mulheres a compartilhar suas historias de vida para a lente de uma
câmera. Historias essas que seriam encenadas por atrizes traçando assim um
paralelo entre o real e o fictício. O resultado é o documentário “Jogo de
Cena”.
Os depoimentos foram colhidos pelo próprio Eduardo Coutinho que assume
aqui a postura de entrevistador utilizando-se de um ambiente naturalmente neutro
(o teatro Glauce Rocha no RJ) para criar um documentário pessoal e livre no
processo criativo no que diz respeito às depoentes e as atrizes
respectivamente.
A liberdade de criação que Eduardo Coutinho da a suas atrizes na hora de
dramatizar os relatos das entrevistadas garante ao espectador a possibilidade
de perceber nuances dramáticas e performáticas daquela atriz em questão que
antes talvez passasse imperceptível.
Fatores como os dispositivos de criação dramática daquelas atrizes. Como
elas fazem para atingir aquele ápice dramático e emocional naquela cena. E se o
fato de se tratar de uma história real influencia no dispositivo de criação das
atrizes. O componente emocional também é um fator bastante explorado por
Coutinho tanto pelas depoentes quanto pelas atrizes. De forma bastante
delicada, o diretor permite que a depoente reviva livremente aquele fato
principalmente agora que ele é dramatizado. E quanto às atrizes Coutinho
investiga o quanto dramatizar aquele fato que lhes foi contado mexeu com o seu
emocional. Pois como todos sabem a matéria-prima do ator é a emoção. É daí que
saem as respostas mais surpreendentes desde aquela que atua da forma mais
visceral possível até aquela que se esforça para separar as emoções e não
esboçar uma reação descontrolada.
De novo retornamos a questão do método de criação que por sinal é um tema
recorrente que percorre todo o filme. O fato de o diretor proporcionar as
atrizes um método livre de composição de personagem abrindo assim espaço para
as mais variadas versões da mesma história e mais ele quer saber da própria atriz
a sua visão daquele relato o que acaba por se tornar um aspecto interessante
para o espectador de percepção da autoficção.
O detalhe de extrema importância no documentário é a montagem (ou a falta
dela). Digo isso porque Coutinho começa intercalando um depoimento e uma
dramatização de repente isso muda e ele começa explorar outras vertentes do
mesmo esquema. De certo por ter consciência de que esse esquema poderia cansar
a certo momento.
“Jogo de Cena” é um excelente documentário de Eduardo Coutinho que
realiza aqui um trabalho primoroso de investigação da alma humana. “Jogo de
Cena” vai além, pois abre espaço para uma discussão valiosa sobre o processo
criativo e dispositivos de criação performáticos e cinematográficos que é de
suma importância.
Quatro anos após a última aventura na Tailândia Phill (Bradley Cooper), Stu
(Ed Helms), Alan (ZachGalifianakis) e Doug (Justin Bartha) estão de volta à estrada.
Dessa vez não há despedida de solteiro, mas isso não significa o fim das confusões,
pois quando o “Bando de Lobos” coloca o pé na estrada tudo pode acontecer.
Após um segundo capitulo que deixou a desejar, a franquia “Se Beber Não
Case” encontra ares de renovação ao retornar aos seus primórdios nessa
terceira- e derradeira aventura.
O diretor Todd Philips estabelece um clima de dinamismo e frenesi
constante ao filme- isso se deve em parte ao roteiro enérgico e frenético escrito
por Philips e Craig Mazin. Phillips aproveitando a energia inserida no filme,
trabalha bem os planos garantindo assim um aspecto livre ao longa permitindo
que as situações se desenrolem de maneira orgânica á narrativa. O diretor
conferiu uma agilidade natural aos takes utilizando-se de sobre e justaposições
de forma a estruturar a viés cômico da narrativa. As situações sobre o comando
de Philips se desenrolam de forma rápida e dinâmica assim os planos se sobrepõe
em um ritmo frenético na primeira metade do longa, o que não impede o diretor
de trabalhar bem as cenas e as situações, a opção de diminuir um pouco o ritmo
na segunda metade do longa não prejudica a narrativa de nenhuma maneira.
Pelo contrário,
Phillips nos mantêm entretidos, ou melhor, vidrados no filme (e rindo muito,
diga-se de passagem). O ato de diminuir
o ritmo permite ao espectador entrar em contato com o lado humano dos
personagens especialmente Alan (ZachGalifianakis).
A montagem exerce aqui um papel importantíssimo. O de estruturar a
narrativa de maneira coesa em meio ao frenesi narrativo em que o filme se
encontra trabalhando como um poderoso aliado da direção de Todd Philipps.
Phillips, aliás, executa um excelente trabalho no que diz respeito à inserção
de flashbacks sobrepostos sobre as cenas que aqui funcionam como uma espécie de
tributo aos fãs da franquia além de refrescar a memória do espectador afinal faz
quatro anos desde que o primeiro filme foi lançado.
O roteiro escrito pelo diretor em parceria com Craig Mazin demonstra ares
de renovação. Phillip e Mazin encontraram o timming perfeito da comédia ao
construir situações que por mais non-sense que possa parecer arrancam
gargalhadas escrachadas dos espectadores às vezes de uma situação aparentemente
comum. E o melhor, os risos acontecem de maneira natural e não de maneira
forçada como no segundo filme. Eis uma evolução.
É uma pena que a música apareça timidamente nesse filme (e quando aparece
destoa das situações), o filme poderia ter crescido muito com o acréscimo
musical como pano de fundo das cenas.
O elenco arrasa mais uma vez. Bradley Cooper (Phill), ZachGalifianakis (Alan) e Ed Helms (Stu) esbanjam um perfeito
entrosamento cênico sendo o trio dotado de um perfeito timming de comédia
garantindo a graça do filme. Mas justiça seja feita, todos estão ótimos, mas, ZachGalifianakis rouba a cena com o seu Alan finalmente saindo da síndrome de
Peter Pan. Os melhores momentos do filme acontecem por causa e através do Alan
que é um personagem deliciosamente infantil, mas muito sábio nas mãos do
excelente ator que é Galifianakis.
Se Beber Não Case 3 é uma conclusão épica e humana para a franquia de
humor que infelizmente deixa seus fãs órfãos e com vontade de mais.
O funk é um
ritmo musical que veio das comunidades, das favelas. Contudo, sofre com o
preconceito e tarja de vulgar e de que faz apologia ao sexo. Para acabar com
esses preconceitos e tarjas que os mc´s carregam a cineasta Denise Garcia
dirigiu o documentário “Sou Feia mas Tô na Moda” em que mergulha no universo do
funk carioca em seu próprio território com o objetivo de dar voz a essas
pessoas marginalizadas e quebrar tabus.
Ancorado
por Deise Tigrona, o filme adentra a comunidade Cidade de Deus com o objetivo
de desmistificar os preconceitos que rondam o universo do funk tais como a
marginalidade e como dito acima se as músicas fazem ou não apologia ao sexo.
Entretanto, uma questão maior e mais importante é levantada: Se essas mulheres
que cantam sexo sem cerimônia seriam as representantes de um feminismo moderno.
A diretora
Denise Garcia de posse da sua câmera nervosa acompanha a rotina desses mcs e
moradores da Cidade de Deus no Rio de Janeiro assim contextualizando o terreno
de onde versos marginalizados (porém escutados em qualquer classe social foram
criados).
Denise fez
duas escolhas que foram essenciais para o sucesso do seu documentário.
Primeiro: colocou a funkeira Deise Tigrona como ancora fato esse que ajudou a
“quebrar o gelo” entre os outros mc´s moradores da comunidade e garante ao
filme um aspecto muito pessoal e próximo do espectador. Segundo: A “Sujeira
visual” que as imagens possuem contextualiza a raiz das letras. Como eles
mesmos dizem “a gente canta o que a gente vive” seja o sexo exacerbado de
grupos e Mcs como Tati Quebra Barraco, Deise Tigrona e o grupo Gaiola das
Popozudas ou os funks de protesto como é o caso da dupla Cidinho e Doca do hit
“Rap da Felicidade“.
Um ponto
interessante que o documentário aborda com propriedade (e nesse sentido é
preciso parabenizar a documentarista Denise Garcia por evidenciar os diversos
lados da cultura do funk) é que o filme evidencia a evolução do gênero não só
no Brasil, mas principalmente ao redor do mundo. Nesse quesito a presença do DJ
Malboro é essencial, pois sendo ele a figura responsável por levar o gênero ao
maior nível de reconhecimento (inclusive no âmbito internacional como é
mostrado no documentário).
A proposta
da diretora Denise Garcia é extremamente bem-vinda. Principalmente por quebrar
barreiras, desfazer a imagem negativa que essas pessoas tem aos olhos dos
outros, são realmente marginalizados. Acredito que o documentário faz muito
mais do que entreter e desmistificar os funkeiros. Abre caminho para uma
discussão política, social acerca de temas como as favelas e o feminismo muito
importantes nesse momento.
Durante a sua fase Trovador Solitário as letras de Renato Russo se
destacavam por serem narrativas, contando histórias. Uma das maiores letras é Faroeste
Caboclo que conta a saga social de João de Santo Cristo e Maria Lúcia. Era
desejo de o próprio Renato levar sua mítica música ao cinema, agora “Faroeste”
finalmente chega aos cinemas pelas mãos do estreante René Sampaio.
Em “Faroeste Caboclo” (o filme) prima pela desconstrução da lendária música
da Legião. O diretor René Sampaio opta por desfragmentar a letra inserindo o mítico
personagem João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) no cenário brasiliense dos
anos 80.
Com um prólogo inicial com ares de Road Movie e esteticamente belo devido
a uma fotografia elegante e a um travelling bem orquestrado, o inicio já é
prejudicado pela narração maçante do protagonista. Nada, porém, que prejudique
o desenrolar do filme, mas é um elemento realmente chato.
Sampaio soube utilizar a energia da música (que já é cinematográfica por si
só) a favor dos belos takes. Ele faz mais, introduziu ao filme um vigor e uma
agilidade rítmicas além de induzir o suspense inerente à narrativa muito por
causa da trilha sonora composta por Phillipe Seabra vocalista da Plebe Rude (que
inclusive está presente na trilha).
O diretor alia a sua agilidade com flashbacks muito bem orquestrados que
aumentam a tensão dramática além de colocar o espectador pra dentro da ação do filme,
contextualizando as ações do protagonista João (Fabrício Boliveira).
O fato de João e Maria Lucia pertencerem a mundos opostos que se
convergem é exemplificado pela montagem de Marcio Hashimoto. A opção pela
montagem paralela conduzindo as narrativas dos protagonistas simultaneamente
até o surpreendente encontro.
A montagem também engrandece os flashbacks que já são muito bem dirigidos
de maneira rítmica e intensa pelo diretor René Sampaio. A opção do diretor pelo
corte seco e sobreposições de planos antes ou depois dos flashbacks é um
recurso que se revela bastante hábil à medida que revela ao espectador mais
sobre a trama e os personagens, além de que o diretor soube contrabalançar os altos
e baixos do protagonista bem como os lugares que ele frequenta.
A fotografia a cargo de Gustavo Hadba se destaca pelo forte granulado que
imprime as imagens reforçando assim os aspectos de “Road movie” e saga social
que o filme apresenta. A fotografia de Hadba destaca as belas imagens captadas
pelo diretor especialmente no que diz respeito ao travelling e planos aéreos que
o diretor utiliza. Só é uma pena que Hadba em algumas ocasiões opte por
escurecer demais determinadas cenas tornando os atores quase invisíveis.
O roteiro de Marcos Bernstein e Victor Altherino desconstrói a música
desfragmentando-a para depois recompo-lá em cenas. É visível a preocupação dos
roteiristas em contextualizar as motivações do protagonista João de Santo Cristo
(Fabrício Boliveira). Os flashbacks, por exemplo, são utilizados principalmente
por esta razão.
Os roteiristas dão o embalsamento dramático necessário aos personagens da
mítica letra de Renato Russo além de inserir novos. Nas mãos da dupla
Bernstein/altherino os personagens e as situações da epopeia dramática ganham
força alem da música que inspira o filme.
Os roteiristas reforçam a todo momento as diferenças sociais que separam
os protagonistas João (Fabrício Boliveira) e Maria Lucia (Isis Valverde). Além de
destacar a rivalidade social e econômica que separam os traficantes Pablo (César
Trancoso) e Jeremias (Felipe Abib) que se transformará em uma disputa amorosa
por Maria Lucia.
A trilha de Philipe Seabra e Lucas Marcier utiliza-se de diversos gêneros
para compor a saga de João de Santo Cristo. A música dotada de certo lirismo dão
o tom de Road movie que o filme necessita em muitos momentos.
O elenco possui boas atuações ao todo com atores que se destacam por
menor que seja a sua participação. Fabricio Boliveira soube carregar esse
personagem tão mítico na cultura popular e que é o reflexo social do Brasil.
Boliveira trabalhou as nuances do seu personagem bem como as suas motivações para
torna ló crível. Um talento.
Ísis Valverde é uma grata surpresa
na pele de Maria Lúcia. Tenho que admitir que fui contrario a ideia da atriz
interpretar a personagem imortalizada na letra de Renato Russo, mas Isis arrebata
o público ao imprimir força na patricinha brasiliense e a atriz foge de todas
as armadilhas (e olha que são muitas que seu papel desencadeia). Assim, a atriz
foge do lugar-comum ao dar ao seu papel nuances desafiadoras e de bravura
extrema.
Felipe Abib constrói Jeremias como um playboy mimado, inconsequente,
violento e acima de tudo viciado. Jeremias é dotado de um sentimento de posse e
controle sentimentos que Abib imprime ao seu vilão com maestria.
Marcos Paulo que fez sua ultima participação no cinema (ele faleceu em
novembro do ano passado) tem uma participação de suma importância na história
como Ney, o senador Pai de Maria Lucia (Ísis Valverde). Marcos empresta ao
personagem uma grandeza social quase aristocrática sendo responsável pela divisão
social que separa Maria Lucia de João (Fabrício Boliveira).
César Trancoso dá vida a Pablo o primo traficante de João que o acolhe e
o introduz no tráfico assim que ele chega a Brasília. César insere trejeitos ao
traficante de gosto duvidoso, tendo o ator uma imensa presença cênica que
abrilhanta o filme. A própria dicção do ator de sotaque espanhol da um tom
caricatural que é muito bem vindo ao personagem.
A saga social de Renato Russo finalmente ganha um filme a sua altura com
uma produção elegante e audaciosa. Tão audaciosa que arrebata o público que
implora para que não acabe.