Muitos filmes têm tratado da temática da Ditadura Militar, mas o que me
chamou atenção especialmente em “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias” foi
abordar esse tema pelos olhos de uma criança. Mauro(Michel Joelsas) é obrigado
a ficar de férias com o avó enquanto os pais estão em exílio por serem militantes
de esquerda.
Cao Hamburger dirige este filme semi-autobiografico investindo em algo
que não é muito comum em filmes que contêm essa abordagem: A Ternura o que
acaba por se tornar o principal diferencial do longa. Cao tem experiência em
lidar com esse público(foi diretor do “Castelo Rá-Tim-Bum” entre outros
programas destinados a este publico. Isso explica a destreza com que constrói e
comanda as relações entre o Menino Mauro(Michel Joelsas) com o seu interior e
os outros personagens.
Estruturando a tensão dramática de forma sutil Cao investe na direção de
atores de maneira afável. A tensão dramática aqui representada pelos
acontecimentos que são alheios ao protagonista Mauro(Michel Joelsas) permite
que Hamburger coloque o personagem em uma situação de deslocamento. Cao capta
de forma hábil as reações e os sentimentos internos do personagem principal,
apostando em closes e na captura de feições puramente genuínas próprias a uma
criança.
Hamburger tem preocupação em captar o universo interno do protagonista
abrindo espaço para o lúdico próprio do imaginário infantil. A forma particular
com que trata os anseios daquele menino envolto em uma bolha de
reclusão(elemento esse ressaltado de maneira sutil pela tensão dramática) é
brilhante pois a interação entre Mauro(Michel Joelsas) e os outros personagens
é feita de forma gradativa abrindo espaço para a reclusão e o inevitável choque
de culturas oriundo da sua relação com o judeu ortodoxo Shlomo(Germano Haiut).
Cao tem extrema habilidade de explorar cada plano ao Maximo que pode.
Toda e qualquer incursão feito dentro do universo fílmico tem razão de estar
ali. O roteiro é bem sucinto nesse sentido e favorece o trabalho do diretor no
momento de orquestrar a narrativa. Da mesma forma, todos os personagens tem
razão de estar ali tendo suas funções dramáticas bem definidas e tendo seus
adendos á narrativa construídas e desabrochadas no momento certo pelo diretor.
Um truque de Mestre.
Hanna(Daniela Piepszyk) a outra
protagonista estimula o lúdico do personagem principal sendo a responsável por
“furar” a bolha de exclusão em que o personagem se acomoda.
Apesar de “O Ano” ser um filme que aborda a Ditadura Militar, aqui ela
está inserida em segundo plano e de forma sutil. O foco mesmo é a infância do
protagonista Mauro(Michel Joelsas) o que da margem a uma abordagem diferenciada
tratando inclusive de aspectos culturais do Brasil naquela época. A Ditadura
aqui está escondida nas entrelinhas e refletida na iminência da angustiante
espera do Menino por seus pais.
Michel e Daniela interpretam os protagonistas Mauro e Hanna de forma
genuína com graça,talento e principalmente naturalidade.
Germano Haiut reflete em sua atuação justamente o que seu personagem
Shlomo representa para o filme: Um personagem de opostos que se deixa encantar
por aquele menino de maneira gradativa e sincera.
“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um filme terno sobre um tema
pesado. Se é que é possível que isto aconteça em um filme. Mas o fato é que Cao
Hamburger conseguiu construir um filme com um olhar diferente sobre um tema já
tratado anteriormente (embora não tantas vezes quanto deveria). É esse o
diferencial de “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” um outro olhar mais
terno sobre um tema pesado, propondo reflexão.