Rogério Sganzerla era um grande entusiasta da sétima arte e seus filmes
são o reflexo dessas referencias que o cineasta trabalhava a seu modo. Uma
prova desse seu universo é “A Mulher de Todos” seu segundo longa-metragem.
Contando a história de Ângela Carne e Osso(Helena Ignez) uma mulher em
busca da liberdade sexual o diretor retrabalha os clichês da chanchada e da
comédia pastelão a sua maneira utilizando metáforas e frases de efeito.
Sganzerla mergulhou a fundo munido de inúmeras referencias para realizar
este filme em que desconstrói os clichês e regras pré-concebidas ao produzir um
filme essencialmente metalinguístico(não é raro cenas dos personagens
“conversando com a câmera), diálogos non-sense(“eu quero ir pra ilha dos
prazeres” ou “me paga uma cuba” combinados a uma maneira muito particular de
filmar adotando o corte seco,uso de trucagens e closes.
A arte do universo de Sganzerla estava em criar um universo estilístico
muito particular ao mesmo tempo em que seu cinema era um caldeirão de
referencias e citações. A figura do narrador aliado as frases de efeito
constituem a “tensão dramática” de seu filme ao mesmo tempo que o espectador
esta ciente de se tratar de uma coqueluche pela forma satírica que o diretor
constrói tanto a estética quanto a narrativa de seu filme.
Ao adicionar uma narração estridente acompanhada de uma trilha incidental
de suspense entre outras Rogério promove
a desconstrução e brincadeira entre os próprios gêneros cinematográficos. Sua
ideia era desconstruir para criar sua própria forma de contar aquela história e
assim prestar um tributo referenciando os signos e os gêneros do cinema. Abusando de diálogos criativos como “eu sou Ângela Carne e Osso, a inimiga número 1 dos homens, “eu gosto é dos boçais” ou “eu sou um bitolado” Sganzerla construiu um filme altamente pop com ótimas sacadas ao beber em fontes diversas. Desde o cinema de pornochanchada a comédia pastelão passando pelo cinema de suspense e as revistas em quadrinhos.
O roteiro é dotado de uma excelente veia cômica da melhor qualidade,sendo
capaz de utilizar os clichês de gênero já batidos de uma forma nova e
revigorante.
Os personagens construídos por Sgangerla são os arquétipos comuns aos
clichês de gênero mas que em suas mãos ganham luz própria ao adotar uma veia
satírica. Helena Ignez faz de Ângela Carne e Osso aquela mulher libertaria
quase uma mulher maravilha as avessas. Jô
Soares faz de Plirtz um tipo bonachão divertido sendo o
ator capaz de rir de si mesmo. Stênio Garcia faz de Flávio Azteca o legitimo
homem primata, aquele das cavernas. O interessante de observar é a naturalidade
em que os atores transitam no universo pop de Sgangerla.
A verdade é que
Rogério Sgangerla construiu um filme divertido,pop,referencial e autoral ao
mesmo tempo. “A mulher de Todos” pode representar um ícone do feminismo mas
também representa um cinema autoral do mais alto nível onde o diretor presta
uma homenagem as artes ao seu estilo.