segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Especial Diretores: Cameron Crowe

Foto de Cameron Crowe com a sua estatueta do Óscar de melhor roteiro original por Quase Famosos



Nascido em 13 de julho em Palm Springs e criado em San Diego, Cameron Crowe sempre foi uma criança diferente do normal e um adolescente prodígio.

Em parte isso se deve a sua mãe Alice que empenhada em investir no potencial do filho, fez com que ele pulasse de ano na escola se lhe dizer e omitiu sua verdadeira idade. Em parte por ele sofrer de Nephritis na adolescência, o que acabou o afastando da cultura ensolarada da Califórnia.

Eis então que Cameron descobre duas importantes válvulas de escape: A escrita e a musica(especialmente o rock).  Isso aconteceu graças a Irmã Cindy que ao sair de casa por discordar dos métodos disciplinares de sua mãe deixa para Cameron  sua coleção de discos de vinil.

Foi o empurrão que faltava para que Cameron desenvolvesse sua escrita e escrevesse artigos de música para publicações como San Diego Doors e Cream magazine. Não demorou muito para que a Rolling Stone se interesse por seus artigos e lhe convidasse para cobrir a turnê do Led Zeppelin com exclusividade para a revista(vide “Quase Famosos”).


Mais tarde, Cameron resolveu voltar a escola para recuperar o tempo perdido e publicar suas impressões no livro “Fast Times At Ridgemont High”. O sucesso foi tanto que o livro virou filme com direção de Amy Heckerling e roteiro do próprio Cameron. Daí das páginas dos roteiros(ele escreveu ainda “Vida Selvagem”), para  trás das câmeras foi um pulo.

Desde então , Cameron desenvolveu uma carreira pautada em uma filmografia essencialmente autoral e com características muito particulares e de fácil identificação com o público. Muito dessa identificação se deve aos seus personagens sempre passarem pelo “Rito de Passagem” e é claro, pela trilha sonora, elemento essencial dos seus filmes.

Abaixo, conheça um pouco mais sobre sua filmografia:


Say Anything(1989)

Debut de Cameron como diretor. O filme é centrado no amor platônico do pugilista Lloyd Dobler(John Cusack) pela jovem rica e popular Diane(Ione Syke). Cameron aprimora o enredo centrado nos adolescentes já abordado nos seus roteiros anteriores. Com uma narrativa e direção ágeis. É um filme que faz um uso inteligente do “Jogo de Câmera”. É, sobretudo um filme de contrastes pautados nas personalidades distintas de seus protagonistas.


Singles- Vida de solteiro(1992)

É o filme que representa a primeira evolução narrativa da obra do diretor. Se antes Cameron centralizava seus filmes nos adolescentes e no High School americano, aqui o foco é os jovens adultos vivendo em Seattle em meio a cena grunge do inicio dos anos 90. Singles é um filme simples na sua forma narrativa, mas grandioso em seu conteúdo, se observarmos as entrelinhas. A trilha sonora ocupa um importante espaço narrativo no filme de modo que a mesma se sobressaiu de maneira definitiva.


Jerry Maguire- A Grande Virada(1996)

É o filme que representa a segunda evolução na obra de Cameron Crowe. O filme apresenta uma série de inovações técnicas e narrativas a filmografia do diretor.

 É o filme em que podemos observar primeiramente a “metáfora de crescimento” que falei no inicio desse texto e que pode ser observada com mais clareza em seus filmes subseqüentes.


Quase Famosos(2000)

É o filme mais conhecido do diretor e uma de seus melhores filmes na minha opinião. A trama semi-autobiográfica do jovem William Miller(Patrick Fugit) que aos 15 anos viaja pra turnê da banda Stillwater a serviço da revista Rolling Stone se confunde com a vida do próprio Cameron Crowe. É um filme dinâmico, ágil e carregado de emoção. È a declaração de amor de Cameron ao Rock que o acolheu quando ele era um jovem “Uncool” e hoje é fundamental em sua vida. O filme trouxe a Crowe a sua maior consagração na carreira até então, pois lhe rendeu o Óscar de melhor roteiro original além do BAFTA na mesma categoria em 2001.





Vanilla Sky(2001)

Ao realizar este remake do filme espanhol “Abra Los Ojos” , Cameron Crowe realizou sua obra Sui-Generis- isto é, única. Única no sentido em que neste trabalho Crowe realizou  um filme sem todas as formulas pré-concebidas em seus trabalhos. Foi sobretudo um desafio, afinal em “Vanilla” Crowe realizou um filme com tempos fílmicos simultâneos.

Um trabalho ousado e com múltiplas interpretações, foi um exercício de direção interessante para o diretor que soube imprimir sua “Marca” pessoal no filme. O filme merece ser visto inúmeras vezes devido as inúmeras camadas de entendimento que a trama oferece.


Elizabethtown(2005)

Nesta comédia romântica de 2005 Crowe realizou um filme poético sobre a relação do ser humano com a morte. É talvez o seu filme mais pessoal depois de Quase Famosos.

Cameron intercalou em Elizabethtown o seu dinamismo característico com um certo lirismo ao desacelerar a ação no terceiro ato.

Em Elizabethtown , Crowe trouxe outra inovação narrativa: Pela primeira vez, Crowe deu a um personagem seu a função de narrador da historia.

A trilha sonora da um suporte narrativo a trama embalando o enredo de forma a ambientar os personagens.


Pearl Jam twenty(2011)

Após seis anos sem lançar nenhum trabalho(acredite, para o diretor isso é muito tempo.) Cameron começou 2011 com força total: Lançando três filmes no mesmo ano.

Entre estes filmes está Pearl Jam Twenty, o documentário comemorativo aos 20 anos da banda Pearl Jam. O documentário é alçado em três frentes: imagens de arquivo,entrevistas e shows ao vivo.

Cameron realizou um documentário ágil e próximo dos fãs. Parte disso se deve ao fato do diretor assumir a postura de entrevistador imprimindo naturalidade ao filme.

O filme é essencialmente calçado na banda e na relação dos integrantes com os fãs. Dessa maneira, a própria banda guia o filme de certa forma.

Cameron Crowe realizou em Pearl Jam um mergulho intenso na historia da banda, o que acabou resultando no documentário definitivo sobre o Pearl Jam.


Nos Compramos um Zoológico(2011)

Em Nós Compramos um Zoológico, Cameron Crowe se volta aos dramas familiares. Baseado no livro homônimo de  Benjamim Mee, Crowe fez o perfeito filme família. Um filme cativante com uma grande historia e grandes atores.

Aqui, Cameron fez um ótimo uso da excepcional historia e atores que tinha em mãos. O diretor utilizou os closes em takes carregados de emoção. Crowe imprimiu ao longa uma narrativa dinâmica ao mesmo tempo em que garantiu ao longa um lirismo oriundo de suas lentes-lirismo este que se estende a trilha sonora.





Acessem o site oficial do diretor para mais informaçoes sobre sua vida e carreira:

http://www.theuncool.com/

Ps: sugiro aos fãs do diretor que assistam Entourage (HBO, 2004-2011) pois a série tem várias referências a obra do diretor além de ser ótima.





O Fan film que eu fiz em homenagem ao Cameron Crowe e Entourage.



Link: https://vimeo.com/110432218 e no youtube:

sábado, 22 de dezembro de 2012

Fast Times At Ridgemont High




Stacy (Jennifer Jason Leigh) é uma estudante do ensino médio que começa a ter os primeiros questionamentos sobre sexo. Ela trabalha na pizzaria do shopping no seu tempo livre e conta com os conselhos da melhor amiga, a “Pseudo” experiente Linda (Phoebe Cates). Stacy nem imagina da paixão do tímido Mark (Brian Becker) que não tem coragem de se declarar.


Baseando-se no livro homônimo de Cameron Crowe (que também escreveu o roteiro) Amy Heckerling fez no filme um retrato fiel dos desejos e anseios da juventude.

A diretora apostou nos planos mais fechados e na sucessão rápida de planos, o que conferiu ao filme a agilidade e o frisson necessários a narrativa.

A montagem paralela foi utilizada de modo a equilibrar todos os plots do enredo.


Cameron Crowe foi responsável pelo roteiro da adaptação  cinematográfica de seu livro homônimo. Crowe foi extremamente hábil na construção do seu roteiro, especialmente na construção dos personagens e seus respectivos plots.

Outro ponto a se considerar é a maneira com que Cameron Crowe trabalhou os diversos plots de modo que eles se “encontram” em determinado ponto da narrativa.

De fato, Crowe esbanjou talento e criatividade na sua primeira experiência cinematográfica.


O elenco com muitos atores em inicio de carreira como Jennifer Jason Leigh (Stacy), Phoebe Cats (Linda), as duas aliás tem um entrosamento cênico que transparece na tela.



Brian Becker (Mark) e Judge REINHOLD (Brian) se destacam por interpretar o impopular o popular da escola respectivamente. Os dois atores acertaram em cheio ao ressaltar os dilemas dos personagens.


A trilha sonora tem a função de ambientar os personagens do enredo, agindo como uma extensão do ambiente escolar no qual os personagens estão inseridos.

Dessa forma, predominam na trilha sonora o rock e o pop/rock, gênero dominante entre os jovens. E o melhor: A maioria dos artistas compuseram canções especialmente para o filme, o que faz a trilha sonora de “Fast Times At Ridgemont High” ser exclusiva.

“Fast Times At Ridgemont High” é o que chamamos de um feliz encontro cinematográfico: Um excelente roteiro , uma direção segura e habilidosa e atores jovens e talentosos que interpretaram seus respectivos papeis com naturalidade.



O resultado dessa experiência é um filme terno e atemporal que ao retratar dilemas universais acaba tornando impossível que o espectador não se indetifique em algum aspecto.












sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Jerry Maguire - A Grande Virada











Jerry Maguire (Tom Cruise) é um bem-sucedido agente esportivo que é demitido após escrever um relatório propondo uma relação mais pessoal com os clientes. Tal fato acaba causando a sua demissão da agência onde trabalha. Sozinho, ele conta com o apoio de Dorothy Boyd (Renée Zellweger) com quem desenvolve uma relação fraternal que transcende os limites do campo profissional.


Além disso, Jerry precisa estimular o seu único cliente Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr) a jogar com a alma para se consagrar um vencedor.



Em seu terceiro filme como diretor, Cameron Crowe apresentou uma evolução no que diz respeito à temática e a técnica apresentadas até então em seus filmes anteriores. Antes ele focava seus filmes em dilemas adolescentes e jovens adultos (Say Anything e Singles, respectivamente.)



O filme apresentou uma serie de inovações técnicas e narrativas a filmografia do diretor, tais como: elipses, closes e montagem paralela entre outras.


O diretor fez uso do contra-plongêe para evidenciar a atmosfera grandiosa do esporte e sua importância no enredo.



Utilizando-se dos closes, Crowe priorizou o grande elenco que tinha em mãos destacando-os em suas lentes intimistas.  O que acaba fazendo de Jerry Maguire um filme de gestos muito particulares. Tais características se perduram até hoje na filmografia do diretor.



A fotografia do filme á cargo de Janusz Kaminski trabalha em duas frentes distintas:

Na primeira parte do filme predominam cores vivas e cintilantes nas lentes de Janusz.  Após a derrota profissional de Jerry Maguire, as cores cintilantes dão lugar á um granulado consistente que evidencia a mudanças sofridas pelo protagonista.


A presença de uma narração em “Over” é talvez a maior inovação do filme em termos narrativos. Neste caso essa função cabe ao protagonista Jerry Maguire (Tom Cruise).


A musica, elemento fundamental nos filmes do diretor, assume aqui a posição de contextualizar o universo fílmico.


A trilha sonora á cargo de Nancy Wilson (ex-parceira habitual do diretor) se baseia em dois estilos-chave: O rock e o blues. O rock se destaca especialmente na primeira parte do enredo para demonstrar a ascensão social do protagonista, posteriormente dando lugar ao blues devido à derrota profissional de Jerry Maguire (Tom Cruise).


Todo o elenco tem seu respectivo espaço no enredo bem definido, de forma que todos os atores cumprem afinco a função dramatúrgica de seus personagens dando-lhes vida.


É impossível não destacar o trabalho de 5 atores em especial. Tom Cruise (Jerry Maguire) construiu seu personagem de maneira meticulosa, especialmente no que diz respeito à “curvas dramáticas” de seu personagem.


Cuba Gooding Jr (Tod Tidwell) fez uma belíssima construção involuntária de seu personagem, isto é de dentro pra fora. Um personagem construído com uma certa agressividade, aos poucos, Cuba deixa sobressair o verdadeiro “eu” de seu personagem. A atuação impressionante de Cuba lhe rendeu um merecido Óscar de melhor ator coadjuvante pelo filme.


Renée Zellweger(Dorothy Boyd) imprime em sua personagem um carisma e uma sutileza admiraveis. A relação fraterna que construiu com Tom Cruise em cena é excepcional. A relação maternal que estabelece com o filho de sua personagem interpretado por Jonathan Lipnicki é encantadora.


Por falar em Jonathan Lipnicki , é preciso destacar a sua notável atuação junto aos personagens de Renée Zellweger e Tom Cruise. Jonathan é a grata surpresa do filme devido à naturalidade e carisma que apresenta em cena.


Por fim, menciono Jay Mohr (Bob Sugar) dono de uma interpretação sutil que passa quase imperceptível aos olhos do espectador, mas que cumpre a sua função de antagonista da história. Uma pena que não tenha maior destaque.



Jerry Maguire é um belíssimo filme, é aquilo que chamamos de “filme de transição”, elevando a carreira de seu diretor Cameron Crowe para outro nível. Aqui se estabeleceu traços que podem ser percebidos até hoje nos filmes de Cameron Crowe, com maior aprimoramento é claro.









quinta-feira, 22 de novembro de 2012

E ai Comeu?


 

 

 

 

 



Honório (Marcos Palmeira), Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) e Fernando (Bruno Mazzeo) são três homens á volta com o novo papel da mulher na sociedade.


O machista (ou seria amante a moda antiga?) Honório vive uma crise no relacionamento com Leila (Dira Paes), o escritor Fonsinho prefere relacionamentos furtivos com prostitutas e mulheres casadas.  Entretanto, tanto desprendimento afetivo está lhe causando uma crise de inspiração.


 O arquiteto Fernando foi deixado pela mulher vitória (Tainá Muller) e vive a famosa fossa pós-separação, mas a jovem Gabi (Laura Neiva), inteligente e cheia de vigor lhe devolve a autoestima perdida colocando mais cor e jovialidade na vida desse homem.



Baseada na peça de sucesso de Marcelo Rubens Paiva, “E ai comeu?” transpõe para o cinema a famosa “conversa de bar”. O enredo é pautado nas situações cômicas que surgem no bar, dessa forma se sobressai as demais tramas.


O diretor Felipe Joffily investiu em planos curtos, ágeis e mais abertos ao mesmo tempo. Utilizando o corte rápido de planos de maneira que se possa desenhar um retrato das situações apresentadas para o espectador.


Os flashbacks que surgem espontaneamente oriundos das lembranças dos protagonistas colocam o público a par das vidas dos protagonistas até aquele momento.


A montagem paralela estabelecida no esquema “bar-casa-trabalho-putero” no caso de Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) conferem um dinamismo e uma agilidade muito bem-vindos nesse caso.


Não podemos deixar de citar a direção espontânea de Felipe Joffily que trabalha as esquetes cômicas de maneira orgânica e crível. Joffily investe em closes priorizando seu trio protagonista, dando destaque aos atores nas suas lentes. Entretanto, o diretor peca ao inserir planos descritivos á exaustão, mas nada que prejudique a qualidade do filme como um todo e nem seu trabalho como diretor é apenas um detalhe que poderia ter sido corrigido.



 O melhor do filme é sem dúvida o roteiro.  Escrito a quatro mãos por Marcelo Rubens Paiva e Lusa Silvestre. Trabalhando com maestria na estrutura das esquetes cômicas. A construção de personagens bem definidos.  Os diálogos coloquiais diretos e certeiros, marca de Marcelo Rubens Paiva beiram o escatológico. Recheados de palavras de baixo-calão podem assustar os conservadores e falsos moralistas, porém é necessário observar as entrelinhas dos diálogos de Paiva e Silvestre e perceber que os diálogos e situações não têm qualquer cunho ou propósito de ofender e sim “homenagear” o sexo oposto.


A parceria de Lusa Silvestre com Marcelo Rubens Paiva confere ao roteiro maior embalsamento cinematográfico, enquanto Marcelo foi mestre na transposição da essência da sua obra teatral, especialmente no que diz respeito aos diálogos e personagens.


O elenco possuiu muitos destaques, a começar pelo trio protagonista que exibe excelente química cênica de modo que seria injusto apontar um ou outro, todos defendem bem os personagens de modo que Marcos Palmeira (Honório), Bruno Mazzeo (Fernando) e Emilio Orciollo Netto (Fonsinho) merecem aplausos por suas atuações.


Do elenco secundário Tainá Muller (Vitória) a ex- mulher indecisa de Fernando (Bruno Mazzeo) se destaca primeiramente devido ao vigor que empresta a personagem. Dira Paes (Leila) se destaca ao representar o retrato da mulher contemporânea.


Os grandes destaques do longa ficam por conta de Laura Neiva (Gabi) e Juliana Schalch (Alana) que humanizam suas personagens, lhes dando alma e não as deixando cair nos estereótipos de ninfeta e garota de programa respectivamente. É interessante também notar a evolução das duas atrizes. A de Laura do seu trabalho anterior no cinema no longa À deriva e a de Juliana de seus trabalhos anteriores na televisão.



Concluo dizendo que o longa cumpre sua proposta. A de ser uma comédia inteligente e reveladora sobre o universo masculino. Os atores acertaram em cheio em suas interpretações.


Aproveito para salientar que novas incursões de Marcelo Rubens Paiva no universo cinematográfico são sempre bem-vindas de modo que já espero pelo próximo filme com roteiro de sua autoria.  





sábado, 3 de novembro de 2012

Uma Jovem Tão Bela Como Eu


 

Ao preparar sua tese de doutorado com o tema “Mulheres Criminosas”, Stanislas Prévine (André Dussollier) se interessa particularmente pelo caso de Camille Bliss (Bernadette Lafont), uma jovem cantora de personalidade dúbia acusada de matar o amante. Prévine se encanta por camille (e por seu caso) que se empenha em provar sua inocência. Entretanto o envolvimento entre os dois transcende os limites do profissional, o que complica a situação do sociólogo.

 

Baseando-se no romance de Henry Farrell, François Truffaut retornou ao universo noir que permeou algumas de suas obras como “A Noiva Estava de Preto” e “A Sereia do Mississipi”. Desta vez, abordando a questão do beneficio da duvida em uma trama calçada no passado.

 

Em uma trama fundamentada principalmente nas lembranças do passado, François Truffaut utilizou os flashbacks aliados à montagem paralela como elementos essenciais na trama.

 

O diretor investiu em planos mais fechados, priorizando os atores na cena como é comum acontecer nas suas obras. Closes nos rostos dos atores são utilizados para captar suas expressões.

 

Como os flashbacks dão sentido da narrativa, Truffaut lhes conferiu agilidade. De modo que o flashback em questão desse o tom de determinada cena.

 

Se tratando de um filme calçado principalmente nas memórias da protagonista Camille (Bernadette Lafont) e no ato de contar a sua vida ao sociólogo Dr. Previne (Andre Dussoller) para sua tese, a presença do narrador se torna indispensável. O narrador em “Off” torna possível que o espectador mergulhe nas lembranças de Camille (Bernadette Lafont) de tal forma que possamos compreender a personagem.

 

A trilha sonora de Georges Delerue é essencialmente dramática, contribuindo para que o suspense da trama se desenvolva de maneira verossímil.

 

O roteiro de François Truffaut e Jean-Loup Dabadie é organizado de forma em que os flashbacks se sobrepõe à narrativa. Assim colocando a prova tanto às evidencias quanto a honestidade da protagonista Camille (Bernadette Lafont), concedendo ao espectador o beneficio da dúvida.

 

Os personagens foram bem delineados pela dupla de roteiristas de modo que a função narrativa de cada um bem claras, exceto por Camille (Bernadette Lafont) cuja personalidade é soturna.

 

A fotografia de Pierre-William Glenn é pautada no uso de sombras e cores frias, combinando com o clima soturno que permeia o filme.

 

A trilha sonora de George Delerue tem cunho dramático e remete ao universo de suspense do filme, conferindo um aspecto sombrio a narrativa.

 

O elenco todo se sobressaiu por excelência. Sobretudo Bernadette Lafont (Camille), que construiu uma personagem dúbia todo o tempo. André Dussollier (Dr. Prévine) construiu seu personagem com características idealistas.

 

De todos os casos amorosos da protagonista, Sam Golden (Guy Marchand) o músico parceiro de Camille é quem mais se destaca. Muito desse destaque se deve ao excelente desempenho do ator que construiu o personagem de maneira sedutora.

 

 

François Truffaut retornou ao universo noir de maneira excelente neste filme. Nessa trama surpreendente sobre o beneficio da dúvida, o diretor revisitou o universo do suspense, onde homenageou o diretor inglês Alfred Hitchcock, um de seus favoritos, além da própria filmografia.
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Análise Fílmica: Vanilla Sky





 


David Armes (Tom Cruise) é um jovem herdeiro de um gigantesco império editorial. Vaidoso, vive como sem maiores preocupações, emendando relacionamentos fugazes com diversas mulheres como Julie (Cameron Diaz). Contudo, ao conhecer a jovem Sofia Serrano (Penélope Cruz), sua vida ganha uma nova perspectiva.

 

Dirigindo está versão do filme espanhol “Abre los Ojos”, Cameron Crowe realizou o seu filme mais diferente. Diferente no sentido de que “Vanilla Sky” difere dos outros filmes do diretor no que diz respeito à forma.


O diretor opta por desconstruir a ordem cronológica habitual, fazendo uso da montagem paralela durante toda a trama.

Ao adotar três tempos fílmicos simultâneos, Crowe sobrepôs às cenas de forma que elas tivessem significados múltiplos, sobretudo no que diz respeito ao protagonista David Armes (Tom Cruise).

 

 É correto afirmar que o grande “motor” da narrativa é o subconsciente do protagonista. Deste modo a opção do diretor pelos closes e planos descritivos se mostram necessários por situar o espectador no universo particular do personagem. A narração em “Off” de certo modo dá clareza a narrativa em torno do protagonista.

O filme adquiri outro sentido após a cena do acidente envolvendo os personagens David (Tom Cruise) e Julie (Cameron Diaz). A partir desse momento o espaço narrativo se divide em três tempos fílmicos: passado, presente e futuro. Flashbacks e
Flashforwards se intercalam com o objetivo de construir o ponto de virada da trama.

Os movimentos de câmera expõem de maneira visceral o status e a fragilidade interior do protagonista. Oras lhe engrandecendo devido a sua posição social, oras diminuindo devido a sua fragilidade interior.

O roteiro de Cameron Crowe é hábil ao trabalhar as mais diversas camadas da trama e de seus personagens de modo que soam convincentes. Os diálogos tem um aspecto poético que combina com o enredo.

 


A montagem trabalha lado a lado com enredo de modo há constituir os tempos e espaços fílmicos com maestria. A montagem tem a clara função de fundamentar os arcos dramáticos do roteiro de modo que o filme soasse verossímil. Atuando na trama como um quebra-cabeça dramático.

A trilha sonora de Nancy Wilson é pautada em duas vertentes: O rock alternativo que confere ao filme um aspecto mais “Sensorial” que combina com o universo “Futurista” da trama e o pop/rock da vigor a narrativa.

 

Cameron Crowe realizou em “Vanilla Sky” um trabalho ousado. Foi sem duvida um grande exercício dramatúrgico para o diretor no sentido que em “Vanilla” Crowe explora outro universo dramático ao contrário daqueles a que estava acostumado até então em seus trabalhos anteriores.  É um filme complexo devido às diversas camadas narrativas e de entendimento que se sobrepõe.

 

O fato é que Cameron Crowe realizou mais uma vez um excelente trabalho. Sabendo administrar com maestria a direção. Tecnicamente impecável e com uma direção competente e segura. Cameron Crowe merece honras aplausos pelo trabalho desenvolvido em “Vanilla Sky”.

PS: recomendo que assista ao filme mais de uma vez, devido às inúmeras camadas de entendimento que o filme apresenta.

 





 

           

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Say Anything...


Lloyd Dobler (John Cusack) nunca fez parte da elite do colegial. Pelo contrario, tímido, não é popular e seu grande sonho é tornar-se um pugilista de sucesso. No dia da formatura, ele se apaixona pela garota mais popular do colégio, Diane Court (Ione Syke) e eles começam um romance promissor. Entretanto o romance vai contra os planos que o pai de Diane tem para a sua filha.

 

Após ter escrito o roteiro de “Picardias estudantis” baseado no seu livro sobre a experiência tardia no colegial, o caminho natural para Cameron Crowe era dirigir o próprio roteiro e assim ele fez, utilizando outra vertente desse tema tão rico que é a juventude.

 

Cameron Crowe é um diretor de narrativas ágeis e em “Say Anything...” não é diferente. Com uma sequencia rápida de planos e a presença da música, um elemento essencial no seu trabalho. Crowe construiu “Say Anything...” através de contrastes. Enquanto que com Lloyd (John Cusack) os planos são mais abertos e expansivos, com Diane (Ione Syke) os planos são mais fechados e retraídos.

 

Crowe alternou planos abertos e planos fechados ao longo de todo o filme. Nas cenas dos protagonistas ele utilizou planos mais fechados e closes com o rosto em foco. Já em cenas mais ágeis (a festa do inicio do filme é um exemplo) utilizou planos mais abertos com uma maior profundidade de campo.

 

Àlias é interessante de se observar que o “Jogo de câmera” permeia todo o filme. Ora tem uma grande profundidade de campo mantendo todos os personagens em perspectiva. Oras não focalizando apenas nos protagonistas Diane (Ione Syke) e Lloyd (John Cusack).

 

 

O maior exemplo dos contrastes de Digam o que Quiserem está na fotografia. László Kovács (Diretor de fotografia) fez uso de tons diferentes para evidenciar os universos distintos dos protagonistas. Enquanto que com Lloyd (John Cusack) László utilizou cores vivas e marcantes em suas lentes, indo de encontro com a personalidade do personagem.  Já com Diane (Ione Syke), Lászkó optou pela sutileza utilizando tons mais frios em suas lentes.

 

A trilha sonora tem uma expressiva importância narrativa, como sempre, afinal estamos falando de Cameron Crowe e nos filmes do diretor, a musica é um elemento essencial. Em “Say Anything...”, a música é quase uma personagem. Crowe optou pelo pop rock de bandas e músicos da época como Peter Gabriel, Mother Love Bone entre outros.

 

O roteiro de Cameron Crowe é extremamente realista ao expor os dilemas dos personagens em fase de transição com naturalidade. Os diálogos são simples e diretos e os personagens criveis.

 

O elenco é relativamente curto, o que garante aos atores momentos de destaque. John Cusack (Lloyd) surge aqui como a perfeita representação do jovem tímido e apaixonado, exatamente como o personagem pede. Ione Syke (Diane) trabalhou bem as facetas de sua personagem: linda e popular, mas socialmente reprimida pelo pai.

 

Um papel particularmente difícil coube a  John Mahoney que interpreta Jim Court, o pai da protagonista Diane (Ione Syke). É um papel cheio de nuances e John Mahoney se saiu muito bem.

 

Pamela Adlon (Rebecca) e Chynna Philips (Mimi) também se destacam como as amigas do protagonista. Especialmente a segunda devido à maneira de sua personagem lidar com uma decepção amorosa.

 

Em “Say Anything...”, Cameron Crowe fez o que chamamos de um filme genuíno. A premissa é simples e poderia soar como algo clichê, mas não é o que acontece neste filme. Crowe fez aqui um espelho dessa fase de mudanças expondo os problemas de maneira natural. E não poderia ser diferente afinal os dilemas da juventude é algo universal.

 

 

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ted


 

 

Longa encontra sua força na metalinguagem, no humor acido e no carisma de seus “atores” Protagonistas.

 

Na infância, John (Mark Wahlberg) era um menino timido e sem amigos. Em um natal ele desejou ganhar um urso de pelucia que pudesse ser o seu companheiro. Mais que isso, desejou que Ted(voz de Seth MacFarlane) ganhasse vida, jurando que se isso acontecesse ele e Ted seriam amigos para sempre. Ted ganhou vida e é o amigo inseparavel de John. Juntos eles falam de sexo , mulheres ,bebem cerveja e fumam maconha,o problema é que Ted está atrapalhando a vida social de John, especialmente com a sua namorada Lori (Mila Kunis) que lhe da um ultimato: Ou ela ou Ted.

 

O criador de uma familia da pesada Seth Macfarlane resolveu descarregar o humor característico da sua série de TV nas telas do cinema fazendo uma sátira da própria metalinguagem.

 

O filme se inicia com um prólogo explicando o inicio do relacionamento de John com seu urso Ted com o objetivo de situar o espectador do enredo.

 

Após esse pequeno prólogo a historia salta para a atualidade com John interpretado por Mark Wahlberg aos 35 anos de idade. Neste momento o filme ganha agilidade com uma sucessão rápida de planos e situações cômicas que beiram o escracho (no bom sentido)

 

O diretor e roteirista Seth Macfarlane utilizou todos os elementos que estavam ao seu alcance para construir seu filme.  Estão lá os flashbacks e até a montagem paralela aparece em certo momento do filme. Cortes rápidos e precisos dão a narrativa a agilidade e o frenesi necessários. Entretanto closes e câmeras altas e baixas aparecem com frequência. A câmera do diretor prioriza os “Atores” principais a John (Mark Wahlberg) e Ted (com voz do próprio diretor) a todo o momento.

 

Macfarlane utilizou-se da metalinguagem a todo o momento inclusive para criar uma realidade paralela onde Flash Gordon e outros personagens da infância de John e Ted vivem. Para isso Macfarlane utilizou-se da montagem paralela.

 

A propósito a montagem paralela se torna um elemento recorrente no segundo ato quando John e Ted são obrigados a se separar devido ao ultimato de Lori.

 

A presença de um narrador em off permeia toda a trama, oferecendo ao espectador uma visão de fora da historia ali contada.

 

O roteiro escrito a 6 mãos por Seth Macfarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild é repleto de elementos do universo pop (Susan Boyle e Justin Bieber são algumas das personalidades citadas), com um humor ágil e diálogos certeiros. Além de construir magnificamente a relação entre os dois amigos sem soar como uma piada. Pelo contrário a relação entre John e Ted é bastante crível.

 

Os roteiristas optaram por centralizar a trama na relação de John (Mark Wahlberg) com Ted e na reação da namorada de John Lori (Mila Kunis) perante a relação pouco usual do seu namorado com o brinquedo de infância. Deste modo Wahlberg se destaca com uma atuação com uma veia cômica acentuada.

 

 É interessante notar as variações na personalidade de John. Quando está com Ted ele é uma criança ou um adolescente e quando está no trabalho ou com sua namorada é um adulto. Mark Wahlberg trabalha as oscilações de seu personagem com maestria.

 


  As cenas de John com Ted são tão hilárias que é extremamente possível acreditar que Ted é realmente real. Por este motivo a equipe de efeitos especiais merece honras assim como o seu diretor Seth Macfarlane que dubla a voz de Ted tanto pelos efeitos especiais quanto pela dublagem impecável.

 

Mila Kunis (Lori) tem seu devido espaço na narrativa sem, entretanto interferir na dinâmica que acontece entre Ted e John. O carisma e presença que Mila empresta a Lori impede que a personagem se torne uma namorada chata e possessiva. Ainda mais quando Lori entende que os três (ela, John e Ted) podem e (Precisam) coexistir.

 

Com um humor politicamente incorreto, sátira inteligente, bons atores, excelente uso dos efeitos especiais, uma direção criativa (ainda que não seja inovadora em sua maneira de filmar) e ótimo uso da metalinguagem “Ted” é uma comédia excelente, a passo que fico no aguardo do retorno de Ted as telonas em uma continuação já aguardada.

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tropa de Elite 2 : O Inimigo Agora é Outro


Filme evoluiu em comparação ao primeiro filme tanto na proposta, narrativa quanto na construção dos personagens.





Em Tropa de Elite 2, a dedicação extrema do capitão nascimento (agora coronel) ao trabalho tem seus bônus e ônus. O bônus é que graças a uma operação malsucedida aos olhos da sociedade, mas bem sucedida aos olhos do governo. Tal fato lhe garante o cargo de subsecretário de segurança o que o coloca em posição melhor para defender o que acredita, mas lhe custa à relação com Mathias (André Ramiro) e principalmente a relação com a ex-mulher Rosane (Maria Ribeiro) e o filho adolescente Rafael (Pedro Van Held). O fato é que Rosane agora está casada com Fraga (Irandhir Santos), o antagonista de Nascimento tanto na vida pessoal quanto profissional.


Tropa de Elite 2 não é apenas uma simples continuação com a intenção de explorar um filão de destaque no cinema nacional. Pelo contrário. É uma evolução ao primeiro filme, tanto na proposta e temas abordados quanto na construção dos personagens. ( o que talvez tenha faltado ao primeiro filme).


É interessante observar alguns aspectos ali presentes. A questão do tempo na narrativa, à agilidade e a dilatação do mesmo (quando necessário). De fato tropa de elite é um filme ágil tal como foi o primeiro. A diferença aqui é que há uma maior preocupação com os diálogos e a humanização dos personagens (mérito dos roteiristas José Padilha e Bráulio Mantovani). A opção pela montagem paralela que percorre todo o filme com ênfase nas cenas de Fraga (Irandhir Santos) e Nascimento (Wagner Moura) reforça o antagonismo ideológico, mais do que pessoal presente entre eles.


A fotografia de Lula carvalho reforça o contraste entre a milícia e o lado honesto da policia representado por Nascimento (Wagner Moura). Se de um lado há um interessante jogo de luzes e sombras de outro há uma clareza visual representando Nascimento.


Colocar o filme sobre a perspectiva de nascimento conferindo a ele a figura do narrador contribuiu para humanizar o personagem de modo que entendemos suas razões por ele expor seus pensamentos.


  Aliás um dos principais motivos que tornou o personagem mais humano nessa sequência é o fato de que agora coronel Nascimento é pai. A relação atribulada que possui com o filho Rafael (Pedro Van Held). Dois personagens explosivos (cada um a sua maneira) que encontram na luta um elo em comum, uma forma de comunicação. A propósito a cena em que pai e filho lutam juntos expondo o amor e suas fragilidades já vale o ingresso tamanha emoção e verdade cênica transmitida pelos dois atores. É neste momento que Nascimento se permite sair da “casca” que se formou em torno dele mesmo e se expor sem armaduras. A química entre Wagner Moura e Pedro Van Held transcende a tela de modo que não é exagero apontar o jovem ator como a revelação do longa.



Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro evoluiu consideravelmente em relação ao primeiro filme. Não se tratando de uma simples sequencia feita por motivos comerciais. Pelo contrario é uma sequencia que tem razão de existir pela amplitude de temas que apresenta em seu enredo. É uma outra vertente desse tema tão rico, além do filme apresentar uma constante evolução no que diz respeito à estética, narrativa e construção de personagens. É um filme de contrastes temáticos e de extremo cuidado técnico e artístico. Só uma palavra pode exprimir o que “Tropa 2” representa: Perfeição.