Em Compramos um zoológico, Cameron Crowe fez um filme carregado de sutilezas sobre
a difícil missão de recomeçar. Assim como seus personagens Crowe da um novo
sentido a carreira com este filme.
Benjamin
Mee (Matt Damon) é um viúvo e pai de família que tenta se reerguer após a
recente morte de sua esposa. Ele luta contra as lembranças (físicas e
emocionais) da perda da esposa enquanto se encarrega de criar seus filhos, a
doce menina Rosie (Maggie Elizabeth Jones) e o adolescente Dylan (Colin Ford),
que enfrenta uma fase de revolta e negação pela recente morte da mãe. Após
Dylan ser expulso do colégio, Benjamin resolve dar um novo rumo as suas vidas:
Compra um zoológico a beira da falência e se emprenha em reconstruí-lo, ao
mesmo tempo em que ele e seus filhos reconstroem suas vidas.
Nós
compramos um zoológico é o retorno de Cameron Crowe aos filmes de ficção (do
qual estava longe desde Elizabethtown de 2005). Trata-se da adaptação cinematográfica do
diretor para o livro homônimo de Benjamin Mee, ou seja, é uma historia baseada em
fatos reais.
Crowe inicia o filme de modo magistral: em flashforward e com uma narração em off
feita pelo personagem Dylan (Colin Ford), que em um epilogo narra um breve introdução
sobre o pai Benjamin (Matt Damon), antes de o tempo fílmico iniciar de fato.
Cameron Crowe investiu em uma direção orgânica, privilegiando os atores e
seus respectivos diálogos na narrativa. Há sim o dinamismo característico da
maneira de filmar do diretor, porém o dinamismo não se sobrepõe sobre o que é
mais importante: Os personagens e a historia.
Como disse acima, Cameron Crowe priorizou o poderoso roteiro e os
competentes atores que tinha em mãos. Por isso, investiu em planos próximos e closes,
tornando a narrativa a mais realista possível.
A fotografia
de Rodrigo Prieto se destacou pela naturalidade e
pelo magnetismo visual. O uso de um granulado suave em determinado momento
expos sua força a favor da narrativa.
O roteiro de
Cameron Crowe e Aline Brosh McKenna baseado na obra
homônima de Benjamin Mee é repleto de sutilezas. Crowe e Aline concentraram
suas forças em criar uma historia que tivesse força visual e diálogos simples,
porém carregados de intensidade.
Uma coisa
interessante a se observar nos filmes de Cameron Crowe são os arcos de evolução.
Seus personagens sempre trilham uma jornada pessoal e evoluem conforme os
filmes avançam. Esta característica pode ser observada aqui principalmente nos
personagens Benjamin Mee e Dylan Mee (Matt Damon e Colin Ford respectivamente).
O elenco dá a
impressão de ter sido cuidadosamente escalado. Matt Damon revela outra faceta
de seu trabalho ao interpretar o protagonista. Ele e Colin Ford (Dylan) são responsáveis
por alguns dos melhores momentos do filme.
Como eu
disse acima, Colin Ford (Dylan), é um dos principais destaques do filme. O ator
construiu um personagem complexo com uma interpretação ora carregada, ora
sutil. Suas cenas com Matt Damon que interpreta seu pai são o ponto alto do
filme.
Maggie Elizabeth Jones (Rosie) tem uma interpretação pautada na inocência
e nas singelas nuances infantis. Maggie imprime em sua personagem uma interpretação
quase pueril. É interessante observar o contraponto dramático entre Maggie e
Colin Ford que interpreta seu irmão, o revoltado Dylan.
Elle
Fanning (Lily) é outro destaque. É impressionante o crescimento da atriz
conforme o filme avança. Sua parceria com Colin Ford é excelente. Eis uma atriz
que vale acompanhar o trabalho daqui pra frente.
A
trilha sonora de “nós compramos um zoológico” é uma agradável surpresa para os fãs
do diretor, pois todos sabem o papel que a musica exerce tanto nos seus filmes,
quanto na sua vida pessoal.
A trilha sonora a cargo de Jónsi tem ares de renovação: ao contrario do
rock n´roll vigoroso de filmes como Vanilla Sky e Quase Famosos, aqui o rock e o folk marcam presença se encaixando perfeitamente no contexto do
filme.
É inevitável não ser transformado pela experiência cinematográfica de
assistir “Compramos um zoológico”. Cameron Crowe fez um filme carregado de
sutilezas e metáforas a respeito do relacionamento humano. Posso afirmar que Crowe
deu outro sentido a sua carreira com este filme.