quarta-feira, 27 de março de 2013

Especial Diretores:Quentin Tarantino




Nascido no dia 27 de março de 1963 em Knoxville no Tennessee Quentin Tarantino é hoje um dos mais populares diretores da geração dos anos 90 com um cinema exclusivamente autoral ainda que munido de referências Tarantino incorpora essas referencias ao seu estilo fílmico.
Criando um universo estético em seus filmes onde predominam as referências que ajudam a definir o estilo dos seus filmes. Estão lá à violência exacerbada, diálogos rápidos, menções a cultura pop, aos quadrinhos e animes.

Tarantino é conhecido pelos seus roteiros não lineares e enredos com varias tramas que convergem além de ser autor de grandes e poderosos diálogos e cenas marcantes. Seus filmes são carregados de força visual e de personagens e situações marcantes.

Seu primeiro filme foi “Cães de aluguel” (1992) escrito durante o período em que Tarantino trabalhava em uma locadora de vídeo-o que o influenciou fortemente.

Antes de lançar “Cães de Aluguel” Tarantino escreveu roteiros de filmes com “Amor a Queima Roupa” dirigido por Tony Scott, “Assassinos por Natureza” de Oliver Stone e “Um Drink no Inferno” dirigido por seu amigo e parceiro habitual Robert Rodriguez.

Em 1992 “Cães de Aluguel” finalmente é lançado revitalizando o cinema independente e colocando Tarantino no topo da lista dos cineastas em que se devia prestar atenção.

A consagração final veio com “Pulp Fiction” (1994) com uma historia com varias narrativas que se entrelaçam entre si e dividida em capítulos “Pulp Fiction” garantiu o primeiro Oscar da carreira do diretor o de melhor roteiro original (estatueta que ganhou novamente pelo seu mais recente filme “Django Livre” na mesma categoria).

Tarantino faz parte de uma geração de cineastas que aprendeu sobre a arte de se fazer um filme como espectador os assistindo e não em escolas de cinema, o que fez que ele se apaixonasse cada vez mais pela sétima arte – paixão essa visível em cada filme seu, pois em todos os filmes há um tributo à arte cinematográfica e aos seus múltiplos gêneros.

Abaixo, vamos conhecer mais sobre a sua filmografia aproveitando a data especial de hoje- hoje, dia 27 de março Tarantino faz 50 anos de vida e com uma carreira MUITO bem sucedida.


Cães de Aluguel (1992)

Na estreia de Tarantino na direção, ele nos apresenta a uma trama sobre um grupo de ladrões na preparação para se realizar um assalto e os conflitos decorrentes do mesmo. Um filme constituído principalmente de flashbacks e intersecções fílmicas e narrativas. Destaca-se pelo roteiro não linear, o uso da violência como método narrativo (que se tornaria uma de suas marcas) e inúmeras referências á cultura pop.

Pulp Fiction- Tempo de violência (1994)

Em seu segundo filme, Tarantino continua investindo em narrativas não lineares e no uso da violência como um artifício dramático. Ele aposta em tramas paralelas que se entrelaçam em um dado momento. Ao contar principalmente a história de Vicent Vega (John Travolta) e Mia Wallace (Uma Thurman) utilizando-se de flashbacks e FlashForwards além do usual travelling.
 Vale resaltar que aqui a violência é usada de forma verborrágica e as inúmeras citações a cultura pop presentes no roteiro-que vão de Eminem a Madonna.

Jackie Brown (1997)

Neste terceiro filme, Tarantino retorna ao gênero policial- ele já tinha realizado “Cães de Aluguel” em um tributo ao gênero Blaxploitation. Optando pela desconstrução da montagem e do roteiro e apostando nos flashbacks e FlashForwards com cortes certeiros e um travelling bem utilizado. “Jackie Brown” é um filme no mínimo interessante, ainda que sentimos falta da violência exacerbada de seus outros filmes, pois em “Jackie Brown ela aparece de forma implícita”.


Concebido originalmente como um único filme e dividido em duas partes devido à longa duração, “Kill Bill” nos apresenta a saga de vingança da “Noiva” (Uma Thurman). Tarantino apresenta uma narrativa não linear como é comum em seus filmes. No “primeiro volume”, Tarantino investe mais na ação e nas intersecções fílmicas em detrimento dos diálogos. Porém, no “segundo volume” investe mais nos diálogos e da maior embalsamento dramático aos personagens e a própria história. Tarantino confere ao filme uma direção coreografada e se revela um excelente diretor de atores.

Grindhouse: A Prova de Morte (2007)

Nesse longa, parte integrante do projeto Grindhouse, Tarantino presta homenagem aos filmes de horror dos anos 70. O diretor nos apresenta uma história que começa tímida, mas se desenvolve de maneira surpreendente. Uma direção de atores excelente e com o uso inteligente do corte seco. A construção de outro universo fílmico que de certa forma é uma representação da primeira história funciona, mas no inicio deixa o espectador meio perdido. Além das inúmeras referências e citações a outros filmes o destaque fica para a auto referência que Tarantino faz á própria obra.


A primeira vista pode parecer que “Django” é um filme “normal” em relação aos filmes anteriores do diretor no sentido que “Django” conta uma única historia (embora com diversos plots). Mas a força do filme esta na historia e personagens impactantes.  Apostando em uma direção ágil e em flashbacks bem constituídos ele realiza um filme nada menos do que épico ao prestar tributo ao gênero “Western”.



Curta metragem "Tarantino´s Mind" com Selton Mello e Seu Jorge onde eles divergem sobre as teorias de ligação entre os filmes de Tarantino.
     



  




terça-feira, 26 de março de 2013

Coração Vagabundo





Desmistificar um artista do porte de Caetano Veloso não é uma tarefa das mais fáceis, mas esse parece ser o principal mote de “Coração Vagabundo” o documentário sobre o artista dirigido por Fernando Grostein Andrade durante a turnê internacional “A Foreign Sound”.
Ao acompanhar Caetano em sua turnê internacional Fernando estabelece com o cantor (que aqui desempenha o papel de “ator social”) e consequentemente com o espectador uma relação de proximidade com o seu protagonista, buscando assim a identificação do publico com o material que é exibido.

Conferindo á o próprio Caetano a função de "guiar" o filme, o documentário estabelece assim uma relação próxima com o seu público seja ele o espectador como já foi dito ou o próprio público do artista que foi assisti-lo durante a sua turnê internacional.

O artista (aqui o “ator social”) desconstrói a todo o tempo qualquer imagem de mito que os longos anos de carreira possam ter lhe trazido. Pelo contrário, Caetano se expõe com naturalidade o que permite ao diretor Fernando Grostein Andrade possa conferir ao filme um aspecto mais intimista.
A opção de Fernando de construir o filme como sendo um documentário observacional de sua parte (e não participativo), isto é a figura do realizador (no caso Fernando) de não aparecer frente à câmera garante maior foco e destaque na figura de Caetano, apesar de nós quanto espectadores sabermos que Fernando está ali presente observando e registrando tudo.

Há em “Coração Vagabundo” uma agilidade e sobreposições de planos que acompanham o ritmo do cantor. Nesse sentido, Caetano “comanda” a narrativa fílmica, pois é através dos seus depoimentos que determinam a ordem das imagens na tela.


 O documentário possui uma estrutura narrativa muito dinâmica. Cobre o lado artístico do cantor, incluindo ensaios para a turnê, bastidores, a relação de Caetano com o público (e do público para com ele), as influências e como o músico se relaciona com a crítica. Todos estes fatores garantem ao documentário uma perspectiva muito pessoal e permitem que Caetano se exponha tal como é: uma pessoa humilde, um artista criativo e uma pessoa como uma ideologia muito clara á respeito do papel da música na sua vida e consequentemente na sociedade.

O fato de o próprio perfilado ser o “guia” do filme garante ao cantor um ambiente confortável para que possa se expor com naturalidade e discursar sobre vários temas que cercam o seu universo musical: o tropicalismo, a relação com a crítica e suas inspirações por exemplo.

O documentário se revela muito “aberto” no sentido de que abre espaço para o público discursar sobre a importância de Caetano Veloso, este, aliás, é um dos melhores momentos do filme com depoimentos mais que especiais de personalidades como Pedro Almodóvar e Michelangelo Antonioni (sobretudo considerando que Antonioni deu uma de suas ultimas entrevistas, vindo a falecer posteriormente).


Com um Caetano totalmente aberto e acessível, Fernando Andrade criou uma atmosfera intimista no longa que permitiu ao espectador encontrar uma narrativa passível de identificação ao grande público (sendo fã do cantor ou não).

O resultado de “Coração Vagabundo” é uma experiência cinematográfica agradável e reveladora no sentido de que exibe todas as inúmeras nuances de um artista de talento e carismas imensos com propriedade e leveza.












sábado, 23 de março de 2013

Grindhouse:Planeta Terror




Grindhouse é a alcunha dada aos filmes B de terror produzidos nos anos 70. Em foi com o intuito de prestar uma homenagem a esse gênero hoje em franca decadência que nasceu o projeto homônimo dirigido por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, contendo dois filmes sendo o primeiro “Planeta Terror” dirigido por Rodriguez.

A dançarina Cherry Darling (Rose Mcgowan) decide largar seu trabalho em um clube de strip-tease para perseguir o sonho de ser comediante. Após pedir demissão cherry vai ao encontro do ex-namorado El Way (Freddy Rodriguez). Porém, cherry é atropelada e atacada por zumbis. O mesmo acontece com Dakota (Marley Shelton) que sofre constantes ataques do marido William (Josh Brolin), sobretudo depois que ele foi contaminado com o vírus zumbi. Juntos os sobreviventes terão que lutar pela sua sobrevivência, cuja única alternativa é o extermínio da raça dos zumbis.

Há um certo “descuido” estético em “Planeta Terror”. O diretor Robert Rodriguez construiu um universo narrativo quase inverosímel para ambientar seu filme bem como reproduzir cenários marcados pela falta de cuidado visual para ser captado pela sua “câmera nervosa” marcada pelos cortes bruscos.
Ao produzir planos ágeis e utilizar elipses, Rodriguez tinha a intenção de provocar tensão dramática e mexer com o horizonte de expectativas do espectador ao dar ao enredo (bem como criar um “suspense”). Mas não é isso que acontece, pois o diretor executa o corte dos planos bem em momentos chave quebrando assim o clímax das cenas.

Robert Rodriguez “jogou nas onze” em “Planeta Terror”. Dirigiu, escreveu o roteiro, foi o responsável pela trilha sonora bem como pela fotografia. E foi nesse ultimo quesito que Robert realizou bem sua função (ainda que modestamente). Ao efeito de desfoque nas suas lentes (especialmente nas cenas de invasão zumbi) em meio ao fundo negro predominante. Esse efeito “borrado” dá ao filme uma característica “de baixo orçamento”, indo de encontro com a proposta do projeto “Grindhouse”: revitalizar o cinema de gênero.

O roteiro escrito pelo diretor Robert Rodriguez lembra muito os primeiros filmes de seu parceiro de projeto “Grindhouse” Quentin Tarantino, especialmente “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction” no sentido de que a estrutura do roteiro de ambos os filmes são muito semelhantes. Acontece que enquanto Tarantino utilizava suas referências à exaustão, porém convertendo-as á sua marca própria, Robert Rodriguez usa essas referências, não só de Tarantino como de outros filmes e diretores como uma colagem sem imprimir seu estilo.

O roteiro também tem muitas falhas de continuidade, (fato que se agrava com os cortes bruscos e elipses excessivas do filme) deixando o espectador confuso em muitos momentos. Além disso, o roteiro é recheado de momentos nonsense que prejudicam ainda mais o desenrolar do filme, bem como seu desempenho.

Se há algo que realmente salve (se é que á essa altura o filme tenha salvação) é o elenco. Os atores desempenham com afinco seus respectivos personagens por mais fora do normal que eles pareçam ser.

Rose Mcgowan embarca nas “viagens” do diretor atuando com afinco. Rose imprime a cherry um trejeito teatral, como se a personagem tivesse saído dos quadrinhos, sem, entretanto soar risível. Pelo contrário, cabe perfeitamente na personagem.

Freddy Rodriguez compõe El Way acentuando as diversas nuances do personagem de modo que transmite ao espectador uma duvida a respeito do caráter do personagem. Sua química com Rose Mcgowan é algo louvável, pois os dois atores tem empatia quando juntos.

Marley shelton interpreta Dakota com uma atuação que vai em uma crescente ao longo do filme. Da mulher reprimida, medrosa que sofre com os ataques do marido Dr. Brock (Josh Brolin) e as consequências das ações dele á uma lutadora no sentido literal da palavra.
Por sinal, Josh é outro que atua de maneira excelente, sendo a perfeita personificação de “O médico e o Monstro” atual.

“Planeta Terror” acaba se tornando a tentativa (QUASE) fracassada de Robert Rodriguez prestar um tributo a um gênero cinematográfico em decadência. No entanto, Rodriguez acaba entregando ao espectador uma colagem de tudo o que viu em sua vida cinéfila. Faltou ao diretor à genialidade de saber extrair das suas referências um estilo próprio como faz o parceiro Tarantino (parceiro esse que Rodriguez copia a exaustão). Espero o diretor nos apresentar um trabalho autoral em uma próxima oportunidade não apenas uma “colagem”.        




sexta-feira, 15 de março de 2013

Kill Bill Vol. 2



“Kill Bill” foi concebido para ser um único filme por seu diretor, Quentin Tarantino. Porém, devido à longa duração do filme (quase 4 horas) e por uma jogada de marketing de sua distribuidora, o longa foi dividido em duas partes.
Kill Bill Vol. 2 começa onde a Vol.1 terminou. Após se vingar de O-Ren Ishii (Lucy Liu), a Noiva (Uma Thurman) continua a sua vingança contra os que restam: Budd (Michael Madsen) e Elle Driver (Daryl Hannah) até conseguir chegar ao seu objetivo principal, Matar Bill (David Cerradine).

Nesta “segunda parte”, Tarantino se aprofunda no universo estilístico abordado em “Kill Bill”. Bem como garante embalsamento psicológico aos seus personagens e consequentemente ao enredo.

Com suas narrativas não lineares características, o filme se inicia com um flashback onde podemos conhecer o passado da Noiva que na realidade se chama Beatrix Kiddo. Tarantino promove aqui um interessante jogo de câmera, focalizando assim o rosto de seus atores. É necessário salientar, o magnífico trabalho de fotografia em preto e branco nesse momento. Além de um interessante contra luz que confere um suspense a respeito dos personagens.
O estilo Tarantino de filmar está aqui. O filme é recheado de elipses, sobreposições de planos, plongeê e contra-plongeê, zoom in/out e telas divididas para evidenciar os momentos da “Noiva”, além de um travelling muito bem executado.

Com um filme dividido em capítulos, Tarantino se apoia em flashbacks construídos com perfeição para demonstrar as origens da Noiva. Elipses de tempo e um corte seco e preciso dos planos garantem agilidade a história.
As cenas de luta nessa “parte do filme” acontecem em menor número. Mas quando ocorrem são cenas muito bem coreografadas, Tarantino garante ao longa uma excelente direção cênica.

A montagem sempre é o principal aliado da direção em um filme (ou pelo menos deveria ser). Em Kill Bill ela é essencial funcionando como elo entre a parte 1 e 2 e entre os capítulos do filme. A montagem em flashback. Além disso, a montagem em flashback é um dos principais pilares do enredo, funcionando como um potente recurso narrativo.

 A música é anti-diegetica (fora do universo ficcional do filme). A trilha como é comum nos filmes de Tarantino é bastante eclética. Indo desde o country ate trilhas incidentais de suspense, muitas inclusive de outros filmes famosos, funcionando como uma espécie de tributo.

O roteiro de Quentin Tarantino nesse “segundo volume” garante maior embalsamento dramático aos personagens. Inclusive humanizando o principal vilão Bill (David Cerradine). Há uma maior construção de personagens, tornando-os ainda mais criveis.
Há também uma maior preocupação do diretor em contrabalançar as cenas de batalha com o diálogo. O que acaba resultando em ótimos diálogos cheios de ironia, afinal estamos falando do criador de diálogos de humor cortante como visto em “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”, por exemplo.

    A fotografia de Robert Richardson é extremamente eficiente no sentido que colabora para construir um universo fílmico impactante. Os flashbacks em preto e branco, assim como o prólogo inicial acentuam a grandiosidade do enredo.

O elenco é encabeçado por Uma Thurman que mantém uma interpretação magnífica apoiada nas diversas nuances da personagem. Uma “encarna” a personagem com perfeição.
Daryl Hannah (Elle) viu seu papel crescer consideravelmente em comparação ao “Volume 1”. Daryl compôs sua personagem com a frieza necessária, atuando com brilhantismo. Uma antagonista á altura da “Noiva” (Uma Thurman).

David Cerradine compõe um “Bill” frio e humano ao mesmo tempo. As cenas com Uma e Perla Haney-Jardine interprete de B.B a filha dos dois. 
David empresta ao personagem todo o seu talento,carregando-o de múltiplas nuances, permitindo ao espectador quase ter compaixão pelo principal vilão do filme (veja bem, eu disse QUASE).

Aliás, Perla é a grata surpresa desse “volume” atuando de forma genuína como é comum a crianças da sua idade. Mas Perla tem um magnetismo diferente no olhar o que permite a ela estar no mesmo nível cênico de Thurman e Cerradine. Um fato notável, visto que ela era apenas uma criança na época.

Michael Madsen (Budd) interpreta o irmão de Bill com uma nuances que beiram a marginalidade. Michael se destaca pela maneira que resalta os trejeitos marginais, vingativos e ambiciosos de seu personagem.


Tarantino realizou em “Kill Bill” mais um fantástico longa, o meu filme favorito dele. Em “Kill Bill” Tarantino fez mais do que um tributo a um gênero, fez um filme estilizado mesmo cheio de referências, que consagraria de vez o seu estilo de filmar.  







  

quinta-feira, 14 de março de 2013

Kill Bill Vol 1



Quentin Tarantino faz parte de um grupo de diretores que teve a sua formação no cinema na “raça” e com base intelectual inteiramente no home vídeo. Para tanto, é natural que carregado dessas inúmeras referências fílmicas Tarantino faça um tributo á esses gêneros em seus filmes. Como no caso de Kill Bill onde faz um tributo (ainda que a sua maneira) aos filmes de artes marciais japoneses.

 Construído em uma narrativa não linear, Kill Bill nos apresenta á “Noiva” (Uma Thurman).  Grávida é noiva é vitima de uma tentativa de homicídio pelo grupo do esquadrão assassino de víboras mortais do qual ela fazia parte. Após ficar quatro anos em coma à noiva vai em busca da sua vingança.

O diretor imprimiu ao filme uma direção coreografada, com planos longos, intersecções e sobreposições de planos.
Com flashbacks bem construídos e cortes secos permeados pelo empolgante jogo de câmera imprimido pelo diretor, que investe em planos mais fechados de modo a construir uma tensão dramática no filme.

Fazendo uso inteligente das elipses e dos flashbacks, Tarantino coloca o espectador a par das motivações da motivações da noiva para realizar a sua vingança. Ao mesmo tempo confere uma agilidade narrativa em contraponto os planos de longa duração.
Além da violência exacerbada característica de seus filmes, Tarantino inseriu em “Kill Bll” um intercambio de mídias ao inserir flashbacks no estilo anime. contribuindo assim, para criar um universo estético estilizado condizente com a narrativa proposta pelo filme.
Auxiliado pela montagem competente, o diretor imprime ao filme uma força visual intensa, com flashbacks muito bem posicionados de forma a criar um horizonte de expectativas no espectador.


O roteiro de Tarantino é contado de forma não linear como eu já disse. O diretor investiu na ação e na atuação performática de seus atores nas cenas em detrimento do dialogo. Construindo cenas intensas de ação com flashbacks momentâneos o roteiro prima pela desconstrução do padrão narrativo usual ao “contar” o enredo do filme fora de ordem cronológica.

A fotografia de Robert Richardson é marcada pelo abuso de cor ou pela ausência dela. Ao apostar em cores quentes e vivas para as cenas de luta e flashbacks da noiva (Uma Thurman). Há dois flashbacks em especial que é feito em preto e branco (o prólogo inicial e nas cenas em anime que explicam a origem de O-Ren Ishii).

Ao dar a Noiva (Uma Thurman) à função de narradora, com uma interessante narração em “Off”. Permitindo assim a possibilidade do espectador compreender as motivações de vingança da noiva.

Ao fazer uso da música anti-diegética (fora do universo fílmico), apropriando-se de outras trilhas sonoras, o diretor faz um tributo sétima arte.

O elenco é extenso, mas Tarantino fez questão de dar ao seu elenco uma importante função narrativa, por menor que seja sua participação.
Uma Thurman interpreta a “Noiva” com desenvoltura e segurança cênica em uma personagem especialmente criada pra ela. Os méritos da atriz em cena são inúmeros, mas o maior deles é Uma ter humanizado a personagem de modo que o espectador torce para que a “Noiva” termine a sua vingança.


Vivica A. Fox (Vernita Green) e O-Ren Ishii (Lucy Liu), as oponentes da noiva nessa primeira parte interpretam suas personagens de forma impressionante resaltando em seus olhares e movimentos cênicos a falta de humanidade de suas personagens.
Chiaki Kuriyama (Go-Go Yubari) surge de forma surpreendente na tela ao encenar com afinco o braço-direito de O-Ren ishii (Lucy Liu). A atriz protagoniza uma das melhores e mais bem coreografadas cenas do longa.

“Kill Bill” já mostra a nessa primeira parte a que veio. Com inúmeras referências o longa escapa de ser uma “colcha de retalhos” e se torna um filme com visão autoral de Tarantino sobre esse gênero cinematográfico.
Além de confirmar Tarantino como um excelente diretor de atores, o filme acaba resultando no melhor exemplo do universo autoral e estilizado do seu diretor.  



quarta-feira, 6 de março de 2013

Colegas




Igualdade social, preconceito e Road Movies são tramas que frequentemente aparecem no cinema, mas nunca foram tão bem tratados como em “Colegas”. Stallone (Ariel Goldenberg), Márcio (Breno Viola) e Aninha (Rita Pokk) são três jovens portadores de síndrome de Down. Eles vivem em uma instituição para portadores de necessidades especiais comandada pelo casal Arlindo (Lima Duarte) e Esmeralda (Amélia Bittencourt). Eles crescem ativos e cheios de energia passando por cima das suas limitações.
Um dia, inspirados pelo filme “Thelma e Louise” eles “roubam” o carro de seu Arlindo e partem em uma emocionante aventura.

O filme é construído de maneira delicada por Marcelo Galvão. O diretor investe nos planos mais abertos, sobretudo após a “fuga” dos protagonistas com o objetivo de demonstrar o poderoso enredo e os talentosos atores que tem em mãos. Ao mesmo tempo em que imprime na tela a sensação de liberdade vivenciada pelos seus personagens.
Trabalhando em um habilidoso jogo de câmera em conjunto a um corte rápido e delicado de planos, Marcelo confere ao filme uma dinâmica muito interessante, conseguindo intercalar diferentes espaços fílmicos que coexistem nesta narrativa poética e bela.

A montagem tropeça em um único momento: no prólogo inicial tornando confuso o primeiro momento da narrativa, antes do filme iniciar de fato. Depois desse pequeno equivoco, a montagem se iguala ao restante do filme, tornando-se um aliado competente da direção na tarefa de estabelecer o dinamismo da trama.

A fotografia é um elemento importante do filme. Se tratando de um “Road Movie”, possuiu um tom naturalista em suas lentes, com o objetivo de captar o espaço percorrido por seus protagonistas. Utilizando uma luz natural que realça o cenário/espaço fílmico mesmo em cenas noturnas.

O roteiro de Marcelo Galvão é extremamente sutil e é ai que está o seu ponto forte. Repleto de situações cômicas ao expor estes personagens a uma aventura e a maneira como eles á encaram. Diálogos naturalistas dão o tom do filme, juntos a citações cinematográficas. Além de “Thelma e Louise”, o fim tem referências a filmes como “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Jules e Jim-Uma Mulher para Dois”. E também referencias a cineastas como Jean-Luc Godard e Pedro Almodóvar.

Aliás, é bom resaltar que conforme a narrativa avança, as referências cinematográficas e o amor de Marcelo Galvão pela sétima arte ficam mais evidentes no filme. Inclusive quando o diretor opta por um “intercambio de mídias” em seu filme ao colocar um telejornal como um elemento de suma importância no filme e seus atores que interpretam os jornalistas atuantes no mesmo.   
 
Os atores protagonistas Ariel Goldenberg (Stallone), Breno Viola (Márcio) e Rita Pokk (Aninha) atuam com uma naturalidade impressionante. Portadores da síndrome de Down eles garantem os trejeitos exatos á seus respectivos personagens. O fato de serem portadores da síndrome não diminui nem compromete suas performances cênicas em nada. Eles são atores e todos os três atuam de maneira genuína e ponto. A deficiência deles se torna apenas um mero detalhe quase imperceptível, tanto para os atores quanto para os seus respectivos personagens.

Lima Duarte (Arlindo) atua de maneira visceral no filme. Sua interpretação é construída de maneira afetiva. Isso contribuiu muito para o filme, visto que o personagem Arlindo possuiu uma função dramática muito importante no enredo: ele narra o filme.
Amélia Bittencourt (Esmeralda) é outra que ao lado de Lima atua de maneira coesa e com o naturalismo que o enredo e o personagem pedem.

A trilha sonora tem um efeito narrativo em “Colegas” e funciona muito bem como acompanhamento dramático. Aliás, por falar em acompanhamento é impossível deixar de citar a presença de Raul Seixas na trilha conferindo ao filme um efeito lúdico muito bem.

O resultado de “Colegas” é extremamente positivo. Ao desmistificar o diferente, o filme acaba proporcionando um espetáculo lúdico e poético, Além de ser um reflexo de dentro de nós mesmos ao proporcionar ao espectador se identificar com aqueles personagens.






segunda-feira, 4 de março de 2013

Foo Fighters:Back and Forth




O Foo Fighters é uma banda que nasceu da “Dor”. Da dor de Dave Grohl pelo fim do Nirvana (motivado pelo suicídio de Kurt Cobain em 1994) e pelas saídas dos outros representantes Nate Mendel e William Goldsmith de suas respectivas bandas. Tendo uma trajetória cheia de altos e baixos é natural que a banda tenha sua história contada em um documentário.

 É o que acontece em Foo Fighters: Back and Fourth dirigido por James Moll.
O filme é ancorado pelo Dave Grohl e retrata com veracidade o processo que levou ao Foo Fighters junto à reconstrução de seu vocalista como músico após a trágica dissolução do Nirvana.

O fato é que o Foo Fighters viveu em seus primeiros anos á “sombra” do Nirvana. A banda também sofreu inúmeras mutações internas até encontrar a química musical que tem hoje e todas essas “mutações” ocorreram aos olhos do público.

O diretor James Moll construiu uma narrativa intimista ao permitir ao espectador entrar na intimidade profissional e pessoal da banda sem restrições. Os integrantes se mostraram totalmente abertos ao expor seus conflitos musicais e inclusive pessoais. Moll se aproveitou dessa “abertura” dos músicos para traçar um panorama interessante do crescimento deles enquanto banda ao tentar encontrar o entrosamento musical e pessoal que os une hoje (o que acabou incluindo algumas trocas de integrantes).

O documentário é bem sucedido ao enfatizar as origens da banda liderada por Dave Grohl. Porém peca ao dedicar tempo excessivo da projeção nos bastidores profissionais da mesma, parecendo um “Big Brother” do Foo Fighters. Mas talvez, isso seja inevitável, pois a banda cresceu aos olhos do público (com todos os pós e contras que isso acarreta).
Mas não pense que “Back and Forth” é somente conflitos deixando a parte musical de lado, pelo contrario o filme expõe muito bem o processo criativo e inspirações para que o Foo Fighters acontecesse musicalmente falando.

Um aspecto muito bem evidenciado em “Back and Forth” é a liderança de Dave Grohl. Não só como frontman, mas também como uma espécie de diretor criativo. Somando isso ao grande talento e presença de palco de Grohl, foi realmente difícil para Dave aprender a dividir e a agir como uma banda, um grupo. Isso, por outro lado oprimiu os demais integrantes que frente ao talento incontestável de seu líder, precisaram encontrar seu lugar naquela dinâmica já pré-estabelecida por seu vocalista, ao mesmo tempo em que Dave aprende a fazer concessões.

O filme pode ter demorado a tratar especificamente do aspecto musical performático da banda, mas quando o faz compensa a demora excessiva. O diretor James Moll estabeleceu um dinamismo e uma abertura para que demais linguagens artísticas possam coexistir dentro do documentário, o que acabou conferindo ao filme uma vitalidade impressionante.

Ao expor a escalada gradativa da banda rumo ao topo, James Moll prepara o espectador para o verdadeiro espetáculo cênico que o Foo Fighters faz no palco. A banda liderada por Dave Grohl tem uma incrível presença de palco realizando sempre uma atuação visceral. Nesse ponto, o diretor imprime a grandiosidade da presença de palco do Foo Fighters em suas lentes.

O documentário permitiu ao espectador colocar os olhos sobre o “Buraco da Fechadura” da sua banda preferida ou conhecer suas origens (como foi o meu caso) e passar a admira-la. Entretanto, o documentário não traduz a banda e sua música na totalidade, mas certamente é um caminho para conhecê-los e entende-los.