quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Se eu Ficar

O que acontece quando o rock e a música clássica se unem? Uma combustão no mínimo. “Se eu Ficar” , baseado no romance homônimo de Gayle Forman é a história de amor da violoncelista Mia(Chloé Grace Moretz) e do roqueiro Adam (Jamie Blackley).

Dirigido por R.J Curtier,  “Se eu Ficar” é um filme de opostos. Não só por abordar mundos completamente opostos quanto a música clássica e o rock(embora o rock não seja assim tão estranho assim para Mia, por causa de sua família), mas principalmente por balancear o melodrama, o romance agridoce e uma certa dose de humor.

Um grande acerto de Curtier enquanto diretor foi envolver o espectador na história dos personagens principais e suas personalidades antagônicas , Adam(Jamie Blackley) e sua rebeldia e melancolia e Mia(Chloé Grace Moretz) e sua doçura , entretanto se sentindo uma “estranha no ninho”. O longa serve perfeitamente como uma alegoria sobre as diferenças se prestarmos atenção.

E por falar em atenção, esse é um fator que o filme exige de seu espectador. Pelo fator da narrativa se desenrolar principalmente em flashbacks e a montagem se utilizar do cansativo-mas eficiente artifício de “idas e vindas temporais”.

A musica é o principal diferencial de “Se eu Ficar”, sobretudo o fato do diretor e sua equipe torna-la um personagem do filme, uma peça fundamental na engrenagem da narrativa.

A direção de R.J Curtier é segura e o diretor se mostra competente em criar uma narrativa que envolva o espectador na tela, demonstrando eficácia ao administrar os inúmeros flashbacks que o filme possui. Curtier demonstra uma destreza impecável ao comandar as cenas de performances musicais do longa, com uma direção ora livre porém segura( nas cenas de Adam) e uma direção intimista e poética (nas cenas de Mia).

A fotografia talvez seja o único aspecto que deixa a desejar- além é claro do final decepcionante, mas vamos deixar isso pro final do texto. Voltando a fotografia, embora as cenas com uso de um granulado que remete a um por do sol extramente belo. Por outro lado, o flashback inicial é tomado por um “nevoeiro” que torna quase imperceptível enxergarmos a cena em sua totalidade. Felizmente, nada que prejudique a narrativa.

Vou tentar falar sobre o roteiro e a música do filme no mesmo parágrafo, por acreditar que estes elementos estão extremamente relacionados no longa.

Primeiramente o roteiro. Adaptado por Shauna Cross do livro homônimo de Gayle Forman, Cross soube imprimir nas entrelinhas questões pertinentes ao público-alvo do longa tais como identidade, sonhos e perspectivas de futuro, além das diferenças.

O fato de os pais de Mia(Chloé Grace Moretz) e seus irmãos serem “roqueiros natos” e a incentivarem a seguir um caminho totalmente oposto, assim como o seu romance com Adam (Jamie Buckley) ser do tipo “os opostos se atraem”.

A construção dos personagens e a próprias referencias musicais , além é claro da trilha sonora composta de um mix de musica clássica e punk tornam-se o diferencial do filme , o impedindo de se tornar “um filme água com açúcar chato”. A trilha do brasileiro Heitor Pereira conta com nomes como Sonic Youth e The Orwells, misturados a musica clássica e as referencias vão de Iggy pop a Bad Religion passando pelos clássicos Beethoven e Bach.

Chloe Grace Moretz construi uma Mia sensível e sonhadora, porém dotada de uma forma interior imensa. Já seu parceiro de cena Jamie Buckley faz de Adam um artista rebelde mas que esconde uma certa melancolia por trás de toda aquela rebeldia e personalidade. Sem dúvida um personagem antagônico em sua personalidade e Buckley arrebentou na construção e interpretação do personagem.

Preciso deixar uma menção honrosa para Jakob Davies como o doce e precoce Teddy, “um roqueirinho de carteirinha”, e Joshua Leonard como o carinhoso pai de Mia , Denny que conserva sua alma roqueira. É através de Leonard que o filme ganha pinceladas de humor irônico, suavizando a dramaticidade da narrativa.

Não tenho muito o que falar sobre “Se eu Ficar”, até porque, ainda estou materializando o filme. mas lhe digo uma coisa: se deem uma chance de ver este filme poético e singelo que trata de temáticas universais como sonhos, diferenças e musica. Lembra-se: as vezes , os melhores perfumes vem nos menores frascos.





segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Anjos da Lei 2



O que você faria se tivesse a chance de voltar a vida de estudante? E melhor ainda, fosse a faculdade? , coisa que não fez quando saiu do colegial, seus antigos estereótipos sociais fariam você voltar a velha forma?
Essa é a premissa de “Anjos da Lei 2”, sequência da versão cinematográfica pra popular serie de TV estrelada por Johnny Depp nos anos 80.

Com a dupla Phil Lord e Chris Miller de volta a direção e com o filme novamente estrelado por Jonah Hill e Channing Tatum como os amigos Schimidt e Jenko, a  continuação consegue ser ainda melhor.
Há claramente uma evolução do primeiro filme pra este, o que o torna mais atraente , unido é claro a uma serie de fatores.

Lord e Miller conseguem desenvolver e evoluir o longa de maneira crescente. Os diretores souberam incluir um maior ritmo na narrativa fílmica em uma dose maior do que no primeiro filme. há uma energia, um dinamismo e agilidade em alto nível que foi inexistente no primeiro longa.
Parte desse dinamismo se deve as gags cômicas, é claramente perceptível o quanto os diretores estão mais confortáveis com a temática proposta, sendo capazes de tornar a comicidade do enredo algo mais natural. -As cenas da prisão, da fraternidade e da “viagem psicodélica”de Schmidt e Jenko são bons exemplos disso.

O fato de  Phil Lord e Chris Miller estarem mais confortáveis com “o tempo da comédia”, bem como o tipo de humor do longa permitiu que a dupla executasse uma ótima direção de atores , trazendo mais naturalidade para a narrativa e para própria interpretação de Channing Tatum e Jonah Hill que puderam elevar sua “química” cênica a um nível muito mais elevado , possibilitando um notável desenvolvimento de personagens.

Lord e Miller possuem uma destreza incrível na direção do longa. Não só pelo fato de conferir ritmo e dinamismo ao filme mas sobretudo, pela própria condução da cenas cheias de ritmo, agilidade, a habilidade de desenvolver os plots independentemente tendo a sagacidade de brincar com as gags e com os clichês dos filmes de gênero de forma inteligente.

O trio de roteiristas Oren Uziel, Rodney Rotman e Michael Bacali(que co-escreveu o argumento com Jonah Hill), souberem inserir temáticas importantes da juventude sob a ótica inteligente e leve do humor, tais como: Bullying, diferentes grupos sociais no ambiente acadêmico e o valor da amizade. O próprio fato de existir uma fraternidade no enredo do longa, pode ser encarado como uma metáfora para os ritos de passagem e os estereótipos pelos quais somos tachados na juventude.

Um elemento interessante do roteiro que se manteve nessa sequencia e em níveis mais altos são as menções a cultura pop. Citações a série policial de comédia “Troops” e a o homem- arranha são o ponto alto.

Eu particularmente acho cada vez mais interessante- e valido , os filmes de comédia adolescente abordarem questões do cotidiano dos jovens nas suas entrelinhas, sobretudo por três motivos. Os dilemas pelos quais os jovens passam são universais, o jovem é o principal consumidor desse tipo de comédia, digamos mais liberal e o próprio humor garante uma leveza a temática que é muito bem vinda.

A julgar pelo ótimo filme e pelos créditos finais- eu espero que aquilo não tenha sido uma mera brincadeira- teremos uma continuação, pela qual aguardo ansioso.   





domingo, 24 de agosto de 2014

Sex Tape- Perdido na Nuvem



A exposição na internet da intimidade de um casal é algo corriqueiro no mundo atual, e as sex tapes podem alçar pessoas a fama, render prestigio(e estigma) mas também pode dar muita dor de cabeça. Esse é o mote principal da comédia “Sex Tape: Perdido na Nuvem” trata do tema sobre a ótica despudorada do humor.

Um casal, Annie(Cameron Diaz) e Jay(Jason Seguel) tentam “reacender a chama” após anos de casamento com uma sex tape registrando sua maratona sexual e bam , adivinhem, a tal sex tape cai em mãos erradas é claro.

Pronto. Isso é tudo o que você precisa saber sobre o filme dirigido por Jake Kasdan. Falar mais seria entregar o pouco que o filme reserva. Embora, super previsível, o filme consegue divertir – por favor não confunda isso com risadas soltas. “Sex Tape” é um filme divertido e engraçado e sem muitas pretensões.

Mas talvez esteja na falta de intenções ambiciosas a maior força do filme. abusando de toda e qualquer gag pra fazer rir e todo o tipo de efeito sonoro que possa soar cômico o fato é que o filme consegue envolver o espectador mesmo com toda a sua previsibilidade  o diretor consegue de alguma maneira tornar o seu filme uma opção atraente.

Kasdan precisa ser reverenciado em dois pontos, embora tenha nos entregado um filme mais do mesmo(nenhum trocadilho com o titulo deste blog por favor) mas sim, o cineasta soube trabalhar os clichês do gênero de forma eficiente conferindo um ritmo cômico ao longa, o tal tempo da comédia. Kasdan foi um bom diretor de atores garantindo performances cômicas interessantes do seu elenco, sobretudo do seu casal protagonista Annie e Jay( Cameron Diaz e Jason Seguel).

É Seguel, que também um dos roteiristas do longa quem tem o melhor desempenho. Atua com naturalidade e está confortável em papel mais sujo proferindo obscenidades naturalmente e trabalhando de forma confortável no humor negro. E quanto a Cameron Diaz? Bom, a atriz demora um tempo pra estar no mesmo nível cômico do colega mas desde o inicio se mostra a perfeita personificação da porque não “mulher perfeita”: Gostosa, voluptuosa, exuberante e com ótimo senso de humor. Ela e Seguel conseguem ser um casal atraente(em todos os sentidos).

Embora a ação esteja exclusivamente centrada no “dilema” dos protagonistas, o filme ainda tem espaço para que bons personagens coadjuvantes se sobresaiem. O Casal amigo Robbie e Tess(Rob Corddry e Ellie Kemper) são um bom exemplo disso que estou falando. Os atores são um espetáculo à parte no filme , com ótimas gags.

Jack Black, um comediante de primeira linha, também da o ar de sua graça com uma participação pequena mas muito divertida como o dono do site pornô “You Porn”. É hilário, a lição de moral que personagem de Black da em Annie e Jay ao falar das consequências de se fazer um vídeo pornô e citando “estrelas” do pornô caseiro como Paris Hilton e Pamela Anderson. Porra, esqueceu da Kim Kardashian. Rsrs.

E o irreparável Rob Lowe como o chefe pervertido de Annie(Cameron Diaz) em uma empresa do ramo infantil- percebam a analogia , haha. Lowe é incrível ao encarnar estes tipos tarados, pervertidos e despudorados sem nenhum juízo( quem lembra do inesquecível Eddie Nero de “Californication” , sabe do que estou falando).


No fim, “Sex Tape – Perdido na Nuvem” é uma comédia divertida e descompromissada com um tom mais “sujo” e libertário. Não parece a primeira vista atrair muito, mas ganha o espectador pelo seu notável despudor e o desenrolar interessante da sua trama. E por deus, Cameron Diaz é como vinho , fica mais gostosa a cada ano que passa.



  

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ensinando a Viver


"Ensinando a Viver”(Martian Child, no original) é um belíssimo e emocionante filme, e certamente me inspirou a escrever sobre ele.

Inspirado no livro “ Martin Child” de David Gerrold o filme conta a história de um popular escritor de ficção cientifica, David Gordon(John Cusack – ótimo ) que ficou viúvo enquanto ele e sua esposa estavam no processo de adoção. Após dois anos , ele se vê encantado por uma criança com problemas de sociabilidade e acredita ser de marte, Dennis(Bobby Coleman). Juntos, eles aprendem a conviver um com o outro e superam as adversidades com o lema de “Nunca nunca nunca nunca nunca desistir”.

“Ensinando a Viver” é um filme tão perfeito e tocante que eu não sei por onde começar. Vou tentar dizendo que é bela a forma como o filme constrói e aborda a temática das diferenças e da aceitação sobre ser quem é através da relação de Dennis(Bobby Coleman) e David(John Cusack) e do fato do escritor sempre dizer pro filho ser ele mesmo.


A forma natural e comovente com que o roteiro aborda a relação entre David e Dennis é absolutamente linda.  Os atores demonstram química e entrosamento entre eles é encantadora. John e Bobby conseguem transparecer essa ligação para os personagens. O amor incondicional e aceitação são fatores abordados de forma muito naturalista no roteiro através das relações dos dois personagens. O fato de David(Cusack) abrir o coração para Dennis(Coleman).

É interessante mencionar as metáforas entisicas a narrativa. Através da relação entre David e Dennis são abordados temáticas importantes como aceitação, respeito as diferenças, relações familiares e principalmente afetivas.

Essas metáforas são tão bem colocadas na historia de maneira comovente através da relação afetiva entre os protagonista pela belíssima relação entre David e Dennis e pelo fato de David adentrar o “mundo marciano” de Dennis e não subjugá-lo. Pelo contrário, participar desse universo ativamente e assim se unir ao seu filho adotivo.

A questão da união afetiva entre pai e filho é colocada de forma sem igual. A maneira perspicaz e inteligente que Dennis coloca em xeque os ideais de David a respeito da ficção cientifica- sendo ela uma forma fantástica e metafórica da própria vida levando- o a reavaliar suas teorias é brilhante.


O filme trata das relações afetivas e familiares de forma incrível. E através dela observamos nas entrelinhas, a questão da incapacidade social, abandono, das formas de se relacionar com a perda, da imaginação como refugio , crenças.


É difícil dizer porque o filme me encantou tanto. Particularmente talvez porque trata da aceitação , do ser diferente, do ser diferente, do ser você mesmo e de nunca nunca nunca nunca desistir dos meus sonhos. É uma história sobre ser você mesmo e amor genuíno comovente. Façam um favor a vocês mesmos e se deixem emocionar por esse lindo filme.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Devil´s Knot



É uma tortura psicológica e emocional ler ou assistir qualquer coisa relacionada ao caso “West Memphis Three” onde 3 crianças foram brutalmente assassinadas e três jovens foram falsamente acusados em Arkansas nos EUA.

Foi duro assistir a trilogia de documentários da HBO “Paradise Lost” , assistir ao documentário produzido por um dos acusados Damien Echols depois de deixar a prisão. E certamente, não foi fácil assistir a este caso sendo dramatizado aqui neste “Devil´s Knot” ainda que de maneira esdrúxula e excessivamente estereotipada.

Primeiro, porque a direção de Atom Egoyan começa de maneira promissora nos induzindo ao que seria um “grande filme” , ledo engano, Egoyan nos induz ao suspense com seus movimentos de câmera descritivos e uso da sonoridade, das cenas do pós crime buscando um choque no espectador mas tudo o que consegue é uma repulsa breve e uma incessante vontade de vomitar.

A forma com que o cineasta conduz o filme, conferindo um tom de fábula macabra, descaracteriza totalmente a história séria e poderosa que tinha em mãos.  A impressão que se da é que o diretor tenta suavizar o enredo e “poupar o espectador” para assim atingir maior fatia do público. Ora, é impossível suavizar algo de tamanha monstruosidade, a história do caso merecia uma reprodução digna e não uma história medrosa, rasa e com medo de se aprofundar na realidade.
É tudo retratado de forma rápida demais , não dando chances para o enredo se desenvolver como deveria. Entretanto, o diretor não deixa de chocar com o teor macabro do próprio caso que ele acrescenta aqui , mas tudo a conta gotas, superficial demais.

Além de ser raso e inconclusivo no que se propõe ao não se aprofundar na história , convertendo-a em uma novelinha mexicana, Atom Egoyan tem uma parceria na construção dessa história inverossímil dotada de cortes bruscos e superficiais: A montagem. A montagem deixa o espectador confuso pois utiliza de tantos recursos narrativos como flashbacks fora de hora que a acaba por confundir o espectador e tornar o filme uma bagunça.

O roteiro escrito a quatro mãos por Paul Harris Boardman e Scott Derrickson é o maior problema de “Devil Knot”.  Em primeiro lugar, eles- os roteiristas descaradamente privilegiam um plot da história - a da mãe de Stevie Brunch um dos garotos assassinados. Pam(Reese Withespoon) em detrimento das outras famílias.

Em segundo lugar , os roteiristas pecaram de maneira severa na construção dos três jovens acusados Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Miskelley (James Hamrick,Seth Meriwether e Kristopher Higgins respectivamente). Construíram um retrato estapafúrdio dos três reais protagonistas do longa. Baseando-se em clichês os retrataram como malucos e débil mentais, claramente se aproveitaram desse retrato errôneo para jogar-los para escanteio dentro da narrativa e fazer deles meros coadjuvantes dentro da própria historia. De modo que a atuação do trio não tem nem chance de se sobressair.

Paul Harris Boardman e Scott Derrickson parecem ter esquecido -ou não leram mesmo que o livro de Mara Leveritt na qual o roteiro deles se baseia ou ao menos deveria se basear, cobre o caso por um todo e da destaque a clemência por inocência dos três jovens.

Reese Withespoon e Colin Firth são os únicos a se destacar verdadeiramente. Primeiro pelo talento da dupla segundo, porque o próprio roteiro os condiciona para isso.

Reese tem uma atuação comovente como Pam Hobbs , mãe de Stevie Brunch e Colin Firth nos presenteia com sua brilhante e obstinada atuação como o investigador particular Ron Lax, obstinado em provar a inocência dos três adolescentes. Firth atua de forma segura , firme e imponente , cativando o público.

Como espectador ou como qualquer pessoa minimamente inteligente, é inaceitável o retrato do caso  “West Memphis Three” pintado aqui. Não só pela sua direção e narrativa rasas, pelo favorecimento de suas estrelas Reese Withespoon e Colin Firth ou por tentar emular sem sucesso a estética da trilogia de documentários “Paradise Lost” , mas sobretudo por sua falta de imparcialidade e por retratar Jason Baldwin , Jesse Miss Kelly e Damien Echols de maneira tão estapafúrdia, rasa e envolta em clichês.

Seria cômico se não fosse trágico, a história do caso não precisava disso e muito menos, o magnífico trabalho de Mara Leveritt não merecia tal retratação.








quinta-feira, 24 de julho de 2014

Transcendence- A Revolução


“As pessoas temem aquilo que não conseguem entender” essa é a principal mensagem da ficção cientifica “Transcendence- A Revolução” primeira incursão do aclamado diretor de fotografia Wally Pfister na direção cinematográfica e estrelado por Johnny Depp.

Will Caster(Johnny Depp) é um cientista famoso por suas pesquisas e experiências no ramo da inteligência artificial e auto consciência. Entretanto, sua fama atrai a ira de extremistas que tentam mata-lo. O que o leva a uma experiência de consciência coletiva e regeneração celular.

Em primeiro lugar, “Transcendence- A Revolução” é o filme certo em todos os aspectos. É o primeiro filme de Wally Pfister na direção e certamente ele é a pessoa certa pra dirigir um filme tão visualmente tridimensional quanto essa ficção cientifica cyberpunk. A forma com a qual Pfister introduz o visual cibernético gradativamente – mérito também dos roteiristas tornando capaz de o espectador compreender a gênese do enredo antes de desenvolver a narrativa sci-fi presente no enredo.

A direção de Pfister acompanha o ritmo do próprio filme. por isso mesmo, começa de maneira tímida, com o cineasta mantendo sua câmera a espreita , utilizando de agilidade quando necessário , mas sabendo dosar estes elementos muito bem elaborados no roteiro de Jack Paglen e transmiti-los visualmente para que o espectador compreenda a raiz da trama antes de evoluir para a ficção cientifica propriamente dita.

É impossível dissociar o trabalho de direção tão visualmente “real” com a direção de fotografia – função exercida pelo diretor anteriormente, e ainda, acredito num trabalho em conjunto entre Pfister e Jess Hall. A forma com a qual a fotografia cria a ambientação externa para que o “universo paralelo” possa coexistir é sensacional. Com cores frias e um uso habilidoso da luminosidade que a fotografia permite , se criou um ambiente, um universo onde a ficção cientifica presente no enredo pode se desenvolver de forma mais realista possível. Como o subgênero de Sci-fi na qual o filme se encaixa-o cyberpunk, o universo cibernético e online é de grande importância para o desenvolvimento da narrativa, o grafismo virtual se torna parte integrante do “real”.

Toda essa unidade cientifica onde o filme se desenvolve, ganha tons mais frios na fotografia de Jass Hall. O resultado desse trabalho de ambientação do espaço fílmico permite ao diretor Wally Pfister que consegue traduzir e incorporar na narrativa os elementos tecnológicos. A maneira com a qual o cineasta desenvolve o filme permite que os elementos ali expostos soam naturais e principalmente, Pfister consegue quebrar a “quarta parede” presente no filme permitindo assim que a inteligência artificial de Will Caster(Johnny Depp) exista, permitindo ao personagem uma existência mais visual materialmente do que só pela voz.

Um grande acerto do longa foi utilizar a tecnologia da maneira certa a favor da narrativa. Ao utilizar de computadores e outros aparelhos tecnológicos, a câmera consegue captar o grafismo virtual de forma a incorpora-la naturalmente na narrativa. O que quero dizer, é que a maneira com a qual esses elementos são captados e inseridos no filme de forma tão visceral , viva como um espelho para o mundo virtual, quebrando assim a barreira existente entre os dois mundos. As cenas são captadas de forma orgânica e natural e por isso mesmo se encaixam perfeitamente a narrativa.

Parece que coexistir traduz a experiência fílmica de “Transcendence”. Pois, além de criar este “universo inteligente” , o diretor precisou imprimir visualmente o outro extremo do filme. O dos extremistas que são contrários a experiência artificial e usam a violência para tal liderados por Bree(Kate Mara). Para tal, a direção cinematográfica e de fotografia se mostraram alinhados mais uma vez criando um ambiente hostil e evidenciando a luz natural e os granulados. A experiência é tão visceral e sensorial cinematograficamente que o menor grão se desenvolve de maneira inacreditável visualmente. Resultado é claro, das experiências de Will Caster(Johnny Depp) e muito bem recriadas visualmente. Vemos partículas se dissolverem pelo ar e regerarem literalmente. Tudo isso, aliado a um trabalho de união entre direção , fotografia , sonoridade, pois o aspecto sensorial é de grande importância para o longa e direção de atores naturalista, permitindo atuações criveis mesmo controlados por uma inteligência artificial.

Tudo parece perfeito em “Transcendence” de modo que eu não consigo entender porque o público não aceitou bem a história. Talvez porque requer paciência e necessita pensar e as pessoas tem preguiça de pensar, querem tudo mastigado.

Wally Pfister conseguiu usar de sua experiência anterior como diretor de fotografia para criar um universo tecnológico crível visualmente. Jack Paglen criou um roteiro utilizando com inteligência e destreza os elementos da sci-fi cyberpunk pura. Porém antes induziu seu espectador para o universo retratado de maneira gradual. Um acerto. Depois, desenvolveu a sci-fi e os universos presentes de forma crível e imaginativa, sempre mantendo um pé na realidade. O problema é que as pessoas não tem paciência pra esperar o filme se desenvolver. Nem tem o olhar apurado pra entender “além dos olhos” e as metáforas sobre regeneração vital muito bem colocadas por Paglen. Povo preguiçoso e alienado.

Johnny Depp volta a escolher bons papeis e mais uma vez nos mostra porque é um dos melhores atores da atualidade ao construir todas as fases do personagem com intensidade e mais, conseguir dar vida ao papel quase que inteiramente pela voz a maior parte do tempo.

Rebecca Hall faz de Evelyn Caster , a mulher de Will uma mulher totalmente multifacetada. Por um lado, ela quer recriar o marido e a atriz demonstra a obstinação do papel, por outro se revela em conflito com os caminhos da ciência e por fim, duvida do próprio marido. Em todas essas fases, Hall conseguiu dar o tom exato ao papel.

No extremo oposto, está Kate Mara no papel de Bree, personagem terrorista que vai contra os ideais de inteligência artificial. Mara expõe toda a força dominadora da personagem, sua obstinação em aniquilar muito só com o olhar. É lindo ver em uma das sequências finais do longa, a personagem “desarmar” ao ver que nem tudo é como ela acreditava. A atriz deu show.


“Transcendence” veio pra mim no momento certo no qual estou me interessando por Sci-fi principalmente Cyberpunk. E acabou se revelando um filme incrível. Por sua visceralidade visual, pela forma com a qual elabora e desenvolve seus universos, por tudo. “Transcendence” , como o próprio filme diz e é a frase de abertura da crítica, as pessoas temem aquilo que não conseguem entender.




sábado, 19 de julho de 2014

Festim Diabólico

*Contêm informações do enredo, só leia após assistir ao filme.



Desde a primeira vez que ouvi falar da trama da novela “O Rebu”, muito antes da Globo anunciar a nova versão da novela no ar atualmente, fiquei encantado pela narrativa não-linear que se passa em um único dia e rapidamente associei a este clássico de Alfred Hitchcock “Festim Diabólico”.

Embora aqui não haja o recurso do flashback presente na nova versão da novela de Bráulio Pedroso, temos temáticas narrativas semelhantes.

O filme se concentra na história de dois amigos, Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) que assassinam um antigo colega de classe e dão uma festa aos amigos e familiares do falecido.

Duas coisas chamam a atenção primeiramente em “Festim Diabólico”. Primeiro é a habilidade dos roteiristas Hume Cronyn e Arthur Laurents tiveram em construir uma narrativa pautada em atos assim como a história original na qual o filme é baseada. Cronyn e Laurents construíram a ação em três tempos narrativos: O antes da festa- na qual eles cometem o assassinato, o durante a festa, que ocupa o maior tempo do filme e o depois da festa. Isso tudo sem utilizar flashbacks em nenhum momento. Roteiristas gênios e Hitchcock gênio.

Aliás, é preciso reverenciar o exultante trabalho do diretor, não é a toa que ele era conhecido como “ o mestre do suspense”. Hithcook trabalhou o suspense apostando nos closes e planos descritivos para fortalecer a tensão dramática do enredo. De fato, o cineasta demonstrou incrível destreza e inteligência cênica ao costurar o suspense da narrativa pautando-se por recursos mais simples e orgânicos como closes, movimentos de câmera como a panorâmica, além é claro, do uso potente do jogo de câmera e do uso da música instrumental tocada pelo personagem Philip( Farley Granger) em um diálogo especifico com o Sr Cadell (James Stewart) no qual o professor sonda o antigo aluno sobre o seu “brilhante feito”. Nessa cena em especifico, a música tocada por Philip ao piano eleva a tensão dramática do longa a níveis inimagináveis.

Alfred Hitchcock era mesmo um diretor com o domínio cênico. A maneira brilhante com a qual ele induz o telespectador nesse grande “jogo psicológico” que é festim diabólico – fonte que claramente beberam George Moura e Sérgio Goldenberg , autores dessa nova versão de “O Rebu”, além é claro de Bráulio Pedroso autor da novela original. Pois, a construção da tensão dramática da narrativa é alta e de semelhante efeito em ambos os casos.

A interessante observar alguns pontos no filme. Primeiro que a narrativa se desenvolve em um único ambiente e a direção de Hitchcock imprime o suspense inerte a narrativa sem entretanto torna-la engessada. Sua direção explora muito bem o ambiente cênico , reforçando o clima noir do enredo. Em segundo lugar, a inteligência do diretor em utilizar simbolismos e dar pistas ao espectador. Um exemplo disso, é o fato de Brandon(John Dali) amarrar os livros com a mesma corda que usou pra enforcar David, ou quando a câmera faz o caminho inverso e através de uma panorâmica vai da mesa de jantar(onde David- o morto está deitado no caixão) para a mão de Brandon.

Outros dois pontos importantes que pude perceber e faço questão de ressaltar. Primeiro, a destreza da construção narrativa da dupla de roteiristas que a todo o momento colocam os personagens principais em situação-limite de serem descobertos, propondo assim um jogo com o espectador e elevando ainda mais a tensão dramática. Segundo, a construção tanto dos dois protagonistas Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) quanto do professor Cadell(James Stewart).

Brandon e Philip são dois personagens completamente antagônicos. Enquanto Brandon é intelectualmente forte e dominador, envolvendo seu amigo nessa “teia psicológica”, Philip é o elo mais fraco entre os dois, medroso e suscetível a pressões , estando ao passo de se entregar em vários momentos do filme.

Os atores compõe seus personagens de forma excelente , resultando em interpretações puramente naturalistas.

Sr. Cadell(James Stewart) representa a força maior nesse jogo psicológico, aquele ao qual Brandon e Philip buscam impressionar com o seu “grande feito”. Stewart interpreta o inteligente professor de maneira astuta, ressaltando a magnitude e a força e influencia dominante que o personagem exerce sobre o psicológico de Brandon e Philip.

“O Festim Diabólico”continua um clássico irreparável. Uma verdadeira aula de direção, execução e construção de uma narrativa. A destreza com o qual o filme toma forma impressiona e torna este clássico do mestre do suspense continuamente servindo de fonte de inspiração para diretores e roteiristas até hoje , mesmo estando em tempos que quaisquer ousadia narrativa já é um grande avanço, tamanha a falta de criatividade que assola os diretores e roteiristas atuais.




terça-feira, 8 de julho de 2014

O Grande Hotel Budapeste



Um deslumbre visual. Assim eu defino “O Grande Hotel Budapeste” novo filme do cineasta Wes Anderson.



“O Grande Hotel Budapeste” a principio trata das memórias de um velho concierge M. Gustave(Ralph Fiennes) contadas a um escritor (Tom Wilkinson) mas o longa vai muito além disso.


Admito que não conheço nada do trabalho de Wes Anderson mas esse “Grande Hotel” me deixou impressionado e curioso pra conhecer seu trabalho. Em grande parte pelo requinte e beleza visual imprimidas em seu longa. É admirável o inteligente uso das mais diferentes tonalidades no que diz respeito a paleta de cores que compõe a arte de um filme bem como a sua fotografia.

Embora, a primeira vista o longa possa parecer dotado de uma narrativa mais estática, é só uma primeira impressão pois Wes Anderson desenvolve seu filme como o desenrolar de um grande flashback- muito telegrafado é verdade, mas ainda assim um grande recurso narrativo.

Seu filme se desenvolve em duas bases distintas que se complementam: O Concierge M Gustave(Ralph Fiennes) contando ao escritor(Tom Wilkinson) suas aventuras e o flashback propriamente dito com as aventura de Gustavo e o jovem concierge Zero.

Adotando diferentes formas de filmar em ambos “tempos narrativos”, Anderson utiliza de uma direção mais contemplativa na primeira parte, com poucos movimentos de câmera, priorizando o plano contraplano e destacando ao máximo o exuberante cenário.
Ao passo que do segundo ato em diante, o diretor utiliza de uma forma de dirigir hiper movimentada, com trucagens e movimentos super ágeis, o que lembra muito os primeiros filmes de Tarantino e Guy Ritchie. Até a forma de desenrolar a narrativa em capítulos, lembra os filmes do primeiro acima citado.

Interessante observar a ousadia do cineasta não só por converter uma narrativa aparentemente estática e contemplativa em algo dotado de agilidade e inteligência dramatúrgica impar mas sobretudo, pela ousadia que demonstra logo no inicio do filme ao quebrar a “quarta parede” e se dirigir diretamente ao espectador, recurso que ele volta a utilizar algumas vezes durante o filme.

É preciso enaltecer o incrível trabalho de arte do longa. A maneira como constituíram o requinte da cenografia com muito brilho e “exagero” é exuberante. O uso da paleta de cores foi muito bem pensada na construção da arte pois nota-se que o uso de cores quentes e objetos refinados ajudam a carregar a importância do hotel para a narrativa do longa.

Se há algo em que Wes Anderson pecou severamente em seu filme, foi subestimar a inteligência do espectador. O fato de evocar um narrador em muitos momentos do longa o torna cansativo, sobretudo porque já estamos assistindo a uma narrativa super ágil e tal escolha de “contar a história” muito formalmente quebra a narrativa e a tensão dramática. Outro porém, são os diálogos excessivamente telegrafados, realmente não precisava mas nada que tire a beleza do filme de Anderson.



 “O Grande Hotel Budapeste” é um filme de tamanha beleza , deslumbrante, aliado a uma narrativa dinâmica ao extremo e ao carisma talento e química de dois atores excepcionais, Ralph Fiennes e Tony Revolori. Admito que estava com o pé atrás com esse filme, mas ao final lhes digo: Wes Anderson ganhou um fã e está a um passo de entrar pra minha seleta lista de cineastas favoritos. Quero mais dele.




segunda-feira, 7 de julho de 2014

O adeus a Californication: MotherFucker Forever


Assisti agora o episódio final de “Californication” e escrevo este texto-homenagem como uma forma de expressar o meu carinho por essa série maravilhosa que acompanhou em muitos momentos.

Primeiro, é preciso dizer o quanto assistir “Californication” é sagrado pra mim. Era sempre uma agonia ter que esperar pra assistir um novo episódio. Me viciei na série quando o meu professor de roteiro disse que a série era sobre um escritor viciado em sexo,drogas e álcool. Pronto, foi a deixa pra eu me viciar na série.

E na verdade, “Californication” é mais do isso, é sobre um escritor Hank Moody(David Duchovny) em crise de inspiração, o famoso “writer block”. Envolto em seus vícios, Hank se vê sem seu grande amor Karen e sua filha Becca(Madeleine Martin) e é obrigado a assistir outro homem Bill assumir o lugar no coração de Karen e como figura paterna de Becca.

Inspirada livremente na vida do escritor Charles Bukowski, a série tomou como matéria prima muito de seus livros na construção das storylines. Isso, se pode perceber na própria construção da personalidade autodestrutiva mas ao mesmo tempo com um humor felino e com a capacidade de enxergar a hipocrisia da sociedade representada pela figura de Hollywood , a “maquina de sonhos”.

Hank é um daqueles personagens puramente antagônicos, o que o torna irresistível. Ao mesmo tempo em que se auto destrói(afetando não só ele, mas as pessoas a sua volta). De fato, Hank tem um imã de confusão, quanto mais ele tenta se “endireitar” mais a confusão lhe atrai(por confusão entende-se muitas mulheres, drogas e álcool).

Um fator interessante em “Californication” é o fato de como a narrativa incorpora elementos da industria literária e cinematográfica. Em algumas temporadas, principalmente nessas finais, o seriado se apropriou da metalinguagem – o que casou muito bem.

“Californication” é uma série ousada. Repleta de um despudor capaz de assustar o maior dos despudorados, muitas vezes ela andou na linha tênue do permitido com muitas cenas de sexo, mulheres desnudas e diálogos cheios de duplos sentidos.

Muito bem escrita, os roteiristas liderados pelo criador da série Tom Kaprinos, souberam dosar a personalidade, os elementos pop e toda a sua narrativa centralizada no protagonista com outros excelentes personagens.

Afinal, vai ser impossível se esquecer do hilário casal Charlie e Marcy(Evan Handler e Pamela Adlon). Com uma química incrível, os atores fizeram do agente punheteiro porém empenhado em recolocar Hank no mercado e sua insaciável esposa um dos casais mais divertidos da TV. Ponto pros dois sensacionais atores.

A sensual Mia(Madeleine Zima) , filha de Bill teve um papel importante durante as quatro primeiras temporadas. O que é melhor pra se vingar do cara que ta comendo a mulher da sua vida do que comer a filha dele certo?

De fato, Californication sempre soube criar ótimos personagens e situações , mantendo o frescor e se renovando. A série tem um humor corrosivo, palavrões – Hank e seu inesquecível “MotherFucker” vão ficar na história, mas a série não é sobre putaria , é um show sobre a vida, sobre um cara tentando sobreviver resistindo as tentações e aprendendo as duras penas que o caminho do excesso nem sempre leva ao palácio da sabedoria.

Além de ter uma ótima narrativa, mantendo um excelente nível de qualidade dramatúrgica durante 7 anos, o seriado além de construir ótimos personagens, ousou também na elaboração deles. pois, são personagens totalmente ambíguos, eles não se encaixam naquele padrão maniqueísta de “o bom” ou “o mal”. Desse modo, nos construímos compaixão por Hank e sua turma ao mesmo tempo que podemos odia-los.

Isso fica explicito na figura de Karen(Natasha McElhone) sua ex-namorada e mãe de sua filha que ao mesmo tempo que é o senso da moralidade dentro da série, embora ela mesma não tenha muita moral pra criticar ele. Mas ela é o seu grande amor, ele podia transar com outras mas era pra ela e pra filha Becca que ele sempre voltava pra elas, embora a ideia de família perfeita não existe na concepção do Hank, todos os caminhos levam de volta pra casa como disse Faith, a Groupie que teve um affair com Hank na sexta temporada.

“Californication” sempre foi uma série rock n´roll onde os elementos musicais se sobressaiam de alguma forma dentro do show.  Na sexta temporada , o rock foi o centralizador do show com Hank acompanhando uma turnê de rock no maior estilo “Quase Famosos” de ser.

A sexta temporada teve a maior audiência de todo o show, por isso foi com tristeza que nós fãs recebemos a noticia de que a sétima seria a última e nos perguntamos “mas como?” mas o fato é que o show se tornou sobre o amadurecimento pessoal e das outras pessoas que de certa forma afetavam o Hank, principalmente Becca sua filha com a uma excelente atuação da atriz Madeleine Martin.

Eu vou sentir MUITA falta da série , muita mesmo. Por isso, até adiei ao Maximo e só assisti ao episódio final hoje. Já foi difícil pra mim esperar uma semana pra assistir a série( da primeira a quarta temporadas eu assisti direto, só comecei a ver regularmente a partir daí).

E se eu achava que a série não tinha mais como surpreender, nessa última temporada, o Hank descobre que tem um filho Levon(Oliver Cooper) que é uma cópia jovem do nosso escritor favorito. Vocês precisam assistir pra ver como a série teve uma temporada final foda e como é esses dois juntos.



Muito obrigado Tom Kaprinos,Showtime, David Duchovny e todo o elenco por essa série do caralho. Nós queremos um filme. É Justo né pessoal? #Wewantamovie.




segunda-feira, 30 de junho de 2014

Amazônia




É difícil colocar o longa metragem “Amazônia” em uma categoria. A produção Franco-Brasileira totalmente gravada na floresta amazônica e dirigida pelo francês Thierry Rogobert é um verdadeiro deleite visual para o espectador.

Ao demonstrar as aventuras de um macaco-prego criado em cativeiro na Amazônia em busca da sobrevivência em um mundo que desconhece, o longa metragem abre os olhos do espectador para as riquezas escondidas em nosso país.

Utilizando apenas imagens e sons dos próprios animais, “Amazônia” é um filme com uma estética visual belíssima - o que desperta no espectador a questão ambiental sobre as belezas que temos no Brasil. Sendo um filme extremamente visual, é notável a sensibilidade do diretor Thierry Rogobert em captar tais imagens que falam por si só.

Rogobert demonstra destreza em registrar as imagens como um mero espectador , sem interferir no ecossistema ali presente. A maneira com que o diretor conduz esse registro é tão encantadora e envolvente por algo que pra alguns pode ser um acontecimento trivial que prende o espectador a aquele verdadeiro espetáculo da natureza que acontece ali.

Alias, o diretor parece compartilhar e transmitir o seu encanto com tamanha beleza natural com o espectador que se vê envolto emocionalmente com a trajetória desses “personagens“.  O fato de o cineasta estar diante de tanta beleza e não interferir no percurso natural dos elementos torna o filme mais encantador ainda, pois, quando se propõe a registrar os acontecimentos como um mero espectador e deixando que a natureza seguisse seu curso e as imagens tomassem forma(apenas realçando-as com uma fotografia poderosa e bela), Rogobert coloca seu espectador em contato com um esplendor visual, em estado de inércia em torno daquelas imagens que dizem mais do que mil palavras.

Repleto de simbolismos envolto em suas imagens, “Amazônia” coloca o espectador em questionamentos a par do meio ambiente e a maneira como os seres humanos estão tratando o nosso planeta. Embora não tenha um teor sociológico- nem poderia afinal é um filme ensaio, o longa te provoca a inevitável reflexão sobre o meio ambiente.

Espetáculo puramente visual e sensorial, o longa é repleto de simbolismos e metáforas que provocam o espectador a um verdadeiro oásis visual sobre a magia e o poder das imagens.

Embora o ritmo do longa as vezes incomode não é nada prejudicial, é apenas a natureza seguindo seu curso natural. Sem duvida trata-se de um filme que exige paciência e sensibilidade devido a lentidão do seu ritmo, mas como tudo na natureza prepara-se pra ser surpreendido a qualquer momento.

Em alguns momentos , o filme remete ao estilo de documentário televisivo bem aos moldes do “Animal Planet”, mas a ausência de narração e os efeitos surpresas  que a natureza nos proporciona logo tiram essa impressão.

Eu comecei o texto dizendo que não sabia como definir esse filme. Ainda não sei mas sem sobra de duvidas, estamos diante de um deleite visual capaz de nos fazer enxergar nossas belezas naturais e começar a cuidar melhor do nosso planeta. “”Amazônia” é um despertar de consciência”.



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Versos de um Crime



A poesia Beat e seu incontestável legado ecoa até os dias de hoje. Pena que o cinema só recentemente tenha conseguido compreender e traduzir a essência de obras tão magníficas. “Versos de um Crime” é um filme sobre a iniciação do movimento Beat focado nos poetas Allen Grisberg(Daniel Radcliffe) e Lucien Carr(Dane DeHann).

Primeiramente, é preciso dizer que estamos diante de um filme extremamente poético, não só pela natureza literária da fonte da onde o filme bebe mas sobretudo pois o diretor John Krokidas imprimiu uma poética visual nas imagens, potencializadas pela bela fotografia de Redd Morano dotada de um granulado forte.

Com uma direção poética e introspectiva pois Krokidas se deixa valer das belas imagens e da ótima trilha para conduzir longas cenas de introspeção , retratando a união e a criação literária dos jovens poetas beats. Com planos longos e cortes certeiros, o diretor ainda consegue imprimir uma agilidade e ritmo cênico mesmo em cenas mais longas.

Com o uso de trucagens e closes , o diretor consegue retratar a aproximação desses personagens em meio aquele cenário. Conseguindo dosar a introspecção poética própria do movimento com uma agilidade narrativa própria do formato cinematográfico e da criação literária sem entretanto perder sua essência.

Naturalmente esta crítica está caminhando para uma critica da sua parte visual alinhada a narrativa mas isso é inevitável , tendo em vista a beleza cênica pela qual o filme é composto. Com uma direção de arte requintada e fotografia idem, o filme de John Krokidas também possui uma beleza e aparato visual que exala a poética contida em sua narrativa.

“Versos de um crime” é sobretudo um filme de contemplação. A poesia contida na narrativa extrapola o pensamento dos personagens e ganha a forma de cenas muito bem dirigidas por Krokidas que além de conseguir dosar a poética de sua narrativa com um ritmo(com clara intenção de não tornar o filme algo cansativo). “Versos de um crime” é sobretudo um filme visual,de contemplação e reflexão. Há uma beleza admirável em cada cena, cada close, uma poesia visual que se aproxima dos longas da diretora Sofia Coppola.

A trilha sonora repleta de jazz , de certa forma é uma aliada na construção do universo estético na qual o filme transcorre. Dessa forma, a música se revela um componente narrativo de extrema importância pois transporta e contextualiza o espaço cênico para o espectador.


Krokidas se revela também um ótimo diretor de atores , pois consegue extrair de seu elenco uma interpretação naturalmente intuitiva resultando em grandes atuações.

Daniel Radcliffe definitivamente deixou pra trás Harry Potter ao interpretar o poeta Allen Grisberg , uma figura tão controversa com tamanha entrega. Seus colegas de cena Dane DeHann(Lucien) e Jack Huston(Jack Kerouac), os únicos além de Radcliffe que ganham potencial destaque, se mostrando atores competentes e viscerais em suas atuações.

O único porém do filme ocorre em seu derradeiro terceiro ato, onde tudo é mostrado de forma muito rápida e por isso mesmo confusa. Ainda assim, “Versos de um Crime” é um filme poético e belo sendo uma iniciação para os eventos de “On The Road” e joga luz sobre uma parte desconhecida da historia da geração Beat.





quinta-feira, 12 de junho de 2014

Definitely Maybe: The Documentary




Em 2014, se comemora os 20 anos do álbum de estreia do Oasis , “Definitely Maybe” e como infelizmente não teremos uma turnê de comemoração, essa data não poderia passar em branco, o documentário sobre a produção do disco homônimo está sendo relançado.

Sinceramente, devo dizer que esperava mais de um documentário que está sendo relançado pra comemorar uma data tão emblemática para o rock mundial. O documentário é sim interessante para os fãs da banda pois reafirma a posição de renovação que o Oasis trouxe para a música e detalha a composição e produção do cd detalhadamente. Porém, se não fosse o fator curiosidade e nostalgia que assola os fãs da banda, o documentário poderia passar despercebido.

O documentário tem sim preocupação em ressaltar os bastidores da produção do álbum, as histórias por trás de cada música, ressaltando as dificuldades de produção e adaptação da banda ao estrelado mas não sai muito disso.

Sim, o diretor Dick Carruthers lança mão de preciosas imagens de arquivo e tal, deixando qualquer fã da banda empolgado. Mas Charruthers não ousa na estrutura do filme, se assemelhando a um simples documentário ou mais parecendo um talk show americano, onde os convidados respondem as perguntas mecanicamente.

Há sim, uma preocupação com a estética e a montagem do filme, no sentido de ilustrar os depoimentos com as imagens de arquivo e música mas, acaba sempre retomando aquele antigo formato padrão de documentários pautado em entrevistas que cansa.

O documentário conquista o espectador pela nostalgia (seu próprio formato e recursos utilizados evidenciam isto) mas entretanto não se preocupa em conquistar novos fãs. Talvez isso seja um reflexo da data de produção do filme(foi produzido em 2004, quando a banda ainda estava na ativa), por isso não há a preocupação de mostrar o trabalho da banda a uma nova geração.

Duas grandes sacadas do documentário são o de exibir o contexto musical/ cultural na época do lançamento do álbum. E de colocar os especialistas do mercado, equipe da banda e os –na época atuais integrantes Andy Bell e Gem Archer.

O filme também peca por não dar o devido espaço a Liam Gallagher, se centralizando no processo criativo de Noel. Dessa forma, o documentário se revela um retrato belo mas desigual ao não considerar da maneira correta a importância do vocalista.

Pois convenhamos, se Noel compôs as canções FODAS desse álbum, foi a INTERPRETAÇÂO de Liam que contribuiu para eterniza-las no imaginário popular. O diretor até tenta se redimir mais pro fim destacando a figura de Liam Gallagher, não é o suficiente para alguém da sua magnitude.

“Definitely Maybe: The Documentary” é curioso e interessante , mas é mais do mesmo.